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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Refletindo sobre a Espiritualidade Laica por Cláudia Régis Machado


Refletindo sobre a Espiritualidade Laica

Este tema despertou-me maior interesse após o último Congresso Espírita da CEPA em Rosário, na Argentina, e mais ainda quando ouvi o termo, criado por Luc Ferry- Espiritualidade laica.
A noção de espiritualidade tem significados diferentes e depende do contexto em que é utilizada.
Para as religiões, é entendida como a perspectiva do ser humano em relação a um ser que é superior. Do ponto de vista filosófico, tem a ver com a oposição entre matéria e espírito ou exterioridade e interioridade. O termo designa ainda a busca do sentido da vida, da esperança e desenvolvimento pessoal.


Cláudia Régis Machado no 14° SBPE 

Para alguns, a espiritualidade é a conexão com a natureza e com cosmo, para outros pode ser expressada pela música, pelas artes, meditação, etc. Dentre os vários conceitos de espiritualidade encontrado, sintetizamos no seguinte: É uma propensão humana a buscar para a vida conceitos que transcendem o mais tangível e, que tragam um sentido de conexão com algo maior que si próprio.
Muitos espíritas pensam espiritualidade ligando ao plano maior, ao plano espiritual. A espiritualidade é considerada “as forças espirituais”, os “movimentos espirituais” que envolvem o ser humano. Também é normal ouvirmos assim: “a espiritualidade está me ajudando”; como se uma força superior, uma energia extrafísica estivesse atuando ao seu redor no seu caminho para lhe ajudar.
Ou ainda “Nossa! essa espiritualidade parece estar pesada” uma expressão utilizada pra falar de coisas e acontecimentos que são de ordem espiritual e que estão deixando a pessoa ou o ambiente carregado de energias ruins.
Todos esses pensamentos tem um fundo de verdade, no entanto vamos abordá-lo dentro da filosofia espírita, sair desses conceitos e refletir mais sobre o tema. 

 A espiritualidade espírita, dentro do novo pensar da Ciência da Alma, é espiritualidade laica, isto é, sem Deus. Deus da maneira como é entendido pelas religiões, mas o Espiritismo, diferentemente de Luc Ferry, é uma filosofia que defende a existência de Deus. O espiritismo vê a existência de Deus como: “inteligência suprema causa primária de todas as coisas”.

Jaci postula que “Um novo pensar sobre Deus nos conduz à compreensão de que a dinâmica da vida, em qualquer dos setores em que se manifesta, prima pela criação de ambientes de oportunidade, seleção e superação”.

A Espiritualidade espírita é baseada na imortalidade dinâmica que abre uma nova significação de espiritualidade sem passar pelo campo da fé. A Espiritualidade na perspectiva espírita laica, traz um arcabouço consistente, atualizado por trazer mudança e fortaleza interior para abrir um estilo de vida e uma visão de mundo amplo e modificador.

Ferry em seu livro A Revolução do Amor discute a espiritualidade laica, não ligada a Deus, mas ao homem por meio do amor. A espiritualidade baseada no amor. É o homem, saindo de si mesmo e indo em busca do outro. Saindo da sua materialidade, do seu ego. Transcendendo de si mesmo.

Não é um amor idealizado, necessita de pés no chão. A revolução do amor que se instalou em nossas vidas “Eu faço porque eu amo”. Ferry não acredita na imortalidade de alma, e diz: “Mesmo que a nossa existência seja limitada no tempo e no espaço, não muda o fato de que podemos a cada dia que Deus nos dá, estabelecer laços com outrem”. O amor produz sentido em nossas vidas, mobiliza novas formas de sabedorias e de espiritualidade laica.

Objetivo ou finalidade da Ciência da Alma é desenvolver a Espiritualidade no ser humano. Por espiritualidade nesta visão entendemos o desenvolvimento integrado da alma humana, reconhecendo sua essência sensível e o uso equilibrado dos fatores presentes na vida de relação e consigo mesmo. Nos ensina Jaci Regis que “agora, é necessário que o homem assuma sua natureza espiritual, a sua espiritualidade e desenvolva, no plano da vida terrena, novas formas de relacionamento e revolucione seu projeto de vida, a partir das premissas espirituais dinâmicas".

Luc Ferry explica que essa nova “espiritualidade laica”, significa uma concepção de filosofia que atribui ao homem uma tarefa essencial de refletir sobre o que seria uma via boa sem passar por um Deus  ou pela fé, mas com os meios disponíveis, os de um ser humano que se sabe mortal, entregue a si mesmo e às exigências de sua lucidez, da razão.

O problema é que a expressão – espiritualidade - está corrompida na cultura porque sempre foi colocada como oposição a vida corpórea, chamada de “material”. Todavia a espiritualidade não se opõe,mas compõe a vida corpórea, porque nela a alma se exprime na totalidade de suas ansiedades, esperanças e evolução.

 A alma espiritualizada não desdenha viver as emoções saudáveis da vida corpórea, sem apegar-se a elas porque não pertence aos fatores externos mais a si mesma”. A espiritualidade se exercita e desenvolve no espaço interior de cada um. Não se relaciona com a morte e o além-túmulo pois muitos mortos não são propriamente espiritualizados.

Espiritualidade não é do plano espiritual é do aqui e agora com base na filosofia espírita, que vê o homem um ser imortal que tem como objetivo desenvolver-se em toda a sua essência intelectual e moralmente. A prática da nossa espiritualidade é desenvolver estes conceitos na estrutura da pessoa humana. E mostrar que é uma realidade natural, é a sua essência.

Essa visão espiritual correspondendo a espiritualização da vida será produto do amadurecimento e das pesquisas. Na verdade, será ponto decisivo e moldara o pensamento humano de maneira a transformar relações entre as pessoas.

Luc Ferry faz uma distinção entre valores espirituais e morais, atribuindo que há muita confusão no setor público como na filosofia. Exemplifica para explicar isto: “ Comporto-me moralmente com os meus vizinhos, parentes e próximos quando tenho respeito e os ajudo; quando reconheço seus direitos imprescritíveis de pensar diferente de mim e mesmo nessa hipótese faço o que posso para tornar-lhes a vida mais suave e fácil”. A vontade agir corretamente de ajudar ativamente os outros - benevolência ou generosidade, bondade, respeito pelo outro mais a preocupação com o outro - aí está a moral comum na qual se encontra idealmente hoje a maioria dos nossos concidadãos. O que não significa que estejam no nível ideal.

Continuando Ferry contrapõe que mesmo tendo valores morais ou não, não deixaríamos de envelhecer, nem de morrer, nem de perder um ente querido nem mesmo ser infeliz no amor. De nos apaixonar por quem nos ama e se entediar ao longo da vida cotidiana atolada em banalidades e à doença.

Estas são questões que ele chama de existenciais ou espirituais porque se relacionam com a vida do espírito. Daí chamar de espiritualidade laica. Esses sentimentos não têm nada ver com a moral. Os valores espirituais não se reduzem absolutamente a valores morais.

A busca da Espiritualidade não deve ser delineada por um roteiro proposto por alguma religião. Acredita que realmente existe longe da religião e da moral, uma espiritualidade sem deus e que essa esfera do pensamento, que ele identifica à mais alta filosofia.

Para Ciência da Alma a nossa espiritualidade deve ser conduzida para nossas ações, para o nosso comportamento levando-nos a uma vida boa, a uma vida feliz. Se inicia no intelecto e se estende para a vivência. É bom viver a espiritualidade pela janela do Espiritismo. O Espiritismo é uma filosofia que nos oferece uma matriz para vida boa.

A filosofia espírita nos auxilia e nos ajuda a viver melhor, na medida em que valoriza a vida terrena como oportunidade imprescindível de aperfeiçoamento do espírito.

Na prática, uma vida boa é quando vivemos com lucidez- A “lucidez” pretendida pelo espiritismo é de tal ordem que a filosofia espírita pretende abolir de vez o conceito de maravilhoso e sobrenatural nas chamadas questões da alma, as quais foram tradicionalmente tratadas pelas religiões sob uma aura de mistério.

Ser livre em pensamentos, é impossível ser livre em pensamento se estiver bloqueado pelos medos.
Sem poder estar livre afundamos num egocentrismo que nos torna imediatamente incapazes de amar e de pensar serenamente. “Praticar amizade. Doar-se é a atitude-chave para qualquer programa de vida que pretenda desenvolver os potenciais do Espírito” (Jaci Regis).

A felicidade trazida pelo servir, pode ser mais ampla e duradoura por representar o momento de mais doação, de sair de si mesmo, sem objeto de reciprocidade.

Capacidade de dar depende do desenvolvimento do caráter da pessoa.

Para uma vida boa é importante que objetivo da vida, para o espírito, seja a plena felicidade. A vida não pode ser boa sem felicidade, autonomia, auto expressão, moralidade e progresso.

Cláudia Régis Machado é psicóloga, Vice-Presidente do ICKS e Reside em Santos

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos em abril de 2019. Baixe aqui!

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=214:jornal-abertura-abril-de-2019


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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Reforma Íntima? Só que não! por Cláudia Régis Machado


Reforma Íntima? Só que não!

Na Doutrina Espírita a ideia de reforma intima é muito conhecida e difundida. Termo usado muito pelos espíritos Emmanuel, André Luiz e Joana de Angelis

A palavra reforma quer dizer – mudança - modificações, dar melhor forma.
Intima - interna, interior.

Este termo vem ligado a ideia de que a encarnação é uma maneira de resgatarmos os erros, os deslizes cometidos nesta ou em outra existência. Enfatizando a ideia que estamos sempre em dívida, que somos e estamos constantemente errados e necessitamos de reformulações.

A vida desta maneira é vista sempre como uma prova. Um resgate.

Jaci Régis faz um paralelo dizendo que como espíritas não temos laços com o pecado original da doutrina católica, mas tendemos a acomodar as ideias espíritas com a simbologia cristã e temos assim, não o pecado original, mas o pecado originário, originado em outra existência.

Como se tivéssemos tido uma queda por más tendências e precisamos domar estas más inclinações para ascender novamente.

 Com uma visão progressistas a vida é sempre uma oportunidade de aprendizado, de desenvolvimento que podemos aproveitar ou não.

Aprendemos por acertos e erros. Aprendemos através das experiencias vividas. Aprendemos com os erros.

E mais do que reparar temos a chance de crescer, desenvolver, alcançar potencialidade não antes desenvolvidas e aprimorar outras qualidades já conquistadas, ampliou-se ou melhor ressignificou-se o conceito de reencarnação. E daí usarmos a reforma intima, como baluarte moral já não cabe mais.
Nosso papel fundamental é melhorarmos enquanto espíritos nas experiências da vida.

Então o termo - reforma intima -  seria melhor substituído por construção interna. Um termo mais adequado para uma mudança de visão do homem como espírito em evolução.

Visão moderna, adequada a realidade atual, dinâmica, com mais profundidade e mais próximo do que sejam os conceitos básico do espiritismo e não do cristianismo.

Construção interna porque implica na construção do ser - feita através das diversas encarnações onde há e deve haver reformulações, substituições reparos, adaptações, novas assimilações e novas aquisições.

O papel da Doutrina Kardecista é o de facilitar ao homem conhecer a si mesmo. Construindo quem somos, para onde vamos e para que vivemos, nesta trajetória vamos num processo gradual e progressivo, de forma contínua e permanente. E o de compreender também que depende de nossa decisão, comandar conscientemente nossa vida, nosso próprio futuro.

Crescer não é um processo fácil porque modificar nossas estruturas mentais com novas aquisições, experiências, vivências, é sempre um desafio. O processo de crescimento muitas vezes pede novas atitudes. E para novas atitudes, novos paradigmas.

Em cada encarnação temos uma personalidade, um perfil construído pelo nosso arcabouço, nossa educação, nossa cultura, nossas experiências. E este perfil estabelece o nosso modo de ver o mundo e o modo de agir em nossas relações.

Este perfil tem possibilidade de mudanças, flexibilidade e disponibilidade para que isso ocorra sem nos desestruturarmos.  É um processo que conta com inseguranças, com incertezas, mas também com firmeza, estudo e esforço. As mudanças podem vir pelas angústias, mas também pela necessidade de ser mais feliz, de ter mais satisfação na vida e ter equilíbrio seja em si mesmo e nas relações com os outros.

Para que isso ocorra requeremos de uma vontade ativa, um olhar para dentro de nós mesmo, do nosso acervo, analisando nossas possibilidade e aspirações.

Todo este processo causa medo porque saímos daquilo que estamos acostumados, de um estado de acomodação para um estado novo, em parte desconhecido, mas não parece existir outro caminho, temos que vivenciá-lo.

Necessário:

Auto aceitação. Aceitação de quem somos e que temos condições de mudar.
Trabalho único e constante que depende da condição de cada um.
Prestar atenção nas experiencias de vida.

A primeira lição comportamental do Espiritismo é que devemos nos livrar da angústia da perfeição, a fim de que possamos equacionar nossa própria imperfeição.

Sem essa precaução, cairíamos facilmente na armadilha da presunção ou no desânimo diante da tarefa a ser executada, isto é, a da execução da mudança decidida.

Extrair das experiências vividas resultados positivos.
Entender melhor, por ter experimentado.
Enfrentar nossas dificuldades, vícios e desenvolver potencialidades para passar os momentos de maneira mais tranquila. Enfrentar para superar. Processo de conquista.
Aprender a aplicar bons conceitos à vida.

Para terminar podemos colocar os dizeres de Jaci Régis em seu best-seller Comportamento Espírita, A verdadeira mudança comporta dois estágios:

O da decisão, que é instantânea, definidora. Às vezes é fruto de uma lenta maturação e até de muitas e muitas experiências negativas. Mas quando surge é decisivo. Ninguém decide mudar aos poucos.

O outro estágio é o da concretização. Esse sim, pode ser algo demorado, porque a decisão de mudar não transforma o que somos, no que desejamos ser de uma hora para outra.

Essa transformação segue um caminho, uma sequência, mais ou menos demorada, conforme o poder de execução desenvolvido, no interior de cada um”.

Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos