segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A família não morre é perene por Alexandre Cardia Machado


A família não morre é perene

A família do meu pai se parecia com um cenário de literatura, cresci num grupo familiar que havia migrado do interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente de São Francisco de Paula, para Porto Alegre, lá pelos anos 50 do século passado. Logo após a segunda grande guerra.

Meus parentes, da forma como me lembro deles hoje, quando reunidos pareciam-se com personagens saídas de um livro de Erico Veríssimo, minhas tias-avós eram, algumas delas pedagogas, algo incomum à época, meus tios-avôs delegados de polícia, promotores de justiça, militares, ou juízes. As casas, eram cheias de livros nas estantes e as reuniões de família, sempre com muita gente ao redor da mesa e muita conversa sobre diversos assuntos. Aos pequenos nos ofereciam o pátio cheio de árvores frutíferas, cachorros para brincar e um mundo para explorar.

Um de meus tios-avôs era Vice-Consul de Portugal no Rio Grande do Sul e Comendador, pois havia sido instrutor de aviação do Exército Brasileiro, depois Força Aérea logo que chegou de Portugal. Ele havia recebido uma medalha por isto e adorava ser chamado assim. Ele era alto, claro, lutador de esgrima um verdadeiro tipo saído das telas de cinema americano.  Outro tio-avô era piloto da FAB, havia pilotado os B-25 caça bombardeiro especializado na busca de submarinos na segunda-guerra. 

Quase todos os filmes na TV eram de guerra o que transformava a todos eles como quase heróis. Meu pai também era um oficial do exército, para um piá, ser alguém era tudo que se queria. Este ambiente me ajudou a querer participar de alguma forma da construção deste país.

Acredito que este modelo familiar, este arquétipo, foi muito comum à minha geração, que cresceu nos anos 60 e 70. Quase todos meus amigos de infância se formaram em Engenharia.

Desculpe pela nostalgia, não se trata de retrotopia, ao contrário, é que eramos àquela época todos muito alienados, não só os jóvens, acho que todos, não entendíamos o mundo da forma que conhecemos hoje, as informações viajavam muito lentamente não havia TV via satélite e todo o jornalismo funcionava via radio/telex. Além disto vivíamos sob a efeito da censura e toda a propaganda era no sentido de que vivíamos “num país que vai pra frente”.

Descrevo este quadro, pois estes personagens tão marcantes em minha vida,  ajudaram a forjar o meu caráter,todos se ajudavam e sobretudo eram exemplos de integridade. Eles representavam, a energia, e a vontade que todos compartilhavam de ser bons exemplos e de participarem do progresso do Brasil, de construir alguma coisa boa. Impressão esta que me impulsionou.

Descrevi a família do lado de meu pai, a geração dele que hoje estaria beirando ou passando de 80 anos, todos já nos deixaram e foram morar no Plano Espiritual, mesmo nos dias de hoje quando vivemos mais. Este grupo em raras oportunidades conseguiu ultrapassar os 80 anos de idade. Mas deixaram o seu exemplo, o seu caminho trilhado. Por sorte o lado de minha mãe, muito viva ainda, sempre viveu mais. Minha avó materna, por exemplo desencarnou aos 100 anos.

A morte é algo natural, todos sabemos que caminhamos em sua direção, mas por sermos espíritas entendemos que a morte é somente física, nosso espírito segue integro na sua jornada de crescimento. No entanto evitamos falar disso, torna-se para a grande maioria um tabú.  A escritora Muriel Barberi escreveu” viver, morrer são consequências daquilo que se construiu, o importante é construir bem”.

Algumas pessoas se afastam dos mais velhos, refiro-me claro, aos muito mais velhos do que eu. Pela vida que vivi em minha juventude aprendi que não podemos esquecer os mais velhos, pois eles foram jóvens antes e contribuíram, em seu tempo para a construção do mundo que vivemos agora. É hoje que construímos o amanhã e foi ontem que eles construíram o hoje que vivemos. “Nascer, viver, renascer esta é a lei”, nos ensina Kardec. Saber disso é uma coisa, levar numa boa é outra bem diferente. Jaci Régis costumava repetir uma frase que é de autoria de Tom Jobim que é muito verdadeira, o que “a gente leva desta vida é a vida que a gente leva”. Logo viver cada momento é o que importa, pois é a cada momento que criamos, que aprendemos, que planejamos e que executamos.

Além do ADN eles nos transmitiram valores, esta talvez seja a maior influência que a família tem sobre nós, pois cada vez mais temos grupos familiares mais diversos, com ou sem laço sanguíneo, mas a transferência cultural continua sendo o seu forte.

Os espíritas sabem que devem viver bem, harmoniosamente, focados no bem, no caminho da ética. Construir bem o hoje pois isso só contribuirá para o nosso crescimento espiritual e por consequência da sociedade como um todo.

Sou muito feliz, por ter tido esta oportunidade, não só de conviver nos meus grupos familiares iniciais, mas por ter tido a sorte de sempre estar convivendo com muitas pessoas de bem.

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