terça-feira, 25 de setembro de 2018

Verdades Nômades - por Ciro Pirondi


Verdades Nômades

Verdades são transitórias, buscamos captar um ângulo de existência humana, suas razões e motivos em tempo determinado.

Deolindo Amorim, filósofo e educador, ensinava, nos Anais do Instituto de Cultura Espírita, haver verdades transitórias e as permanentes.

Na filosofia espírita, penso ser sua verdade de permanência o conceito de imortalidade dinâmica, terminologia definida por Jaci Regis ou a itinerância da existência como gosto de chamar. Todas outras verdades são transitórias e sujeitas a um tempo histórico.

Infelizmente, a palavra Espiritismo está marcada pelo engano. Por que? Embora indique a liberação da vida, como possibilidade criativa individual e coletiva, tornou-se sinônimo de mais uma, entre milhares, quer seja no Oriente como no Ocidente, salvação religiosa, esmagando o Homem em culpas, influenciação espiritual obsessiva marcada por um passado ruim.

Inventamos métodos de ação, agremiações e espaços semelhantes aos já existentes das religiões. O que era novo, implantou-se, desde o início velho. Reacionário nos discursos, com pretensões revolucionárias.

Todas as mudanças propostas foram traídas, e nosso movimento carregado de uma inércia histórica insuperável.

Textos como o de Ricardo Nunes no Abertura de Junho, são ventos bons, iluminam possibilidades; aliás a variação dos temas expostos nesta última edição, revela o poder das idéias, são elas transformadas em cultura, entendendo cultura como ação humana no cotidiano, que mudará o mundo.

Mas nosso dilema, não é novo. Aristóteles, com seu senso de proporção insuperável, diz uma coisa impecável:

"A busca da verdade é ao mesmo tempo difícil e fácil: ninguém pode alcançá-la absolutamente, nem deixá-la escapar totalmente."

A crise inaugurada na década de 70/80 no espiritismo, é oportuna ao nos fazer serenamente refletir sobre qual tipo de "verdades" estamos nos debruçando,e esta análise contaminou a todos, mesmo  os que tentam ignorá-la.

Espiritismo como um saber de fronteiras, margeando outros saberes, parece ser uma postura mais contemporânea, adequada à idéia de uma "inteligência coletiva" defendida pelos filósofos atuais.

Por mais movediça e incerta parecer a tese da imortalidade dinâmica, sem culpas e salvação, por não nos dar um "manual" seguro e infalível para a felicidade, temos, por outro lado, a liberdade de optar, veremos esse saber como uma dimensão constitutiva da existência humana e por sermos mais livres, mais felizes.

Ciro Pirondi

Artigo publicado no jornal ABERTURA em julho de 2018

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O Espiritismo aos 90 anos por Carolina Regis


O Espiritismo aos 90 anos

“A doutrina salvou minha juventude, não fosse ela eu não sei como seria”.

Ivon Régis e Mauricy Silva

Essa é a frase que ouço desde muito pequena, sempre dita com gratidão e verdade por um Espírita de berço, de vida e ideal. Tenho a sorte de ter Ivon Régis como meu avô, mas qualquer um que o conhece – de Santos a Florianópolis – reconhece os valores doutrinários arraigados em sua personalidade, seus atos e seu sorriso que há 90 anos é distribuído gratuitamente, a quem precise. E tantos já precisaram...

Não sei quais os perigos e desvios que um jovem da década de 30 poderia enfrentar, quando comparados aos adolescentes atuais e o mundo moderno. Mas sejam quais fossem, era o Espiritismo que balizava e norteava os 7 irmãos Régis: Jaci, Egidio, Ivon, Arnaldo, Francisco, Albertina, Lucy. E é assim que permaneceu durante toda a vida – alguns permanecem contribuindo com a doutrina no Plano Espiritual, outros por aqui.

Fazendo aniversário no meio do mês do meio do ano, como ele costuma dizer, em 2018 Ivon completou 90 anos e o mais impressionante não é a aparência 10 anos mais jovem, nem a disposição para montar em uma bicicleta e sair rodando pela cidade. O incrível é que a Doutrina segue inabalável, diária, com a mesma lucidez da juventude, quando da fundação da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, das Campanhas Auta de Souza, do Centro Espírita Allan Kardec. Esse jovem de 90 anos é a prova de que, realmente, uma vez “Meeviano Sempre Meeviano”; um o exemplo prático da vivência doutrinaria cotidiana, fraterna.

Ivon Régis não se tornou conhecido nos círculos Espíritas pela eloqüência, por grande obras, por palestras inspiradoras, livros emblemático, idéias inovadoras. Ele é o Espirita obreiro, trabalhador, de bastidores, da rotina da casa Espirita. Contador de formação, até mês passado assinava os balancetes do CEAK com o rigor moral de que “o dinheiro dos outros vale o dobro”. E por décadas abria a casa para as palestras de 3ª e 4ª feira, recebendo os novos freqüentadores, cobrando mensalidades, cuidando do patrimônio. Espiritismo na prática, nos atos, nos abraços, como deve ser.

Sua companheira de 66 anos de casamento partiu 5 dias após as comemorações de aniversario. Ele estava lá para lhe oferecer o ultimo passe energético, as orações de apoio, chamar pela equipe que a vida inteira os apoiou. Por mais doloroso que seja, ele tem a certeza de um reencontro, da continuidade, da vida nova que a espera. E sua Doutrina “salvadora” o mantém de pé, forte, mais do que nunca. Olho pra ele e penso: O Espiritismo resiste há 90 anos.

Certa vez, meu avô me disse: “Faça pela obra, pelo ideal. Continue fazendo, não importa a quem”. Nesse dia, algo de seu DNA Espírita invadiu meus ideais, salvou minha juventude. Como uma herança passada de pai para filho, de avô para neta. E de Ivon para tantos que por ele passaram e ainda passam e foram contagiados pela alegria, pelo carinho, pelo genuíno amor pela vida e pelas pessoas, por Kardec, sempre na prática.
               

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Comportamento Espírita. por Roberto Rufo


Comportamento Espírita

" No dia 18 de Abril de 1857 uma nova luz surgiu nos horizontes mentais do mundo " ( Herculano Pires )

Livro Comportamento Espírita - peça pelo ickardecista1@terra.com.br

 Em seu pequeno mas ótimo livro " Comportamento Espírita " Jaci Regis na Introdução  indaga : "o comportamento espírita é naturalmente diferente ou deve esforçar-se para ser "?  É bom repetir, como faz o autor no capítuo I, que o comportamento é a expressão da individualidade, exteriorizada em atos, palavras, gestos, ações e interiorizada em pensamentos, ideias, desejos, constituindo o que se chama de personalidade. Diz o autor ser o momento do homem assumir sua natureza espiritual e desenvolver no plano da vida terrena, novas formas de relacionamento e revolucionar seu projeto de vida.

Isto posto me volto para um instigante artigo do psiquiatra Daniel Martins de Barros intitulado " É fácil ser norueguês na Noruega". Ele relata o caso ocorrido no final de 2017, início de 2018, quando foi descoberto que uma mineradora atuando no Pará vinha burlando a lei e despejando conteúdo tóxico nos rios da região. A mineradora norueguesa atende pelo nome de Hydro, cujo controlador e maior acionista é o governo da Noruega.

O pensamento do articulista é intrigante: " deve ser difícil manter-se norueguês no Brasil ". Porque será? Diz o psicanalista que essa dificuldade é que antes de sermos cidadãos desse ou daquele país, somos seres humanos movidos a interesses. Estamos todos em busca da vantagem.  E porque não agiriam assim na Noruega?  Simples explica o psiquiatra Daniel de Barros, não é a natureza humana que muda de país para  país, mas o grau de freio que nos impomos.
Ele compara com a história de Ulisses, do livro Odisseia de Homero, que se amarrou no mastro do navio porque sabia que sendo humano não resistiria ao canto das sereias. Conclui o psiquiatra que países onde se diz existir um alto grau de conscientização, é porque se chegou a um ponto de que o ato de cooperação é mútuo, sendo então uma atitude mais racional cooperar. No entanto, segundo ele,  é óbvio que a sanção moral se faz muito mais presente, sançao esta que faz um brasileiro malandro respeitar a fila quando entra nos EUA por exemplo.
 Ao contrário,  espera-se do espírita, que o seu comportamento seja universal, pelo seu processo de reconstrução moral. Jaci Régis diz que a saída que o Espiritismo pode oferecer é a sua visão do homem e do objetivo da vida. Todos os instrumentos  dourtinários, complementa o autor, tendem para esse esclarecimento, essa compreensão, porque é a única que realmente importa.

 No último capítulo do livro " Comportamento Espírita " de nome " Fazer a hora " Jaci nos remete à figura de Zaqueu, o publicano, que ansiava entrar em contato com Jesus. Ao dizer a Zaqueu, após ser convidado a entrar em sua residência, " hoje a salvação entrou nesta casa ", queria dizer que Zaqueu começou a entrar no comando do seu destino, discernindo fatores, estabelecendo prioridades e sobretudo agindo.
Percebo que ao atingirmos esse grau de comprometimento requerido pela doutrina espírita, de acordo com a nossa vontade, disposição e trabalho, agiremos universalmente em quaisquer lugares do planeta. Nosso comportamento ficará imune a tantos cantos de sereia ainda existentes nos dias de hoje, sem precisar que nos amarremos no mastro da insegurança.


     Roberto Rufo  


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Finalmente encontramos água em Marte - por Alexandre Cardia Machado


Finalmente encontramos água em Marte

Era uma das descobertas mais esperadas, não significa que tenhamos encontrado vida, ou mesmo que ela exista, mas água no estado líquido aumenta muito a probabilidade.
Cientistas da Agência Espacial Italiana anunciaram nesta quarta-feira que existe água líquida em Marte, de forma constante.
Para especialistas, essa descoberta, de um reservatório subterrâneo permanente de água líquida, aumenta consideravelmente as chances de haver vida no planeta ou de conserver a vida, caso venhamos a ocupar o planeta um dia.
"Foram anos de debate e investigações, ficamos anos discutindo se isso era mesmo possível. Mas agora podemos dizer: descobrimos água em Marte", disse o astrônomo Roberto Orosei, pesquisador da Universidade de Bolonha e principal autor da descoberta.
A água líquida e perene foi encontrada 1,5 km abaixo de uma camada de gelo, próxima ao Polo Sul de Marte. "Trata-se de um lago com 20 quilômetros de diâmetro", contou Orosei. A descoberta será publicada na revista Science no mês de Julho.
"Sem água, nenhuma forma de vida como a conhecemos poderia existir. Por isso é grande o interesse na detecção de água líquida em outros planetas", contextualiza a pesquisadora Anja Diez, do Instituto Polar Norueguês.
"Acidentes geográficos como vales mostram que água líquida deve ter sido presente em Marte no passado. Mas apenas pequenas quantidades de água gasosa haviam sido identificadas na atmosfera, além de água congelada. Gotículas de água foram vistas condensando e havia a hipótese de água líquida em encostas durante o verão marciano. Corpos estáveis de água líquida, entretanto, até o momento não haviam sido encontrados."
A descoberta da equipe de Orosei baseou-se em análise de dados obtidos por radar da missão Mars Express, sonda espacial lançada em 2003 pela Agência Espacial Europeia e pela Agência Espacial Italiana.
"Em comparação com os lagos terrestres, é um lago pequeno com seus 20 quilômetros de diâmetro. Mas não conseguimos saber a profundidade do lago porque a água atenua o sinal do radar. O que sabemos é que (a profundidade) é de pelo menos de um metro - ou o radar não seria capaz de revelar sua existência", diz o astrônomo. "Mesmo no caso mais pessimista, portanto, acredito que o volume de água deve ser de várias centenas de milhões de metros cúbicos."
Orosei acredita que esta descoberta seja só a primeira. "É apenas a primeira descoberta de uma quantidade grande de água líquida em Marte. Mas sob as calotas deve haver muito mais", aposta.
Em próximos artigos debateremos o impacto desta descoberta e em que ela pode ajudar a termos um plano B para o planeta Terra, quem sabe no futuro não venhamos a habitar nosso planeta vizinho. E tornar efetivo o princípio da pluralidade de mundos habitados. Temos escrito muito  a respeito da importância para o Espiritismo e principalmente para a humanidade a possibilidade de buscarmos outro planeta como possível morada no futuro.

Para abrir mais a sua mente:  Cientistas encontram água líquida em Marte, descoberta que pode transformar busca por vida – site Terra – www.terra.com.br .

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Tolerância, diversidade e as próximas eleições - por Alexandre Cardia Machado


Tolerância, diversidade e as próximas eleições

O jornal ABERTURA mudou o seu logotipo, invertendo o B em março de 2017. Fizemos isto como forma explícita de apoio à diversidade e a tolerância, ao novo e ao menos comum, mas também natural. Aceitar que todos tenham direito às suas próprias escolhas. A sociedade plural funciona, desde que todos respeitem os limites de seu livre arbítrio, entendendo que o direito de um termina, onde começa o direito do outro.

Apoiar a diversidade significa dizer que independente de nossas escolhas devemos respeitar, no sentido mais amplo, as escolhas dos outros. Isto vale para ideias conservadoras e também para ideias liberais, pois a sociedade é plural, sempre teremos diferenças e isto nos faz melhores.

Sobre a intolerância recorro a um trecho do artigo Intolerância e Falta de Conhecimento da coluna Mundo Atual do Abertura de junho de 2017 de Reinado di Lucia e Caroline Régis di Lucia: “ Se há algo que é completamente incompatível com o Espiritismo é essa não aceitação da possibilidade de haver pensamentos distintos daqueles que abraçamos. Tal postura, revelando consciente ou inconscientemente a certeza de ser possuidor de uma “verdade absoluta”, é inconciliável com a proposta da evolução contínua que constitui o cerne da Filosofia Espírita”.

Próximas eleições

Que estamos com o nosso país dividido não há dúvidas, isto nada mais é do que democracia em essência. Estar dividido no campo das ideias, mas respeitando a ética nas relações entre as partes é normal e desejável.  O debate que daí nasce é o que produzirá soluções mas abrangentes e possíveis de implementação. A democracia propõe o melhoramento contínuo, não é uma forma de mudança revolucionária. Ainda que aqui e ali, em condições especiais, face a crises importantes, os estados possam tomar medidas mais radicais, com apoio popular e de seus representantes mas idealmente deveríamos mudar aos poucos e incessantemente, ou seja monitorar as condições socias e ir agindo para melhorar. Este é o que se espera de uma democracia.

Volto a citar num editorial um trecho atribuído a Allan Kardec em Obras Póstumas – As Aristocracias: “ ...dizemos primeiro que os bons, sobre a Terra, não são inteiramente tão raros quanto se crê; os maus são número, isto infelizmente é verdade; mas o que os faz parecer ainda mais numerosos, é que são audazes, e sentem que esta audácia mesma lhes é necessária para triunfarem ... os bons ao contrário, não exibem as suas boas qualidades; não se colocam em evidência e eis porque parecem tão pouco numerosos ...”

Nos últimos 15 anos a revolução digital mudou um pouco isto, hoje as pessoas se expõe muito mais nas redes sociais, existem formas novas de influenciar o mundo ao nosso redor. Portanto está mais do que na hora de fazermos algo, participarmos mais, sem criar fake news, mas sabendo detalhes da atuação dos candidatos, a que grupos está associado, sobre como se portou no passado.  Os candidatos querem o seu voto, sim seu voto irá para quem você decidir outorgar seu poder.

Dar de ombros e votar em qualquer um, ou pior, nem votar, não ajuda a resolver os problemas de nosso estado, nem do país. A solução passa pela decisão de cada um de nós.

Começe a sua lição de casa agora, assista aos debates, informe-se, converse com seus amigos, participe. No final do processo, urnas abertas, aceite as divergências. O congresso, as assembléias representarão o conjunto de ideias e varições da nossa sociedade e não apenas as nossas crenças e valores.
Este artigo foi publicado no editorial do jornal ABERTURA de agosto de 2018.