Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro,
leva o barco devagar
Recorro a Paulinho da Viola que em 1975, contrariado
com as influências que vinham de fora do país, tentava defender o samba de
raiz, em sua música Argumento, ao
fazer isto nos deixou a frase que uso como título e que muito bem nos serve
para muitas situações.
Enfrentamos hoje águas agitadas, muita neblina nos
ofuscando a visão, não vemos claramente o que está passando. Vivemos num país
muito diferente daqueles anos de 1975, em pleno regime militar, com censura e
opressão às ideias progressistas. Vivemos um Brasil nublado, com um estado
fraco sim, desacreditado e desrespeitado mas democrático. Onde todos podem se
expressar através das redes sociais. E, claro, está na moda reclamar como bem
escreveu Reinaldo di Luccia no seu artigo sobre Fake News, no Abertura de maio
de 2018, “No passado costumávamos dizer que um cliente satisfeito falava para
algo como 10 pessoas, mas um insatisfeito atingia por volta de 25 pessoas.
Hoje, com sites como Reclame Aqui e o próprio Facebook, o número de pessoas
atingidas é praticamente ilimitado – e muito, muito mais rápido”.
Num ambiente deste, talvez tenhamos a grande
oportunidade de nos apoiarmos na Doutrina Kardecista. Kardec trouxe à luz o conhecimento racional da
imortalidade dinâmica e suas implicações em nossa vida. Assim como bem se
refere o nosso amigo e pensador Ciro Pirondi “ a poética das vidas
intinerantes”. Neste ambiente agitado, levemos o barco devagar e de forma segura
na direção que cada um de nós acredita seja a melhor.
Com tolerância, com ternura, pois problemas sempre
houveram e sempre haverão, pois conforme avançamos no nosso processo
civilizatório, aumentamos nossas exigências, subimos a “barra” dos saltos que
queremos que nossa sociedade dê.
Cito Leandro Karnal, ateu e crítico da sociedade
contemporânea “ As coisas, em si, não são provocadoras de infelicidade. Vivemos
o chamado mundo líquido, na pós-modernidade, onde perdemos a ideia da dimensão
trágica da existência. Ela durou até a geração da minha avó ( Karnau tem 58
anos). As fotos eram sérias, sem sorrisos ou explosões. Hoje, para conseguir
emprego, ter amigos, estar presente no virtual e no real, você precisa ser
otimista, dizer coisas divertidas e mostrar como sua vida é simpática. Quando
isso não ocorre, interpretam que não está bem e deve ser medicado. Não que o
remédio seja ruim. Mas tratar a tristeza é errado. Ela tem muita importância.”
Ou seja, estar feliz ou triste é natural. Ora estamos sorrindo e ora estamos de
cara fechada, mas não precisamos fazer disto um drama, um mergulho na tristeza
profunda, na depressão, ou um salto quántico nos bons momentos, levemos a vida
com poesia e devagar.
Em tempos de escassez de combustível devido a greve
dos caminhoneiros, caminhar é preciso! E pensando em caminhar, dentro da
perspectiva da imortalidade dinâmica, aproveitando para aprender com as
dificuldades, atuando de forma a melhorar a sociedade, mas sem incitar a
desordem.
Difícil encontrar este ponto de equilíbrio, talvez
esteja certo Leonard Mlodinov, em seu livro – O Andar do Bêbado – Como o Caos Determina Nossas Vidas, no prólogo
do livro nos deixa esta pérola “ Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria
nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48. Orgulhoso por
seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7
por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48.” Quem tiver melhor domínio da tabuada talvez
ache graça do erro, mas todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o
empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados
do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda que
menos óbvios, são tão significativos quanto esse.”
O autor nos mostra que muito do que ocorre ao nosso
redor, ocorre, ocorreu e ocorrerá sem que possamos fazer nada para impedir. É
preciso saber viver e a sabedoria, não passa por tentar controlar tudo,
simplesmente não dá. Temos de nos equilibrar, nas ondas, nas ventanias, nas
tempestades e correr quando tudo está calmo. Aproveitar o sol, com protetor
solar, sorrir e chorar, enfim viver.
Imortalidade Dinâmica segundo Jaci Régis
Trancrevemos aqui algumas considerações
importantes do proposto por Jaci Régis quando elaborava o que chamou de ciência
da alma. referia-se a este princípio muito sutilmente, como se o mesmo fosse
uma interpretação conhecida por todos, talvez o tenha feito pela familiaridade
que ele tinha com a expressão, que a utilizava constantemente.
Fomos buscar textos onde Régis define o termo na
extensão que costumava dar ao tema, vejam: “a Lei Natural estabelece uma
sequência fundamental para o desenvolvimento dos seres: sobrevivência,
convivência e produtividade. É por essa sequência fundamental que os seres,
numa sucessão contínua e aperfeiçoada realizam seu autodesenvolvimento.”. Complementando, “ A
Lei Natural não é moral. O universo não tem propósitos restritos ou punitivos.
Embora não haja possibilidade de entender todas as nuances da vida, nada na
natureza autoriza o modelo de pecado e punição secular”.
“ No estágio evolutivo médio da humanidade
terrena, o ponto de referência é a vida corpórea, onde ele (espírito) elabora
progressivamente sua identidade”. “ Na Dinâmica do processo, o que, dentro da
visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do
equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do
tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal.
Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá
a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É
nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele
desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo
é relativo ao grau evolutivo” Portanto dinâmico como conclusão.
Ou ainda “ Numa visão dinâmica, contudo, concebemos a
vida humana como um continuum existencial, através da vivência no plano
extrafísico e no plano corpóreo, intermitentemente. Isso explica a realidade
evolutiva das pessoas, em seguimentos reencarnatórios. A pessoa humana possui
uma biografia atemporal, em que experimenta uma extraordinária aventura de erro
e acerto. Permanentemente inquietante, sem correlação estrita com o tempo, mas
desenvolvendo-se em seu próprio tempo”.
“ O Novo modelo identifica o ser humano, prioritariamente,
como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a
extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o
nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da
vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”
Os textos de onde tiramos estas referências são: Doutrina
Kardecista – modelo conceitual e Introdução a Doutrina Kardecista. Respire
fundo, solte o ar devagar e siga em frente nesta caminhada.
nota: Editorial de Junho de 2018 do jornal ABERTURA por Alexandre Cardia Machado
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