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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

E viva a Democracia - por Reinaldo di Lucia

E viva a Democracia

Na  edição de setembro do jornal Abertura, o colunista Roberto Rufo relembrou que em 2017 serão comemorados os 100 anos da revolução que deu origem ao regime comunista na Rússia, que, com o tempo, gerou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Lembrava ele também que todos os regimes comunistas que surgiram posteriormente foram fracassos redundantes (vide Cuba, Coréia, Vietnam, China).
A constatação destes fatos leva normalmente à exaltação do sistema democrático de cunho capitalista como a melhor solução político-econômica para as nações. Fala-se muito das oportunidades iguais que tal sistema proporciona aos cidadãos, da geração contínua de riqueza, da liberdade que todos gozam. E, por tabela, elogia-se a economia de livre mercado, verdadeira panaceia econômica para o mundo.
O outro lado da moeda é a situação que vemos no Brasil. Observamos uma promiscuidade generalizada entre o poder público e a iniciativa privada, com propinas a políticos de todos os matizes, formação de carteis, fraudes em licitações, “pedaladas”, e outras tantas práticas que vêm cada vez mais fazendo parte do vocabulário do brasileiro.

Agora em Athenas



Mas não nos enganemos. A crise que vivemos (que, a propósito, é menos política ou econômica que moral) não é prerrogativa do Brasil. Ocorre em todos os países, em maior ou menor grau. Difere em tamanho, na punição e no grau, mas em todos eles encontramos a mesma promiscuidade.

E aí vemos as pessoas dizendo que “o povo tem uma arma: o voto!”. Mas como usá-la se não há partido em que se possa confiar, se não existe agremiação política que não tenha por princípio o mesmo velho princípio do “é dando que se recebe”. A democracia existe na teoria: na prática...E a faceta mais perversa desta prática, que tanto mal causa ao país foi mostrada ao Brasil na última semana: para tentar garantir um mínimo de governabilidade, a presidente entregou o ministério de maior orçamento ao partido com maior número de representantes, visando, obviamente, garantir quórum nas votações do Congresso. Seria só mais do mesmo se, para tanto, ela não tivesse que demitir o melhor Ministro da Saúde que já tivemos, nosso companheiro Arthur Chioro (Ademar, para nós dqui de Santos).

Saímos deste episódio mais fracos, mais desamparados, mais desesperançados. E, pelo menos eu, cada vez mais desacreditado do sistema capitalista. Um sistema que tentam nos mostrar como justo, mas que concentra 50% (isso mesmo, metade!) de todo o dinheiro do mundo na mão de 86 pessoas. Essa desigualdade na distribuição da riqueza, historicamente, levou a grandes desgraças – esperemos que isto não ocorra novamente.


Ademar, obrigado pelo trabalho excepcional neste curtíssimo tempo. E quem sabe este exemplo possa inspirar a todos a como tratar a coisa pública. Precisamos de tempo, mas esse é um começo muito promissor.

NR: Artigo originalmente publicado no Jornal ABERTURA em novembro de 2015.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A Política, uma arte em decadência por Roberto Rufo

A Política, uma arte em decadência

" A política é nossa última garantia de sanidade mental " ( Hannah Arendt )

" O marxismo é totalmente religião, no sentido mais impuro da palavra.Antes de tudo, compartilha com todas as formas inferiores da vida religiosa o fato de ter sido continuamente usado, segundo a observação tão precisa de Marx, como um ópio para o povo ". ( Simone Weil )


 Em seu excelente livro " Reflexões sobre um século esquecido 1901-2000 ", o escritor inglês Tony Judt, falecido em Agosto de 2010, faz uma série de perguntas muito intrigantes no capítulo XXII ( O silêncio dos inocentes: sobre a estranha morte da América Liberal ). Eis duas delas: por que os liberais norte-americanos aceitaram a incompetente política externa do ex-presidente Bush, especialmente em relação à catastrófica invasão do Iraque em 2003, resultando na morte de milhares de civis? Por que a seguida ofensiva contra as liberdades civis e a lei internacional, ainda no governo Bush, causaram tão pouca oposição e revolta entre as pessoas que costumavam se importar tanto com essas questões? 

Tony Judt alerta que nem sempre foi assim, e lembra que em Outubro/1.988 o New York Times publicou um anúncio de página inteira com propaganda do liberalismo onde pensadores liberais atacavam abertamente o presidente Reagan.

Hoje o liberalismo é atacado tanto pelos extremistas da esquerda quanto pelos extremistas da direita. Já vai tarde os tempos dos intelectuais formados pela liberal education do professor Mortimer Adler. 

Citemos alguns exemplos de como as coisas hoje mudam de lado rapidamente, ocasionando o triste fenômeno da pobreza política dos dias atuais: a globalização que já foi a besta-fera da esquerda, hoje é atacada pela plataforma populista de direita do candidato Donald Trump. Ontem Vladimir Putin era um ícone da esquerda pelo simples fato de ser contra os EUA. Hoje ele é elogiado pelos direitistas Trump e Marine Le Pen.

Com tudo isso a matéria " ética na política" passou a conhecer um período de vale tudo, em nome da governabilidade, onde as ilusões perdidas da geração de 1960, foram substituídas pela dedicação integral à acumulação material e de poder a qualquer custo.

A obra " Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade "  do pensador espírita Aylton Paiva representa segundo ele " mais um esforço para conscientizar o leitor espírita quanto à real oportunidade de influência da Doutrina Espírita sobre a ordem social ". Ele tem razão, pois sob o aspecto filosófico o Espiritismo tem muito a ver com a Política, sendo esta  " a arte de administrar a sociedade de forma justa ".

No Brasil, tivemos agora em Agosto/2016 o impeachment da Sra. Dilma Roussef. O atual presidente Temer inspira pouquíssima confiança para tirar o Brasil do grave atoleiro econômico. Nas últimas semanas foi aberta uma nova frente de investigação policial: os fundos de pensão. De novo milhões de reais desviados, agora desses fundos de pensão  aparelhados pelo governo que caiu. E lá estavam eles, os partidos de sustentação do governo anterior, claramente envolvidos também na maracutaia. Afinal a base de sustentação tem que colaborar.

 Por sua vez em uma das fases da Operação Lava Jato aparece o nome do Sr. Aécio Neves, ex-candidato a Presidente da República, que ontem era  oposição e hoje é situação. Depois essa divulgação passou a ter uma postura bem mais reservada, quietinho  para não despertar maiores suspeitas.

Como membro da sociedade o espírita deve participar ativamente da política, até mesmo de forma partidária, para de alguma forma levar a mensagem poderosa da evolução espiritual, se organizando e trabalhando  com o pensamento alicerçado na verdade, na justiça e no amor ao próximo.  Conheci pessoalmente o senador espírita José de Freitas Nobre, sempre exemplificando na política, a honestidade e retidão de caráter. 

Voltando infelizmente aos tristes fatos da política nacional: calcula-se que o cartel dos trens do Metrô e da CPTM em São Paulo tenham causado milhões de reais de prejuízos aos cofres públicos. Dos R$ 2,5  bilhões  que o BNDES emprestou ao Grupo JBS, este repassou 18,5% da grana em doações partidárias para o governo da época. 
O que não se fez em nome da tal governabilidade; falcatruas sempre tramadas a partir da Casa Civil, a nível federal e estadual . E é com essa mediocridade de políticos  que se pretende fazer a transição até 2018. Oremos!
Como muito bem disse o Teólogo Roberto Miguel, mestre em Ciência da Religião pela PUC, se Jesus resistiu às três tentações, o movimento messiânico do governo anterior e os políticos de todos os matizes sucumbiram a todas elas. Como escreveu sarcasticamente o escritor e humorista Millôr Fernandes " VIVA O BRASIL, ONDE O ANO INTEIRO É PRIMEIRO DE ABRIL "

Nos EUA, a trajetória de Donald Trump nos mostra lá como cá, que ampliou-se a aventura política. Os mágicos de sempre aparecem prometendo soluções fáceis para problemas difíceis. 
Uns à direita falam em construção de muros. Outros à esquerda, fingindo-se agora de vítimas,  prometem a multiplicação dos pães mesmo que se destrua noções elementares da ciência econômica. Até hoje não entendi  porque se escolheu como ministro da economia o neoliberal ( afinal o neo liberalismo era a medusa dos tempos modernos )  Joaquim Levy, se como diziam,  as coisas estavam indo muito bem. Obviamente não estavam. Mentiu-se descaradamente. O Brasil foi enganado por uma falsa renovação ética.  

É claro que sempre existirão os crentes, não sei se ingenuamente ou não,  acreditando na tese de que a ex-presidente Dilma e o atual presidente Temer e seu novo séquito habitam mundos distintos. Não, todos vivem no mesmo mundo da dissimulação, do conluio, dos acordos espúrios. Apequenaram a política. E como dizia um antigo narrador esportivo Fiori Gigliotti quando um time tomava um gol,  " agora não adianta chorar ". Moral é que nem virgindade, perdeu está perdida, diz outra frase espetacular do Millôr.

Espíritas, cidadãos de bem, eu sei que a decepção com a política no Brasil e no mundo é grande, mas é oportuno, neste momento, recordarmos a afirmação de Allan Kardec, item 25, de A Gênese, obra editada em 1.868: " O Espiritismo não cria a renovação social; a maturidade da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento ". Que texto maravilhoso e útil para o mundo de hoje.

Roberto Rufo. 

NR - Publicado no jornal Abertura outubro 2016


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Educação? Bem... Por Reinaldo di Lucia

Muito se falou, recentemente, sobre a lição que os estudantes do ensino público de São Paulo deram aos governantes de plantão, ao, através de seu posicionamento ativo – incluindo protestos nas ruas e principalmente a ocupação das escolas – fazer valer sua voz contrária à reestruturação do ensino proposta (talvez melhor dizer “imposta”, dada a falta de discussão e comunicação com os envolvidos) pelo Governo paulista.

Esta falta de transparência foi tamanha que, até agora, mesmo interessado, não consegui tomar ciência completa do projeto. De modo geral, gosto de mudanças e acho que modernizações são necessárias em todas as áreas. Mas o que me preocupa de fato nesta proposta é o fechamento de salas e a diminuição de escolas.

Não falo somente de forma teórica. Atuando há mais de 6 anos como professor universitário, venho percebendo a gradual, porém inflexível deterioração da qualidade do aluno que entra na faculdade. Com a facilidade cada vez maior desse acesso, através de programas como o FIES e o PROUNI, um contingente cada vez maior de estudantes vindos do ensino público estão entrando em universidades particulares. Infelizmente, boa parte destes estudantes, mesmo muito esforçados, não têm base suficiente para acompanhar adequadamente as exigências do estudo superior.

Apresentam-se então dois caminhos: ou as universidades diminuem suas exigências, e os profissionais formados não são aqueles que o mercado necessita, aprofundando ainda mais o problema da falta de qualificação da força de trabalho brasileira, com uma desculpa a mais para o achatamento salarial, ou a manutenção destas exigências faz com que, após uma quantidade sensível de dependências e repetências, os alunos abandonem os cursos e resignem-se com subempregos mal pagos, num círculo vicioso perverso.

Reinaldo Di Lucia


É urgente um trabalho imediato para a melhoria do ensino fundamental, para na sequência atuarmos no ensino médio e só então mexer ainda mais no ensino superior. Então, se há, como se alega, salas sobrando, que se coloquem menos alunos – certamente isso melhorará a qualidade do ensino. Dizem que 2 milhões de crianças deixaram o ensino público, seja pela diminuição da natalidade, seja pela migração para as escolas particulares. Ora, porque razão se dá essa migração se não pela própria má qualidade da nossa escola pública?

Até agora, o exemplo de sucesso de alguns países passa notadamente pela melhoria do ensino público. Claro que isso não é uma panaceia: não existe nada que seja uma solução única par tantos problemas que assolam a governabilidade das nações. Mas sem essa base, seguramente, nada se conseguirá. Principalmente porque não criaremos cidadãos pensadores e capazes de criar o futuro como desejam.


E realmente estão de parabéns os estudantes paulistas. Minimamente mostram àqueles que nos governam que, nos dias de hoje, as decisões precisam ser discutidas à exaustão com a sociedade – e não somente tomadas nos obscuros do poder, levados sabe-se lá por quais interesses.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Dezembro de 2015 - seja assinante!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Que País é este? Por Alexandre Cardia Machado

Que país é este?

Se já não bastassem todos os escândalos e processos em que estão envolvidos empresários e políticos brasileiros, somos obrigados a assistir os acordos entre partes antagonicas, mas que se apoiam, para permanecer no poder. As manobras do Planalto e da Câmara Federal são um exemplo, conforme amplamente divulgado nas revistas semanais de circulação nacional.

Existe hoje no Congresso Nacional uma aliança denominada BBB, ou seja Bala, Bíblia e Boi, três correntes conservadoras que se uniram, para fazer aprovar uma legislação que visa retirar conquistas como: o Estatuto do Desarmamento; o direito ao aborto em caso de estrupo e o abrandamento das leis contra a escravidão rural. Em troca disto, as manobras legislativas serão feitas para atrasar os processos de quebra de decoro parlamentar de  Eduardo Cunha e para não deixar avançar as tentativas de impeachment da Presidente da República. Até quando todos estes arranjos se manterão firmes, não há como antecipar.

As reações da sociedade já começaram, mulheres no Brasil todo estão protestando, veja a capa da revista Isto é de 11 de Novembro. A bancada evangélica busca acabar com todos os poucos direitos ao aborto que as mulheres brasileiras tem, uma espécie de volta aos tempos feudais, tudo isto alegando o apoio Divino. Como espíritas não somos a favor do aborto como métido anti-conceptivo, mas há que reconhecer os casos de abuso sexual, incestos e outras tantas atrocidades que se cometem Brasil à fora contra a mulher, onde o direito ao aborto existe e devemos nos posicionar, pelo menos a favor da manutenção das prerrogativas atuais.

Ter mais revólveres na mão da população, não diminuirá o número de crimes, ao contrário, aumentará a violência ocasional, aquela que ocorre após uma fechada no trânsito, ou um esbarrão numa festa que, pelo porte de arma, podem terminar em morte. O Espiritismo é a favor da vida, é a favor do livre arbítrio e foi uma das primeiras doutrinas a igualar os direitos humanos, para a mulher e o homem.

Com respeito à escravidão, os Espíritos nos responderam na questão 829 “  - Toda a sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá  com o progresso, como  desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos”. O duro é convivermos com este pouco a pouco. A legislação Brasileira já havia progredido, nas medidas de punição à escravidão rural, pela Emenda Constitucional 81 que disponibiliza os imóveis rurais onde tenha sido constatado o trabalho escravo, destinando-os à reforma agrária. Ora, ao invés dos nossos congressistas atuarem para que a legislação trabalhista seja cumprida, eles preferem lutar, para amenizar as consequências, caso descoberta – que país é este?

Temos o direito de levantar e gritar contra a corrupção, contra  intolerância em todoas as suas formas, sexuais, raciais, religiosas e socias – temos que praticar a alteridade e a empatia, que é o ato de estar no lugar do outro. No XIV SBPE, em uma das palestras foi dita uma grande verdade, “faça ao outro o que gostaria que lhe fizessem, mas principalmente, não deixe o outro lhe fazer aquilo que você não quer que lhe façam”, creio que exatamente na palestra o Jaílson Mendonça.


 Diga não, proteste sem violência, caso concorde com este artigo. Precisamos mostrar a nossa cara.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura - Novembro de 2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

Corrupção: Doença com residência na alma - Por Jacira Jacinto da Rocha

Corrupção: Doença com residência na alma.
19/3/15: Operação Implante
19/3/15: Operação Boneco

Jacira Jacinto da Silva

Não se alcança fácil a corrupção para extirpá-la da sociedade. Em se tratando de doença com residência na alma, pertencente ao conjunto de valores imateriais do ser humano, que não se modifica, tampouco se burila por meras deliberações, haveremos de construir um novo padrão de educação, em que as ações de pais, educadores, políticos e formadores de opinião, reflitam lições! Conversa fiada não serve.



Vivemos tempos difíceis, ou tempos melhores? O mundo está progredindo, ou estaria regredindo? É natural que muitas vezes nos bata um desânimo danado e que em muitas ocasiões cheguemos a pensar que a lei de evolução não se confirma, ou que Kardec se equivocou ao negar a possibilidade de regressão da evolução espiritual.
O cenário político nacional é espantoso, chocante, assustador, diríamos! Quando poderíamos imaginar assistir ao vivo e a cores nossos representantes políticos fazerem suas negociações e barganhas às escâncaras, na frente das câmeras de TV, diante de jornalistas, declarando sem pudor as razões dos seus ardis mais desprezíveis, sob a capa do interesse público? Pois estamos vendo, diariamente. Basta ligarmos a televisão, abrirmos a revista ou o jornal e nos deparamos com essas possibilidades.
O mundo virou pelo avesso? Parece que não; ao meu ver, com o máximo de respeito a quem pensa diferente, estamos sendo mais transparentes, desenvolvemos mais mecanismos de acessar informações, a vida dos representantes políticos está menos obscura, já não permitimos mais tanto autoritarismo, temos sede de informações sobre tudo; enfim, estamos evoluindo!
O mundo está melhor hoje do que já foi no passado, sem dúvida, e a lei do progresso se confirma, na minha limitada visão. Mas, claro, nós estamos bem devagar; atrasados, cheios de egoísmo e dificuldades para superar.
Propõe-se trocar a Presidente da República, e seria maravilhoso se com esse gesto baníssemos a corrupção do nosso país, mas, lamentavelmente não atingiremos esse patamar com tal gesto. E se numa só tacada trocássemos também todos os representantes das Casas Legislativas, Senado e Câmara dos Deputados? Ainda assim não daria. Mas poderíamos, então, substituir os nossos representantes dos três poderes, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Hum! Que pena, ainda não daria certo. Mas, e se nós mudássemos os representantes políticos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário das esferas Federal, Estadual e Municipal, em todos os Estados e todos os Municípios? A razão nos diz que não adiantaria e que a corrupção seguiria sendo um câncer da nossa sociedade.
É possível fazer essa afirmação com facilidade, pois num só dia, 19/3/2015, enquanto o noticiário se dividia entre as várias novidades do cenário nacional, a Polícia Federal efetuava inúmeras prisões decorrentes de duas operações, denominadas “Implante” e “Boneco”, envolvendo pessoas outras, que não pertencem aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Segue um resumo:

Implante: Caxias do Sul/RS – A Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal, deflagrou nesta manhã (19/3/2015) a Operação Implante com objetivo de combater um esquema de fraudes no Imposto de Renda da Pessoa Física. Investigações apontaram o funcionamento de um esquema de fraudes, no qual despesas médicas fictícias eram inseridas na Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física – DIRPF, com a finalidade de reduzir o imposto a pagar e obter restituições indevidas. Apenas em despesas odontológicas e médicas, estima-se que a fraude ultrapassa R$ 1,5 milhão.

Boneco: Rio de Janeiro/RJ – A Polícia Federal, o Ministério da Previdência Social-MPS e o Ministério Público Federal deflagraram hoje (19/3/2015) a Operação Boneco para desarticular uma quadrilha que fraudou o INSS em mais de R$ 7 milhões. Numa primeira etapa, os servidores envolvidos da Previdência Social concediam benefícios fictícios, ou irregulares para pessoas que não faziam jus. Algumas vezes, o LOAS era concedido a pessoas inexistentes utilizando-se documentação falsa.
A segunda célula era responsável pelos saques dos benefícios previdenciários irregulares. Idosos eram recrutados e se faziam passar pelos verdadeiros beneficiários para fazer o saque nas instituições financeiras. Cada idoso assumia até mais de dez identidades diferentes, recebendo uma quantia fixa para cada saque efetuado. Os idosos eram tratados pela alcunha de “boneco”, daí a origem do nome da operação. O prejuízo, apenas dos mais de 350 benefícios identificados, chegava a superar o valor mensal de R$ 200 mil. A PF estima que a quadrilha lesou o INSS em mais de R$ 7 milhões.


Vi com certa surpresa pessoas reagirem agressivamente contra Marina Silva pelo fato de ela ter declarado que a corrupção não é um problema desse ou daquele político, mas de todos nós. Houve quem dissesse, até com manifestação odiosa, que não tinha nada a ver com isso.
Ouso dizer que a corrupção é sim problema de todos nós, pois se trata de doença crônica, com sede na alma, vulnerável a pequenas oscilações das “condições ambientais”. Dizem que ninguém tem imunidade absoluta, mas é certo que a filosofia espírita oferece muito bons antídotos. Particularmente, penso que a primeira lição espírita, sobre a qual deveríamos refletir diariamente, está na questão n. 913 de OLE. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? “Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo”.
É pelo nosso egoísmo e por nenhum outro motivo que aceitamos acessar todos os canais de TV por assinatura sem pagar nada, fazendo um simples “gato”; que reduzimos a conta de água ou de luz, colocando um desvio no relógio; que compramos um recibo de dentista ou de médico para reduzir o IR; que colocamos o valor do imóvel adquirido abaixo do valor real na escritura para sonegar o ITBI; que compramos produtos piratas; que fazemos caixa dois em nossa empresa; que registramos a empregada com valor menor do que pagamos; que furamos fila; que tentamos subornar guarda para evitar multa; que apresentamos atestado médico falso; que batemos ponto pelo colega de trabalho etc.
Sempre atenta ao direito do outro de pensar diferente, entendo ser sagrado o direito de contestar contra os abusos, mas precisamos nos educar antes de tudo. Quem pratica ato de corrupção (pequeno pode?) não tem o direito de exigir lisura do outro, nem mesmo dos seus representantes políticos. Presenciei pessoa que não paga seus impostos – eu sei, pois tem uma empresa e já me confessou o uso do caixa dois – participando do panelaço. Não tem moral.
A palavra, no meu entender, está com Leon Denis:

O estado social não sendo, em seu conjunto, senão o resultado dos valores individuais; importa antes de tudo de obstinar-nos nessa luta contra nossos defeitos, nossas paixões, nossos interesses egoístas.
O estudo do ser humano nos leva, pois, a reconhecer que as instituições, as leis de um povo, são a reprodução, a imagem fiel de seu estado de espírito e de consciência e demonstram o grau de civilização ao qual ele chegou. Em todas as tentativas de reformas sociais é preciso falar ao coração do povo ao mesmo tempo que à sua inteligência e à sua razão.
A sociedade não é senão um agrupamento de almas. Para melhorar o todo, é preciso melhorar cada célula social, isto é, cada indivíduo (o grifo é meu).
  
Um grande educador escreve para a eternidade.
Faço minhas as suas palavras, Eminente Professor.



Jacira Jacinto da Silva, juíza de Direito em São Paulo, membro do CPDoc, da CEPABrasil e cofundadora da Fundação Porta Aberta. É autora do livro Criminalidade: Educar ou Punir? que você pode adiquirir aqui no ICKS, através do email: ickardecista1@terra.com.br


quinta-feira, 7 de maio de 2015

  "O EXERCICIO DA LIBERDADE" 

                                            por Gisela Régis

                    Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda a população de que nos encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. A grande questão que se coloca é como curar essa doença cronica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição?
                    É senso comum que para ter um corpo saudável você precisa exercitá-lo, praticar esportes, andar, correr, caso contrário os músculos atrofiam. Quando falamos em liberdade, nunca vi nem ouvi alguém recusar ou ser contrário. Todos nós queremos e defendemos ser livres. O problema é que, por essas bandas do nosso Brasil, estamos atrofiados, somos sedentários da liberdade. Nunca tivemos a oportunidade de exercitar plenamente esse músculo e o resultado é que mal reconhecemos sua existencia, não sabemos ao certo como funciona, como deve ser treinada e estimulada para que cresça e nos transforme em um país mais saudável, mais próspero e mais admirado.
                    Somos um país em que as pessoas buscam e defendem constantemente a solução dos problemas através dos governos e esperam dos políticos decisões e atitudes que solucionem esses problemas. Ao longo de toda a nossa história o Brasil  sempre foi marcado por um profundo paternalismo, uma presença intensa e constante das estruturas de governo no direcionamento dos rumos da economia, da cultura, chegando até as questões familiares e religiosas em muitos casos.
                    Parece que a fórmula não deu certo. Nesse exato momento, existe um sentimento em quase toda população de que  de que encontramos numa situação lastimável, somos um país doente, fraco. Conhecemos os sintomas dessa doença. Empobrecemos rapidamente com uma moeda exatamente fragilizada, inflação crescente e quase fora de controle, juros altíssimos que invibializam investimentos, desemprego batendo na porta de milhões de trabalhadores, serviços públicos de saúde, educação e segurança que simplesmente não funcionam, aumentos de impostos e, coroando isso tudo, escândalos de corrupção cada vez maiores e mais frequentes. Esses sintomas são percebidos facilmente pelo povo brasileiro, muito poucos não os sentem.
                   Portanto, a grande questão que se coloca é como curar essa doença crônica, qual a verdadeira origem desses males que nos afligem há séculos, com apenas breves intervalos de saúde e disposição? E aqui temos um problema. Cada brasileiro, com sua forte cultura paternalista e os músculos da liberdade atrofiados, procura os remédios que necessariamente passam pelo governo e não demandam o exercício pleno de sua liberdade. A pessoa cansada de tanta corrupção defende a proibição das doações de empresas e indivíduos aos partidos políticos e defende a adoação exclusiva do financiamento público de campanhas com recursos distribuídos pelo governo. O trabalhador quer benefícios, como seguro-desemprego e fundo de garantia, gerenciados pelo governo. O empresário industrial quer incentivos do governo na forma de juros subsidiados e proteção contra produtos importados. E tem até quem defenda que o governo tem que cuidar do nosso petróleo.
                    Mas se a doença existe há tantos anos, se os remédios ministrados são os mesmos há tanto tempo e ninguém está satisfeito com os resultados, porque insistimos em pedir uma dose maior dos mesmos remédios? Por que continuamos pedindo mais e mais governo em nossas vidas? Será que não está na hora de invertermos essa lógica? Será que não precisamos, na verdade, pedir ao governo que fique longe e faça apenas o mínimo necessário para garantir nossa segurança e a concorrência nos mercados? Que nos devolva o dinheiro que toma de nós com tantos impostos e nos permita fazer as nossas próprias escolhas? Será que temos medo dessa liberdade? Medo de errar sozinho? Medo do próprio fracasso, ou pior, do sucesso do vizinho? Porque, errar em conjunto já o fazemos há muito tempo.
                    Se você quer menos corrupção, ao invés de pedir ao governo que controle as verbas de campanha política, peça ao governo que devolva o dinheiro que foi tomado de você para essa verba, e escolha você mesmo o político pra quem doar seu dinheiro, depois o monitore e cobre os resultados. Se você quer ter uma poupança para passar pelos momentos de crise e desemprego ou para comprar uma casa, exija que o governo devolva a você o dinheiro tomado para o seguro-desemprego e FGTS, e cuide você mesmo de sua poupança. Se você quer fazer sua empresa crescer e prosperar, não peça incentivos ao governo, pois mais cedo ou mais tarde você receberá uma conta muito maior na forma de impostos. Apenas peça que o governo garanta que as regras do jogo sejam cumpridas, sem trapaças por seus concorrentes, pois você com certeza não é um trapaceiro.
                    Aquilo que amamos e desejamos tanto - quando falamos em liberdade - é ainda apenas um conceito abstrato, uma palavra bonita, simpática, mas que não conseguimos até hoje exercitar na prática mais simples e corriqueira de nossas vidas. Enquanto não assumirmos essas responsabilidades individualmente, praticando o exercício da liberdade de forma intensa exaustiva, estaremos fadados a morrer sem conhecermos o país do futuro. Temos que aceitar que, como qualquer outro exercício, esse também levará ao cansaço e causará dores em alguns momentos. Mas ao final de alguns anos de treinamento consistente e paciente, estaremos em forma, fortes, curados da doença que nos assola há tanto tempo. E seremos finalmente um país admirado no presente.

"Quanto mais inteligência tenho o homem para compreender um princípio, menos escusável será de não o aplicar a si mesmo." (828- Livro dos Espíritos por Allan Kardec).
"Deus é justo e tudo leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para superar os obstáculos". (850 - Livro dos Espíritos por Allan Kardec).