sábado, 25 de fevereiro de 2012

O espírita e o mês de dezembro - Imprensa Espírita

Recebemos diversos jornais e revistas espíritas enviados por nossos companheiros do Brasil inteiro e, como sempre fazemos, procuramos encontrar sinais comuns entre eles, ou então matérias que merecessem uma maior análise. Como em sua maioria tratavam-se de jornais de dezembro, o assunto que predominou foi o Natal.
O Opinião, de Porto Alegre trouxe Jesus, um homem entre muitos mitos. A matéria apresenta a questão mítica da data herdada de outras crenças e, seu editorial “Nós e o Natal” analisa como estas questões mitológicas chegaram até hoje, e justifica o destaque dado à data por tratar-se do “momento maior, de nossa cultura , para se celebrar a confraternização ...”. O Reformador traz na capa a chamada: Onde e quando nasceu Jesus. O periódico A Flama Espírita apresenta a Súplica de Natal; o Seareiro, de conteúdo predominantemente Cristão, escreve sobre a Comemoração do Natal – Passado, Presente e Futuro. O Mundo Espírita, do Paraná, trata das Ressonâncias do Natal, por Joanna de Ângelis e, finalmente, Resenha Espírita tem 90% da revista dedicada ao Natal.
Esta ênfase na necessidade, por um lado, de explicar o fenômeno de marketing que o Natal representa – que sabemos ser o responsável por até 30% das vendas anuais do comércio de produtos eletrônicos, por exemplo – e que vem ganhando, portanto, cada vez mais destaque pela imposição da troca social de presentes tem, por outro lado, a necessidade de reforçar, como bem fez o Jornal Opinião, a questão da confraternização e do amor. No entanto, muitos dos artigos apenas demonstram a intensão de louvar a Jesus.
Neste sentido, a curiosidade acendeu a dúvida: como Kardec trataria do Natal? Neste caso, temos a nosso favor onze edições de dezembro da Revista Espírita e convido os leitores a fazerem uma busca. Não encontrarão absolutamente nada sobre o Natal.
Logo, há um explícito contraste entre quase 100% da mídia espírita, ao eleger este assunto não só de grande interesse, como em sua maioria, matéria de capa e, de outro lado, Allan Kardec que não fez menção alguma em nenhuma das muitas oportunidades que teve ao seu dispor. Como analisar isto? Só podemos concluir que Kardec não achava o tópico Natal, dentro da análise científica que o mesmo fazia do papel de Jesus na história, algo que merecesse destaque. Fica aqui o convite à reflexão.

Da Redação do Jornal Abertura - Edição Jan/Fev 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Orquestra - Sobre a vida de Jaci Régis por Carol Régis


O movimento Espírita de Santos sempre foi como uma Orquestra. Começou há muito, muito tempo, com músicos bastante novos, cheios de sonhos e idéias, cada qual em seu palco. Espíritas de diversas famílias que estudavam a doutrina em seus centros, fazendo intercâmbios de quando em vez.

Até que na década de 40, desembarcam no porto de Santos dois irmãos. O mais velho, tinha o dom do sorriso. Podia ser um violonista, com notas alegres, especialista no instrumento. Não há quem ouça sua música que não sorria imediatamente. Certamente encantador, trazia no olhar a admiração e a preocupação constante com o companheiro de viagem. Seria assim durante toda a jornada, sem fim.

O mais novo era especial. Poderia tocar o violino também, mas seu talento era mais intrigante. Seria capaz de tocar diversos instrumentos, tinha dotes intelectuais espetaculares. Dedicou-se ao Espiritismo com toda a alma, sentindo cada nota de Kardec como se fosse compor uma obra prima em homenagem ao mestre.

Como não podia deixar de ser, com o passar dos anos, todos aqueles músicos avulsos começaram a ensaiar juntos. Debatiam, estudavam, tocavam as partituras, nem sempre harmoniosas, do Espiritismo Santista. Viam que se destacavam do restante dos músicos Brasil afora. Faltava alguma coisa, uma diretriz, um norte a seguir.

E então, aquele músico, que tanto talento possuía, assumiu seu papel natural de líder, produtor de idéias, semeador de novidades. Enfrentava as divergências conceituais como um novo espetáculo a montar. Mediante àquela coragem e àquela paixão pelo ideal Kardecista, os espíritas santistas passaram a respeitar o músico como algo além: Jaci Régis tornava-se o Maestro.

E assim foi durante outros tantos tempos: o Maestro lançava sua Orquestra em turnês nem sempre amistosas. Propunha acordes e arranjos quase impossíveis de alcançar. Exigia ensaios exaustivos a seus parceiros de palco. A reação dos espíritas, que agora faziam parte da renomada Orquestra do Movimento Espírita de Santos, era variada. Alguns viam no mestre exemplo de homem e pensador a seguir. Outros discordavam de seus métodos e quiçá de suas obras. Mas nenhum deles podia abandonar o posto. Já estavam imersos naquele organismo vivo que se apresentava cada vez mais vanguardista sob a batuta de Jaci.

E estavam acostumados demais a ver aquela figura brilhante regendo, mesmo que, por vezes, quase imperceptível, em um canto mais escondido das coxias. Eram palestras, livros, obras de auxilio social, simpósios, tudo saído da mente daquele homem de saúde um tanto frágil. Era inacreditável como tal espírito cabia naquele corpo tão terreno.

Dizem que alguns músicos foram tocar em outras bandas. Ousavam dizer aos ventos sobre suas dúvidas a respeito do antigo Maestro. Mal sabiam que, mesmo sob nova regência, a base inegável e atavicamente tinha vindo de Jaci que, a essa altura, havia começado a ensaiar sua mais nova e ousada obra. Fruto de seu amor inabalável por Kardec e de décadas de filosofias íntimas, A Doutrina Kardecista era o retrato fiel da alma do Maestro: provocadora, embasada, inquietante.

Então, o Maestro recebeu propostas de tocar em outras Orquestras. Negou algumas, resistiu, lutou, mas inesperadamente partiu.

A Orquestra que assumirá agora é muito maior, muito mais especial que a anterior e Jaci dividirá o palco com tantos outros Maestros do nível dele. Será um novo desafio. A Orquestra de Santos? Sente-se órfã. Perdeu seu Maestro de tantos e tantos anos de Espiritismo. Mas, como bom pai, ensinou seus filhos a nortearem-se pelos palcos sozinhos. Seguirão, sem dúvida, tocando. Mas aquela ausência pelos corredores dos centros Espíritas por onde tocavam será sentida sempre. A saudade será amenizada pela certeza dos acordes que chegarão, cedo ou tarde, vindos dos palcos regidos por Jaci. Sua música será ouvida sempre, onde quer que ele se apresente.

Texto originalmente publicado no Jornal Abertura em Janeiro de 2011.