terça-feira, 17 de julho de 2018

Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro, leva o barco devagar - por Alexandre Cardia Machado


Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro, leva o barco devagar

Recorro a Paulinho da Viola que em 1975, contrariado com as influências que vinham de fora do país, tentava defender o samba de raiz, em sua música Argumento, ao fazer isto nos deixou a frase que uso como título e que muito bem nos serve para muitas situações.

Enfrentamos hoje águas agitadas, muita neblina nos ofuscando a visão, não vemos claramente o que está passando. Vivemos num país muito diferente daqueles anos de 1975, em pleno regime militar, com censura e opressão às ideias progressistas. Vivemos um Brasil nublado, com um estado fraco sim, desacreditado e desrespeitado mas democrático. Onde todos podem se expressar através das redes sociais. E, claro, está na moda reclamar como bem escreveu Reinaldo di Luccia no seu artigo sobre Fake News, no Abertura de maio de 2018, “No passado costumávamos dizer que um cliente satisfeito falava para algo como 10 pessoas, mas um insatisfeito atingia por volta de 25 pessoas. Hoje, com sites como Reclame Aqui e o próprio Facebook, o número de pessoas atingidas é praticamente ilimitado – e muito, muito mais rápido”.

Num ambiente deste, talvez tenhamos a grande oportunidade de nos apoiarmos na Doutrina Kardecista. Kardec  trouxe à luz o conhecimento racional da imortalidade dinâmica e suas implicações em nossa vida. Assim como bem se refere o nosso amigo e pensador Ciro Pirondi “ a poética das vidas intinerantes”. Neste ambiente agitado, levemos o barco devagar e de forma segura na direção que cada um de nós acredita seja a melhor.

Com tolerância, com ternura, pois problemas sempre houveram e sempre haverão, pois conforme avançamos no nosso processo civilizatório, aumentamos nossas exigências, subimos a “barra” dos saltos que queremos que nossa sociedade dê.

Cito Leandro Karnal, ateu e crítico da sociedade contemporânea “ As coisas, em si, não são provocadoras de infelicidade. Vivemos o chamado mundo líquido, na pós-modernidade, onde perdemos a ideia da dimensão trágica da existência. Ela durou até a geração da minha avó ( Karnau tem 58 anos). As fotos eram sérias, sem sorrisos ou explosões. Hoje, para conseguir emprego, ter amigos, estar presente no virtual e no real, você precisa ser otimista, dizer coisas divertidas e mostrar como sua vida é simpática. Quando isso não ocorre, interpretam que não está bem e deve ser medicado. Não que o remédio seja ruim. Mas tratar a tristeza é errado. Ela tem muita importância.” Ou seja, estar feliz ou triste é natural. Ora estamos sorrindo e ora estamos de cara fechada, mas não precisamos fazer disto um drama, um mergulho na tristeza profunda, na depressão, ou um salto quántico nos bons momentos, levemos a vida com poesia e devagar.

Em tempos de escassez de combustível devido a greve dos caminhoneiros, caminhar é preciso! E pensando em caminhar, dentro da perspectiva da imortalidade dinâmica, aproveitando para aprender com as dificuldades, atuando de forma a melhorar a sociedade, mas sem incitar a desordem.

Difícil encontrar este ponto de equilíbrio, talvez esteja certo Leonard Mlodinov, em seu livro – O Andar do Bêbado – Como o Caos Determina Nossas Vidas, no prólogo do livro nos deixa esta pérola “ Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48. Orgulhoso por seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48.”  Quem tiver melhor domínio da tabuada talvez ache graça do erro, mas todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda que menos óbvios, são tão significativos quanto esse.”

O autor nos mostra que muito do que ocorre ao nosso redor, ocorre, ocorreu e ocorrerá sem que possamos fazer nada para impedir. É preciso saber viver e a sabedoria, não passa por tentar controlar tudo, simplesmente não dá. Temos de nos equilibrar, nas ondas, nas ventanias, nas tempestades e correr quando tudo está calmo. Aproveitar o sol, com protetor solar, sorrir e chorar, enfim viver.

Imortalidade Dinâmica segundo Jaci Régis

Trancrevemos aqui algumas considerações importantes do proposto por Jaci Régis quando elaborava o que chamou de ciência da alma. referia-se a este princípio muito sutilmente, como se o mesmo fosse uma interpretação conhecida por todos, talvez o tenha feito pela familiaridade que ele tinha com a expressão, que a utilizava constantemente.

Fomos buscar textos onde Régis define o termo na extensão que costumava dar ao tema, vejam: “a Lei Natural estabelece uma sequência fundamental para o desenvolvimento dos seres: sobrevivência, convivência e produtividade. É por essa sequência fundamental que os seres, numa sucessão contínua e aperfeiçoada realizam seu autodesenvolvimento.”.  Complementando, “ A Lei Natural não é moral. O universo não tem propósitos restritos ou punitivos. Embora não haja possibilidade de entender todas as nuances da vida, nada na natureza autoriza o modelo de pecado e punição secular”.

“ No estágio evolutivo médio da humanidade terrena, o ponto de referência é a vida corpórea, onde ele (espírito) elabora progressivamente sua identidade”. “ Na Dinâmica do processo, o que, dentro da visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal. Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo é relativo ao grau evolutivo” Portanto dinâmico como conclusão.

Ou ainda   Numa visão dinâmica, contudo, concebemos a vida humana como um continuum existencial, através da vivência no plano extrafísico e no plano corpóreo, intermitentemente. Isso explica a realidade evolutiva das pessoas, em seguimentos reencarnatórios. A pessoa humana possui uma biografia atemporal, em que experimenta uma extraordinária aventura de erro e acerto. Permanentemente inquietante, sem correlação estrita com o tempo, mas desenvolvendo-se em seu próprio tempo”.

O Novo modelo identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”

Os textos de onde tiramos estas referências são: Doutrina Kardecista – modelo conceitual   e  Introdução a Doutrina Kardecista. Respire fundo, solte o ar devagar e siga em frente nesta caminhada.

nota: Editorial de Junho de 2018 do jornal ABERTURA por Alexandre Cardia Machado

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