segunda-feira, 28 de maio de 2018

O que é fazer a diferença? por Alexandre Cardia Machado


O que é fazer a diferença?

Pesquisando sobre o tema fazendo a diferença encontrei um texto que gostaria de compartilhar com vocês, o título é “Atitudes Que Fazem A Diferença!” escrito por Gustavo G. Boog para o Jornal “Novo Emprego – O Amarelinho”, voltado para o mercado de trabalho. No texto podemos encontrar reflexões sobre o que realmente importa, nas diversas áreas de atuação humana.

“ Fazer a diferença é uma atitude normal nas pessoas, pois cada um de nós deseja de alguma forma deixar a marca de sua atuação, o registro de sua competência, mostrar o quanto pode contribuir numa determinada situação. As pessoas que estão ao nosso redor simplesmente adoram que cada um de nós faça a diferença, sejam elas nossos colegas de trabalho, chefe, parceiros ou parceiras, família, amigos, etc. Fazer a diferença é sair do lugar comum, é fazer diferente, é dar o melhor de nós; quando não queremos ou podemos fazer a diferença, quando nos sentimos desmotivados, impotentes, quando existe a postura do “tanto faz”, quando nos sentimos vítimas, com certeza há algo errado, é como se houvesse uma doença.

Fazer a diferença é surpreender positivamente as pessoas, fazendo “algo mais” que não era esperado, e de alguma forma superando as expectativas. Fazer a diferença significa “encantar” as pessoas, criando aquele ambiente mágico em que as pessoas podem dizer: “para mim, naquele momento, naquele local, você fez a diferença!”. Nós reconhecemos instantâneamente alguém que faz a diferença: pode ser um vendedor na loja, um garçon, um cobrador de onibus, um guarda de estacionamento, um colega de trabalho, um líder inspirador.

Para fazermos a diferença é preciso desenvolver nossa maestria pessoal e profissional: precisamos ser competentes e termos poder pessoal.

• precisamos ser competentes para fazermos a diferença. Isso quer dizer que devemos ter conhecimentos e habilidades, adquiridas pela prática, pelos estudos, pelo treino, pela experiência de vida; e também motivação, ou seja, o estímulo, a vontade de fazer a diferença. A competência é a filha do conhecimento e da motivação. Num desfile de Escolas de Samba, é preciso de muita competência para preparar as alegorias, os carros, os passos. Veja quantos conhecimentos e quanta motivação estão presentes. E como diz o provérbio: quem não tem competência que não se estabeleça!

• o poder pessoal é assumir as rédeas da próprioa vida, é termos auto-estima elevada, é gostarmos de nós mesmos, é estarmos de bem com a vida, é a decisão de não ser mais vítima. O poder pessoal significa num primeiro momento aceitarmos as coisas como elas são (e não ficar brigando contra), e imediatamente agir em cima disso. Por exemplo, meu chefe no trabalho é um pequeno ditador. Aceitar isso significa não ficar desejando que ele seja diferente, mas sim reconhecer que ele é assim. A questão que se coloca é o que eu devo e posso fazer com isso? qual será meu próximo passo?
Para fazermos a diferença, é fundamental nos conhecermos, quais são nossos potenciais e os pontos que precisamos desenvolver e melhorar. …

Gente que faz a diferença tem algumas características. Procure identificar se você tem algumas, muitas ou todas e saberá se você pode e quer fazer a diferença. São elas: se importa com os outros, conhece as necessidades dos outros; coloca sua energia na busca de soluções e não tanto nos problemas; dá um carinhoso “empurrão” nos outros, fazendo-os ver novas possibilidades e caminhos ;  está de bem com a vida, é entusiasmado e não descarrega suas frustrações nos outros e  tem cortesia e alegria nos relacionamentos; tem competência e te ajuda a alcançar os teus objetivos;  tem poder pessoal;  tem um sentido de finalização. Não fica dando desculpas porque alguma coisa não aconteceu. Faz as coisas acontecerem;  não se exime das responsabilidades, vai além do “eu fiz a minha parte”;  assume a liderança e os riscos ; Fazer a diferença está ao alcance de todos nós.
Fazer a diferença é uma atitude, é um estado de espírito e decorre de uma decisão pessoal: eu quero fazer uma positiva diferença para mim mesmo e para as pessoas.”

No Livro dos Espíritos temos um caminho proposto, está na resposta à questão 918 , Caracteres do homem de bem. “ Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça. É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças. Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como um depósito, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.
Se sob a sua dependência a ordem social colocou outros homens, trata-os com bondade e complacência, porque são seus iguais perante Deus. Usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com seu orgulho. É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que também precisa da indulgência dos outros e se lembra destas palavras do Cristo: Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado.

Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois não ignora que, como houver perdoado, assim perdoado lhe será. Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os mesmos direitos lhe sejam respeitados.”

Esta coluna busca exemplos espíritas ou não que sejam capazes de demonstrar nossa perseverança em ajudar a sociedade em seu processo de desenvolvimento conjunto.

Nota: Publicada no Jornal Abertura em Março de 2018




quinta-feira, 24 de maio de 2018

A prisão de Lula - por Alexandre Cardia Machado


Prisão de Lula

Publicado no Editorial do Jornal Abertura de maio de 2018

Não há como não iniciar um editorial neste mês sem comentar o fato político/policial mais importante, ou pelo menos mais comentado que foi a prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. No dia 9 de abril de 2018 o mesmo se entregou à Polícia Federal em São Bernardo do Campo e foi conduzido até Curitiba no Paraná.

Todos os últimos dias de liberdade de Lula foram amplamente cobertos pela imprensa, todas as medidas em sua defesa, feita por seus advogados de forma igual obtiveram a máxima atenção da imprensa brasileira e mundial.

Lula é o primeiro ex-presidente do Brasil a ser preso por um crime comum, anteriormente houveram casos de prisão política.

Há muita agitação na população com relação a esta prisão e podemos entender que pessoas tem visões distintas sobre o sentimento de justiça, tanto isso preocupou a Kardec que ele tratou do assunto na questão 873 do Livro dos Espíritos, donde extraio o seguinte texto:

"873. O sentimento da justiça está em a Natureza, ou é resultado de idéias adquiridas?
 “Está de tal modo na Natureza, que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pos no coração do homem. Daí vem que, frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

Ou poderíamos dizer ao contrário, o importante é a constatação de que o senso de justiça não é igual para todos.

A Justiça Brasileira já se posicionou em segunda instância de que Lula é culpado pelo crime de  corrupção e lavagem de dinheiro, portanto seguindo o entendimento de jurisprudência do STF, cabe a prisão provisória.

No Brasil não parece muito claro a separação entre o que é pessoal e o que é do Estado. Nossos políticos costumam ultrapassar limites éticos no trato da coisa pública e esta medida, da prisão de um ex-mandatário,  vem no sentido de deixar claro que estes limites existem. Respeitando o direito de pensar de forma contrária daqueles que nos leem, acreditamos que este foi um passo importante dado no sentido do cumprimento da moralidade no serviço público.

Foro previlegiado

Ainda no sentido de dar mais celeridade a processos envolvendo políticos, detentores de mandato a nível federal, o  Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 3 de maio restringir a regra do foro privilegiado para deputados federais e senadores.

A maioria dos ministros decidiu acompanhar o voto do relator do processo,  Ministro Luís Roberto Barroso. Segundo o voto do ministro, só estariam incluídos na regra do foro privilegiado crimes cometidos durante o mandato e que tenham relação com o cargo, esta decisão fará com que vários processos possam ser encaminhados à primeira instância, dando a estes cidadãos uma maior igualdade de tratamento que os demais cidadãos brasileiros.

Muito há que mudar no campo dos privilégios, mas ao menos alguma coisa já mudou. As consequências só saberemos em alguns meses. É mais do que evidente a incapacidade do STF de julgar casos de crimes comuns, na velocidade necessária e seguidamente, acusados com foro privilegiado são absolvidos por decurso de prazo, processos que ultrapassam 10 anos para chegar à pauta do tribunal.

Eleições no Brasil

Este ano teremos eleições gerais, para Presidente e Vice- presidente do Brasil, Senadores, Deputados Federais e Deputados Estaduais.

Nos últimos 7 mandatos de Presidente no Brasil, dois ex-Presidentes, Fernando Collor de Mello (PRN – atual PTC) e Dilma Rousseff (PT)  sofreram o impeachment e tinham como vices Itamar Franco (PMDB) e Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB) respectivamente. Portanto 28% dos vices assumiram a presidência da república neste período passado. O que demonstra uma certa instabilidade política, portanto considerem que o vice possa vir a assumir o governo e então atenção nele. Ressaltamos que elegeremos um vice-presidente também.

Recuperação econômica

O Brasil, passou por dois anos de recessão – ou seja com crescimento negativo de – 3,8% em 2015,   - 3,6% em 2016 – ano do impeachment da Dilma.

Neste momento  começamos a sair do buraco devido a mudanças na condução da política econômica. Só não estamos melhor, porque a mesma oligarquia que estava no comando da política brasileira até 2016 segue no poder. Com tantas denúncias ao presidente Temer e seus auxiliares próximos as condições para maiores mudanças que dependeram de aprovação no Congresso Nacional se esvaíram.

Em 2017 o PIB do Brasil subiu 1%, revertendo a trajetória de recessão, e a expectativa do IBGE é de crescimento do PIB em 2018 de 2,75%. Crescimento econômica é base segura para uma mudança social duradora, idealmente deveríamos procurar por candidatos que tenham em seu programa de governo o compromisso de honestidade, crescimento econômico e justiça social.

Fake News

Tratamos deste tema na edição anterior do Abertura, em texto denominado Verdade Ilusória e Reinaldo di Lucia volta a discutí-la neste mês. Queremos adicionar um ingrediente a mais nesta consideração. Acredita-se que cerca de 50% das informações que circulam na internet são falsas, tendenciosas ou incompletas. Estes indices são maiores ainda nas redes sociais.

Hoje, todos estes sistemas, redes socias, buscadores possuem algoritmos, programas inteligentes e banco de dados que sabem do que gostamos e nos oferecem exatamente o que procuramos ou algo parecido ao que pesquisamos. A motivação por trás disto são diversas, desde os meramente comerciais até mesmo interesses políticos.

Recentemente ficou escancarado o uso para benefício político a favor de Trump nos EUA. Isto só é possível porque gostamos de ouvir coisas que se ajustam com o nosso modo de pensar. Portanto considerem o que diz o próximo parágrafo, extraído de matéria publicada na revista Superinteressante de 5 de fevereiro de 2018.


“ As fake news são um problema real, mas pior ainda é quem acha que tudo o que vai contra sua ideologia não passa de mentira, e que só seus correligionários dizem a verdade”.


Hoje os dicionários tratam o termo “fake news” como: notícias falsas, mas que aparentam ser verdadeiras. Não é uma piada, uma obra de ficção ou uma peça lúdica, mas sim uma mentira revestida de artifícios que lhe conferem aparência de verdade”.

Notícias falsas usadas de forma planejada (boato), vem sendo utilizada à milênios, não há nada de novo, quem quer se aprofundar leia o livro – Cemitério de Praga de Humberto Eco.

Como espíritas, deveríamos seguir o que nos propôs Erasto no Livro dos Médiuns “ Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”


quarta-feira, 23 de maio de 2018

Revisão sistemática da literatura e sua aplicação em pesquisas com temática espírita Mauro de Mesquita Spinola

Revisão sistemática da literatura e sua aplicação em pesquisas com temática espírita
Mauro de Mesquita Spinola


Resumo
Este estudo apresenta a revisão sistemática da literatura como instrumento de pesquisa com temática espírita. Crescentemente utilizado nas várias áreas da ciência, a revisão sistemática contribui para compreender o estado da arte de uma área ou um tópico de conhecimento, com base em pesquisas qualificadas já realizadas e publicadas.
Inicialmente, é a apresentada a discutido o método de revisão sistemática. Em seguida, é discutida a sua aplicação em pesquisa espírita. Um exemplo é apresentado, visando a compreender o processo e os seus potenciais resultados.
O estudo é inicial e deixa várias questões em aberto, em especial as relacionadas com a aplicação prática do método, mas contribui para que se possa avaliar o potencial desse método para o conhecimento espírita.
Mauro de Mesquita Spinola

Sumário


1      Pesquisa com temática espírita

A ciência está em continua evolução, tanto do ponto de vista de suas descobertas – que abrangem cada vez mais diversificadas áreas da natureza, do ser humano e da sociedade – como no que tange a metodologias de pesquisa.
Em estudos anteriores apresentados em Simpósios e Congressos espíritas, foi discutida a importância do desenvolvimento metodológico das pesquisas com temática espírita e apresentadas alguns métodos e ferramentas disponíveis, que podem ser aplicados nessa área, como tem sido em várias outras [8, 9]. Os citados trabalhos trataram do problema do método, que foi abordado por Kardec [3] e por outros estudiosos, entre eles Herculano Pires [4].
Recentemente, com o advento de ferramentas que exploram o grande desenvolvimento e a ampla disponibilização tanto da internet quanto das técnicas de pesquisa em bancos de dados de publicações científicas, uma metodologia tem ganhado destaque pela sua capacidade de permitir, com muito maior rapidez e eficácia que antes, o mapeamento das pesquisas desenvolvidas em determinadas área ou mesmo sobre tópicos específicos. Essa facilidade agora disponível para os pesquisadores é uma chave essencial para o desenvolvimento de novos estudos de forma mais sistemática e com maior consistência. Essa metodologia é chamada de revisão sistemática da literatura.

2      A revisão sistemática da literatura

A revisão sistemática desenvolveu-se inicialmente em pesquisas da área de saúde, e hoje se constitui em instrumento essencial em todas as áreas da ciência.

2.1     O que é a revisão sistemática?

A definição proposta pelo consórcio Cochrane[1], que visa a reunir e sumarizar as melhores evidências de pesquisas da área de saúde para ajudar os pesquisadores, profissionais de saúde e as pessoas a se informar sobre tratamento, é muito utilizada:
“Uma revisão sistemática tenta reunir todas as evidências empíricas que se enquadram nos critérios de elegibilidade pré-especificados para responder a uma pergunta de pesquisa específica. Ele usa métodos explícitos e sistemáticos que são selecionados com o objetivo de minimizar o viés, fornecendo resultados mais confiáveis a partir dos quais as conclusões podem ser elaboradas e as decisões tomadas.” [13, 12]
A pesquisadora Barbara Kitchenham, de uma área de pesquisa bem diferente (Engenharia de Software), tem visão bastante alinhada com a apresentada acima:
“Uma revisão sistemática da literatura (muitas vezes referida como uma revisão sistemática) é um meio para identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponíveis relevantes para uma determinada questão de pesquisa, tópico ou fenômeno de interesse. Estudos individuais que contribuem para uma revisão sistemática são chamados de estudos primários; uma revisão sistemática é uma forma de estudo secundário.” [4]

O Quadro 1 reúne as principais características da uma revisão sistemática. Uma das características citadas é a reprodutibilidade, ou seja, a capacidade de estabelecer e documentar as fontes utilizadas, os critérios estabelecidos, os métodos utilizados e os resultados obtidos de forma que qualquer pesquisador ou interessado no tema (como por exemplo um profissional que deseja aplicar os achados) possa reproduzir a mesma revisão.

Quadro 1 – Características de uma revisão sistemática [1]
Revisão sistemática da literatura (RSL):
Principais características
um conjunto claramente definido de objetivos com critérios de elegibilidade pré-definidos para estudos
uma metodologia explícita e reprodutível
uma busca sistemática que tenta identificar todos os estudos que atendam aos critérios de elegibilidade
uma avaliação da validade dos achados dos estudos incluídos (p. ex., através da avaliação do risco de viés)
uma apresentação sistemática e síntese das características e achados dos estudos incluídos

Mais do que uma abordagem metodológica, a revisão sistemática é cada vez mais um requisito das pesquisas. Os pesquisadores têm a necessidade de sumarizar todas as informações sobre algum fenômeno de forma profunda e não enviesada. A revisão sistemática pode servir para desenvolver conclusões gerais sobre um determinado tópico ou para dar uma base inicial para novas pesquisas [1].
Uma das bases da revisão sistemática utilizada na medicina é a abordagem denominada Medicina baseada em evidência (EBM - Evidence-based medicine) [7], uma prática médica que pretende otimizar a tomada de decisão enfatizando o uso de evidências com base em pesquisas bem desenhadas e executadas.

2.2     Etapas para a revisão

O Quadro 2 apresenta as etapas típicas de uma revisão sistemática.
Quadro 2 – Etapas para a revisão sistemática da literatura (baseado em [4] e [11])
REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Passo
Descrição
Etapa 1: Formular perguntas para revisão
Os problemas a serem abordados pela revisão devem ser especificados na forma de questões claras, inequívocas e estruturadas, antes de começar o trabalho de revisão. Definidas as questões, elas se tornam base de referência para todas as atividades.
Esta etapa envolve:
·         Definir o problema ou questão
·         Definir o objetivo do estudo
Etapa 2: Identificar publicações relevantes
A busca por publicações deve ser extensiva. Múltiplos recursos (tanto informatizados quanto impressos) devem ser pesquisados sem restrições de idioma. Os critérios de seleção dos estudos devem fluir diretamente das questões de revisão e especificados a priori. Os motivos de inclusão e exclusão devem ser registrados.
Esta etapa envolve:
·         Definir critérios de inclusão e exclusão
·         Definir o processo de busca
·         Localizar os estudos
·         Selecionar os estudos
Etapa 3: Avaliar a qualidade do estudo
A avaliação da qualidade do estudo é relevante para cada etapa de uma revisão. A formulação de perguntas (Etapa 1) e os critérios de seleção de estudos (Etapa 2) devem descrever o nível mínimo aceitável de design. Os estudos selecionados devem ser submetidos a uma avaliação de qualidade mais refinada, por meio de guias gerais de avaliação crítica e listas de verificação de qualidade baseadas em design (Etapa 3). Essas avaliações de qualidade detalhadas serão usadas para explorar a heterogeneidade e informar decisões sobre a adequação de meta-análise (Passo 4). Além disso, elas ajudam a avaliar a força de inferências e recomendações para futuras pesquisas (Passo 5).
Esta etapa envolve:
·         Avaliar pergunta
·         Avaliar critérios de seleção
·         Avaliar estudos selecionados
·         Avaliar análises e meta-análise
·         Avaliar evidências obtidas e recomendações
Etapa 4: Resumir a evidência
A síntese de dados consiste na tabulação das características, qualidade e efeitos dos estudos, bem como no uso de métodos estatísticos para explorar diferenças entre estudos e combinar seus efeitos (meta-análise).
Esta etapa envolve:
·         Extrair os dados
·         Sintetizar a evidência
·         Analisar e interpretar os resultados
·         Realizar meta-análise
Etapa 5:
Interpretar os achados
Os cuidados destacados em cada um dos quatro passos acima devem ser atendidos. Devem ser explorados o risco de viés de publicação e os vieses relacionados.
Esta etapa envolve:
·         Explicitar conclusões
·         Desenvolver relatório
·         Disseminar os achados

Este estudo focaliza apenas as duas primeiras etapas. Nos tópicos a seguir é discutida a aplicação dessas etapas em pesquisa espírita.

3      Aplicação em pesquisa com temática espírita: considerações e propostas

A aplicação de revisões em pesquisa com temática espírita tende a ter as mesmas características gerais das revisões realizadas em outras áreas, podendo herdar, desta forma, o conhecimento e as práticas já acumulados sobre essa metodologia. No entanto, da mesma forma que toma formas diferenciadas nos diversos setores, também no âmbito das pesquisas com temática espírita isso possivelmente deverá ocorrer. As etapas e os conceitos apresentados são os mesmos, no entanto, as práticas e critérios adotados nas várias atividades pode variar sensivelmente.
Há ainda um grande caminho para essa construção, que exigirá estudos e iniciativas concretas de aplicação. Este estudo apenas se limita a propor um esboço de propostas para análise e desenvolvimento dos pesquisadores.
O objetivo de sua apresentação é o de que seja discutido pela comunidade e, desta forma, criem-se condições para uma análise crítica que leve ao efetivo desenvolvimento dessas pesquisas.
Segue uma lista de propostas para as duas primeiras etapas, que são as mais sensíveis do ponto de vista de encaminhamento das pesquisas.

3.1     Etapa 1 – Formular perguntas para a revisão

A identificação da questão de pesquisa (que pode ser desdobrada em várias questões) ou seu problema, é uma etapa decisiva, pois permite estabelecer os objetivos da pesquisa. Algumas considerações e propostas:
·         Relacionamento com outras áreas. As pesquisas com temática espírita estão, em geral, fortemente relacionadas com pesquisas realizadas em outras áreas, entre elas as ciências sociais e a saúde. A questão a ser estudada tocará portanto em outras áreas, o que constitui, por um lado, oportunidade para abarcar pesquisas (possivelmente algumas muito recentes) já realizadas e traz, por outro, vieses já estabelecidos que polarizam por vezes a tradição dessas pesquisas. Apesar das dificuldades, o claro diálogo entre as pesquisas é o caminho que se apresenta como mais adequado.
·         Terminologia. Como consequência do relacionamento acima exposto, vários termos utilizados em várias áreas necessitam ser visitados e fazer parte do levantamento, tomando sempre o cuidado de compreender e explicitar os significados que possuem em cada contexto. A palavra doença, por exemplo, possui diferentes conceituações e tratamentos na literatura científica. A literatura espírita também trata do assunto, com um significado e viés próprio. Assim, se vai ser elaborada uma questão sobre certo tema, é necessário deixar claro qual o significado que se atribui para cada termo utilizado.

3.2     Etapa 2 – Identificar publicações relevantes

Esta etapa exige muito trabalho, pois deverá buscar todo o manancial de interesse (possivelmente uma parte pode não estar disponível na internet) e avaliar a sua relevância para a pesquisa em foco. Seguem as considerações:
·         Acesso a pesquisas já realizadas - 1. É obrigatório o acesso a publicações recentes e antigas necessárias à compreensão do conhecimento já construído sobre a questão em foco. Para isso, a utilização de ferramentas de busca que permitam o acesso a material digital é essencial. Destacam-se as seguintes bases a ser utilizadas, entre outras: Webofscience (webofknowledge.com), Scopus, Scielo (scielo.br), Google acadêmico (scholar.google.com). Dependendo da área de pesquisa, outras bases são também adicionadas a esta lista, com PubMed para Medicina.
·         Acesso a pesquisas já realizadas - 2. Alguns tópicos típicos do conhecimento espírita possuem uma tradição de pesquisa não abarcado pelas bases de publicações científicas. Entre eles podem ser incluídos a mediunidade e a reencarnação, por exemplo. Para uma consistente pesquisa nessas áreas, devem ser consideradas as produções já realizadas por pesquisadores desses temas, buscando acesso a elas por todos os meios possíveis. É fundamental, no entanto, mapear devidamente os vários estudos, analisando sua validade e os vários vieses e riscos que possuem.
·         Diferenciação e qualificação das publicações. As publicações de revistas científicas com identificação clara de seu fator de impacto ou outra medida equivalente (https://en.wikipedia.org/wiki/Journal_ranking#Measures) oferecem maior confiança aos pesquisadores. São revistas para qual os editores submetem os artigos, antes de aprovação e publicação, a revisores ocultos, que analisam e criticam os artigos submetidos. Apenas uma parte dos artigos é aprovada e publicada. Esse mesmo critério não existe para os livros, por exemplo, e para muitos portais e revistas, em que as publicações não são rigorosamente avaliadas.
 A título de clarificação do método e suas peculiaridades, é apresentado a seguir um exemplo que abarca as duas primeiras etapas.

4      Um exemplo

Para ilustrar o processo de realização de revisão sistemática sobre tema relacionado ao espiritismo, foi escolhido o tema experiência de quase morte (EQM). O motivo principal é que o assunto tem sido estudado em outras áreas, tais como medicina e enfermagem, permitindo refletir sobre como podem ser feitas revisões que envolvem temas multidisciplinares. As pesquisas ainda são ativas nos dias atuais, o que leva à percepção de que se constitui tema relevante para a sociedade e a ciência. É inegável, por outro lado, o interesse e o potencial de contribuição da hipótese espírita, que tem sido pouco presente nessas pesquisas.
Estão apresentados aqui apenas os primeiros passos, que compõem a Etapa 1.

4.1     Definição de termos

O seguinte termo exige clara definição para realização da pesquisa: morte e experiência de quase morte EQM. Se necessário e útil, várias outros termos podem ser definidos.
·         Experiência de quase morte (EQM) / Near-death experience (NDE):
o   uma forma de consciência transcendental ou um estado alternativo de consciência que acomete o indivíduo que se encontra em um estado fisiológico extremo (Raymond Mood Jr., v. http://www.boavontade.com/pt/saude/o-que-e-uma-eqm-psiquiatra-explica-experiencias-de-quase-morte).
o   uma percepção consciente da extinção da vida próxima  (a conscious awareness of the forthcoming termination of life) (Suzanne Simpson [9])
o   um alterado estado de consciência comumente ocorrendo durante um episódio de inconsciência, como um resultado de uma condição potencialmente fatal (an altered state of consciousness commonly occurring during an episode of unconsciousness, as a result of a life-threatening condition) (Christian Agrillo [1])

Para efeito deste estudo, será utilizada a definição de Christrian Agrillo, que se baseia em estudos anteriores relevantes.
Experiência de quase morte: um alterado estado de consciência comumente ocorrendo durante um episódio de inconsciência, como um resultado de uma condição potencialmente fatal.

4.2     Questão de pesquisa

A questão de pesquisa proposta é:
Quais são as categorias de pesquisas realizadas sobre experiências de quase morte e que resultados foram já obtidos?
Esta pesquisa pode ser realizada com o uso das palavras chave:
·         Em inglês: “near-death experience”,
·         Em português: “experiência de quase morte”,
·         Em espanhol: “experiencia cercana a la muerte” e “experiencia de casi muerte”.
Todas as pesquisas que utilizem pelo menos uma dessas expressões têm interesse. As aspas são usadas para capturar estritamente os estudos que utilizam essas expressões (não apenas as palavras isoladas. Os próprios artigos pesquisados podem auxiliar na descoberta de sinônimos que podem ser utilizados em novas buscas, de maneira que o processo progrida para os resultados desejados.
A string (chave de busca) utilizado para essa pesquisa é:
near-death experience” OR “experiência de quase morte” OR “experiencia cercana a la muerte” OR “experiencia de casi muerte

Alternativamente, pode ser proposta a seguinte questão, mais restritiva, que busca identificar os estudos que relacionam experiência de quase morte com espiritualidade:
Qual a relação entre experiência de quase morte com espiritualidade?
Para essa busca, a string passa a ser:
(“near-death experience” OR “experiência de quase morte” OR “experiencia cercana a la muerte” OR “experiencia de casi muerte”) AND (“spiritual*” OR “espiritual*”)
O “*” é usado para incluir todas as palavras que se iniciem com “spiritual” ou “espiritual” (spiritual, espiritual, spirituality, espiritualidade etc.)

4.3     As bases utilizadas

As bases seguintes foram escolhidas (algumas são justificadas):
·         PubMed (ncbi.nlm.nih.gov/pubmed)
·         Google Acadêmico (scholar.google.com)
·         Scielo (scielo.br)
Numa primeira busca, só essas bases foram utilizadas, podendo depois ser incluídas outras tais como Web of Science, Scopus, livros espíritas, revistas espíritas, trabalhos apresentados em congressos e outras. Nesta busca, há já a expectativa de compreender o desenvolvimento desses estudos no tempo, levantando principais contribuições e autores. Há também a expectativa de obter material suficiente para responder à questão proposta.

4.4     Primeiros resultados

Seguem alguns resultados obtidos nas bases utilizadas.
A base PubMed, mais restrita (menos publicações, todas em inglês), mas de grande importância na captura de publicações de alto impacto científico, apresenta 146 (Figura 1). Uma pesquisa mais estrita na mesma base, apenas com artigos completos disponíveis, reduz-se para 115. São artigos que representam significativamente as pesquisas avançadas realizadas por pesquisadores da área e devem ser estudados para elaboração da revisão.

Figura 1 – Tela com os resultados da busca completa no PubMed

A busca na base Google Acadêmico apresenta 4210 publicações (Figura 2). É uma quantidade expressiva, que requer pesquisa mais refinada para encontrar os artigos de maior relevância e focalizar neles a revisão. Uma avaliação a ser feita é a de origem das publicações.

Figura 2 – Tela com os resultados da busca completa no Google Acadêmico

A busca realizada na base Scielo (Figura 3), que compreende muitas publicações em português e espanhol, tanto quanto em inglês, apresenta apenas 3 artigos. Chama a atenção a presença de um artigo em português escrito por Bruce Greyson, pesquisador da Universidade de Virginia que publicou vários trabalhos com Ian Stevenson nos anos 1980.

Figura 3 – Tela com os resultados da busca completa no Scielo

Refinadas as buscas e identificadas publicações relevantes para o estudo, é hora de estudar seu conteúdo e iniciar o desenho das categorias de pesquisas sobre EQM, problema/questão proposto neste exemplo. Não foi possível desenvolver todo o estudo até a finalização desta apresentação.

5      Continuidade do estudo

Os resultados obtidos até aqui permitem afirmar que a pesquisa com temática espírita tem plena condição de se utilizar de revisões sistemáticas, seja para sumarizar o conhecimento sobre determinado tema, seja para preparar novos estudos, estabelecendo o estado da arte.
A continuidade da pesquisa será proposta como um projeto coletivo para o CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (www.cpdocespirita.com.br) e todos os interessados estão convidados a participar.

Referências bibliográficas

2.    HIGGINS, Julian P. T.; GREEN, Sally, ed. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions. Version 5.1.0. The Cochrane Collaboration, 2017. Disponível em: www.cochrane-handbook.org. Acesso em 01/10/2017.
4.    KHAN, Khalid S.; KUNZ, Regina; KLEIJNEN, Jos Kleijnen; ANTES, Gerd. Five steps to conducting a systematic review. Journal of the Royal Society of Medicine, 96(3), 118-121, 2003.
5.    KITCHENHAM, Barbara A.  Reviews in Software Engineering Technical Report EBSE-2007-01, 2007. Disponível em: https://www.elsevier.com/__data/promis_misc/525444systematicreviewsguide.pdf. Acesso em: 01/10/2017.
6.    PIRES, José Herculano Pires. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: Paidéia.
10.  SPINOLA, Mauro de Mesquita. O método de estudo de caso e sua aplicação em pesquisa espírita: novos estudos. Anais. Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita. Santos. 2005. Disponível em: http://www.cpdocespirita.com.br/Trabalhos/Estudo_Caso_Mauro_Jacira.pdf. Acesso em: 01/10/2017.
13.  US National Library Medicine. What is a systematic review? 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/what-is-a-systematic-review/. Acesso em: 01/10/2017.

Mauro de Mesquita Spinola é Engenheiro e Doutor em Engenharia, Professor da Escola Politécnica da USP (São Paulo), Conselheiro da Fundação Vanzolini e da Fundação Porta Aberta, Autor do livro Introdução à automação (Elsevier). Diretor Administrativo da CEPA (gestão 2016-2020), Participante do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc/Santos), Diretor do Centro de Estudos Espíritas José Herculano Pires (São Paulo). Participante do programa radiofônico Momento Espírita, da Rádio Boa Nova, Autor do livro Centro espírita: uma revisão estrutural (CPDoc)



[1] cochrane.org.