quinta-feira, 5 de maio de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro  de 2002

O PERISPíRITO e a ATUALIDADE  

                                                         Marcelo Coimbra Régis

               Trabalho que tinha o objetivo de estudar a evolução da teoria do Perispírito na Doutrina Espírita. Abordando a evolução do conceito de Perispírito desde Allan Kardec até as teorias modernas. Passamos a apresentar o trabalho, aqui no blog, para o debate atual.

1- O Perispírito na concepção de Allan Kardec

               Analisaremos o conceito de Perispírito na obra de Allan Kardec quanto a Definição, Constituição, Propriedade e seu papel na vida material e na vida espiritual. Tal abordagem será útil na comparação que faremos entre o conceito de Kardec, seus continuadores europeus e os propostos por André Luiz.
               O Perispírito é um corpo semi-material, responsável pela ligação e a comunicação entre matéria e o Espírito, ou seja, é o laço que permite ao Espírito atuar na matéria e vice-versa.
               Aqui podemos notar que Kardec define o Perispírito mais por seu lado filosófico no contexto doutrinário do que cientificamente.

Constituição: O Perispírito é um corpo semi-material que toca tanto a natureza da matéria quanto a do Espírito. Sendo uma particularização do Fluído Cósmico Universal sua matéria é retirada pelo Espírito do fluído constituinte de cada planeta.
               Novamente Kardec usa da prudencia reconhecendo a necessidade de avanço científico para o entendimento de sua constituição.

Propriedades: Moldável segundo a vontade, o Perispírito pode adquirir a forma determinada pelo Espírito. Em seu estado natural e invisível, porém, possui a capacidade de alterar-se passando a visível e até a tangível.
               Kardec ressaltou ainda que o Perispírito é inseparável do Espírito. Tais conclusões foram tornadas a partir de uma série de observações e revelações feitas pelos desencarnados.

Papel Biológico: Instrumento da vontade do Espírito, o Perispírito seria o responsável pela externalização das mesmas. Kardec colocava o Perispírito no papel de condutor das vontades do Espírito, servindo ao mesmo tempo de transmissor e receptor das sensações corpóreas para o Espírito e do Espírito para o corpo. 
               Kardec não especificou maiores funções para o Perispírito na administração corporal rotineira, nem avançou na questão de modelo corporal.

Papel Espiritual: O Perispírito seria o responsável pela individualização do Espírito, no sentido de prover uma forma, um corpo ao mesmo no plano espiritual. Ressaltou ainda que o Espírito e Perispírito são indissociáveis, sendo que este permite ao Espírito expressar-se no meio material.

Papel Fenomenológico: Base de todas as manifestações espíritas, o Perispírito, por sua estrutura alterável explicaria não só os fenomenos físicos quanto os intelectuais.
               Os fenomenos físicos são explicados através das propriedades de condensação e expansão do Perispírito, que poderia tornar-se visivel, movimentar ou alterar a matéria. Já no campo intelectual a mediunidade é explicada como uma comunicação entre dois Perispíritos (médim e comunicante), sendo melhor e mais intensa quanto maior a integração e afinidade entre os dois.

               Concluímos que na teoria espírita formulada por Allan Kardec, o conceito de Perispírito é um grande postulado, pois resolve de uma tacada só, a difícl questão filosófico/científica da ligação entre dois entes tão distintos: Matéria (corpo) e Espírito.
               Bem como, ao individualizar o Espírito, o trás para o ambito do estudável, analisável. Esse conceito resolve também a questão do sobrenatural nos fenomenos espíritas.
               Kardec, partindo de uma base científica (observação, relatos, revelação) infere o papel Filosófico do Perispírito, tornando-o um dos pilares da explicação Espírita da vida.

(continua)....


segunda-feira, 25 de abril de 2016

A imunização cognitiva

A imunização cognitiva

Luciano Pires - 31/03/2016

O ano é 1995. Um vídeo escandaloso mostrado no Jornal Nacional apresenta o bispo Edir Macedo ensinando sua equipe como tirar o máximo de dinheiro dos fiéis. Se você não lembra, está Aqui:https://www.youtube.com/watch?v=W7wqqJFtaYc .

Quando assisti àquelas imagens, pensei: o bispo acabou… Passados 20 anos, o bispo e sua igreja nunca estiveram tão fortes, tão ricos, tão poderosos. O escândalo veiculado no Jornal Nacional não destruiu nem o bispo nem seu projeto, sua base de fiéis cresceu assustadoramente, transformando a Igreja Universal num negócio bilionário, mesmo diante da evidência dos fatos.

Coisas assim acontecem ao longo de toda história da humanidade: grupos de pessoas que, mesmo diante das mais claras evidências de perigo, de más intenções, de risco, permanecem seguindo líderes visionários, malucos ou simplesmente desonestos. Como é possível que tanta gente se recuse a ver a verdade?

Os estudiosos explicam com a imunização cognitiva.

Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, raciocínio, memória, juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo.

A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância.

E então assistimos gente com estudo, inteligente, articulada, que sabemos que não está tirando nenhum proveito material, defendendo em público o indefensável. Como é que essas pessoas chegam a esse ponto?
Bem, existem ao menos cinco fases no processo de imunização cognitiva.

Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.

Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo.

Terceira fase: conexão dos credos à emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do “se você pecar, vai para o inferno”? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo…

Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes.

Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito “não vai ter golpe”, por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment.

Os especialistas em psicologia das massas sabem que nossas mentes evoluíram muito mais para proteger nossos credos que para avaliar o que é verdade e o que é mentira. E os especialistas em comunicação constroem retóricas fantásticas, com intenção de desviar o tema principal e, especialmente, imunizar cognitivamente os soldados da causa.

E aí, meu caro, minha cara, não adianta mostrar o vídeo, o recibo, o cheque, o testemunho do caseiro, a ordem da transportadora, o grampo telefônico… O imunizado cognitivo está vacinado contra fatos objetivos.
Está explicado então? Se você está se sentindo entorpecido das ideias, incapaz de descer do muro, provavelmente alguém está lhe ministrando umas doses de imunizante cognitivo.

E você nem percebeu que está dando a grana para o bispo.

Muito interessante esse artigo de Luciano Pires e nos faz entender como a fé cega pode ser manipulada.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A delicada questão do equilíbrio editorial - por Alexandre Cardia Machado

A delicada questão do equilíbrio editorial - por Alexandre Cardia Machado

Jaci Régis sempre pautou o Abertura por não esquivar-se das questões mais importantes do país e do mundo. Basta comparar qualquer edição do Abertura com a revista Reformador da FEB para vermos realidades ali representadas totalmente distintas: a FEB não escreveu nenhuma linha sobre os problemas políticos brasileiros ou sobre a primavera árabe, para citar só dois exemplos.

Este é o nosso DNA: tratar dos assuntos importantes para a sociedade, buscando, como nos ensinou Allan Kardec, usar sempre uma linguágem de alto nível, para manter alto o padrão vibratório. Fazendo isso, ajudamos uma parcela da população a pensar e refletir sobre as relações do mundo físico com os conhecimentos do Espiritismo.

Este é, inclusive, o quarto princípio norteador do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) que fundamentalmente edita o Abertura :

“ O ICKS deverá manter-se atualizado com a cultura atual e que possua relevância com a Doutrina Espírita.”
Nos preocupa a maneira como muitos estão protestando. Policiando uns aos outros, desrespeitando as convicções individuais, como se fosse possível que todos pensassem da mesma forma. Recomendo a leitura cuidadosa dos artigos de Ricardo Nunes e do grande pensador espírita e ex-Presidente da CEPA, Milton Medran.
Está ficando claro, para boa parte da população, que a forma de se fazer política no Brasil está errada. Muitos de nós não nos sentimos representados. O número gritante de políticos envolvidos na Operação Lava-Jato e em outas operações em curso no país é alarmante. Claro que nem todos foram formalmente acusados, nem condenados ainda. Mas creio que este fato em si demonstra nossa tese.
Faltam lideranças éticas, sobram aproveitadores. O cuidado com o nosso voto é a única arma  que nos resta, façamos com que este ato cívico seja o momento mais importante do ano, ou teremos de conviver com o resultado por, pelo menos, 4 anos.

Não existe ideologia perfeita. Todas, de alguma maneira, favorecem uns em detrimento de outros.
Kardec era favorável à aristocracia intelecto-moral como uma forma de representação ideal. Certamente esta ideia é utópica e não resistiria aos tempos de “Big Brother” em que vivemos hoje. Qualquer um, com um simples telefone celular, pode facilmente desmascarar uma pessoa até então considerada de bem.

A justiça está aí para retirar de circulação aqueles que abusam do poder neles investido. E sim, sejam eles quem forem, são pessoas como quaisquer outras, tem os mesmos direitos e deveres, ainda que possam dispor de forum privilegiado.

Não há passe de mágica, precisamos votar tomando como base a melhor informação que dispomos e depois, se não agradar a escolha, na próxima oportunidade tentar votar melhor.

Este é um exercício que se enquadra dentro do que Jaci Régis denominou , com muita perspicácia, de Imortalidade Dinâmica:

 “Na Dinâmica do processo, o que, dentro da visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal. Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo é relativo ao grau evolutivo” Doutrina Kardecista – Modelo conceitual ( reescrevendo o modelo espírita). Portanto, dinâmico como conclusão.

Que este período de atrito em que vivemos termine logo e que possamos encher nossas páginas com boas notícias. Isto é o que desejamos. Até lá, continuaremos atentos.

Pensamento de Kardec


sexta-feira, 4 de março de 2016

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO - por Roberto Rufo

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO.


" A Lei Natural exprime o fundamento de uma ética, pois ela mesma é a lei ética que determina o que é adequado à natureza humana. " (Padre Antônio Vieira).

" A Lei Natural é a lei de Deus, é a única necessária à felicidade dos homens " (Resposta dos Espíritos à pergunta 614 do Livro dos Espíritos).


A lei natural para o Espiritismo é algo imanente na alma humana, e fundamenta o discernimento do bem e do mal no livre arbítrio. A lei humana ou positiva, para mim, é parte da lei natural, e o seu princípio e fim é o bem comum da sociedade. Assim, enquanto a lei natural aconselha e mostra o que o homem deve fazer para ser humano, usando da sua razão e liberdade, a lei positiva tem a função de fundamentar a adequação da moral e da política pela mediação da justiça legal. A isso pode-se chamar espiritualidade. Não falo de religião.

Roberto Ruffo


Infelizmente hoje o enraizamento social e político aponta tão somente para perspectivas de implantação de um materialismo que submergiu a dignidade espiritual do homem. Abandonou-se qualquer ideia ou conceito de que haja um projeto para a felicidade humana, projeto esse elaborado por uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Não falo do Deus judaico-cristão. O Espiritismo obviamente é uma filosofia racional, todavia sou muito crítico hoje quanto ao poder exacerbado da razão, definido hoje como produto apenas dos neurônios físicos. Esse poder da razão surgiu no Iluminismo, em resposta a um domínio cruel do poder religioso, que também ajudou a solapar qualquer essência de espiritualidade.

Criticou-se nos meios intelectuais materialistas que a ideia de uma lei natural funcionaria como algo determinista na vida humana, independente da vontade do sujeito pensante. Para o Espiritismo a lei natural é aquela que incide na mente humana para que distinga o bem do mal. Mas segundo a Doutrina Espírita, a vontade das pessoas permanece livre, pois nada pode obrigar essas pessoas a escolher segundo um caminho predeterminado. Nos dias que correm aprisionou-se lamentavelmente o debate político e filosófico a doutrinações ideológicas, notadamente nas universidades. O futuro está determinado por uma razão histórica. Que embuste! Como cansa meu Deus ouvir a cantilena de " direita " ou " esquerda " para se definir a qualidade das pessoas. Em ambos os lados temos na política indivíduos roubando descaradamente no Brasil. Dizem esses indivíduos que é em nome da governabilidade. Já cansou esse discurso!

 Acho que uma ótima ajuda em nossos tempos, especialmente nos meios espíritas, seria um estudo aprofundado da filosofia estoica. O estoicismo é uma escola fundada em Atenas por Zenão de Cicio no início do século III a.C. O estoicismo afirma que todo universo é governado por um Logos divino. A alma estaria identificada com esse princípio divino, que nos leva à harmonia e à felicidade.

Leiam " Sêneca e o Estoicismo " de Paul Veyne, tradução de André Telles e descobrirão ali muitos conceitos utilíssimos para tomada de decisões, além de falar de uma espiritualidade tão cara ao Espiritismo. No livro está escrito que o estoicismo é uma sabedoria da segurança. Inabalável pelas tormentas externas (por exemplo o terrorismo do Estado Islâmico, ou o preconceito racial), surdo aos clamores dos sentidos (o perigo  de uma sociedade baseada unicamente no mundo sensorial), o estoico conhece a real felicidade. A vida passaria a ser regida pelo que é mais nobre, firme e estável: sua alma, identificada com a razão, que impera soberana sobre as demandas exteriores. Mas é uma razão que expressa uma filosofia que assume contornos de uma transcendência, que não é muito distinta daquela expressa por uma espiritualidade baseada na evolução humana garantida pela reencarnação.


Não tenhamos qualquer pudor ou vergonha em afirmarmos, juntamente com os espíritos, de que os homens são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas.Complementam os espíritos que a harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade. Para um melhor entendimento de Deus, recomendo o trabalho apresentado pelo pensador espírita Milton Rúbens Medran Moreira no XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 2015 – O pai, o filho e o espírito.

Artigo publicado na edição de Janeiro - Fevereiro de 2016 do Jornal Abertura

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O caminho e o Caminhante – por Jaci Régis

O caminho é estático. O caminhante é dinâmico. Move-se, percorre, caminha sobre o caminho. Isso veio-me à mente porque o homem, de sotaque estrangeiro, confuso e sob certa medida amedrontado, perguntara qual o caminho a seguir para superar seus problemas.

Problemas da alma, do coração são especiais, específicos. Angústias sufocam, represam a emoção pressionando a vida, destruindo a alegria, a esperança. Leves se tornam pesados. Subjetivos, transformam-se em fardos concretos, exaurindo energias, levantando questões que como são formuladas, não encontram respostas.

À minha frente, o jovem era um amargo espelho de aflição. Perguntei-lhe como se sentia aos 27 anos e ele disse que não se sentia bem. Às vezes, disse, esses poucos anos pareciam demais. Às vezes, sugeriam-lhe inexperiência.

De um lado, via aberturas para criar, para avançar. De outro, uma desilusão, tomava vulto, porque parecia que perdera tempo, oportunidades e muito poderia ter sido feito e não fora.

- “Não, não me sinto feliz”, disse. A barba que lhe cobria o rosto jovem, tendia a esconder os olhos tristes, orbitando em paragens, em sonhos, em desejos que, controversos, vetores opostos, impunham imobilidade, como se as forças concorrentes se equivalessem em esperança e desilusão.

O caminho é estático. É opção a desdobrar-se diante de nós, indicando rumos que devemos eleger.
O caminhante é o agente de seu caminhar. A direção de seus pés, segue a diretriz de sua alma. Alma confusa, andar sem rumo. Alma exultante, andar saltitante. Alegria no coração, pés leves. Tristeza íntima, sulcos marcados, pés sangrando.

A encolher-se diante da realidade, a jovem mulher consumia-se em angustiante conflito interior, inteligente, educação superior, profissional competente, defrontava-se com sua sexualidade, emoção não resolvida, impondo-lhe temores e tremores.

Jaci Régis


Como resolver essa angustiante questão? De que maneira ajudar a superar barreiras erguidas por deprimentes experiências infantis, fruto de sutis relações afetivas.

O caminho é uma expectativa, uma perspectiva. O caminhante é um ser, uma criatura em busca de si mesma. A margem do caminho, caminhando encontrará tropeços, abismos, desvios, obstáculos. Mas também flores.

A solução para os problemas da alma, na sequência da vida, é encontrar o caminho que na liga ao outro. Parece fácil, à primeira vista. Percorre-lo, contudo é viagem tão perigosa quanto a dos velhos navegantes em suas naus, enfrentando os mares desconhecidos.

Esse é o caminho curto ou longo, conforme os fatores que armazenamos na alma. Pois, difícil é sair de nós mesmos. Só é possível quando aprendemos diuturnamente as lições dos sentimentos e aspirações e nos libertamos de laços fortes, mas sutis, de fantasmas criados no interior de nós mesmos.
Qualquer caminhada, por mais longa, começa pelo primeiro passo. Se queremos respostas, soluções, aprendamos a caminhar, a ser caminhantes, dispostos a aprender, a mudar, a retomar a lição não aprendida

Dar o primeiro passo é decidir expor-se aos riscos da paixão.  

Artigo re-publicado em outubro de 2014 no jornal ABERTURA

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Imagine, apenas imagine por Alexandre Cardia Machado

Imagine , apenas imagine

O jornal Folha de São Paulo, no dia 24 de janeiro publicou em sua capa a foto abaixo, mostrando o espaço em uma avenida, ocupado, por automóveis, ônibus, metro e bicicleta. Isto nos faz pensar se realmente tomamos as decisões corretas.

Não se trata apenas de substituir o carro pela bicicleta, mas sim em planejarmos uma cidade para que todas as opções estejam disponíveis e que todas elas sejam dignas.

Quando jóvens, nossos meios de transporte são a bicicleta e o ônibus, por que paramos de usá-los cotidianamente? Parar apenas por  termos um automóvel?



Cada ato tem a sua consequente reação, quanto mais consumimos combustíveis fósseis, mais aquecemos o planeta e mais mudanças no meio ambiente e no clima acontecem. Precisamos usar todas as alternativas, ir a pé, pegar um ônibus, usar, no caso de Santos, as bicicletas do Itaú, que são de graça. Se nenhuma destas opções puder ser usada, aí sim, usar o automóvel.

Kardec não teve que passar por este dilema, em sua época recém surgiam os primeiros “ vapores”, navios movidos a vapor e as estradas de ferro com suas locomotivas, estas sem dúvidas um grande progresso, pois permitem uma grande quantidade de carga transportada em pouco tempo, ainda que naquela época, já muito poluente.

Do livro Obras Póstumas, buscamos inspiração em Kardec que discorre sobre o egoísmo.
“O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribuí à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.

O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem  freqüentemente desvia do seu objetivo providencial.

Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe outorgou para sua conservação.”
Associado ao exagero da utilização do automóvel, está a vontade de possuí-lo e de transformá-lo acima do valor de meio de transporte em uma forma de exercer e demonstrar poder, daí a principal razão de seu uso excessivo, como forma de orgulho e egoísmo. Se investimos consumistas no transporte individual, deixamos governos desobrigados de investir e manter bons serviços de transporte público, ou regular serviços privados de boa qualidade.


Não somos contra o automóvel, mais do que nada o utilizamos aqui como um grande exemplo, para que possa ser possível refletir sobre como imaginamos o mundo que queremos viver.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Novas Diretorias CEAK e ICKS -2016

Novas diretorias  de casas espíritas em Santos
ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos  (2016-2017 -2018)
Presidente: Roberto Rufo e Silva          
Vive-Presidente : Alexandre Cardia Machado
Secretário: Antonio Carlos Ventura
Tesoureiro: Mauricy Silva
Editor -Chefe Jornal Abertura e Biblioteca: Alexandre Cardia Machado
Atendimento ao assinante - Jornal Abertura e Livraria: Cláudia Régis Machado
Blog do ICKS – moderação: Gisela Régis Henrique

CEAK – Centro Espírita Allan Kardec ( 2016-2017) – Santos/SP
Presidente: Roseli Régis dos Reis
Vice Presidente: Sandra Régis
1ª Secretaria : Ivone Antunes Gomes Barriento
2ª Secretaria: Gedalva Batista
1º Tesoureiro: Ivon Régis
2º Tesoureiro: Paulo Roberto Fernandes.
Departamento de Estudos: Cavour Chrispim Neto
Departamento de Mediunidade: Regina Celi Pedro
Departamento de Patrimônio: Rogério Natal
Departamento Social: Sirléia Chioro dos Reis
Departamento de Comunicação: Sandra Regis Mocidade
Mocidade - MEEV: Rafael Régis dos Reis.
Infância Espirita: Roseli Régis

Biblioteca: Anita  de Amorim 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Educação? Bem... Por Reinaldo di Lucia

Muito se falou, recentemente, sobre a lição que os estudantes do ensino público de São Paulo deram aos governantes de plantão, ao, através de seu posicionamento ativo – incluindo protestos nas ruas e principalmente a ocupação das escolas – fazer valer sua voz contrária à reestruturação do ensino proposta (talvez melhor dizer “imposta”, dada a falta de discussão e comunicação com os envolvidos) pelo Governo paulista.

Esta falta de transparência foi tamanha que, até agora, mesmo interessado, não consegui tomar ciência completa do projeto. De modo geral, gosto de mudanças e acho que modernizações são necessárias em todas as áreas. Mas o que me preocupa de fato nesta proposta é o fechamento de salas e a diminuição de escolas.

Não falo somente de forma teórica. Atuando há mais de 6 anos como professor universitário, venho percebendo a gradual, porém inflexível deterioração da qualidade do aluno que entra na faculdade. Com a facilidade cada vez maior desse acesso, através de programas como o FIES e o PROUNI, um contingente cada vez maior de estudantes vindos do ensino público estão entrando em universidades particulares. Infelizmente, boa parte destes estudantes, mesmo muito esforçados, não têm base suficiente para acompanhar adequadamente as exigências do estudo superior.

Apresentam-se então dois caminhos: ou as universidades diminuem suas exigências, e os profissionais formados não são aqueles que o mercado necessita, aprofundando ainda mais o problema da falta de qualificação da força de trabalho brasileira, com uma desculpa a mais para o achatamento salarial, ou a manutenção destas exigências faz com que, após uma quantidade sensível de dependências e repetências, os alunos abandonem os cursos e resignem-se com subempregos mal pagos, num círculo vicioso perverso.

Reinaldo Di Lucia


É urgente um trabalho imediato para a melhoria do ensino fundamental, para na sequência atuarmos no ensino médio e só então mexer ainda mais no ensino superior. Então, se há, como se alega, salas sobrando, que se coloquem menos alunos – certamente isso melhorará a qualidade do ensino. Dizem que 2 milhões de crianças deixaram o ensino público, seja pela diminuição da natalidade, seja pela migração para as escolas particulares. Ora, porque razão se dá essa migração se não pela própria má qualidade da nossa escola pública?

Até agora, o exemplo de sucesso de alguns países passa notadamente pela melhoria do ensino público. Claro que isso não é uma panaceia: não existe nada que seja uma solução única par tantos problemas que assolam a governabilidade das nações. Mas sem essa base, seguramente, nada se conseguirá. Principalmente porque não criaremos cidadãos pensadores e capazes de criar o futuro como desejam.


E realmente estão de parabéns os estudantes paulistas. Minimamente mostram àqueles que nos governam que, nos dias de hoje, as decisões precisam ser discutidas à exaustão com a sociedade – e não somente tomadas nos obscuros do poder, levados sabe-se lá por quais interesses.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Dezembro de 2015 - seja assinante!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Que País é este? Por Alexandre Cardia Machado

Que país é este?

Se já não bastassem todos os escândalos e processos em que estão envolvidos empresários e políticos brasileiros, somos obrigados a assistir os acordos entre partes antagonicas, mas que se apoiam, para permanecer no poder. As manobras do Planalto e da Câmara Federal são um exemplo, conforme amplamente divulgado nas revistas semanais de circulação nacional.

Existe hoje no Congresso Nacional uma aliança denominada BBB, ou seja Bala, Bíblia e Boi, três correntes conservadoras que se uniram, para fazer aprovar uma legislação que visa retirar conquistas como: o Estatuto do Desarmamento; o direito ao aborto em caso de estrupo e o abrandamento das leis contra a escravidão rural. Em troca disto, as manobras legislativas serão feitas para atrasar os processos de quebra de decoro parlamentar de  Eduardo Cunha e para não deixar avançar as tentativas de impeachment da Presidente da República. Até quando todos estes arranjos se manterão firmes, não há como antecipar.

As reações da sociedade já começaram, mulheres no Brasil todo estão protestando, veja a capa da revista Isto é de 11 de Novembro. A bancada evangélica busca acabar com todos os poucos direitos ao aborto que as mulheres brasileiras tem, uma espécie de volta aos tempos feudais, tudo isto alegando o apoio Divino. Como espíritas não somos a favor do aborto como métido anti-conceptivo, mas há que reconhecer os casos de abuso sexual, incestos e outras tantas atrocidades que se cometem Brasil à fora contra a mulher, onde o direito ao aborto existe e devemos nos posicionar, pelo menos a favor da manutenção das prerrogativas atuais.

Ter mais revólveres na mão da população, não diminuirá o número de crimes, ao contrário, aumentará a violência ocasional, aquela que ocorre após uma fechada no trânsito, ou um esbarrão numa festa que, pelo porte de arma, podem terminar em morte. O Espiritismo é a favor da vida, é a favor do livre arbítrio e foi uma das primeiras doutrinas a igualar os direitos humanos, para a mulher e o homem.

Com respeito à escravidão, os Espíritos nos responderam na questão 829 “  - Toda a sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá  com o progresso, como  desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos”. O duro é convivermos com este pouco a pouco. A legislação Brasileira já havia progredido, nas medidas de punição à escravidão rural, pela Emenda Constitucional 81 que disponibiliza os imóveis rurais onde tenha sido constatado o trabalho escravo, destinando-os à reforma agrária. Ora, ao invés dos nossos congressistas atuarem para que a legislação trabalhista seja cumprida, eles preferem lutar, para amenizar as consequências, caso descoberta – que país é este?

Temos o direito de levantar e gritar contra a corrupção, contra  intolerância em todoas as suas formas, sexuais, raciais, religiosas e socias – temos que praticar a alteridade e a empatia, que é o ato de estar no lugar do outro. No XIV SBPE, em uma das palestras foi dita uma grande verdade, “faça ao outro o que gostaria que lhe fizessem, mas principalmente, não deixe o outro lhe fazer aquilo que você não quer que lhe façam”, creio que exatamente na palestra o Jaílson Mendonça.


 Diga não, proteste sem violência, caso concorde com este artigo. Precisamos mostrar a nossa cara.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura - Novembro de 2015