quarta-feira, 29 de maio de 2013

A trajetória da ciência espírita - por Alexandre Cardia Machado

Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura em outubro de 1989, continua atual, estamos publicando aqui para que você leitor se manifeste. Qual a sua opinião?

A trajetória da ciência espírita


Há uma ciência espírita? Teria havido em algum momento, no tempo de Kardec? Qual método da ciência espírita? Qual o seu objeto? Como o Espiritismo é visto pelas instituições cientificas? Estas questões serão analisadas neste artigo. Não temos a pretensão de trazer a ultima palavra sobre o assunto. Ao contrário, queremos iniciar um debate que reacenda a chama da busca do conhecimento nas fileiras espíritas.


Os princípios básicos do Espiritismo são apresentados na Introdução de “O Livro dos Espíritos”. Estes princípios podem ser considerados como os alicerces da Ciência Espírita.

Analisaremos os mesmos não pelo seu inegável valor, mas, considerando-os sob o ponto de vista da Filosofia Espírita.

Poderíamos resumir os princípios espíritas nos seis que se seguem;

1. Existência de Deus, Espírito e Matéria.

2. O Homem é formado por corpo físico, períspirito e Alma.

3. A Alma é imortal.

4. A Alma evolui.

5. Pluralidade das existências e dos mundos habitados.

6. Comunicabilidade entre encarnados e desencarnados - Mediunidade.

Sob o ponto de vista da Ciência, um princípio só é cientifico se puder ser provado, ou seja, é necessário que se submeta essa afirmação a provas e testes cientificamente controlados.

Desta forma podemos afirmar que até o momento não foi possível submeter a nenhum tipo de comprovação cientifica alguns desses princípios espíritas. São eles: Existência de Deus (afeto à Religião e a Metafísica); a existência da Alma enquanto essência (como é definida no Espiritismo é de difícil comprovação); a Imortalidade da Alma; a evolução infinita do Espírito. Tais hipóteses não permitem montar uma experiência onde se possa aferir esta evolução em nível individual, ao longo de diversas encarnações, nem tão pouco provar a imortalidade infinita.

Os demais princípios, sem sombra de dúvida, podem e têm sido provados ao longo do tempo, sem, no entanto, sensibilizar a comunidade científica, mas pelo menos, permitem reunir dados de experimentação que fatalmente resultarão na aceitação como prova no futuro.

MÉTODO ESPIRITA

A impossibilidade de comprovação de alguns de seus princípios faz com que não se possa, a priori, classificá-los como verdades científicas.

Mas independente disto, o Espiritismo possui um método de pesquisa, que Kardec chamou de Método Experimental, ou seja, tal qual às ciências positivas, textualmente: “Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam , que não podem ser explicados pelas leis conhecidas, ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega a lei que os rege; depois lhes deduz as consequências e busca as aplicações uteis” (Gênese, pág.20)”.

Kardec explica nesse paragrafo que o Espiritismo não partiu de hipóteses e sobre elas construiu uma teoria e sim através da observação de fatos é que se estabeleceu uma teoria. Esta forma de ação é muito utilizada na ciência e Kardec afirma que: “acreditou-se que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas”. (opus cit., pag.20).

O método de pesquisa Espírita libera-se da necessidade da prova experimental, utilizando-se do chamado “crivo da razão” e da confrontação das comunicações. Que certamente foi muito útil para a elaboração da Doutrina. Porém, para a ciência a comprovação se faz necessária. Isto é tão importante que Albert Einstein esperou de 1905 a 1919, para que, durante um eclipse solar, se comprovasse a hipótese, contida na Teoria da relatividade, de que ‘um raio de luz deveria sofrer um desvio quando se aproximasse de um campo gravitacional intenso”.

O Espiritismo nestes pontos perde o apoio cientifico por não poder prová-los.

OBJETO DA CIÊNCIA ESPÍRITA

Toda ciência deve ter um objeto, Kardec em A Gênese, pág.21 diz textualmente: “Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do principio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do principio espiritual”.

E sobre isto diz mais “... O espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência sem o Espiritismo se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos sós pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltaria apoio e comprovação...” (opus cit. pág.21).

Caio Prado Jr. Define ciência como: ”Conhecimento sistematizado, e advertida e intencionalmente elaborado, não se distinguindo senão por essa sistematização em nível, elevado da elaboração intencional do Conhecimento comum ou vulgar...”... “O objeto da Ciência é a Realidade Universal, isto é, o Universo e seu conjunto de ocorrência, feições, circunstâncias que envolvem e também compreendem o Homem” (3).

Pode-se dizer que não existem fronteiras para a Ciência, assim como para o Conhecimento uma vez que o conhecimento científico de hoje será o vulgar de amanhã. Ou ainda, Ciência pressupõe temporalidade, ou seja, uma teoria cientifica fatalmente será substituída por outra que representa melhor a realidade.

A CIENCIA COMO EVOLUÇÃO

É mais do que sabido que o conhecimento científico evolui. Qualquer ramo do conhecimento, da tecnologia desenvolve-se a uma velocidade muito grande, a tal ponto que hoje se dobra a quantidade de artigos publicados sobre qualquer matéria científica a cada 6 ou 10 anos.

Quando a produção científica em determinado campo reduz-se muito se diz que este ramo do conhecimento estagnou “parou no tempo”.

SERÁ O ESPIRITISMO CIENTÍFICO?

O Espiritismo enquanto busca de conhecimento é científico, foi científico nos anos de 1850 a 1870. Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o processo de elaboração da obra Kardequiana foi científico. Não o é mais. Isto é fundamental para que não percamos a dimensão da Doutrina!

Hoje não se busca conhecimento novo algum, estamos estagnados praticamente. Não há mais produção científica no Espiritismo, o que existe hoje não é mais Ciência e sim, simplesmente, Conhecimento.

Portanto, hoje podemos substituir o vocábulo Ciência Espírita por Conhecimento Espírita numa abordagem dentro da Teoria do Conhecimento é preciso que entendamos isto: Kardec foi cientista, mas o Espiritismo de hoje não é mais cientifico e, sem demérito algum, um conhecimento incorporado ao conhecimento universal.

CONCLUSÃO

A principal característica do conhecimento científico é que ele é autocorretivo, “capaz de colocar em dúvida, antigas “verdades” quando encontra provas mais adequadas, corrigindo-se, progredindo, aperfeiçoando-se”. (4)

Sobre esta característica Kardec concorda e tece o seguinte comentário “Há”, todavia, capital diferença entre a marcha do Espiritismo e a das Ciências; a de que estas não atingiram o ponto que alcançaram, senão após longos intervalos, ao passo que alguns anos bastaram ao Espiritismo, quanto não a galgar o ponto culminante, pelo menos a recolher uma soma de observações bem grande para formar uma Doutrina”. (4).

Segundo Popper, “a melhor estratégia que um cientista deve seguir não é a de tentar comprovar uma hipótese”. Ao contrário, ele deve pensar sempre em realizar testes, isto é, quando resistir à refutação, será considerada pelos menos provisoriamente, como uma explicação adequada dos fatos, e pode até mesmo ser aceita ou adotada para fins práticos, ganhando inclusive o estatuto de uma lei científica. (4)

Kardec entendia bem isto e declarou em A Gênese “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se as novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”.

Portanto, Kardec tinha noção de que o Espiritismo haveria de evoluir o que, no entanto, não foi entendido por seus seguidores que elegeram a Doutrina escrita em 1857 como a verdade acabada. Quase nada mais se acrescentou e incorreu-se no erro e no risco de passar-se de Científico para Pseudocientífico ou, nas palavras de Gewandsznajder “Não é por acaso que algumas pseudociências estagnaram e seus seguidores tenham se limitado a repetir as mesmas ideias, técnicas e princípios pretensamente verdadeiros de centenas até milhares de anos atrás. As pseudociências,... costumam se isolar-se da ciência. Seus seguidores ostentam às vezes completa indiferença para com as descobertas científicas, sustentando princípios e leis que frequentemente contradizem os princípios científicos”. (4)

Precisamos estar atentos quanto a isto, para não permitirmos que uma Doutrina de tamanha abrangência seja transformada em pseudociência por falta de produção cientifica.

Para saber mais

(1) O Livro dos Espíritos, Kardec, A.

(2) A Gênese, Kardec, A.

(3) O que é filosofia, Prado, C- Série- Primeiros Passos.

(4) O que é método científico, Gewandsznajder,F.

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