sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Espiritismo em Sociedade - Reinaldo di Lucia

Espiritismo em sociedade

A crise que enfrentamos no Brasil – ética, econômica e política – tem minado a esperança do brasileiro em dias melhores. Ao conversarmos com as pessoas, notamos que, de maneira geral, já não se acredita mais no futuro. A frase “o Brasil não tem mais jeito” é muito comum, e tem sido mais e mais dita por gente de todas as idades e classes sociais.

O efeito mais evidente deste sentimento é a observação de que, a cada dia que passa, temos mais jovens mostrando um grande desejo de deixar o país. Quando perguntados o porquê disso, esse grupo aponta a falta de perspectiva de trabalho, a descrença absoluta na classe política e em sua capacidade (e vontade) de mudar a situação e, principalmente, a certeza de que o brasileiro é assim mesmo e a situação não vai mudar jamais.

Como nós, como povo, deixamos a coisa chegar neste ponto? Há inúmeras explicações históricas que demonstram o impacto que a colonização portuguesa, a cultura autoritária e, mais recentemente, a ditadura militar tiveram para este resultado – todas, a meu ver, absolutamente corretas, mas de pouca ação prática. O problema é que, com a situação posta do jeito que está, o que teremos em breve é um país no qual o aprofundamento das desigualdades sociais tornará o Brasil mais parecido com o Haiti que com a Noruega.

Precisamos pensar em soluções diretas e urgentes. Mas o que vemos, institucionalmente, é uma paralisação global: a classe política não tem interesse em modificar este estado de coisas, a justiça se perde em tecnicalidades, a escola foca o currículo sem se preocupar com sua aplicação e as instituições religiosas, possivelmente as mais conservadoras, prometem, no máximo, a abundância material e a salvação eterna, desde que o fiel seja submisso aos seus desígnios.

E nós, espíritas, o que estamos fazendo? Como doutrina humanista e  livre-pensadora, temos a obrigação de contribuir para que as pessoas tenham mais acesso a discussões que levem a uma ação efetiva na construção de um futuro melhor. Se ficarmos na dependência do poder público, nada acontecerá, ao menos no médio prazo. Penso que é necessário que nossa visão de mundo, profundamente libertadora, seja cada vez mais difundida, porém com um viés prático. Precisamos deixar de lado as discussões inócuas e superficiais, bem como as acusações “alimentares” (coxinhas x mortadelas) e mostrar causas e consequências do que aí existe, debatendo o modelo de sociedade e de país que queremos e como podemos chegar a ele.

Não, não podemos mais esperar que seja feita uma reforma política, uma reforma do ensino ou o que quer que seja. Precisamos agir diretamente, com os recursos – ainda que parcos – que temos. Não faz sentido, numa situação cada vez mais crítica, dissociarmos a teoria espirita da discussão social, prática; especular sobre o mundo dos espíritos e deixar para depois nossa realidade física. É vital travarmos este debate nas casas espíritas, de forma respeitosa quanto às diferenças e tendo em mente que o objetivo é o mesmo: uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais nobre.

NR: Originalmente publicado no Jornal Abertura em outubro de 2016

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