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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA - por Ricardo de Morais Nunes

 

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA

É curioso pensarmos nos dias de hoje que houve em plena Europa do tempo de Kardec, meados do século XIX, o fenômeno das mesas girantes. Quando relatamos às pessoas do século XXI que a chamada “dança das mesas” era uma verdadeira moda nos salões parisienses, muitos duvidam. E com razão, pois é muito difícil acreditar na possibilidade de brincadeiras de salão em torno de mesas que desafiam as leis da gravidade.

No entanto, as mesas giravam, o que pode ser constatado por vários jornais da época que registraram a ocorrência do curioso fenômeno. É a partir das mesas girantes que Allan Kardec se põe a pesquisar a causa de tais fenômenos insólitos, os quais iniciaram mais intensamente já em 1848 com o caso das irmãs Fox nos Estados Unidos. Arthur Conan Doyle descreve este momento histórico na Europa e nos Estados Unidos como uma verdadeira “invasão organizada” por parte dos espíritos que buscavam chamar a atenção para o outro lado da vida.

 Diferentemente do espiritualismo dogmático das religiões, que se baseavam na fé na revelação religiosa e no livro sagrado, e mesmo das correntes filosóficas espiritualistas, fundamentadas apenas na reflexão racional, o Espiritismo nasce apoiado em fatos, em fenômenos passíveis de serem observados. Allan Kardec assim se refere ao fenômeno das mesas girantes na introdução ao estudo da Doutrina Espírita em O Livro dos Espíritos:

 “O primeiro fato observado foi o movimento de objetos: designaram-no vulgarmente com o nome de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, que parece ter sido observado primeiramente na América, ou, melhor, que se teria repetido nesse país, porque a História prova que ele remonta à mais alta Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas como ruídos insólitos e golpes desferidos sem uma causa ostensiva, conhecida. Dali, propagou-se rapidamente pela Europa e por outras partes do mundo: a princípio provocou muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências em breve não permitiu que se duvidasse da sua realidade”

Estes movimentos não eram meramente mecânicos ou fortuitos. Descobriu-se que os movimentos dos objetos manifestavam inteligência. É o próprio Allan Kardec que ainda nos fala:

“As primeiras manifestações inteligentes verificaram-se por meio de mesas que se moviam e davam determinados golpes, batendo um pé, e assim respondiam, segundo o que se havia convencionado, por “sim” ou por “não” à questão proposta. Até aqui, nada de seguramente convincente para os céticos, porque podia crer-se num efeito do acaso. Em seguida, obtiveram-se respostas mais desenvolvidas por meios das letras do alfabeto; dando ao móvel um número de ordem de cada letra, chegava-se a se   formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A justeza das respostas e sua correspondência com a pergunta provocaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interpelado sobre a sua natureza, declarou que era um Espírito ou Gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. Esta é uma circunstância muito importante a notar. Ninguém havia então pensado nos Espíritos como um meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Fazem-se hipóteses frequentemente nas ciências exatas para se conseguir uma base ao raciocínio; mas neste caso não foi o que se deu.”

E aqui tem início a descoberta revolucionária dos espíritos e do mundo dos espíritos que nos cerca, que podem comunicar-se com o mundo terrestre através de médiuns, pessoas aptas, por sua organização psicofísica, a favorecer este intercambio. Da mesma forma que o telescópio possibilitou a investigação dos astros, e o microscópio a pesquisa dos microrganismos, a mediunidade foi o instrumento de pesquisa da realidade extrafísica que antes era apenas objeto de fé, reflexão filosófica ou intuição.

Das mesas que giravam saiu toda uma filosofia, uma cosmovisão de mundo, a partir do diálogo racional entre Kardec e os Espíritos. A pesquisa desta base fenomênica estava em conformidade com a época de Kardec de feitio positivista.  O “espírito do tempo” valorizava a pesquisa dos fatos e estava farto de teorias metafísicas indemonstráveis. O Espiritismo pretendia demonstrar concretamente suas teses, fundamentando-se não apenas na razão, mas também na observação.

Na sequência de O Livro dos Espíritos, Kardec publica o Livro dos Médiuns, no qual aborda uma vasta gama de fenômenos físicos e inteligentes ampliando assim a base empírica do Espiritismo. O Espiritismo teve grande êxito em chamar a atenção para estes fenômenos em sua época. A explicação espírita foi aceita por muitas personalidades eminentes daquele período. Na esteira das pesquisas espíritas surgiram a metapsíquica de Charles Richet, e a parapsicologia de Joseph Banks Rhine, entre outras tentativas de abordar os chamados “fenômenos espíritas”.

Mesmo que a tese espírita da imortalidade da alma e sua possibilidade de comunicação com este mundo terrestre através de médiuns não fosse verdadeira, Allan Kardec já teria contribuído com o mundo da pesquisa cientifica ao chamar a atenção para fenômenos da natureza antes atribuídos ao mágico, ao sobrenatural, à superstição ou a fraude. Por ser pioneiro na pesquisa deste tipo de fenômenos, Allan Kardec merece um lugar de destaque entre os grandes desbravadores do conhecimento.

Muitos perguntam por que as mesas não giram mais como giravam nos salões parisienses. Talvez a resposta seja que não é mais necessário este tipo de provocação intencional e coletiva por parte dos espíritos. A hipótese da comunicação dos espíritos através de médiuns já foi assimilada mesmo por aqueles que divergem da explicação espírita. A comunicação dos “mortos”, no mínimo, já integra o nosso horizonte cultural, fazendo parte da crença e da descrença de muitos, sendo que o Espiritismo descortinou, inclusive, um novo campo de possibilidades para a pesquisa cientifica e para a reflexão filosófica.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional

 

domingo, 6 de agosto de 2017

O Futuro do Espiritismo - por Alexandre Cardia Machado

Esta questão preocupou muito Allan Kardec, em seu caso, como ficaria o Espirtismo após a sua desencarnação. Também foi alvo e ação de Amélie Gabrielle Boudet, sua esposa que guardou, enquanto viveu, a coerência do espiritismo àquela época, mantendo o rigor na publicação da revista Espírita que já corria grande risco de miscigenação com outras práticas espiritualistas.

Mas embora preocupado, Karde possiuía uma sensação clara de que o Espiritismo prosperaria, muito pelo grande avanço e penetração que havia tido nos primeiros 10 anos. Se por um lado havia a certeza de que cresceria, por outro havia a dúvida de como manter a Doutrina dentro dos parâmetros, como controlar o seu avanço, além da vida encarnada de seus criadores?

A preocupação com o porvir, com as novas gerações não é novo. Vejam esta frase: “ Os jovens de hoje gostam do luxo. São mal comportados, desprezam a autoridade. Não tem respeito pelos mais velhos, passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos”. Bem, nada animador, não é verdade? Esta frase é atribuída a Socrates o filósofo grego que a teria proferido há 2400 anos atrás. Portanto a dúvida é permanente, dá-se a isto o nome de anacronismo. Todos sabemos que as gerações que sucederam os gregos do quarto século antes de Cristo foram mais bem sucedidos que os da época de Socrates. Socrates foi professor de Platão, este de Aristóteles e Aristóteles de Alexandre o grande, que criou o primeiro grande Império no mundo ocidental.

Existe uma grande verdade no universo, é que tudo muda o tempo todo, gostemos ou não. Agora é possível pensar e agir para que uma ideia boa, uma doutrina importante não desapareça, foi assim que pensou Allan Kardec e o deixou por escrito. Tendo sido publicado, muito depois de sua morte no livro Obras Póstumas. Kardec dedica um capítulo   “ Meu Sucessor”. Trata-se que uma conversa com um espírito ocorrida na casa de Kardec.

“22 de dezembro de 1861 -  médium: Sr. d’A
Tendo uma conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão seguinte:

Pergunta — Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas. Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais, sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes ficaria.

Resposta — Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais. Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas, não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará. Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas conseqüências da tua partida. Se aquele que te há de substituir fosse designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o momento. Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado ...

Pergunta — Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?

Resposta — Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.

Pergunta — Freqüentemente se há dito que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
Resposta — Sem dúvida, muitos Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”

O Espiritismo seguiu, modificou-se uma corrente ficou mais religiosa, outra mais filosófica.
Também temos receio do que acontecerá com nosso movimento livre-pensador, não vemos muitos jovens. Tememos que termine em 20, 30 anos. Mas a análise da história nos permite dizer que prosperará, encontraremos formas de chegar aos mais jovens, certamente aparecerão muitas coisas diferentes, novas mideas, novas formas de atingí-los.

Este é o grande desafio do momento, penetrar na mente e no coração dos mais jovens, trazê-los para as ações espíritas, em nosso grupo, em especial,  para o pensar espírita.

Alexandre Cardia Machado é engenheiro, Chefe de Redação do jornal Abertura e reside em Santos, SP.

texto originariamente publicado no Jornal Abertura de Julho de 2017.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sobre a vida em Jupiter, segundo a Revista Espírita de 1858 - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a vida em Jupiter, segundo a Revista Espírita de 1858


Existe um parágrafo inteiro descrevendo as características dos habitantes de Júpiter. Na Revista Espírita (RE) no ano de 1858, em diversas edições. Aqui só destacarei alguns deles:
-          “ Enquanto nós rastejamos penosamente na Terra, o Habitante de Júpiter se transporta de um a outro lugar, deslizando pela superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água”;
-          “ a alimentação é formada de frutas e plantas”

 Allan Kardec recebe um comunicação e a publica, sobre esta comunicação Kardec, faz a seguinte referência:

“ignoramos onde e quando se realizaram, não conhecemos o interpelante, nem o médium, somos completamente estranhos a tudo isso...entretanto é notável a perfeita concordância ...”

-          “ 25 – nosso globo terrestre é o primeiro desses degraus, o ponto de partida, ou vimos ainda de um ponto inferior?
-          Há dois globos antes do vosso, que é um dos menos perfeitos.
-          “ 26 – qual o mundo que habitas? Ali és feliz?
-          Júpiter. Ali desfruto de uma grande calma; amo a todos os que me rodeiam. Não temos ódio.”
- “ ... No planeta Júpiter, onde habito, há melodia em toda parte: no murmúrio das águas, no ciciar das folhas, no canto do vento; ...”


Em outro número da RE do mesmo ano – Agosto de 1858 “A propósito dos desenhos de Júpiter” - Nesta edição Kardec publica o desenho da “famosa casa de Mozart” feita em agua forte – gravada em uma placa de cobre por um médium que não sabia desenhar, nem gravar. Kardec ressalva “ora, como fato de manifestações, estes desenhos são, incontestávelmente, os mais admiráveis, desde que se considere que o autor não sabe desenhar, nem gravar, e ...mesmo que esse desenho seja uma fantasia do Espírito que o traçou, o simples fato de sua execução, não seria um fato menos digno de atenção...”

Análise crítica deste conjunto de textos:

As naves espacias  Pionner no início da década de 80,  as Voyagers, na década de 90, a sonda Galileu, no final da década de 90 e a recente passagem da nave New Horizon que se encaminhava a Plutão nos enviaram fotos fantásticas em diversos comprimentos de onda dos planetas externos do sistema solar, nos revelaram a existência dos anéis de Júpiter e suas 67 Luas.

Sabemos hoje que Júpiter não tem superfície, trata-se de um planeta gasoso, muito massivo, mas com a densidade ¼ da terrestre.
Alguns cientistas admitem que o núcleo do planeta possa ser formado por um líquido altamente pressurizado, formado por Hidrogênio e Hélio.
Com o exposto acima não acreditamos que Mozart pudesse ter uma casa, como desenhada na “Revue”, em um planeta sem superfície sólida.
Jupiter trata-se de um planeta gasoso e portanto insistir na justificativa da existência desta casa seria chover no molhado, todas estas publicações só poderiam ser oriúndas de um Espírito pseudo-sábio.


Para abrir a sua mente: Kardec, Allan – Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos Editora EDICEL SP- Brasil– 1858


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Kardec e os desertores - por Eugenio Lara

KARDEC E OS DESERTORES, por Eugenio Lara

Nota do Redator: Destacamos neste mês o trabalho apresentado por Eugenio Lara, em 2013 no 13° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Lara ressalta a dificuldade de manter alinhadas as diversas personalidades que participaram da construção do Espiritismo.

Daremos ênfase a dois sub-capítulos, esperamos capturar o sua atenção e para a leitura do trabalho completo é só visitar o blog do ICKS. Fiquem com Eugenio Lara


***
Nos últimos escritos de Allan Kardec, podemos observar sua preocu-pação para com os rumos do Espiritismo, com os desertores, com as divi-sões que o incomodavam. Segundo ele: “Se todas as grandes ideias tiveram apóstolos fervorosos e devotados, mesmo nas melhores tiveram desertores. Não poderia o Espiritismo escapar às consequências da fraqueza humana”. (Os Desertores, em Obras Póstumas). Neste texto, o fundador do Espiritismo desenvolve interessante caracterização dos vários tipos de desertores:

1. Os primeiros desertores consideravam o Espiritismo apenas como divertimento, passatempo, distração social. No século 19, com o modismo das mesas girantes ou dançantes, o Espiritismo como fenômeno ocupava o tempo da elite nos salões parisienses, atraindo a curiosidade e o interesse pelo oculto. No entanto, quando essas mesmas pessoas viram que o Espiritismo era algo sério e não simples objeto de entretenimento, se afastaram.

2. Na segunda categoria se inserem os que viam no Espiritismo uma forma de ganho pessoal, um negócio vantajoso. Seu desejo era obter dos espíritos informações que lhes desse algum tipo de benefício: ganhar na loteria, achar algum tesouro escondido etc. qualquer tipo de vantagem material, pecuniária. Porém, logo se afastaram quando perceberam que o Espiritismo emergia como ciência e filosofia, como uma doutrina séria, racional e, portanto, jamais se prestaria aos seus interesses frívolos. “É destes que se constitui a categoria mais numerosa dos desertores, mas vê-se perfeitamente que não se pode, conscienciosamente, qualificá-los de espíritas”, conclui Kardec.

3. A terceira categoria se caracteriza pela ação dos espíritas de contrabando (spirites de contrebande): “Pregam a união e semeiam a cisão; atiram ardilosamente à arena questões irritantes e ofensivas; excitam a rivalidade de preponderância entre os diferentes centros.” A única utilidade dessa categoria de desertores foi a experiência obtida: “Ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspeto e não se fiar nas aparências.”

4. E por último, aqueles espíritas que, por divergirem do Espiritismo, se afastaram e seguiram outro caminho. Allan Kardec os divide em dois tipos: a) Os que são guiados pela sinceridade e b) Os que são guiados pelo amor-próprio.

Os primeiros não podem ser considerados desertores porque têm o pleno direito de divergir e buscar outro caminho, pois são sinceros e guiados “pelo desejo de propagar a verdade”.
Quanto à segunda subcategoria, Kardec é bem claro e incisivo: “Seus esforços tendem unicamente para se porem em evidência e captarem a atenção pública, satisfazendo seu amor-próprio e seu interesse pessoal.”

O fundador do Espiritismo enfrentou todo tipo de desertor, desde o mais frívolo até o mais preparado. Essa categorização é fruto da experiência, de seu olhar perspicaz e observador, podendo inclusive ser aplicada na aná-lise do movimento espírita contemporâneo.

O caminho apontado por Kardec para a superação dos conflitos e da rivalidade entre grupos e pessoas é moral, ético: “Espíritas! Se quiserdes ser invencíveis, sede benevolentes e caritativos. O bem é uma couraça contra a qual sempre se anulam as manobras da malevolência.” E, para finalizar, não deixa de lado seu ufanismo e o otimismo exagerado ao ver o intenso desenvolvimento do Espiritismo num curto espaço de pouco mais de dez anos: “A vulgarização universal do Espiritismo é questão de tempo, e, neste século, o tempo caminha a passos de gigante, sob o impulso do progresso”.

Allan Kardec era um homem prático, empreendedor. Ele apontou um caminho moral, ético, mas não se limitou a esse discurso. Ciente da força filosófica do Espiritismo e de sua capacidade de penetrar no âmago das consciências, propôs o Projeto 1868. Publicado inicialmente na Revista Es-pírita (dezembro de 1868) e posteriormente ampliado, em Obras Póstumas, Kardec estabelece nesse texto parâmetros seguros a fim de que as inevitáveis cisões e deserções pudessem comprometer o futuro do Espiritismo, como veremos a seguir.

CHEFE COLETIVO

Allan Kardec tinha plena consciência de que as fraquezas humanas não poderiam ser ignoradas em se tratando do futuro do Espiritismo, tanto que elaborou o Projeto 1868 com a intenção de neutralizar sua ação insidiosa.

A fim de evitar dissidências, procurou dotar o Espiritismo de uma linguagem aberta, objetiva, que desse pouca margem a interpretações. Precisão e clareza foram dois critérios adotados por ele na elaboração de toda a Kardequiana: “Podem formar-se, paralelas à Doutrina, seitas que não adotem os seus princípios, ou todos os seus princípios, mas não dentro da Doutrina por questões de interpretação do texto, como se formaram tantas pelo sentido que deram às próprias palavras do Evangelho. É este um pri-meiro ponto, de importância capital”.

Manter-se no círculo das ideias práticas, deixando de lado teses utópicas que poderiam ser rejeitadas por homens positivos e abrir as portas doutrinárias ao progresso do conhecimento foram outros dois critérios bem definidos pelo fundador do Espiritismo.

Kardec propõe em detalhes a criação de um comitê central dirigente, gestor, encarregado de manter a unidade doutrinária e o caráter progressivo do Espiritismo, sempre sob a responsabilidade exclusiva dos encarnados: “Que os homens se contentem em ser assistidos e protegidos pelos bons Espíritos, mas não descarreguem sobre eles a responsabilidade que lhes cabe como encarnados”.

Esse comitê central teria suas ações controladas por assembleias ge-rais, congressos, a fim de desempenhar o papel de “chefe coletivo que nada pode sem o assentimento da maioria.” A proposta kardequiana fundamenta- se em ações de caráter democrático, sem esquemas hierarquizantes e centralizadoras.

O mais interessante de sua proposta é a relação libertária desse comitê central com os grupos espíritas, que funcionariam num esquema de au-togestão, de independência e liberdade de ação, como células autônomas, cada qual com sua forma peculiar de organização, porém fiel aos princípios doutrinários aceitos por todos, princípios estes que Kardec não pôde finalizar em razão de sua súbita desencarnação.


O profundo respeito à liberdade de pensamento, a tolerância e a alteridade não poderiam ficar de fora, fatores que nos conduzem ao respeito por todas as crenças: “Se estou com a razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como os outros. Em virtude desses princípios, não atirando pedras em ninguém, não dará pretexto a represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos”. 

sábado, 10 de dezembro de 2016

ARTE ESPÍRITA, UM SONHO DE KARDEC - por Jaci Régis

Allan Kardec acreditava que “Assim como a Arte cristã sucedeu à arte pagã e a transformou, assim a Arte espírita irá complementar e transformar a arte cristã.”
Existe uma arte espírita, como queria Kardec?
Costuma-se dizer que existe arte com temática espírita. Mas não é a mesma coisa.
Existem produções mediúnicas com reprodução de artes plásticas. Mas a essa “arte mediúnica” poderia ser enquadrada no que Kardec sugeriu?
Na poesia, na literatura, no teatro, na música, há atividades de grupos espíritas. Mas certamente não foi inventada uma arte especificamente espírita, talvez porque “arte espírita”, “arte cristã” e “arte pagã” sejam apenas adjetivações da mesma Arte, colocada em letras maiúsculas para sinalizar que ela, como tal, não pode ser mais inventada, existe desde sempre.
Neste artigo vamos analisar essas questões.


A ARTE ESPIRITA

No livro Obras Póstumas, existe um capítulo denominado “Influência perniciosa das idéias materialistas” que contém uma análise de Kardec sobre artigo do jornal “Courrier de Paris du Monde Illustré” de 19 de dezembro de 1868, há 138 anos.

O artigo comenta a fugacidade da fama e cita Caromouche que “escreveu mais de duzentas comédias e revistas teatrais e seria muito justo que ainda hoje seu nome fosse lembrado. Mas é tremendamente fugaz essa glória dramática que excita tantas ambições. A não ser que trate de autor de obras-primas excepcionais, tudo está votado ao esquecimento logo que ele abandona o campo de batalha” O artigo afirma que “as preocupações materiais soprepõem-se cada vez naus aos interesses artísticos”.

Para Kardec “a decadência das artes no século atual (século dezenove) é o resultado inevitável da concentração das idéias nas coisas materiais e essa concentração, por sua vez, é o resultado da ausência de qualquer crença na espiritualidade do ser.” E sentencia: “As artes só sairão de seu torpor quando houver uma reação visando às idéias espiritualistas” Ainda “É matematicamente exato dizer que, sem crença, as Artes não têm vitalidade possível.”.

O fundador do Espiritismo descreve seu sentimento sobre a arte: “O sublime da arte é a poesia do ideal que nos transporta fora da estreita esfera de nossa atividade. E o ideal está precisamente nesta região extra-material, onde só penetramos pelo pensamento e que a imaginação concebe, embora não a alcance os olhos do corpo. Que inspiração pode trazer ao espírito a idéia do nada?”.

A análise continua “O Espiritismo, realmente, nos mostra o futuro sob uma nova luz, mais ao nosso alcance (...) Que inesgotáveis fontes de inspiração para a arte! Quantas obras primas, de todos os gêneros, poderão estas novas idéias criar, pela reprodução das múltiplas e tão variadas cenas da vida espírita!

Em vez de representar frios e inanimados despojos, ver-se-á a mãe tendo a seu lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima perdoando o algoz; o criminoso fugindo em vão o espetáculo, sempre presente, de suas ações culposas; o isolamento do egoísta e do orgulhoso no meio da multidão; a perturbação do Espírito que renasce par a vida espiritual, etc, etc.

E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre aos mundos superiores, verdadeiros edens onde os Espíritos adiantados gozam a felicidade que conquistaram, ou se quiser reproduzir algumas cenas dos mundos inferiores, verdadeiros infernos, onde dominam as paixões que cenas comoventes terá parta reproduzir! Sim! O Espiritismo abre para a Arte um campo novo, imenso, ainda inexplorado.”.

Passados 149 anos da fundação do Espiritismo não se viu o nascimento de uma arte espírita.

Embora Kardec afirme que “a Arte espírita irá complementar e transformar a Arte cristã” A arte espírita que ele desenhou no texto acima parece muito com um simulacro da arte cristã. Esta, segundo ainda Kardec, “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio, Essa fase pode ser apreciada nas pinturas da Idade Média, representando o inferno e o céu, as penas eternas ou, então, uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível. E talvez por isso, tão pouco impressione quando a vemos reproduzida na tela ou no mármore”.

J.Herculano Pires comenta essa parte afirmando que “O caráter grandioso e sublime da arte medieval foi determinado pela concepção cristã. O Renascimento determinou a volta ao Paganismo, mas numa assimilação renovada dos valores antigos sob a influência cristã. O mundo moderno não ofereceu elementos para uma renovação profunda das artes porque não trazia ainda uma cosmovisão nova. As artes modernas são prelúdio de uma nova fase que só o Espiritismo, a concepção espírita do mundo irá difundir. É o que Kardec viu com clareza neste trabalho.

Herculano também disse em nota de rodapé que “A Arte Espírita já uma realidade nascente. A Pintura Espírita começou no tempo de Kardec (...) A Poesia Espírita é realidade que já mereceu antologia (...) A ficção espírita impõe-se no mundo e a influência espírita no Cinema, na Música, no Rádio, na Televisão, no Teatro é visivelmente crescente. (O volume analisado de Obras Póstumas é de 1971).

Além da costumeira ufania de Herculano relativamente ao Espiritismo no mundo, a nota remete a outra questão. Como é ai definida a “arte espírita?” ou seriam apenas temas espíritas e assemelhados?

Claro que Kardec retratou sua época e sua concepção de arte, para ele assentada sobre a crença. A arte espírita seria, então, na sua visão, uma arte voltada para o sublime de um lado e para o horror de outro, com seus edens e infernos, seus Espíritos atormentados e felizes.

Seria, todavia,  uma visão extremamente sectária querer que a artes plásticas, por exemplo, abandonassem a apresentação do que seria “material”. Some-se isso que desde a desencarnação de Kardec muitas escolas artísticas foram criadas, algumas com duração efêmera e que artistas geniais ou pelo menos talentosos surgiram e que exprimir o corpo, a beleza, o cenário material, físico também é obra de arte, quando o artista consegue superar-se.

Depois, se a arte cristã “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio” devido sua ambição de retratar, sobretudo, a visão mística e uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível, uma arte inspirada pelo Espiritismo teria quer ser equânime, ou seja, abranger também a beleza e os problemas do ser encarnado e não apenas as projeções da vida futura.


A arte, de modo geral, reproduz o momento, a angustia, a ansiedade e o amor das pessoas encarnadas, vivas, atuantes ou amortalhadas. Poderá fazer introdução na vida extra corpórea sem aquela beatitude ou aquele descer ao inferno.

A ARTE MEDIÚNICA

A produção mediúnica no campo das artes é muito grande. Mas isso caracterizaria a “arte espírita”?

Desde o tempo de Kardec realmente foram produzidos desenhos através da mediunidade.

No Brasil, mais recentemente tivemos o fenômeno Gasparetto, com sua assombrosa produção pictográfica. Com os dedos da mão e do pé, a partir de um borrão de tintas, aleatoriamente misturadas, em poucos segundos surgia uma figura, uma paisagem assinada por um artista famoso, desencarnado.

Logo seguiram-se outros médiuns que fizeram e fazem demonstrações públicas desse tipo de mediunidade. . Todavia, os supostos autores espirituais reproduzem seu estilo, sua marca, talvez como forma de identificação e aí, parece que o que está em jogo é mais a confirmação da imortalidade da alma do que propriamente a arte, embora algumas telas tenham merecido elogios e admiração de especialistas.

 No campo da literatura temos obras de poesia, como O Parnaso de Além Túmulo obra primeira do médium Francisco Cândido Xavier, coletânea de poemas, sonetos e poesias de autores brasileiros e portugueses desencarnados geralmente famosos quando encarnados.

A ficção teve no passado recente, algumas produções muito bem escritas. Atualmente, porém, existe uma produção em escala de romances, novelas, contos, agora assinados por autores desconhecidos, sem biografia ou antecedentes.  São designados por um nome simples e cujo conteúdo e a forma, com raríssimas exceções, não constituem propriamente um literatura, mas uma subliteratura.

Como sabemos que o médium é interprete, por isso nenhuma produção artística pode ser considerada “pura”, isto é, sem interferência do médium. Este interpreta o desejo, a habilidade, o gênio do artista desencarnado dentro de suas possibilidades.

Por isso, a produção mediúnica não pode, a rigor, ser considerada “arte espírita”, como produto próprio, inédito, diferente.

Não se pode negar a crescente invasão de temas espíritas, se considerarmos como tal, todos os fenômenos mediúnicos, no cinema, na televisão, no teatro, mesmo em paises onde a tradição religiosa não tem qualquer ligação com o Espiritismo.

Filmes como Ghost, Sexto Sentido e outros foram saudados com grande entusiasmo e alcançaram muito sucesso e séries de televisão americana, por exemplo, apóiam-se em atuação de médiuns, sem qualquer ligação com a “paranormalidade” defendida pela parapsicologia, embora esta, se consultada, não deixará de encontrar uma explicação fora da mediunidade.

A televisão brasileira também tem aproveitado temas mediúnicos ou espíritas em novelas e séries.

Seria isso, afinal que Kardec pensou? Ou devemos repensar o que ele queria com a arte espírita? Sem dúvida as pessoas com pendores artísticos e que se tornam espírita devem e podem apoiar-se na filosofia espírita como base de suas produções.

Cabe-lhes, contudo, a responsabilidade de veicular o Espiritismo de forma positiva e coerente, pelos canais da música, do teatro, da televisão, da literatura, sem desvios e misturas espiritualistas... 


NR: Encontramos este artigo no computador de Jaci Régis, o artigo tem o estilo de Jaci, mas não está assinado, publicamos aqui, por mostrar uma vertente distinta do autor, na próxima edição complementaremos o artigo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Abrindo a Mente - sobre o livro O Laço e o Culto por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a mente

O Laço e o Culto



Krisnamurti de Carvalho Dias escreveu um livro sensacional, especialmente na época em que foi lançado, basta recordar o comentário feito pelo leitor Eduardo Simões, do Jornal “Espiritismo e Unificação”, quando o mesmo apresentou o livro – “eta livro porreta!”.

O Laço e o Culto, veio, à época, destruir completamente a armação sobre a qual a FEB construiu a religião espírita, deixa bem claro  porquê o professor Rivail acreditava que o Espiritismo não era uma religião. E ainda de quebra nos dá uma aula sobre o orígem da palavra religião, que ele defende seja originada da palavra romana Religiones e não religare, dizendo portanto que religião seria um “laço” e não um “culto” a Deus.

Krisnamurti baseia sua tese no diálogo entre Kardec e o Abade Chesnel que pode ser lido no livro “O Que é o Espiritismo”, livro recomendado pelo professor Rivail como o primeiro a ser lido, antes mesmo de O livro dos Espíritos.

O grande argunto de Kardec, contra o Espiritismo como religião se dá por esta troca de ideias. “ O abade Chesnel se esforça sempre por provar que o espiritismo é, deve ser e não pode deixar de ser senão uma religião nova, porque dele decorre uma filosofia e porque nele nos ocupamos da constituição moral e física dos mundos”. Isto até então era propriedade exclusiva das religiões. Mas Kardec não deixa por menos “ se isto fosse verdade diz ele “ sob este aspecto, todas as filosofias seriam religião”.

Segundo Krisnamurti “ o Espiritismo é um laço que reúne homens, que os aproxima, laço de substância moral, feito de costumes espontaneamente assumidos e livrement mantidos e aceitos”.

Fica aqui o convite para que nossos leitores mais novos que não tenham o livro que o busquem, em pdf na internet. Ele pode ser encontrado no site Pense, o link para o site pense está disponível no blog do ICKS.





Para abrir mais a sua mente:  Leia o Laço e o Culto – Krisnamurti de Carvalho Dias – editora DICESP e o livro O que é o Espiritismo de Allan Kardec.

Publicado no Jornal Abertura em outubro de 2015. O livro está esgotado, mas entrando em contato com o ICKS, pelo email ickardecista1@terra.com.br ,  você poderá comprar cópia em CD, R$ 10,00 mais frete, Totalizando R$ 15,00 se no Brasil.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Pela Sobrevivência da Literatura - por Alexandre Cardia Machado

É inegável que as pessoas estão cada vez com menos tempo disponível para a leitura, existe uma enormidade de concorrentes hoje, a televisão a cabo, com mais de 200 opções de acessos, a internet e mais recentemente o tablet, que permite inclusive a leitura de livros virtuais.

Não há dúvidas que o livro virtual veio para ficar, mas assim como o disco de vinil sobreviveu ao CD e às midias eletrônicas em geral, pela sua singularidade, o livro impresso ainda existirá por muitos anos. A lei do progresso não pode ser detida, como espíritas, sabemos disto, mas o livro impresso tem o seu valor real, ele é palpável, você pode sentir o seu cheiro, pode escrever, anotar, virar a orelha da folha e colocar na estante. Não depende de conexão com internet e muito menos de ter eletricidade disponível, além de que ninguém irá te assantar para roubar o teu livro.

Foto do Livro A Mulher na Dimensão Espírita - ICKS

Este artigo não é contra o livro virtual, ele terá cada vez mais o seu papel, é muito mais barato de ser feito e mais acessível ao leitor, não tem o mesmo charme, mas sobre o ponto de vista de acessar a informação e adquirir conhecimento e rapidez de acesso ao mesmo será sempre incomparável.

Agora voltando ao livro impresso, a revista Veja, em seu anexo – Veja São Paulo, trás uma matéria  -  A paulistana nota dez Ivani Naked que nos motivou a escever sobre este tema, iniciou um movimento em 2000, com a ajuda do marido William Nacked , criou o Instituto Brasil Leitor, que desde então criou 144 espaços para leitura em São Paulo, dispondo de um acervo de 20000 livros disponíveis para leitura de graça pela população. Parabéns a ela pela persistência. Ela considera a missão de seu instituto “ colocar a literatura no caminho das pessoas”.

Recentemente vivemos a experiência de tentar doar livros, na cidade de Santos, onde a prefeitura tem uma grande malha de bibliotecas públicas e recebemos a seguinte resposta: aceitamos livros de ficção, mas não queremos livros técnicos nem enciclopédias, pois ou não há interesse; ou existem em demasia. Assim que existe demanda de livros para leitura, mas a internet ocupou, sem dó, nem piedade o espaço das antigas enciclopédias, fato este que fez com que as mais tradicionais, só existam virtualmente, via internet.

Enquanto isto o livro espírita  passa pelo mesmo processo, mesmo a FEB já disponibiliza toda a sua enorme lista de livros gratuitamente, no seu site. De uma forma ou de outra, o importante é que existe espaço para os bons livros. Aqueles que queremos consultar várias vezes, que nos apoderamos, como se fosse parte de nosso arsenal de argumentação.

Fica então aqui o convite, comprem leiam e ofereçam de presente a amigos, filhos e netos, livros de qualidade espíritas ou não. E se tiverem livros em casa, ocupando espaço, busquem quem os possa disponibilizá-los ao grande público carente. Sejamos distribuidores de conhecimento, sonhos e ideias.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Mulheres - Os números são alarmantes - por Roberto Rufo

“É muito difícil para uma mulher que vive uma situação violenta denunciar” ( ONG Casa del Encuentro – Argentina ) “Deus deu ao homem e à mulher a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir” ( Livro dos Espíritos – Pergunta 817 ) 

  
   A manchete do jornal “A Tribuna” de Santos, por si só já espelha a tragédia vivida pelas mulheres em nosso continente:

“Feminicídio em alta causa dor e envergonha a América Latina”. E aí aparecem os números estarrecedores de mortes das mulheres latino-americanas: uma morte a cada 31 horas na Argentina; 15 por dia no Brasil e quase 2 mil por ano no México. Foram criadas leis para evitá-las, mas o número de crimes de gênero continua alto.

O interessante nisso tudo, para não dizer lamentável, é que em sua maioria são crimes cometidos por homens jovens ou de meia idade, que são de uma geração participante da liberação sexual e dos costumes. No entanto, continuam a ver nas mulheres uma propriedade sua. Aliado ao fato de que as mulheres adquiriram, e isso é muito bom, o direito de dizer não quando algo lhe desagrada na relação, indo até mesmo à separação, se julgar necessário . No passado, as mulheres da geração da minha mãe, por exemplo, não tinham essa ousadia de se afirmar como seres pensantes e participativos. Aí reside o problema e a desgraça para muitas mulheres.

Os senhores do sexo masculino não assimilaram a batalha cultural que as mulheres tiveram que lutar para se afirmarem como seres humanos  plenos. Quando elas manifestam sua independência, muitos não aceitam por se julgarem donos dessa mulheres. A deputada Gabriela Alegre, da cidade de Buenos Aires, diz que esse problema não se resolve apenas com a legislação e a penalização, mas é preciso, segundo ela, enfrentar uma mudança cultural e apontar para a educação.

Allan Kardec, na pergunta 818 do Livro dos Espíritos, indaga de onde se origina a inferioridade moral das mulheres em certos países? A resposta pode ser estendida à violência contra as mulheres: “do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza . Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito”. Percebam que os espíritos falam “do ponto de vista moral”, pois entre os agressores há muitos com educação superior.

Maria Eugenia Lanzetti, 44 anos, professora de jardim de infância na província de Córdoba, era separada de um marido obsessivo, contra quem pesava uma ordem judicial de afastamento. Maria chegou a instalar um botão antipânico em seu celular. Infelizmente essas medidas não foram suficientes para evitar o pior. Na manhã de 15 de abril passado, o ex-marido entrou na sala de aula e cortou o pescoço dela na frente das crianças. O ódio era seu habitat cotidiano. Por isso sempre coloquei em dúvida uma afirmação rotineira nos meios espíritas, de que por não ter sexo, o espírito reencarna senão simultaneamente, mas algumas vezes como homem ou mulher.

Fosse assim, aqueles espíritos, como o ex-marido citado, ao passar por algumas encarnações no sexo feminino, já teriam adquirido alguma sensibilidade quanto aos desejos e anseios femininos.   
Conversa fiada, ele sempre reencarnou no sexo masculino e traz seus impulsos machistas há várias encarnações.  A erraticidade não lhe tem sido de grande valia.

Por isso, andou muito bem a Presidente Dilma Rousseff, a primeira mulher a governar o Brasil, ao promulgar uma lei que inclui o feminicídio no Código Penal. E enfatizou que a violência de gênero “acontece em todas as classes sociais”. Kardec tinha muito apreço na modernização das legislações, que segundo ele acabariam levando a uma mudança de comportamento. Em parte isso é muito verdadeiro, pois uma boa legislação devidamente aplicada tem o poder de induzir comportamentos.
Todavia, a mudança cultural é mais lenta e tão importante, até mesmo na Doutrina Espírita, quando diz que a mulher tem igualdade de direitos e não de funções. Isso não é mais válido, pois muitas mulheres são agredidas, por reclamarem justamente por igualdade de funções.   


sábado, 22 de agosto de 2015

BREVE SINTESE CRONOLÓGICA DA QUESTÃO RELIGIOSA – por Jaci Régis

BREVE SINTESE CRONOLÓGICA DA QUESTÃO RELIGIOSA – por Jaci Régis



1979

Creio que posso dizer que o inicio de tudo começou em setembro de 1979 quando lancei no jornal Espiritismo e Unificação, a campanha da Espiritização.

1980

Nas edições seguintes, no ano de 1980, o tema da Espiritização esteve presente, inclusive com adesões e rechaço.
Já em setembro desse ano foi sugerida uma Campanha Nacional pela Espiritização
Em seqüência, na edição de Novembro de 1980, escrevi um artigo com o título:
Espiritismo religioso. existe isso?

1981

No ano de 1981 prossegui com a idéia da Espiritização.

1982

Também em 1982, o tema da Espiritização continuou.
Maio de 1982 – publiquei artigo do Krishnamurti “Polêmica Espírita”.

1983

Artigo do Krishnamurti “O Discurso de Abertura”, analisando o discurso de Kardec de novembro de 1868.
Artigo “Kardec afirmou que o Espiritismo não é religião”.

1984

Dezembro de 1984 – fórum debate religião espírita –  na sede da Federação Espírita do Estado de São Paulo entre eu e Heloisa Pires.

1985

Publiquei uma coluna sobre a questão religiosa durante alguns meses,
Lançado o livro “O Laço e o Culto” de Krishnamurti
Foi apresentada a Chapa Unificação Hoje, para a diretoria da USE, com a candidatura de Henrique Diegues à presidência.
Editorial do Boletim da Federação do Rio Grande do Sul sobre a questão religiosa

1986

Participação ativa de Ciro, Jaci e Miguel na elaboração do 7º Congresso Espírita Estadual, realizado de 22 a 24 de agosto de 1986.
Centros ligados à UMES pedem definição não religiosa

1987

Realização do 7º Congresso Espírita Paulista1896:

Comentário

A discussão sobre o Espiritismo religioso, mobilizou muita gente, pró e contra. Artigos, cartas, editorais, foram publicados em vários jornais e realizados fóruns e debates.
A apresentação de uma chapa notoriamente não religiosa, para a diretoria da USE foi o ponto culminante da reação do sistema.
A situação cresceu quando a UMES de Santos e a 4º UDE, representadas por mim e por Ciro propôs e conseguiu a realização do 7º Congresso Estadual, que foi, afinal, o ponto de ruptura final.
A direção da UME de Santos foi praticamente destituída pela Diretoria da USE, DEIXAMOS A Dicesp, que criamos como parte da UMES como editora do jornal Espiritismo e Unificação e de livros.
Embora se tenha veiculado que existia o “grupo de Santos”, na verdade era eu, Jaci Regis, o único componente.
Vários espíritas contribuíram como Ciro Pirondi, Egydio Regis, Marcos Miguel, Krisnamurti C. Dias do nosso lado e vários do outro lado.

1988


Deixamos a direção do jornal Espiritismo e Unificação, no mês de fevereiro.

Note: Artigo publicado no jornal ABERTURA - maio 2015 - obtido das anoações pessoais de Jaci Régis

quinta-feira, 7 de maio de 2015

  "O EXERCICIO DA LIBERDADE" 

                                            por Gisela Régis

                    Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda a população de que nos encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. A grande questão que se coloca é como curar essa doença cronica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição?
                    É senso comum que para ter um corpo saudável você precisa exercitá-lo, praticar esportes, andar, correr, caso contrário os músculos atrofiam. Quando falamos em liberdade, nunca vi nem ouvi alguém recusar ou ser contrário. Todos nós queremos e defendemos ser livres. O problema é que, por essas bandas do nosso Brasil, estamos atrofiados, somos sedentários da liberdade. Nunca tivemos a oportunidade de exercitar plenamente esse músculo e o resultado é que mal reconhecemos sua existencia, não sabemos ao certo como funciona, como deve ser treinada e estimulada para que cresça e nos transforme em um país mais saudável, mais próspero e mais admirado.
                    Somos um país em que as pessoas buscam e defendem constantemente a solução dos problemas através dos governos e esperam dos políticos decisões e atitudes que solucionem esses problemas. Ao longo de toda a nossa história o Brasil  sempre foi marcado por um profundo paternalismo, uma presença intensa e constante das estruturas de governo no direcionamento dos rumos da economia, da cultura, chegando até as questões familiares e religiosas em muitos casos.
                    Parece que a fórmula não deu certo. Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda população de que  de que encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. Conhecemos os sintomas dessa doença. Empobrecemos rapidamente com uma moeda exatamente fragilizada, inflação crescente e quase fora de controle, juros altíssimos que invibializam investimentos, desemprego batendo na porta de milhões de trabalhadores, serviços públicos de saúde, educação e segurança que simplesmente não funcionam, aumentos de impostos e, coroando isso tudo, escândalos de corrupção cada vez maiores e mais frequentes. Esses sintomas são percebidos facilmente pelo povo brasileiro, muito poucos não os sentem.
                   Portanto, a grande questão que se coloca é como curar essa doença crônica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição? E aqui temos um problema. Cada brasileiro, com sua forte cultura paternalista e os músculos da liberdade atrofiados, procura os remédios que necessariamente passam pelo governo e não demandam o exercício pleno de sua liberdade. A pessoa cansada de tanta corrupção defende a proibição das doações de empresas e indivíduos aos partidos políticos e defende a adoação exclusiva do financiamento público de campanhas com recursos distribuídos pelo governo. O trabalhador quer benefícios, como seguro-desemprego e fundo de garantia, gerenciados pelo governo. O empresário industrial quer incentivos do governo na forma de juros subsidiados e proteção contra produtos importados. E tem até quem defenda que o governo tem que cuidar do nosso petróleo.
                    Mas se a doença existe há tantos anos, se os remédios ministrados são os mesmos há tanto tempo e ninguém está satisfeito com os resultados, porque insistimos em pedir uma dose maior dos mesmos remédios? Por que continuamos pedindo mais e mais governo em nossas vidas? Será que não está na hora de invertermos essa lógica? Será que não precisamos, na verdade, pedir ao governo que fique longe e faça apenas o mínimo necessário para garantir nossa segurança e a concorrência nos mercados? Que nos devolva o dinheiro que toma de nós com tantos impostos e nos permita fazer as nossas próprias escolhas? Será que temos medo dessa liberdade? Medo de errar sozinho? Medo do próprio fracasso, ou pior, do sucesso do vizinho? Porque, errar em conjunto já o fazemos há muito tempo.
                    Se você quer menos corrupção, ao invés de pedir ao governo que controle as verbas de campanha política, peça ao governo que devolva o dinheiro que foi tomado de você para essa verba, e escolha você mesmo o político pra quem doar seu dinheiro, depois o monitore e cobre os resultados. Se você quer ter uma poupança para passar pelos momentos de crise e desemprego ou para comprar uma casa, exija que o governo devolva a você o dinheiro tomado para o seguro-desemprego e FGTS, e cuide você mesmo de sua poupança. Se você quer fazer sua empresa crescer e prosperar, não peça incentivos ao governo, pois mais cedo ou mais tarde você receberá uma conta muito maior na forma de impostos. Apenas peça que o governo garanta que as regras do jogo sejam cumpridas, sem trapaças por seus concorrentes, pois você com certeza não é um trapaceiro.
                    Aquilo que amamos e desejamos tanto - quando falamos em liberdade - é ainda apenas um conceito abstrato, uma palavra bonita, simpática, mas que não conseguimos até hoje exercitar na prática mais simples e corriqueira de nossas vidas. Enquanto não assumirmos essas responsabilidades individualmente, praticando o exercício da liberdade de forma intensa exaustiva, estaremos fadados a morrer sem conhecermos o país do futuro. Temos que aceitar que, como qualquer outro exercício, esse também levará ao cansaço e causará dores em alguns momentos. Mas ao final de alguns anos de treinamento consistente e paciente, estaremos em forma, fortes, curados da doença que nos assola há tanto tempo. E seremos finalmente um país admirado no presente.

"Quanto mais inteligência tenho o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo." (828- Livro dos Espíritos por Allan Kardec).
"Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para superar os obstáculos". (850 - Livro dos Espíritos por Allan Kardec).