terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Espiritismo e Política - por Ciro Pirondi

espiritismo e política

Quais motivos nos levam a pensar ser possível influir na dimensão pública das leis e instituições da sociedade ?

Bem, provavelmente  por reconhecermos a beleza e a dimensão itinerante e permanente da vida, como a possibilidade mais oportuna de construirmos uma sociedade mais justa e fraterna. No entanto, ainda não encontramos ao longo de quase dois séculos a forma mais adequada de gestão da tese reeencarnacionista participar de maneira objetiva do cotidiano dos povos.

Me aventuro a pensar que as razões históricas do fato estejam na equivocada e injusta visão hindu das vidas sucessivas. Nas reflexões místicas e oníricas da espiritualidade chinesa. No sincretismo mágico dos deuses africanos, e mais recentemente no cientificismo primário do século XIX, mixado com o cristianismo e sua moral punitiva e salvacionista, assumida pelo espiritismo.

Entender estas causas no entanto não nos basta.

Criticar suas ações não ilumina o futuro.

Em uma sociedade com tantas carências materiais e espirituais, somente faz diferença o fazer. E o fazer nunca está desconectado do pensar e o pensar do sentir.

Em todas as dimensões humanas vejo ações nesta direção. Grupos humanitários nas áreas da saúde, dos direitos humanos, da arquitetura e das artes. Na dedicação missionária de cientistas solitários décadas em seus laboratórios tentando novas fórmulas para amenizar as dores da alma e do corpo. Juristas refletindo sobre novas leis mais humanas e justas. Médicos sem fronteiras. Anônimos dedicados ao trabalho voluntário.

Campos de refugiados, quase 50 milhões em todo mundo, inquietando nossas consciências na busca de soluções.

Músicos e religiosos. Ateus e místicos a todos nos incomoda a miséria, a carência extrema.
Talvez esteja nestas urgências o caminho para influirmos nas leis e instituições primeiramente por meio dos conceitos, que sejam de permanência comuns a todos como solidariedade, gratidão, temperança, generosidade,  não mais como gestos salvacionistas ou de condição elevada espiritualmente, mas como um gesto da inteligência refletido em ações objetivas no cotidiano de tal maneira seja a qualidade

do nosso fazer a diferença que se fará notar. Provavelmente aí está nossa oportunidade de esclarecermos quais conceitos possuimos para agirmos assim.

É uma estratégia diferente do assistencialismo caritativo, que nos tem identificado como Movimento.
É uma ação política, social e efetiva, não restrita aos Centros, mas coletiva, multidisciplinar. Nos aproximaria dos sociólogos, dos ativistas sociais, dos pedagogos, enfim de todos que velam pela alegria, paz e justiça do mundo. 
                                  
Intuo ser este um caminho possível, mais leve, menos rancoroso. Fazemos muito já com a libertação do pensamento espírita dos vínculos religiosos, do pensamento mágico.

Temos agora de alçar um novo vôo , precisamos ser mais vela e menos âncora.

Deixemos os bons ventos nos levarem , tenhamos confiança e esperança no Universo.


Ciro Pirondi

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A História e o Espiritismo livre pensador - por Roberto Rufo

" A diferença entre o capitalismo e o comunismo, é que o capitalismo é a exploração do homem pelo homem e o comunismo é o contrário " ( Millôr Fernandes )

" No casamento, cada pessoa deve realizar a função que lhe compete. O homem deve ganhar dinheiro, a mulher deve economizar " ( Martinho Lutero )

 Afinal o que seria um Espiritismo livre-pensador na prática?  Antes de tentar responder a essa pergunta gostaria de relembrar dois acontecimentos históricos importantes que tiveram suas datas simbólicas ocorridas em Outubro/2017.  Em 31.10.2017 celebrou-se os 500 anos da Reforma Protestante. Em 31.10.1517 Martinho Lutero pregou na porta da igreja de Wittemberg na Alemanha as 95 teses que revolucionaram o cristianismo, a igreja e a política. Lutero tornou-se referência para os anseios de reforma que ecoavam na Europa. Ele recebeu proteção de autoridades simpáticas à causa.
Um jovem aristocrata de 23 anos, Albrecht de Brandenburg, havia sido sagrado arcebispo. Para arcar com os custos devidos ao Vaticano, ele recebeu do papa a autorização para vender indulgências, uma espécie de créditos adquiridos pelos fiéis para aplacar dívidas de pecados já cometidos e por cometer. A ideia alastrou-se.
Mas a Reforma Protestante não foi apenas um marco religioso, foi também um movimento que mudou os cenários político, econômico e cultural naquele período. Mas ilude-se quem pensa que Lutero foi um liberal em matéria religiosa ou no comportamento moral. Vivia sob um dilema: em que consiste a justiça de Deus? Resposta: a justiça de Deus se revela nos textos sagrados e só é acessível pelos caminhos da fé. O controle absoluto pelos livros sagrados intensificou-se. Quinhentos anos depois o pastor reverendo Milton Ribeiro da Igreja Presbiteriana ( Doutor em Educação pela USP, Mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de onde já foi vice-reitor emitiu as seguintes opiniões em entrevista ao jornal A Tribuna de Santos:

1ª -  A igreja presbiteriana não aceita a união homoafetiva. A razão é simples. Os textos sagrados da Bíblia falam o contrário.
2ª -  Não aceitamos pastoras pela mesma razão.
Lutero, com certeza, assinaria essas assertivas há 500 anos atrás. A abertura a novas ideias é praticamente nula. O imobilismo uma certeza.

O mês de Outurbo marcou também os 100 anos da Revolução Bolchevique que levou ao surgimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( URSS ) que trouxe inúmeros progressos a uma sociedade semi feudal russa. Alguns historiadores citam o surgimento do primeiro sistema universal de saúde, a participação da mulher no mercado de trabalho, a transformação educacional e a planificação da economia. No entanto, ainda segundo esses historiadores, o sistema de partido único criou um paradigma. O modelo que queria a busca da utopia na terra ( a sociedade sem classes ) queria também carta branca para decidir qual tipo de comportamento era o ideal para a sociedade. Transformou-se numa das mais sanguinárias experiências sociais da História da humanidade. Em 1.973 Alexander Soljenitsyn, Prêmio Nobel de Literatura, lançou o livro Arquipélago Gulag. Físico e matemático russo, Soljenitsyn passou 11 anos aprisionado em campos de trabalhos forçados na Sibéria sob a acusação de nas suas correspondências fazer críticas  ao ditador Stalin. No livro Arquipélago Gulag ele enumera dez traços ou comportamentos dos presos nos campos de " reeducação " na Sibéria. 

  1º  - O medo constante;   2º - Servidão e subjugação;   3º - Dissimulação e desconfiança;
  4º - Ignorância universal;   5º - O medo de ser delatado;   6º - A traição como forma de existência;   7º - Degradação moral;   8º - A mentira como parte de sua natureza;   9º -  Crueldade; 10º  -Psicologia de escravos.

Quem já leu o livro sabe as imagens chocantes e asustadoras relatadas da vida dos prisioneiros nos campos de concentração na Sibéria. Quarenta e quatro anos depois da primeira edição do livro ainda existem adultos bem formados que se dizem stalinistas e  defensores ferrenhos do total controle dos comportamentos humanos  pelo estado. 

Dessa forma fica muito difícil uma sociedade desse tipo estar aberta às evoluções do comportamento. O imobilismo estabeleceu-se.

Por sua vez o Espiritismo foi pensado como um modelo aberto às ideias progressistas, mesmo porque Allan Kardec aventou essa possibilidade de transformação doutrinária diante do contraditório dos fatos. Leiam-se sua declaração:
" Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará " ( A Gênese, capítulo I, Item 55 ).

Na edição de janeiro de 1867, da Revista Espírita, Kardec ainda esclareceu que essa natureza contingente do conhecimento espírita deve ser garantida pelo exercício do livre-pensar de seus adeptos:
“Toda crença eclética pertence ao livre pensamento; todo homem que não se guia na fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador; a esse título, os Espíritas são também livres-pensadores”.
Em resumo, o exercício do livre pensar espírita torna-se condição essencial para que o aspecto progressivo do Espiritismo seja mantido. Dependerá sempre, é claro, da utilização de critérios racionais que evitem o imobilismo. É um fator de sobrevivência doutrinária. Finalizemos com Obras Póstumas, II dos Cismas, cap. XXXVII:


" O princípio progressivo, que a doutrina espírita inscreve no seu código, será salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não se assenta no princípio da imobilidade ".

domingo, 3 de dezembro de 2017

Irmãs Fox: Uma Tragédia Espiritualista Marcelo C. Regis

Os fenômenos de Hydesville são considerados o berço do espiritualismo moderno e são também precursores do Espiritismo. Ao tornar popular a comunicação inteligente com espíritos através de sons e batidas em superfícies de madeiras (rap), os fenômenos atraíram a atenção do público e de muitos cientistas, primeiramente nos EUA e logo na Europa. Não demorou muito para que implicações filosóficas e religiosas fossem construídas a partir dos fenômenos e daí surgissem as várias correntes espiritualistas modernas. Infelizmente a história das irmãs Fox não tem um final feliz, incluindo confissão de fraude, alcoolismo, brigas, culminando com a morte das duas Fox mais famosas – Katherine (Kate) e Margaret (Maggie) – no esquecimento e na pobreza. 

Os casos de supostos médiuns de efeitos físicos pegos em fraude são numerosos, incluindo muitos médiuns estudados por autores que dão ainda hoje a base científica ao Espiritismo. Eusapia Paladino, Leonora Piper, Eva Carriere, D.D. Home, Mme. d'Ésperance são apenas alguns dos mais famosos médiuns estudados por gente como Aksakov, Bozzano, Geley, pegos em algum tipo de fraude durante sessões de efeitos físicos. Normalmente os periódicos espiritas, por motivos óbvios, ignoram esses contraditórios e assumem apenas as opiniões dos cientistas favoráveis a causa espirita ou espiritualista. Penso que precisamos conhecer todos os fatos para que o Espiritismos não seja apenas mais uma crença de fanáticos cegos por suas convicções.

No caso das irmãs Fox, tudo começou no final de Março de 1848. Maggie, então com 14 anos e Kate, com 11 anos, viviam em Hydersville uma pequena comunidade rural no estado de Nova Iorque quando os estranhos ruídos começaram. Elas diziam escutar uma série de pancadas nas paredes e móveis. Foi Kate quem teve a idéia de iniciar alguma comunicação com as batidas, pedindo que a entidade batesse o mesmo número de vezes que ela estalava seus dedos. Começava aí toda uma carreira de comunicações e sessões mediúnicas em que as irmãs Fox seriam protagonistas. A notícia das irmãs que se comunicavam com os mortos rapidamente se espalhou. Entra em cena Leah, irmã 23 anos mais velha que Maggie, que vivia em condições precárias em Rochester, NY após ser abandonada pelo marido. 

Rochester era uma próspera cidade americana e também efervescente com movimentos religiosos como Mormonismo e Milenarismo (precursor do Adventistas do Sétimo Dia). As sessões das irmãs Fox tornaram-se a coqueluche da cidade, lotando teatros em sessões pagas. Com Leah gerenciando as irmãs, elas logo chegaram a Nova Iorque, onde conduziam três sessões diárias cobrando um dólar de ingresso. Nessa época Leah também desenvolveu habilidades mediúnicas, apesar de menos impressionantes que suas irmãs menores. Assim, com Leah garantindo as sessões em Nova Iorque, Maggie e Kate levaram suas sessões para diversas cidades americanas, num tour que incluiu Cleveland, Cincinnati, St. Louis, Washington, DC entre outras cidades. 

Essa extensa, extenuante e lucrativa rotina continuou até 1853, quando Maggie apaixona-se pelo explorador Elisha Kent Kane, que a convence a abandonar suas atividades mediúnicas. Os dois se casam, mas Elisha falece em 1857 deixando Maggie em situação financeira, mental e emocional difícil. Maggie retoma suas atividades mediúnicas e começa a beber. Em 1871 Kate, que nunca abandonou sua carreira como médium, viaja para a Inglaterra sob o patrocínio de um banqueiro americano. Na Inglaterra Kate, agora realizando fenômenos mais extraordinários como escrita direta e sem cobrar por suas sessões, submetesse a sessões com renomados espiritualistas britânicos. Porém a fama cobra seu preço e por essa época Kate se torna alcoólatra. Em 1872 Kate casa-se com H.D. Jencken advogado e espiritualista, porém Jencken falece em 1881 deixando Kate com dois filhos pequenos. Em 1885 o espiritualismo já se encontrava em declínio e sob ataques, investigações e alegações de fraude. A tragédia começa a abater as irmãs. Maggie chamada perante um comitê de investigação não consegue provar suas habilidades mediúnicas. Kate retorna a Nova Iorque e é presa por alcoolismo e vadiagem. Ato continuo, perde a guarda de seus dois filhos.

Em outubro de 1888, Maggie Fox concede entrevista exclusiva ao The New York World. O jornal publica sua confissão assinada. Na mesma Maggie denuncia o espiritualismo e suas sessões mediúnicas como fraude. Ela culpa sua irmã Leah por incentivar a fraude em troca dos benefícios financeiros e da exploração das irmãs mais jovens. Pela entrevista Maggie recebe US$1.500. Na mesma noite, Maggie confirma sua confissão em uma sessão no New York Academy of Music. Com Kate na platéia, Maggie explica como conseguia realizar as batidas através do controle dos músculos e juntas de suas pernas, dedos dos pés, joelhos e calcanhares. Na sessão Maggie demonstra as famosas batidas utilizando seu pé direito e um banco de madeira. Posteriormente Kate, que durante a audiência se manteve calada,  pronunciasse contrariamente a confissão da irmã e continua com suas atividades mediúnicas. Em 1891 Maggie retratasse da confissão, novamente atribuindo o ódio e ressentimento a Leah como motivação da mesma. Infelizmente a credibilidade de ambas já estava totalmente arruinada.

Kate vem a falecer por conseqüência do alcoolismo em julho de 1892 com apenas 56 anos. Maggie falace pobre e alcoólatra em março de 1893, com 59 anos.

Essa história digna dos folhetins e novelas brasileiras, demonstra que os Espiritas devem estar atentos aos aspectos científicos e guardar sempre algum ceticismo quanto aos fenômenos mediúnicos. Também convém manter a mediunidade e interesses econômicos totalmente separados conforme nos ensinou Allan Kardec. Os fenômenos mediúnicos parecem ser muito mais raros do que gostaríamos e os casos de fraude explícita muitas vezes mascaram fenômenos reais, afastando a comunidade científica do estudo dos mesmos. Hoje em dia são raríssimas as pesquisas nesse campo o que impede e atrasa qualquer avanço nas ciências do Espirito.

Rational Wiki, http://rationalwiki.org/wiki/Spiritualism#Fox_Sisters, Wikepedia, Fox Sisters
Paranormal Encyclopedia. com, Signed Confession of Margaret Fox Kane, October 1888


Marcelo Coimbra Régis é Engenheiro e reside em Cincinaty, Estados Unidos

Somos Progressistas? Por ICKS 15° SBPE

15° SBPE - Somos progressistas?


Elaborado pelo Grupo de Estudos do Instituto Cultural Kardecista de Santos - ICKS
1.      Alexandre Cardia Machado, engenheiro, coordenador e instrutor de cursos no ICKS, Editor-chefe do Jornal Abertura, Vice-Presidente do ICKS.
2.      Antonio Ventura, despachante aduaneiro, tesoureiro da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda (CAELV), Secretário do ICKS.
3.      Cláudia Régis Machado, psicóloga, escritora espírita e colaboradora do Jornal Abertura.
4.      Lizette Silva Saldanha Conde, professora e orientadora educacional.
5.      Lucy Régis Conde, do lar.
6.      Maria de Lourdes Rodrigues Silva, do lar.
7.      Mauricy Antonio da Silva, economista, Presidente do Conselho Administrativo da CAELV. Tesoureiro do ICKS
8.      Palmyra Coimbra Régis, do lar, conselheira e diretora da CAELV, participante do Gabinete Psicomediúnico.
9.   Roberto Luiz Rufo e Silva, tecnólogo, licenciado em Filosofia, Presidente do ICKS, colaborador do Jornal Abertura e responsável pela programação das sextas-feiras do ICKS.
10.  Valéria Régis e Silva, professora, presidente da comissão executiva da CAELV.





Índice:

1 – Introdução :                                                                                               página 3
2. Análise da abrangência do tema:                                                                página 4         
2.1 - Definições de termos relacionados a Progressista:                                 página 4
2.2 – Checagem de textos Espíritas quanto ao conceito progressivo
 do Espiritismo:                                                                                               página 5
2.3 - Resumo dos textos analisados:                                                               página 5         
2.4 - Análise estatísticas de temas que seriam usados para pesquisa:            página 6
2.5 - Desenvolvimento e aprofundamento dos temas escolhidos                   página 7
            2.5.1 -Metodologia:                                                                            página 7         
2.5.2 - Análise dos textos:                                                                   página 9
            2.5.3 - Processo de elaboração das conclusões por subtema: página 10
2.5.4 – Resumo dos 7 subtemas:                                                         página 11

            2.5.5 – Resumo - Parágrafo conclusivo de cada subtema:
3. – Conclusões e Recomendações Finais                                                      página 20
4 – Referências Bibliográficas:                                                                       página 21

(Estaremos adicionado a seguir as fotos, e gráficos)

1.Introdução:
O que é ser progressista? Dentro da visão espírita ser progressista é ressignificar ou interpretar de forma mais atualizada os princípios que norteiam o Espiritismo.

É uma postura difícil pois há o receio da descaracterização da Doutrina, mas para ser progressista devemos ter a ideia que não podemos ser sectários.

O progresso indica movimento, atualização.

Nosso grande trabalho, almeja, a par de ser considerado progressista, seguir sem perder a essência da ideia espírita.

As ideias que podem ser deixadas de lado, serão descartadas mas há princípios que sustentam os conhecimentos espíritas e estes só podem ser ressignificados para atender o avanço dos conhecimentos e para trazerem um frescor, um oxigênio para uma visão de mundo dinâmica, clarificada e amplificada.

Baseado nesta ideia decidimos realizar um estudo comparativo e estatístico de quão progressista nosso grupo livre-pensador, na prática o demonstra ser.

Nosso trabalho se estruturará como uma pesquisa comparativa – buscando na fonte, ou fontes os dados que lhe permitiriam verificar qual a resposta para a pergunta proposta. “Será que o que produzimos no ambiente Kardecista livre-pensador é progressista”?

Nossos objetos de análise são duas fontes, propomos os jornais:

-Espiritismo e Unificação e,
- Abertura.

Esta escolha se dá para que  a responsabilidade pelo material produzido e a análise que faríamos recaísse sobre o ICKS, não criando assim problemas com outros companheiros de ideal.

As edições para pesquisa nos jornais Espiritismo e Unificação e Abertura ambos de Santos – SP, serão no período em que tivemos como redator Jaci Régis.

Partimos do pressuposto de que a Doutrina Espírita possui em sua essência o germe do progresso constante, haja visto que o conhecimento humano é infinito. O Espiritismo possui, portanto, a ânsia do saber, especialmente aquele saber que transforma para melhor o comportamento humano. Que faz com que tenhamos atitudes cada vez mais isentas de preconceito.

Em seu comentário à pergunta 798 do Livro dos Espíritos, Allan Kardec nos fala que as ideias só se transformam com o tempo. E profetiza que a marcha do Espiritismo seria mais rápida que a do Cristianismo. Os espíritos por sua vez dizem serem chegados os tempos em que a Doutrina Espírita tomaria lugar entre os conhecimentos humanos.

Historicamente o Espiritismo surge numa época onde as conquistas do século XVIII, através do Iluminismo, se fazem sentir com contundência nas Filosofias, nas posturas sociais e políticas do século XIX.

Didaticamente o Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes, foi um movimento cultural da elite intelectual europeia. O objetivo era mobilizar o poder da razão a fim de reformar a sociedade. Pretendia-se também um conhecimento aprofundado da natureza para torná-la útil ao homem moderno e em processo de rápido progresso.

Lembremos que o Iluminismo trouxe consigo o conceito do que hoje se chama de Progressismo. No século XIX surgiram uma série de doutrinas filosóficas, éticas e econômicas baseadas na ideia de que o progresso é vital para o aperfeiçoamento da condição humana. O Espiritismo se insere nessas doutrinas, com viés espiritualista, onde o progresso também é vital para a evolução do espírito. Sua maior contribuição é a destruição do materialismo, para que os homens compreendam melhor que a vida futura está destinada ao que fizermos no presente destruindo os preconceitos de seita, casta e de cor. É a Doutrina da grande solidariedade. 

Contemporaneamente ser progressista tem sido associado à luta por direitos civis e individuais, movimentos sociais como o feminismo, o ambientalismo, o movimento LGBT e o movimento negro entre outros.

Participamos também dessa sociedade que busca implementar políticas progressistas que promovam mudanças socioeconômicas e nos conceitos espirituais onde a reencarnação como conceito de oportunidade para aprendizagem e evolução tem um papel preponderante de motor do progresso humano.

2. Análise da abrangência do tema

2.1 - Definições de termos relacionados à palavra -progressista
Primeiramente olhamos no dicionário (dicionário Aurélio básico da língua portuguesa) procurando as palavras progredir, progresso, progressista, progressivo e progressão, para nos dar base para desenvolver o trabalho sobre a postura progressista e depois sustentar esta postura em relação à Doutrina Espírita. Desta forma poderíamos verificar se estes conceitos se aplicam no campo de pesquisa definido.

Definições:
Progredir - caminhar para frente, avançar. Prosperar. Evoluir.
Progresso - movimento ou marcha para adiante. Conjunto de mudanças ocorridas no curso do tempo. Desenvolvimento ou alteração em sentido favorável. Avanço e melhoria, acumulação de conhecimentos, capazes de transformar a vida social e de conferir maior significação e alcance no contexto da experiência humana.
Progressista - representante do progresso. Favorável ao progresso.
Progressivo - que se vai realizando gradualmente.
Progressão - sucessão ininterrupta e constante dos diversos estágios de processos.

2.2 – Checagem de obras Espíritas quanto ao conceito progressivo do Espiritismo
Após análise das obras básicas encontramos trechos importantes nas seguintes obras espíritas, o fizemos para melhor enquadramento de nossa preocupação sobre o tema proposto:
1.Gênese (revelação espírita) - Respondendo à pergunta O que se pode tirar de progresso em relação a Doutrina Espírita? (Itens 13,14,18, 50, 52, 54.55,57,60);
2. Obras Póstumas - Respondendo à pergunta. Como é visto o futuro do Espiritismo nas Obras Póstumas? Artigos: Vida Futura (205); Futuro do Espiritismo (299); A nova geração (314); Regeneração (326/328);
3. O Livro dos Espíritos - Respondendo à pergunta O que caracteriza Progresso no Livro dos Espíritos? 779 a 785/ 789/ 797/ 798 a 801;
4. Revista Espírita- 1.863 - Lei do Progresso e 1.864 - Religião e Progresso.

2.3 - Resumo dos textos analisados

A partir de dois artigos da Revista Espírita, “Lei do Progresso” e “ Religião e Progresso” verificamos como esses dois artigos definem a postura progressista da Doutrina Espírita. Especificamente no artigo Lei do Progresso, é colocada a importância da existência, da necessidade de progredir. Isso se faria no avanço dos conhecimentos o que nos colocaria num patamar maior de evolução.

Já no artigo Religião e Progresso a importância é dada ao conhecimento científico, pois a religião contra a ciência só tem a perder. A postura de repudiar a ciência é repudiar as leis da natureza, é ir contra o ensino dado pelos espíritos do valor das leis naturais criadas pela inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.

Em pesquisa no livro Gênese (Revelação Espírita) tentamos responder à pergunta O que se pode tirar de progresso em relação à Doutrina Espírita?  Verificamos que está bem claro que o Espiritismo veio quando o homem já estava intelectualmente maduro e apto para raciocinar, pesquisar.

Allan Kardec, com uma mente esclarecida, desprovida de preconceitos, foi o organizador desses fatos que apareceram em vários lugares e através de diferentes médiuns. Usou o método científico, pois analisou, observou, comparou e estudou. Como nenhuma Ciência sai do cérebro de um homem só, com o Espiritismo também foi assim, apareceu em vários centros, com contribuições dos espíritos que em pouco tempo formou-se o corpo doutrinário. Portanto, o Espiritismo foi obra de uma ação coletiva. Mas embora a contribuição dos espíritos seja fundamental e tenha vindo de várias categorias de espíritos, Allan Kardec não se baseou só em evidências, deixou um legado dizendo que se algum erro se apresente no seu corpo doutrinário que estiver em desacordo com as novas descobertas científicas, ele se modificará e aceitará a nova verdade. Só esse fato demonstra que a Doutrina é progressista que não é estagnada e que caminha passo a passo junto à Ciência, estando aberta a mudanças.

Para o Espiritismo, o progresso está condicionado ao combate ao ateísmo e ao materialismo e aos religiosos que não possuem isenção de preconceito. Portanto para ser progressista é preciso também espiritualizar-se cada vez mais. A transformação da humanidade pelo progresso material e notadamente espiritual, acabará com o mundo velho dos preconceitos, do egoísmo e do orgulho. 
Em Obras Póstumas estudamos o capítulo " Como é visto o futuro do Espiritismo " nos seus artigos Vida Futura, Futuro do Espiritismo e A nova geração e Regeneração. Nesses artigos está bem claro que sem a convicção da existência de uma vida futura, se perderia a razão do progresso da humanidade. Todo planejamento se restringiria a uma única existência. Portanto para ser progressista, diz a Doutrina Espírita, é necessário ter a crença na vida futura.

Ainda é dito que por meio do Espiritismo, a humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é consequência inevitável. O Espiritismo progrediu principalmente depois que foi sendo mais bem compreendido na sua essência íntima, que é garantir a felicidade do espírito, mesmo neste mundo.

Por último lembremos que na ideia da Ciência da Alma está o valor de ser progressista, porque atendendo os anseios da alma que está em evolução acompanhará as mudanças e crescimento para atender os seus conflitos, respondendo às suas inquietações.  Isso acontecerá porque a Doutrina Espírita terá que estar alinhada ao desenvolvimento das ideias que contribuem para o melhor entendimento do homem.

2.4 - Análise estatísticas de temas que seriam usados para pesquisa

Fizemos uma análise piloto de alguns anos afastados uns dos outros nos temas, buscando assuntos que modernamente chamamos de progressistas. Os temas selecionados com maior frequência de repetição, na amostragem utilizada dos jornais Espiritismo e Unificação, anos 1964 a 1967,1969 e de 1979 a 1985. Já do jornal Abertura analisamos os anos de 1987 e 1999.

Neste momento, na amostra que fizemos os 6 temas com maior repetição foram: Atualização da Doutrina – 19; Questão Religiosa – 17; Jesus na DE – 10; Liberdade Sexual – 10; Religião e poder – 8; Ideologia – 7 .

Assim se determinou que faremos uma pesquisa completa de:

Atualização da Doutrina Espírita – que passamos a chamar de ATUALIZAÇÂO;
Questão Religiosa, incluindo religião e poder, Jesus na Doutrina Espírita - que chamamos de QUESTÂO RELIGIOSA;
Liberdade Sexual, Papel da Mulher– Que Chamamos de SEXUALIDADE;
Descartamos: e Ideologia (marxismo, socialismo etc.) pois não seria conclusivo;
Tabela 1

2.5. Desenvolvimento e aprofundamento dos temas escolhidos:

Decidimos concentrar a análise de todas as edições dos Jornais Espiritismo e Unificação e Abertura, selecionando textos que seriam identificados em 3 subgrupos:
Sexualidade, Questão Religiosa e Atualização.

2.5.1 -Metodologia:

Nos dividimos em grupos e revisamos 100% dos jornais, buscando por artigos relacionados com os 3 temas. Usamos um código de cor para identificação. Em paralelo fotografamos e identificamos os artigos por subgrupo, com o ano e mês.
Uma vez assim identificados ficou mais fácil a sua revisão, quer no arquivo físico, como por fotografia.
Revisando os 3 grupos pudemos reclassificar em subtemas. Como na tabela 3 abaixo:
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Uma vez determinados os 10 subtemas, verificamos aqueles que possuíam um número razoável de artigos onde pudéssemos aplicar algum critério de análise comparativa. Ao todo havíamos identificado 420 artigos, mas somente 197 ou 47% foram analisados por enquadrar-se no critério de número de artigos.

Neste momento definimos que trabalharíamos os 7 subtemas, pois existia material em quantidade e com uma distribuição interessante no tempo:

1.      Questão Religiosa
2.      Sexualidade
3.      Emancipação da mulher
4.      Aborto
5.      Homossexualismo
6.      Método de atualização da doutrina
7.      Doutrina Kardecista

No quadro 1 abaixo demonstramos como poderiam ser identificados os artigos, para o subtema Aborto (com 25 artigos).

Exemplo: Tema Sexualidade, Subtema Aborto (AB) – ano (1973), mês Abril (4).
Sexualidade – AB -1973 – 4. Jpg – assim foram identificados cada artigo.

Quadro 1

Com estes dados determinados,  o subgrupo então poderia tanto recorrer aos arquivos físicos dos jornais como também diretamente no computador, abrindo a foto correspondente ao artigo.

2.5.2 - Análise dos textos:
Visando obter condições de verificar a questão proposta: Seriámos o grupo chamado Espírita Livres-pensadores progressistas? Ou simplesmente somos progressistas?  pensamos em organizar o resultado da leitura dos artigos por meio de um formulário base, onde apresentaríamos os artigos mais representativos, numa linha de tempo e para cada artigo representativo, um parágrafo que represente a ideia principal do mesmo. Com isto poderíamos ver se houve evolução na maneira de pensar expressada nos artigos, sobre este dado subtema ao longo do tempo.

Ver o Formulário 1 abaixo como exemplo.

Formulário 1 - exemplo
2.5.3 - Processo de elaboração das conclusões por subtema:
Referencial: deveríamos comparar a abordagem dos últimos artigos com os primeiros e verificar se apresentavam variações mais aproximadas ao que, de uma forma geral os movimentos progressivos pensam atualmente sobre o subtema.




2.5.4 – Resumo dos 7 subtemas:

2.5.4.1 – Homossexualismo:


1972- 8   O drama da sexualidade – Redação
“Partindo do hermafroditismo, pode-se dizer, pois, que até fisicamente existe uma bi-potencialidade sexual. Do ponto de vista espiritual, isto é, considerando-se o ser espiritual independentemente da organização quer somática ou psicossomática, o espírito não tem sexo.

1980- 7   Citações sobre o Homossexualismo- Redação
Jaci Régis, Herculano Pires e Chico Xavier

1990- 1        Os gays e a adoção de filhos

Estaria o casamento homossexual enquadrado no questionamento da formação da família?

Não estaria a hostilidade ao homossexualismo no ocidente ligado à crítica cristã?

Seria lícito invocar os laços espirituais, acima das ligações contingenciais da encarnação para suporte amplo, até superior, às uniões homo? Afinal não é o espírito que importa e a carne para nada vale?
Num mundo que milhões de crianças que perambulam pelas ruas não seria melhor ter uma orientação de dignidade sobretudo de afeto do que ter uma família biologicamente normal.

Nos centros espíritas a questão da homossexualidade é convenientemente velada, encoberta pelo preconceito e pressões moralistas.

Na prática os homossexuais acabam encontrando seus companheiros.

2000-7     Citações sobre o homossexualismo - João Alberto Vendramin

No século XIX quando surgiu o Espiritismo, o homossexualismo não era questão de debate, por isso Kardec não comenta no LE.

André Luís através de Chico Xavier, mostra-se aberto ao assunto em Evolução em 2 mundos e no livro Sexo e destino.

As pessoas são consideradas no tribunal divino dá mesma forma que as pessoas chamadas de normais.

2007-12      Casamento gay em Centro espírita- Imprensa Espírita – Redação

Crítica ao casamento gay... o homossexualismo é apresentado como opção sexual, mas, na verdade é um desvio espiritual.

2008-9    Casamento Gay- Marcelo Régis

Parece-me o mais justo e condizente com a DE deixar que pessoas adultas definam seus próprios destinos, desde que não prejudiquem um ao outro, a sociedade ou à comunidade em geral.

2012- 6       Obama e o Casamento Gay    Marcelo Régis

Obama anunciou seu apoio ao casamento gay, naquela época apenas 6 estados americanos permitiam isto, comenta que até então 10 países já permitiam o casamento. Nenhum muçulmano; a união homoafetiva seria contrária à Bíblia/ argumento a favor seria o direito à liberdade de escolha- posição espírita.

2014-3 O Beijo Gay      Marcelo Régis

Comenta o beijo gay que apareceu na novela da Globo. Penso que o Espiritismo ao apoiar a evolução contínua apoia iniciativa de igualdade, solidariedade e fraternidade. Num mundo evoluído não há espaço para intolerância, violência e preconceito de qualquer forma, assim cabe aos espíritas apoiar iniciativas que caminhem em direção a um mundo melhor.

Resumo conclusivo:

Nas décadas de 70 e 80, os artigos espíritas publicados no Jornal Espiritismo e Unificação se centravam na tentativa de explicar o homossexualismo por uma visão biológica (hermafrodismo potencial) e a questão que o espírito não tem sexo.

Na década de 90, a análise é mais social, centrada na questão da mudança na constituição familiar (adoção de crianças pelo casal homossexual e casamento homoafetivos).

Entretanto no ano 2000 até o momento atual (2014) a institucionalização do casamento entre gays e a exposição cada vez mais constante dos relacionamentos homoafetivos nos filmes e novelas passa a ser um fato cada vez mais constantes na vida das famílias e da sociedade.

Deduzimos pelo Espiritismo que por apoiar a evolução contínua do espírito e da sociedade deveria aceitar que num mundo evoluído não haveria espaço para intolerância, violência e preconceito de qualquer natureza. 3 artigos do Abertura abordam este aspecto.

Os demais  6 tópicos que escolhemos serão apresentados apenas através dos resumos  conclusivos e a linha do tempo.

Resumo - Parágrafo conclusivo de cada subtema:

2.5.4.2 - Sexualidade (22 artigos)


Pela linha do tempo podemos verificar que os artigos sobre sexo (sexualidade, educação sexual, etc.) da década de 70 e 80, centraram-se na importância e na necessidade de explorá-los com naturalidade e fazendo-o parte da vida humana.

Tenta desvinculá-lo da ideia judaico-cristã de pecado, ato impuro, sujo, colocando em foco a não-repressão.

Podemos dizê-los progressista pela abertura e espaço de discussão, demonstrando mudanças.
Os artigos estudados não se mostram retrógados, não ditam comportamentos, mas buscam esclarecer um fato real, presente na vida das pessoas, levado com equilíbrio e harmonia.

Já na década de 90 e anos 2000- os artigos voltam-se mais para questões como: Aids, Sexo na espiritualidade, Células tronco, Controvérsias sexuais, Saúde sexual e Homossexualismo. Temas que na época estavam mais em voga, e que pediam pareceres dentro da visão espírita.

Como vanguarda- em 1971 temos um artigo intitulado Sexo na Velhice - assunto na época não explorado.




2.5.4.3 - Emancipação da Mulher  (26 artigos )

Dentre os 26 temas escolhidos nos jornais Espiritismo e Unificação e Abertura, seis demostram a evolução do pensamento sobre o assunto.

O primeiro escolhido foi “A mulher a procura da liberdade” de 1972 onde já se demonstra a tendência de libertação total.

Nove mulheres espíritas ou simpatizantes foram entrevistadas e emitiram sua opinião.

Todas aplaudiram o movimento feminista com restrições à falta de compreensão do que se deve buscar nessa libertação feminina, mas estão satisfeitas com a abertura e sabem que há muito a ser percorrido. Acreditam que a forma como são educadas as meninas devem se modificar.

Para as entrevistadas o debate sobre se a mulher deve ou não trabalhar fora está superado.

Em 1981 sob o tema “A mulher, a família e o menor” o articulista ressalta a importância da família e o papel da mulher para a sua constituição e que os espíritas devem atentar para os pontos básicos que são a mulher, a família e o menor. Mostrando a necessidade de equilíbrio para as novas tendências e comportamento.

Em 1988 Jaci Régis trata a liberdade sexual da mulher como ponto crucial quando se fala em pílula anticoncepcional e que ainda as mentes dos adultos estão pseudo-abertas afirma. Embora Kardec tenha proposto teses avançadas para a igualdade das mulheres, quando o Espiritismo se tornou popular não seguiu uma linha libertadora iniciada pelo seu fundador.

O sexo existe. A família está mudada porém o movimento espírita ainda conserva a estrutura machista e de dominação. A comunidade doutrinária não parece estar preparada para refletir sobre o novo e propor saídas não conservadoras.

2.5.4.4 - Aborto (25 artigos)

Os artigos mostrados nas 4 décadas revelam que mesmo a Doutrina Kardecista sendo contra o aborto, há condições especiais que muitas vezes justificam o ato – estupro, risco de vida da mulher e do feto.
Em um dos artigos analisa que em um país da América do Sul o Uruguai, o aborto é visto e aplicado legalmente em condições previstas da lei, sendo este menos burocrático e amplo. Aceitação moderada. Não é tão de condenação sempre analisando as circunstâncias.
A liberdade do indivíduo se impõe.




2.5.4.5 - Questão Religiosa (10 artigos)

1969/1 – Espiritismo e Orientalismo :

Caracterizando que o Espiritismo é melhor que as escolas espiritualistas e orientais.
O Espiritismo não vem para contrapor a religião cristã e sim uma nova visão do cristianismo.

1977- Espiritismo : Ciência, filosofia ou religião – Redação:

 O Espiritismo não é uma igreja e sim uma crença racional que o ser sinta-se perfeitamente enquadrado num processo evolutivo, justo que lhe aponte objetivos concretos.
A religião espírita fundada na doutrina do cristo é que representa a síntese moral.

1984 - Ser ou não ser religião – Roberto Messias:

Espiritismo é religião e o Espiritismo não é religião –  ambas coletam argumentos em Kardec e não chegam a um acordo.

1984 -10 -Espiritismo e religião - Roberto Rufo:

Questão complicada, mas se Kardec enfrentou sem receio, devemos fazer o mesmo.
Não é um espirito de seita e por consequência a impossibilidade de combinar Espiritismo e sectarismo, por serem corpos que se repelem simultaneamente.

1986 -5  - Um encontro sobre a questão religiosa:

Chega a ruptura - carta, debates sobre o assunto. Depois como podemos nos organizar como um novo movimento.

Podemos notar que o grupo progressista tomou uma nova postura de não ser religião. Houve uma ruptura definitiva. Neste momento a atitude progressista torna-se presente e atuante.

2.5.4.6 - Método de Atualização (18 artigos)

1981/4 -124 anos de atualidade – José Rodrigues era um artigo que mostrava que o Espiritismo era moderno, não precisava de mundanças, trazido aqui como um referencial de como estes mesmos escritores à época à frente do Jornal Espiritismo e Unificação, mudaram de ideia.

1982/12 - Artigo que tratava da Espiritização - Desestruturar para Renovar o “status quo”. Artigo de Jaci Régis é um convite a romper com o imobilismo, o primeiro passo encontrado na bibliografia procurada que visava a atualização constante.

1994/3 - Método para atualização do Espiritismo – Ary Raynsford. Primeiro artigo encontrado propondo uma metodologia a ser seguida;

1996/7 - Método para a atualização do Espiritismo  de Jaci Régis, busca as propostas de Allan Kardec em Obras Póstumas e propõe um método de implementação.

2003/3 - Atualizar para permanecer – Ademar Chioro dos Reis apresentado no congresso da CEPA viabiliza a atualização através de grupos de estudos.

A partir da ruptura construção das ideias progressistas, mas ela só se faz quando atualizarmo-nos.
Houve um período que vai de 1984 a 2002 que a ideia principal é atualizar para que fossemos progressistas.

Apropriar-se dos avanços em várias áreas. Necessitava mudança de linguagem verbal e escrita.
Trabalha-se nesta ideia, criando primeiramente um modelo de atualização em 1996- Jaci Régis
Depois Reinaldo e Ademar propoem ” Atualizar para permanecer progressista”.

Houve um progresso nas ideias de como atualizar ao longo do tempo  e se concretizou nos trabalhos apresentados em Congressos e Simpósios e o fruto ainda se faz presente.

2.5.4.7 - Doutrina Kardecista (15 artigos)

A discussão não se dá apenas entre o nome Espiritismo e a  proposta da Doutrina Kardecista, tratava-se da recuperação plena dos conceitos de Kardec e ir além para ser pós-Kardecista.
Utilizar o nome Doutrina Kardecista era uma tentativa de caracterizar este novo movimento
Doutrina Kardecista não é um apelo elitista, mas uma releitura das obras Espíritas.

3. – Conclusões e Recomendações Finais:

Para mantermos uma área de conhecimento progressiva é necessário produzir conhecimento, pesquisas, releituras, descobertas de novos caminhos, precisa-se de uma nova linguagem.
Para isto, o Espiritismo precisa simultaneamente manter seu eixo de consciência e de manter a consistência doutrinária.

Nas pesquisas que efetuamos no jornal Espiritismo e Unificação e no atual periódico Abertura, identificamos claramente esse comportamento moderno, reforçando o que é ser progressista para o Espiritismo através dos artigos dos pensadores espíritas que contribuiram maravilhosamente para esse ideal.

Salientamos da análise dos sub-temas :

Homossexualismo - Deduzimos que o Espiritismo por apoiar a evolução contínua do espírito e da sociedade deveria aceitar que num mundo evoluído não há espaço para intolerância, violência e preconceito de qualquer natureza.

Sexualidade - Vemos nos artigos uma onda ligada às necessidades e aos temas que na época estavam mais em voga, pedindo pareceres sob a ótica espírita. Os periódicos não se desviam de temas importantes para a sociedade a cada momento.

Emancipação da Mulher  - Defendeu-se a ideia  que a forma como são educadas as meninas deveria se modificar. Que mesmo evoluíndo um certo equilíbrio deve ser buscado entre trabalho e vida familiar. Em 1988 Jaci Régis trata a liberdade sexual da mulher como ponto crucial quando se fala em pílula anticoncepcional e que ainda as mentes dos adultos estão pseudo-abertas afirma, embora a Kardecismo tenha proposto teses avançadas para a igualdade das mulheres, quando o Espiritismo se tornou popular não seguiu uma linha libertadora iniciada pelo seu fundador. De certa forma o Espiritismo ainda mantém uma visão machista que precisa ser combatida.

Aborto - Aceitação moderada. Não o faz em tom  condenatório, mas sempre analisando as circunstâncias envolvidas. A liberdade do indivíduo se impõe.

Questão Religiosa – Evolui da crítica ao modo religioso, ao ser  ou não ser o Espiritismo uma religião até o momento da ruptura e com isto o grupo progressista toma em definitivo uma nova postura de não ser religião. À partir deste momento a atitude progressista torna-se presente e atuante.

Método de Atualização - Houve um período que vai de 1984 a 2002 que a ideia principal era atualizar para que fossemos progressistas. Apropriar-se dos avanços em várias áreas do conhecimento. Necessitava-se mudança de linguagem verbal e escrita. Trabalha-se nesta ideia, vários modelos de atualização são propostos. Sendo que a proposta melhor sucedida foi a apresentada por Chioro no Congresso da CEPA de Porto Alegre. Houve um progresso nas ideias de como atualizar e se concretizou nos trabalhos apresentados desde então e o fruto ainda se faz presente.

Doutrina Kardecista – Não se tratava apenas da mudança de um  nome - Espiritismo – por - Doutrina Kardecista - é uma recuperação plena dos conceitos de Kardec e poder ir além, através de uma releitura para ser pós-Kardecista.
É nítido como nós, espíritas livre-pensadores fomos compreendendo o nosso papel de contribuidores para as citadas mudanças socioeconômicas, sem nunca nos distanciarmos da visão humanista e espiritualista do ser humano, própria do Espiritismo. 
Podemos concluir que, baseado nos termos propostos neste trabalho, sim sempre fomos progressistas e continuamos sendo pois somos agentes do progressismo da Doutrina Espírita vivendo e escrevendo sobre cada momento importante pelo qual passa a sociedade.

5 – Bibliografia - Referências Bibliográficas:

1.      Revista Espírita Anos 1863 (pag.26) 1864 (pag.203 Religião e Ciência)
2.      A Gênese (revelação espírita) - Respondendo à pergunta O que se pode tirar de progresso em relação a DE? (Itens 13,14,18, 50, 52, 54.55,57,60), 117, 526   janeiro de 1867,
3.      Revista Espírita janeiro de 1867,
4.      Obras póstumas/ LE Ver Nota Explicativa, p. 477. Conclusão 465
5.      Ciência da Alma : Pode o Espiritismo ser considerado Ciência da Alma? Uma análise epistemológica da  proposta do pensador espírita Jaci Régis  -trabalho do ICKS – 2013.
6.      Jornal Espiritismo e Unificação – de 1962 a 1987
7.      Jornal Abertura - de 1987 a 2015
8.      Dicionário Aurélio