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sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Livre-Arbítrio no Espiritismo - por Eugenio Lara

O Livre-Arbítrio no Espiritismo

Eugenio Lara

A existência do livre-arbítrio tem importância fundamental para a Filosofia Espírita porque toda sua ética, sua axiologia ou teoria de valores é baseada na ideia de liberdade, de livre-escolha. A base, o esteio da Ética Espírita é a liberdade. E liberdade, aplicada à ação do sujeito, pressupõe, segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio, sem o qual “o homem seria uma máquina”.
A Filosofia Espírita admite que há um determinismo natural, engendrado pela “força das coisas”, pelas leis naturais. Todavia, esse determinismo não anula o livre-arbítrio. O espirito é livre e responsável pelos seus atos. E mais, diz que nos atos da vida moral, jamais há fatalidade. A fatalidade somente existe no momento em que reencarnamos e desencarnamos: no nascimento e na morte:
“Não existe de fatal, na verdadeira acepção do vocábulo, senão o instante da morte. Quando ele chega, deste ou daquele modo, não podeis a ele fugir”. (O Livro dos Espíritos q. 852).
“A fatalidade não consiste senão na hora em que deveis aparecer e desaparecer daqui debaixo”. (LE q. 859).
“A fatalidade está nos acontecimentos que se apresentam, pois estes são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Pode não ser o resultado desses acontecimentos, pois pode o homem lhes modificar o curso por uma ação prudente. Jamais ela está nos atos da vida moral.” (LE - Resumo teórico do móvel das ações humanas).
Segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio se caracteriza da seguinte maneira:
1. É um atributo natural do princípio inteligente, do espírito, que molda a capacidade de pensar e de agir, sem o qual ele seria uma máquina desprovida de liberdade. Ser senhor de si mesmo é um direito que vem da Natureza. A liberdade é, portanto, um direito natural do princípio inteligente.
2. É evolutivo porque se desenvolve na medida em que o princípio inteligente progride. De início o livre-arbítrio é bastante rudimentar, instintivo, para se tornar pleno e integrado ao espírito em seu estágio hominal, quando este supera os primeiros patamares do progresso intelecto-moral.
3. É relativo porque depende das relações sociais, interpessoais, da cultura. A liberdade absoluta somente existe, teoricamente, para o eremita no deserto.
4. Depende das vicissitudes materiais para se manifestar. Quanto menos materialidade, maior a sua expressão e manifestação.
5. Tem um sentido profundamente moral, ético porque através do livre-arbítrio o ser humano toma decisões comportamentais que irão influir nos relacionamentos interpessoais, sociais. É a responsabilidade moral e social.
6. É compatível com o determinismo natural, porque não há fatalidade nos atos da vida moral. É como imaginar as correntes do mar que não impedem o nado livre dos peixes. Do mesmo modo, as correntes da vida natural e social não impedem que o espírito aja com liberdade.
A Filosofia Espírita acompanha os avanços da ciência, os fatos comprovados e admite os fatores ambientais, culturais, genéticos e psicológicos que influem nas decisões humanas. E ainda acrescenta mais alguns dados complicadores:
a.   A influência dos espíritos. Muitas vezes “são eles que nos dirigem”. Os processos obsessivos influem decisivamente no livre-arbítrio.
b.   A voz do instinto, um dado novo na obra kardequiana, porque representa todo um conjunto de vivências e experiências advindas de outras existências e que, de modo intuitivo, podem servir como orientação em decisões cruciais na vida do espírito reencarnado.
c.    O livre-arbítrio permite ao espírito configurar o gênero de vida, determinando desta forma o gênero de morte. Tal escolha está subordinada à capacidade intelecto-moral e psíquica do espírito reencarnante.
d.   A volição existe sempre, mesmo nos estágios inferiores do desenvolvimento intelecto-moral. Já o livre-arbítrio, desenvolve-se na medida em que o espírito vivencia a erraticidade, com um certo nível de consciência de si mesmo e do meio em que vive.
A partir desses pressupostos, pode-se inferir que todos os seres da natureza têm volição. O espírito puro, conforme a escala espírita, também é volitivo, todavia, por estar plenamente integrado às leis naturais, não possui livre-arbítrio, dada a inutilidade desse atributo natural, em função de seu avançado estágio evolutivo.

NR: Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2015 do Jornal ABERTURA.

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico E-mail: eugenlara@hotmail.com

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.  www.cpdocespirita.com.br  -  contato@cdocespirita.com.br

quinta-feira, 7 de maio de 2015

  "O EXERCICIO DA LIBERDADE" 

                                            por Gisela Régis

                    Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda a população de que nos encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. A grande questão que se coloca é como curar essa doença cronica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição?
                    É senso comum que para ter um corpo saudável você precisa exercitá-lo, praticar esportes, andar, correr, caso contrário os músculos atrofiam. Quando falamos em liberdade, nunca vi nem ouvi alguém recusar ou ser contrário. Todos nós queremos e defendemos ser livres. O problema é que, por essas bandas do nosso Brasil, estamos atrofiados, somos sedentários da liberdade. Nunca tivemos a oportunidade de exercitar plenamente esse músculo e o resultado é que mal reconhecemos sua existencia, não sabemos ao certo como funciona, como deve ser treinada e estimulada para que cresça e nos transforme em um país mais saudável, mais próspero e mais admirado.
                    Somos um país em que as pessoas buscam e defendem constantemente a solução dos problemas através dos governos e esperam dos políticos decisões e atitudes que solucionem esses problemas. Ao longo de toda a nossa história o Brasil  sempre foi marcado por um profundo paternalismo, uma presença intensa e constante das estruturas de governo no direcionamento dos rumos da economia, da cultura, chegando até as questões familiares e religiosas em muitos casos.
                    Parece que a fórmula não deu certo. Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda população de que  de que encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. Conhecemos os sintomas dessa doença. Empobrecemos rapidamente com uma moeda exatamente fragilizada, inflação crescente e quase fora de controle, juros altíssimos que invibializam investimentos, desemprego batendo na porta de milhões de trabalhadores, serviços públicos de saúde, educação e segurança que simplesmente não funcionam, aumentos de impostos e, coroando isso tudo, escândalos de corrupção cada vez maiores e mais frequentes. Esses sintomas são percebidos facilmente pelo povo brasileiro, muito poucos não os sentem.
                   Portanto, a grande questão que se coloca é como curar essa doença crônica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição? E aqui temos um problema. Cada brasileiro, com sua forte cultura paternalista e os músculos da liberdade atrofiados, procura os remédios que necessariamente passam pelo governo e não demandam o exercício pleno de sua liberdade. A pessoa cansada de tanta corrupção defende a proibição das doações de empresas e indivíduos aos partidos políticos e defende a adoação exclusiva do financiamento público de campanhas com recursos distribuídos pelo governo. O trabalhador quer benefícios, como seguro-desemprego e fundo de garantia, gerenciados pelo governo. O empresário industrial quer incentivos do governo na forma de juros subsidiados e proteção contra produtos importados. E tem até quem defenda que o governo tem que cuidar do nosso petróleo.
                    Mas se a doença existe há tantos anos, se os remédios ministrados são os mesmos há tanto tempo e ninguém está satisfeito com os resultados, porque insistimos em pedir uma dose maior dos mesmos remédios? Por que continuamos pedindo mais e mais governo em nossas vidas? Será que não está na hora de invertermos essa lógica? Será que não precisamos, na verdade, pedir ao governo que fique longe e faça apenas o mínimo necessário para garantir nossa segurança e a concorrência nos mercados? Que nos devolva o dinheiro que toma de nós com tantos impostos e nos permita fazer as nossas próprias escolhas? Será que temos medo dessa liberdade? Medo de errar sozinho? Medo do próprio fracasso, ou pior, do sucesso do vizinho? Porque, errar em conjunto já o fazemos há muito tempo.
                    Se você quer menos corrupção, ao invés de pedir ao governo que controle as verbas de campanha política, peça ao governo que devolva o dinheiro que foi tomado de você para essa verba, e escolha você mesmo o político pra quem doar seu dinheiro, depois o monitore e cobre os resultados. Se você quer ter uma poupança para passar pelos momentos de crise e desemprego ou para comprar uma casa, exija que o governo devolva a você o dinheiro tomado para o seguro-desemprego e FGTS, e cuide você mesmo de sua poupança. Se você quer fazer sua empresa crescer e prosperar, não peça incentivos ao governo, pois mais cedo ou mais tarde você receberá uma conta muito maior na forma de impostos. Apenas peça que o governo garanta que as regras do jogo sejam cumpridas, sem trapaças por seus concorrentes, pois você com certeza não é um trapaceiro.
                    Aquilo que amamos e desejamos tanto - quando falamos em liberdade - é ainda apenas um conceito abstrato, uma palavra bonita, simpática, mas que não conseguimos até hoje exercitar na prática mais simples e corriqueira de nossas vidas. Enquanto não assumirmos essas responsabilidades individualmente, praticando o exercício da liberdade de forma intensa exaustiva, estaremos fadados a morrer sem conhecermos o país do futuro. Temos que aceitar que, como qualquer outro exercício, esse também levará ao cansaço e causará dores em alguns momentos. Mas ao final de alguns anos de treinamento consistente e paciente, estaremos em forma, fortes, curados da doença que nos assola há tanto tempo. E seremos finalmente um país admirado no presente.

"Quanto mais inteligência tenho o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo." (828- Livro dos Espíritos por Allan Kardec).
"Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para superar os obstáculos". (850 - Livro dos Espíritos por Allan Kardec).