terça-feira, 28 de junho de 2016

REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA - por Ricardo de Morais Nunes

REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA

Em época de polêmicas políticas nada melhor do que revisitarmos o pensamento social espírita, a fim de que possamos colher algumas orientações com vistas a nos posicionarmos da melhor forma ante os atuais  problemas políticos, sociais e econômicos brasileiros e também do mundo contemporâneo.O espiritismo nos traz três princípios fundamentais para a orientação de nossa vida social .Segundo o espiritismo o espírita deve prezar a ética, a liberdade e a justiça social.
Passaremos a fazer uma breve reflexão sobre estes princípios espíritas fundamentais. No que diz respeito à ética espírita podemos dizer que ela é rigorosa. O espiritismo nos convida a viver sem prejudicar moral ou fisicamente qualquer pessoa. Na verdade, o espiritismo vai além no sentido de ensinar que devemos querer para os outros aquilo que queremos para nós, conforme os ensinamentos de Jesus de Nazaré.
Kardec explica de forma magistral este tema em seu comentário à questão 876 de O Livro dos Espíritos: “ O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.”
Este princípio nos convida à empatia, ou seja, à capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de pensar e sentir a realidade do outro por um processo de abstração. Na prática, é muito difícil a aplicação deste principio à vida, pois os homens, em geral, pensam exclusivamente em seu interesse pessoal, para depois pensar, quando pensam, no outro. Kant com seu imperativo categórico nos faz lembrar esta máxima cristã quando diz: “Age de tal forma que tua conduta tenha caráter de norma universal”.
O espiritismo é uma doutrina da liberdade. Liberdade de pensamento, crença, expressão e ação. São valores fundamentais defendidos pelo espiritismo. O espiritismo estimula o livre-pensar e não procura violentar consciências. Cada um de nós está em um grau de maturidade pessoal e isto deve ser respeitado. Portanto, o espiritismo é democrático, pois busca respeitar cada individualidade. Certamente que esta liberdade postulada pelo espiritismo vem acompanhada da ideia de responsabilidade, pois o espiritismo não aprova que usemos a liberdade para prejudicarmos o outro. O uso de nossa liberdade deve ser norteada pela ética espírita.
E, finalmente, a questão da justiça social. A questão da justiça social toca em vários temas, entre eles o direito de propriedade. O direito de propriedade tem sido discutido por vários pensadores ao longo da história da filosofia. Alguns pensadores como Rousseau e Marx enxergam a propriedade privada de forma negativa, como origem dos males e desigualdades sociais. Outros pensadores, como Locke, possuem sua filosofia política assentada na garantia ao direito de propriedade.
O espiritismo é favorável ao direito de propriedade. Segundo Kardec na questão 882 de O livro dos Espíritos: “ Aquilo que o homem ajunta por um trabalho honesto é uma propriedade legítima, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que é fruto do trabalho constitui um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver”.No entanto, quanto a indagação de Kardec sobre o caráter da propriedade legítima os espíritos respondem de forma radical na questão 884: “Só há uma propriedade legítima, a que foi adquirida  sem prejuízo para os outros”.Se por um lado, o espiritismo afirma (questão 811) que a igualdade absoluta das riquezas “não é possível”, por outro (questão 808) afirma que as desigualdades das riquezas também podem ser produto da “astúcia e do roubo”.
Tais considerações nos levam a pensar sobre o melhor sistema econômico- político para um país. Muitas das discussões que estamos vivendo atualmente no Brasil e no mundo passam por esta questão. Entendemos, nesta linha de raciocínio dos princípios espíritas acima expostos, que o melhor sistema econômico-político para nós espíritas é aquele que privilegia a liberdade com justiça social. Pensamos que não é possível para nós espíritas, portanto, advogarmos um sistema que apenas privilegiasse a democracia formal, meramente legal, da igualdade de todos perante a lei, desconsiderando o problema das injustiças sociais.
 Desta forma, pensamos que é inaceitável a existência de espíritas que ignorem a fome, a miséria e o desamparo de milhões de pessoas e que apenas se preocupem com as facetas da liberdade. Neste caso, tais espíritas, desconhecedores das estruturas sociais injustas e dos mecanismos históricos de dominação, poderiam ser chamados, com propriedade, de alienados em termos ideológicos ou, na pior das hipóteses, reacionários.
Por outro lado, entendemos igualmente inaceitável a existência de espíritas que desejam a justiça social à custa da supressão da liberdade individual, seja a liberdade de crença, expressão ou qualquer tipo. Como ensina a própria filosofia espírita, o efeito da supressão da liberdade é tornar os homens hipócritas. Neste caso, podemos conjecturar que tais espíritas seriam pessoas dotadas de uma vocação autocrática, que se iludem com perigosos projetos de caráter ditatorial, em razão de ignorarem ou desprezarem os males que o ataque a liberdade ocasionou e ocasiona ao longo do processo histórico.

Ao apreciar os sistemas políticos e econômicos na história entendemos, portanto, que o socialismo real, tal qual existiu nos chamados países socialistas, mal chamados de comunistas, não seria o ideal para nós espíritas, pois tais países atingiram um certo grau de igualdade, porém com supressão da liberdade individual em vários níveis.Ao mesmo tempo, somos de opinião que o sistema  neoliberal, defensor do Estado mínimo, também não seria a saída para um mundo melhor, pois este sistema privilegia a riqueza, mas não leva em conta a exclusão de milhões de seres humanos do acesso aos bens fundamentais da vida.
Imaginamos como mais compatível com o ideário de liberdade e justiça social, sob o ponto de vista das possibilidades concretas, um sistema muito próximo da chamada social-democracia europeia da segunda metade do século XX e ainda vigente em alguns países na atualidade. Neste sistema, um Estado forte compensa ativamente as desigualdades sociais, sem inibir a liberdade do individuo e  a iniciativa na  produção de riquezas.A concepção social-democrata nasceu de uma circunstância histórica bem específica, das discussões entre marxistas ditos revolucionários e  os chamados revisionistas.
 Alguns certamente dirão, em um espírito neoliberal, que postula uma metafísica “mão invisível” do mercado que pretensamente ou ficticiamente levaria a distribuição de riquezas a toda sociedade, que tal Estado não se sustenta economicamente. Neste caso, podemos responder que a outra opção é a barbárie. E que deveremos em um determinado momento escolher entre o ser humano, na perspectiva de um projeto humanista de sociedade e governo, de caráter inclusivo de todos os cidadãos aos benefícios da saúde, educação, habitação e outros direitos individuais e sociais, e o lucro, sem medida e responsabilidade social da maioria dos grandes grupos econômicos e financeiros.
Finalmente, para que exista um Estado deste tipo, quem tem mais condições financeiras, ou seja, quem é mais rico, deve contribuir mais para a manutenção dos benefícios sociais, sob o principio de uma justiça tributária que trata desigualmente os desiguais. A este sistema ideal não deve faltar, obviamente, uma ética rigorosa na condução dos negócios públicos e uma democratização progressiva dos processos decisórios governamentais, os quais incluiriam, cada vez mais, a participação da sociedade civil. Será isto uma utopia?  Diz Kardec na questão 793 de O Livro dos Espíritos, quando comenta sobre a verdadeira civilização:
 “ De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade; em que existam mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíproca; em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque eles são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade; em que o fraco sempre encontre apoio contra o forte ; em que a vida do homem, suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; em que haja menos desgraça e, por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário”. (negritos meus)
Se acreditamos verdadeiramente na lei de evolução, devemos crer que é possível chegar a esta nova sociedade. Não é fácil, mas é possível. É necessário lutar no nível individual combatendo o egoísmo. Porém, é necessário lutar também no nível coletivo e institucional, por meios pacíficos, na busca de uma sociedade mais igualitária, democrática, fraterna e justa. O espírita fala muito no advento do mundo de regeneração. Esta nova fase da humanidade deverá ser conquistada pelos homens, não será obra dos espíritos. Os últimos acontecimentos políticos em nosso país nos fazem refletir se avançamos ou não na direção do projeto de uma sociedade melhor. Que cada um de nós reflita por si mesmo.

P.S.: A presente análise busca um senso de realidade e possibilidade na aplicação dos sistemas políticos e econômicos. Temos grande simpatia pela sociedade ideal imaginada por Marx. No entanto, a compreendemos como utópica, pelo menos em nosso atual estágio evolutivo, apesar de não desconhecermos a importante função das “utopias concretas”, no dizer de Ernst Bloch, como horizonte de dilatação das possibilidades humanas, como o sonho ainda não realizado. Porém, o homem novo de Marx ainda é, para o mundo contemporâneo, um super-homem com capacidade de guiar-se autonomamente na sociedade em harmonia com os outros homens, em verdadeiro espírito de altruísmo e solidariedade na produção da riqueza coletiva, da qual todos seriam construtores e beneficiários. Este novo homem de Marx, portanto, é um ser dotado de uma super consciência social. Infelizmente, não é esse o homem que observamos no cotidiano. Costumamos brincar com os amigos dizendo: quer saber o que é o homem? Seja síndico de seu prédio!


Ricardo Nunes

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O PERISPíRITO e a ATUALIDADE - Artigo de Marcelo Coimbra Régis

CONTINUANDO....(05/05/2016) -Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro  de 2002

O PERISPíRITO e a ATUALIDADE  

                                                         Marcelo Coimbra Régis

-  Conceito do Perispírito nas Obras dos Clássicos Espíritas

                         
                         Analisaremos a evolução e transformação do conceito espírita de Perispírito presente nas obras de G. Dellane, Ernesto Bozzano e nas de André Luiz.



  • Conceitos Clássicos

                         Definição: O Perispírito é um invólucro da Alma, estando à ela ligado indissociavelmente. Definido como indestrutível, invisível, intangível e imponderável. Alma e Perispírito fundam-se num só complexo, sendo a alma a parte ativa e inteligente e o perispírito o seu meio de ação. Perispírito é também conceituado como modelo organizador do corpo físico.
                         Outro conceito introduzido nesse período seria que o perispírito sofre um processo evolutivo semelhante ao darwiniano. Passando pelos reinos mineral, vegetal e animal adquirindo através de sua experiencia vivencial sua forma interna, seu papel de diretor funcional do corpo e aprendendo as funções biológicas que mais tarde coordenará o Homem (reprodução, respiração, locomoção, inteligencia, etc.). Tais informações são armazenadas em camadas vibratórias superpostas, que representam cada etapa evolutiva vivida.

                         Constituição: Matéria no seu estado mais primordial e portanto não sujeita a divisões ou reduções. Não sujeito a interferencias físicas externa como calor, frio, eletricidade, etc. Sendo o modelo organizador do corpo físico, possui toda uma estrutura morfológica, com orgãos, tecidos, etc.

                         Propriedades: Moldável sob a ação da vontade, o Perispírito anima a matéria, provendo a vida à mesma.. Além disso, é intangível, imponderável e flexivel.

                         Papel Biológico: O Perispírito é o desenho prévio, a regra inflexível no qual a matéria se amolda quando se dá a formação de um novo ser. É o organizador biológico e o coordenador das funções corporais como digestão, respiração e reprodução.
                         Para esses autores, seria ainda o responsável pela manutenção da estabilidade organica ao manter as células coesas e garantindo que uma nova célula substitua uma célula morta, realizando as mesmas funções que esta, pois detem a memória organica e celular.
                        Podemos considerar, segundo essa concepção, que o complexo Alma/Perispírito seria o maestro das funções organicas, sendo o corpo a orquestra composta por milhões de componentes (células, tecidos e orgãos)

                         Papel Espiritual: Neste ponto os clássicos nao diferem muito de Allan Kardec, acrescentando apenas que o perispírito é a sede da memória, gravando todas as impressões vividas pelo Espírito em sua evolução.

                         Papel Fenomenológico: Também aqui os clássicos não diferem de Kardec, apenas em estudos mais detalhados do processo de comunicação corpo/perispírito, através de manifestações físicas, como materializações e bilocações.
                         Partindo de Kardec, os clássicos avançaram na explicação do papel do perispírito na reencarnação. Suas teorias estabeleceram que o perispírito se liga ao ovo já no momento da fecundação, dirigindo a formação do embrião e do ser. Ressaltam também que, apesar da ligação desde a fecundação, a mesma só é definitiva após o nascimento.

                         Conclusão: Ernesto Bozzano e principalmente Gabriel Dellane transferem para o perispírito atribuições antes reputadas ao Espírito, bem como todas as funções organicas não explicáveis até sua época.
                         Enquanto Allan Kardec posicionava o perispírito mais do ponto de vista de sua necessidade filosófica, seus seguidores europeus viram no mesmo, a chave para a explicação de muitos fenomenos materiais não explicados. Além disso, materializaram em demasia o foco de atenção da ciência espírita.

  • Contribuição de André Luiz

                         Passaremos a analisar agora as contribuições deixadas por André Luiz em período de intensa comunicação através do médium Francisco Candido Xavier.

                         


                         Definição: Perispírito corpo espiritual, veículo físico de estrutura eletromagnética, fazendo parte da estrutura que parte da mente ou Espírito, refletido no corpo mental, então modelo para o corpo espiritual (perispírito) sendo esse o modelo do corpo físico.
                         Como os clássicos, A. Luiz, atribui ao perispírito, a cooordenação do corpo físico. Como inovação, ele admite que o perispírito tenha duração variável, sofrendo transformações em sua constituição de acordo com as variáveis como tempo, encarne e desencarne, evolução e nutrição.
                         Aqui encontramos mais aprofundado o conceito de evolução darwiniana, sofrida pelo perispírito. Diz A. L. que através da reencarnação nos diversos reinos (iniciando pelo animal) e através da repetição, adquire sua forma morfológica e o automatismo que governará as funções organicas na etapa hominal. Por exemplo, o tato seria desenvolvido na fase evolutiva até serem formados todos os recursos necessários ao governo das bilhões de células do corpo humano.
                         A. Luiz, numa referencia as teorias esotéricas, agrega ao corpo espiritual (perispírito) a noção dos centros-energéticos (similares aos chacras). Segundo esse autor, o perispírito possue 5 centros, cada qual reponsável pelo controle e organização de sua área de influencia. São eles:
  1. Centro Coronário: sede da Mente e supervisor dos outros centros energéticos. Esse centro possui duas subdivisões:
  • Sub-centro Cerebral, que governa o cortéx, o sistema nervoso e as glândulas endócrinas.
  • Sub-centro laríngeo, que governa a respiração e a fonação.
  • Cardíaco, governa circulação e emoção.
  • Esplênico, governa a síntese sanguínea.
  • Gástrico, governa a digestão e a absorção dos alimentos.
  • Genésico, governo o sexo e os órgãos reprodutores. 


                         Constituição: Composto de matéria sutil em dimensão diferenciada (além do Urânio e aquém do Hidrogênio, nas palavras de A.L.). O autor introduz também o conceito de células espirituais que, em analogia ao corpo físico, formariam o corpo espiritual (perispírito). Tal estrutura seria coordenada pela mente, hierarquicamente superior ao perispírito. Novamente o autor ressalta que o corpo físico espelha o corpo espiritual e que o perispírito possui órgãos semelhantes aos encontrados no corpo humano. Após o desencarne, o perispírito mantém sua estrutura de órgãos com algumas modificações no que tange aos sistemas gástricos e reprodutivo.

                         Propriedades: A. Luiz repete as propriedades enunciadas pelos clássicos: moldável, flexível, exteriorizável. etc.

                         Papel Biológico: Estando presente no mineral, vegetal e animal o perispírito, além de vitalizar e animar a matéria, é o coordenador do funcionamento dos bilhões de células presentes no corpo humano. Sua atuação se dá através dos centros vitais já descritos, cuidando de todos os detalhes e funções para o perfeito funcionamento corporal.
                         Quanto ao papel  das leis da genética, A. Luiz, destaca que o perispírito atua no fenótipo, sendo o genótipo determinado pela herança genética. Porém o perispírito tem papel ativo na divisão celular, podendo determinar qual a carga genética será transferida a nova célula nascente.
                         Outro detalhe importante é que André Luiz cita textualmente no livro Evolução em Dois Mundos (pag. 46), a questão dos transplantes de tecidos entre vivos, explicando seus resultados negativos devido à orientação energética divergente entre os tecidos provenientes de corpos diferentes e, portanto, animados por perispíritos diversos.

                         Papel Espiritual: Um ponto novo introduzido nesse item é a Histogênese Espiritual, ou seja, a metamorfose sofrida pelo perispírito no desencarne. Aqui os tecidos perispiriticos perderiam algumas características, principalmente no sistema muscular e nos órgãos relacionados à nutrição.
                         A. Luiz aprofunda-se também nos mecanismos de sustentação da forma perispiritual após a morte, citando a existência de Espíritos tão concentrados em um único pensamento/sofrimento, que perdem a condição de manter a estrutura do perispírito. Assim, esse se retrai ou atrofia-se, dando origem aos Espíritos Ovoídes.

                         Papel Fenomenológico: A. Luiz explica os fenômenos Espíritas através do conceito da aura ou a emanação energética das células perispirituais. A exteriorização da aura e do corpo espiritual (perispírito) possibilitaria a mediunidade.
                         Na reencarnação o perispírito perderia o material dispensável, tornando-se uma forma diminuta (somente contendo a matéria indispensável) e então se ligaria a mãe e ao óvulo fecundado coordenando o processo reencarnatório.

                         CONCLUSÃO: André Luiz avança ainda mais na valorização do perispírito,  como coordenador de todas as funções e processos corporais. Para ele, o Corpo Espiritual é a sede da evolução física do Homem, tanto encarnado quanto desencarnado.
                         Destaca-se aqui o papel ativo e detalhista nas atividades orgânicas  e psíquicas do Homem, relegando ao corpo físico um papel de menor importância, passando ao perispírito todas as funções superiores.
                         No geral, A. Luiz e os Clássicos marcam a fase áurea do perispírito, enquanto teoria no corpo doutrinário Espírita. Após A. Luiz, pouco ou quase nada de novo foi acrescentado a teoria  do Perispírito, sendo que, ainda hoje, os espíritas consideram essas teorias (às vezes absurdas como veremos) como válidas, num nítido processo de sectarização e afastamento das boas práticas filosófico-científicas de questionamento e comprovação.

continua...........


segunda-feira, 30 de maio de 2016

XXII Congresso Espírita Panamericano da CEPA - Rosario Argentina

XXII Congresso Espírita Panamericano da CEPA - Rosario Argentina

Tendo como tema central – “La espiritualidad en el siglo XXI” – ou “A Espiritualidade no século XXI” e com a participação de mais de 300 pessoas, reuniram-se em Rosário para está festa do conhecimento de nosso grupo livre-pensador.

O Congresso se realizou no Centro de Exposições Puerto Norte, muito moderno recentemente inaugurado, um complexo residencial, hoteleiro e de negócios.


Uma abertura, muto significativa, a quente recepção dos organizadores e a perfeita coordenação do evento marcou o Congresso desde o primeiro momento.

Abriu o evento Raúl Drubich 

Raúl Drubich

Este Congresso marca o final da gestão de Dante Lopez de 2008 a 2016, Uma gestão marcada pela integração e incorporação de grupos fora das Américas. Dante conseguiu também fazer uma forte presença da América Central e Caribe, além de manter estreita a ligação com o Brasil.

Dante Lopez
Jacira Jacinto da Silva eleita Presidente da CEPA para o período de 2016 a 2020

Jacira Jacinto e Mauro Spinola



Depois de 8 anos na Argentina a Presidência da CEPA volta ao Brasil, país com a maior população espírita mundial. Milton Medran Moreira, colunista deste jornal foi presidente da CEPA de 2001 a 2008. Jacira, aqui na foto com Mauro Spínola seu marido, e sua equipe terá como desafio, fazer crescer mais a participação da CEPA no Brasil e no resto do mundo. Dante Lopez e sua equipe prepararam um Planejamento Estratégico para a CEPA, caberá à nova equipe, revisá-lo e implementá-lo para que sejamos mais presentes como força de transformação da sociedade.

Jacira e Mauro apresentaram em painel o tema “ Solidaredade, Justiça e Espiritualidade” no Congresso.

Ademar Chioro – Presidente do Comitê Organizador do XXI Congresso da CEPA de 2012 em Santos discursou na cerimônia de abertura.

Ademar Arthur Chioro dos Reis

Sr. Iván Figueroa Agrinsoni da Escuela Espírita Allan Kardec de Porto Rico – O Espiritismo no Dicionário - Mudança de dois verbetes , Espirtismo e Espiritista pela Real Academia de Letras da Espanha. Este esforço iniciado em 2013 e que logrou exito em 2016. Uma perseverante frente liderada por Porto Rico.

Ivan Figueroa Agrinsoni

As Artes

As artes estiveram presentes, não só por espetáculos, mas também através da proposta de incluir a música como uma forma de auto conhecimento. Este foi o caso do trabalho apresentado por Mário Molfino, A arte e a música como gerador das emoções, como um tema livre.



Livraria

Muitos expositores trouxeram seus livros para serem vendidos no Congresso, o ICKS disponibilizou o livro Comportamiento Espírita de Jaci Régis e o Caderno Cultural – Reencarnação.A Escuela Espírita Allan Kardec de Porto Rico ofereceu à venda o livro “ Una nueva Visión del Hombre y del Mundo” traduzindo ao espanhol  esta importante obra de Jaci Régis – Uma nova visão do homem e do mundo.

Jóvens Brasileiros – MEEV

Rafael Régis dos Reis – Presidente da MEEV – Mocidade Espírita Estudantes da Verdade do Centro Espírita Allan Kardec de Santos, apresentou um trabalho – A Internet contra o livre pensar - além do conteúdo importante mostrado, fica também a satisfação de vê-lo coordenar, junto a seus irmãos Victor e Leonardo e muitos jóvens argentinos, algumas reuniões para intercâmbio entre nossos países. Rafael também fará parte da nova Gestão da CEPA.

Rafael Régis dos Reis 

Clube do Livro Novo Pensar - ICKS

Cláudia Régis Machado e Delma Crotti

Se fez representar este grupo do ICKS, pela presença da Cláudia Régis Machado e Delma Crotti. Esta última fará parte da área financeira da nova gestão da CEPA.

Fórum de Temas Livres

O Colombiano Orlando Vilarraga, residente no Brasil reforçou a importância de cuidarmos do planeta Terra de forma sustentável.
Orlando Vilarraga

A Doutora Roseli Régis dos Reis discorreu sobre a Infância, mesclando um bem humorado espanhol ao português, tendo sido esta característica dos expositores brasileiros muito elogiada pela maioria dos participantes de habla castelhana.
Jaílson Mendonça e Roseli Régis dos Reis


Alexandre Cardia Machado do ICKS apresentou um trabalho de atualização do princípio da Pluralidade dos mundos Habitados.
Ivan Figueroa e Alexandre Machado


Luiz Signates de Goiás apresentou uma conferência no primeiro Painel – “Espiritismo e Ciência: caminhos para a desdogmatização” e um tema livre  - “O Espírito como noção intersubjetiva e as consequências socias do pensamento sociológico no espiritismo”.
Luiz Signates
O Cubano Junior M. Morán Gómez (O Contrato Espírita como ferramenta de evolução espiritual) e as Rafaelinas Josefina Zlauvinen e Eugenia Zurvera ( Relato : Oficina de participação ativa – o poder das emoções) fizeram  apresentações que muito contribuiram para um maior entendimento da Doutrina como motor de mudanças.



Homero Ward da Rosa – Presidente da CEPA Brasil – expôs sobre a Imortalidade da Alma e a Reencarnação.


A Participação Brasileira


Convite à participação no XV SBPE em novembro de 2017 - através da apresentação do video.
O ICKS convidou todos os presentes a participar em 2017 através da veiculação do video SBPE 26 anos fazendo história.


Foto da Equipe Organizadora do Congresso


Brasileiros se confreternizando junto às bandeiras
Delma, Jacira, Margarida e Jaílson


Estaremos atualizando esta reportagem nos próximos dias, tão logo conseguamos mais fotos!


Cláudia e Alexandre


domingo, 15 de maio de 2016

"O mundo da gente começa a morrer antes da gente"

                                   Do livro "A soma de todos afetos" de Fabíola Simões

Dona Fernanda é vizinha de minha mãe e se prepara para mudar-se para um asilo.
Nunca se casou nem teve filhos. Está com oitenta anos e teve poliomielite na infância. Os sobrinhos não podem acompanha-la diariamente e, por isso, a opção mais adequada é o asilo.
Depois de passar pelo luto inicial, ela agora se organiza para deixar sua casa e tudo o que ela representa.
Pouco a pouco vai se despedindo dos objetos que compõem sua vida e abrindo mão da independência que tinha para assumir uma nova versão de si mesma, talvez a última.
O mundo de dona Fernanda aos poucos vai morrendo, e ela tem que ser corajosa para permitir que esse mundo se despeça dela antes do fim.
Enquanto somos jovens, recomeçamos inúmeras vezes, e de repente estamos em outro mundo, bem diferente do anterior, sem nos darmos conta disso. Viramos a página e seguimos com novas histórias, paisagens, amigos, amores. Mudamos o corte de cabelo, fazemos um regime, tatuamos uma frase no antebraço, nos apaixonamos por uma banda que ninguém nunca ouviu falar.
O mundo da gente se transforma, mas também morre. E quanto mais velhos somos, maior a sensação de que esse mundo está se despedindo.
Dona Fernanda sabe que essa é provavelmente sua última viagem. Olha as porcelanas na sala de visitas e decide com quem ficará a sopeira pintada à mão que foi presente das bodas de seus pais. Não queria ter que se desfazer de suas memórias, mas sabe que a partir de agora terá que carrega-las somente no pensamento. Nas histórias que contará aos que forem visita-la. Nas conversas que terá com suas companheiras de asilo. Nos sonhos que a acordarão no meio da noite fazendo-a acreditar que ainda está em casa.
Aos poucos tem aprendido a desapegar-se e aceitado seguir com menos bagagem…
Há uma frase de Eliane Brum que diz: “é preciso dar lugar à morte para que a vida possa continuar. É para isso que criamos nossos cemitérios dentro ou fora de nós. Em geral, mais dentro do que fora.”
Assim, acredito eu, é preciso sepultar nosso mundo que não existe mais, para que a vida flua como um rio abundante, permitindo que o antigo dê lugar ao novo.
Talvez dona Fernanda precise sepultar sua vida anterior para que possa acariciar-se gentilmente daqui pra frente. Para que possa renovar o olhar a si mesma, adoçando com algumas gotas de afeto a relação que tem com a pessoa que se tornou.
Ao perceber que nosso mundo se despede, talvez devêssemos cuidar mais de nós mesmos.
Cuidar de nós mesmos é pisar com delicadeza no solo novo que quer surgir e ser paciente com as plantinhas imaturas que começam a despontar. É regar com carinho as mudinhas recém colhidas e ser grato pela possibilidade de começar um novo jardim.
Que cada um encontre aquilo que acaricia a sua alma, e que o tempo novo traga a esperança de dias regados com tolerância e amor próprio. Que venha o cheiro de café recém coado para nos lembrar que mesmo que a vida recomece o tempo todo, algumas coisas permanecem trazendo conforto independente da dança dos dias. Que venha sabor de comidinha caseira e lençóis limpos sobre a cama. Que venha saudade estampada no porta retrato e motivos para sorrir ao se lembrar daquele sorriso na fotografia. Que haja paz e encontro, fé e aceitação, cuidado e amparo _ na forma de um abraço sincero ou chá de erva doce ao cair da noite.
Torço por dona Fernanda. Em silêncio oro para que aceite sua mudança e acaricie seus pensamentos. Que ela possa continuar caminhando, mesmo que a estrada se apresente mais dura daqui pra frente. Que ela não perca a doçura, ainda que seus dias sejam mais amargos.
E que saiba encontrar recursos para prosseguir, pois o mundo se despede a todo momento, mas a gente tem que continuar…


Leia mais: http://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/o-mundo-da-gente-comeca-a-morrer-antes-da-gente.html#ixzz48igsBmZf

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro  de 2002

O PERISPíRITO e a ATUALIDADE  

                                                         Marcelo Coimbra Régis

               Trabalho que tinha o objetivo de estudar a evolução da teoria do Perispírito na Doutrina Espírita. Abordando a evolução do conceito de Perispírito desde Allan Kardec até as teorias modernas. Passamos a apresentar o trabalho, aqui no blog, para o debate atual.

1- O Perispírito na concepção de Allan Kardec

               Analisaremos o conceito de Perispírito na obra de Allan Kardec quanto a Definição, Constituição, Propriedade e seu papel na vida material e na vida espiritual. Tal abordagem será útil na comparação que faremos entre o conceito de Kardec, seus continuadores europeus e os propostos por André Luiz.
               O Perispírito é um corpo semi-material, responsável pela ligação e a comunicação entre matéria e o Espírito, ou seja, é o laço que permite ao Espírito atuar na matéria e vice-versa.
               Aqui podemos notar que Kardec define o Perispírito mais por seu lado filosófico no contexto doutrinário do que cientificamente.

Constituição: O Perispírito é um corpo semi-material que toca tanto a natureza da matéria quanto a do Espírito. Sendo uma particularização do Fluído Cósmico Universal sua matéria é retirada pelo Espírito do fluído constituinte de cada planeta.
               Novamente Kardec usa da prudencia reconhecendo a necessidade de avanço científico para o entendimento de sua constituição.

Propriedades: Moldável segundo a vontade, o Perispírito pode adquirir a forma determinada pelo Espírito. Em seu estado natural e invisível, porém, possui a capacidade de alterar-se passando a visível e até a tangível.
               Kardec ressaltou ainda que o Perispírito é inseparável do Espírito. Tais conclusões foram tornadas a partir de uma série de observações e revelações feitas pelos desencarnados.

Papel Biológico: Instrumento da vontade do Espírito, o Perispírito seria o responsável pela externalização das mesmas. Kardec colocava o Perispírito no papel de condutor das vontades do Espírito, servindo ao mesmo tempo de transmissor e receptor das sensações corpóreas para o Espírito e do Espírito para o corpo. 
               Kardec não especificou maiores funções para o Perispírito na administração corporal rotineira, nem avançou na questão de modelo corporal.

Papel Espiritual: O Perispírito seria o responsável pela individualização do Espírito, no sentido de prover uma forma, um corpo ao mesmo no plano espiritual. Ressaltou ainda que o Espírito e Perispírito são indissociáveis, sendo que este permite ao Espírito expressar-se no meio material.

Papel Fenomenológico: Base de todas as manifestações espíritas, o Perispírito, por sua estrutura alterável explicaria não só os fenomenos físicos quanto os intelectuais.
               Os fenomenos físicos são explicados através das propriedades de condensação e expansão do Perispírito, que poderia tornar-se visivel, movimentar ou alterar a matéria. Já no campo intelectual a mediunidade é explicada como uma comunicação entre dois Perispíritos (médim e comunicante), sendo melhor e mais intensa quanto maior a integração e afinidade entre os dois.

               Concluímos que na teoria espírita formulada por Allan Kardec, o conceito de Perispírito é um grande postulado, pois resolve de uma tacada só, a difícl questão filosófico/científica da ligação entre dois entes tão distintos: Matéria (corpo) e Espírito.
               Bem como, ao individualizar o Espírito, o trás para o ambito do estudável, analisável. Esse conceito resolve também a questão do sobrenatural nos fenomenos espíritas.
               Kardec, partindo de uma base científica (observação, relatos, revelação) infere o papel Filosófico do Perispírito, tornando-o um dos pilares da explicação Espírita da vida.

(continua)....


segunda-feira, 25 de abril de 2016

A imunização cognitiva

A imunização cognitiva

Luciano Pires - 31/03/2016

O ano é 1995. Um vídeo escandaloso mostrado no Jornal Nacional apresenta o bispo Edir Macedo ensinando sua equipe como tirar o máximo de dinheiro dos fiéis. Se você não lembra, está Aqui:https://www.youtube.com/watch?v=W7wqqJFtaYc .

Quando assisti àquelas imagens, pensei: o bispo acabou… Passados 20 anos, o bispo e sua igreja nunca estiveram tão fortes, tão ricos, tão poderosos. O escândalo veiculado no Jornal Nacional não destruiu nem o bispo nem seu projeto, sua base de fiéis cresceu assustadoramente, transformando a Igreja Universal num negócio bilionário, mesmo diante da evidência dos fatos.

Coisas assim acontecem ao longo de toda história da humanidade: grupos de pessoas que, mesmo diante das mais claras evidências de perigo, de más intenções, de risco, permanecem seguindo líderes visionários, malucos ou simplesmente desonestos. Como é possível que tanta gente se recuse a ver a verdade?

Os estudiosos explicam com a imunização cognitiva.

Cognitiva vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, raciocínio, memória, juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo.

A imunização cognitiva é um escudo que permite que as pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa o raciocínio lógico. Para ela, argumentos lógicos não têm relevância.

E então assistimos gente com estudo, inteligente, articulada, que sabemos que não está tirando nenhum proveito material, defendendo em público o indefensável. Como é que essas pessoas chegam a esse ponto?
Bem, existem ao menos cinco fases no processo de imunização cognitiva.

Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.

Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo.

Terceira fase: conexão dos credos à emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do “se você pecar, vai para o inferno”? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo…

Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes.

Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito “não vai ter golpe”, por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment.

Os especialistas em psicologia das massas sabem que nossas mentes evoluíram muito mais para proteger nossos credos que para avaliar o que é verdade e o que é mentira. E os especialistas em comunicação constroem retóricas fantásticas, com intenção de desviar o tema principal e, especialmente, imunizar cognitivamente os soldados da causa.

E aí, meu caro, minha cara, não adianta mostrar o vídeo, o recibo, o cheque, o testemunho do caseiro, a ordem da transportadora, o grampo telefônico… O imunizado cognitivo está vacinado contra fatos objetivos.
Está explicado então? Se você está se sentindo entorpecido das ideias, incapaz de descer do muro, provavelmente alguém está lhe ministrando umas doses de imunizante cognitivo.

E você nem percebeu que está dando a grana para o bispo.

Muito interessante esse artigo de Luciano Pires e nos faz entender como a fé cega pode ser manipulada.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A delicada questão do equilíbrio editorial - por Alexandre Cardia Machado

A delicada questão do equilíbrio editorial - por Alexandre Cardia Machado

Jaci Régis sempre pautou o Abertura por não esquivar-se das questões mais importantes do país e do mundo. Basta comparar qualquer edição do Abertura com a revista Reformador da FEB para vermos realidades ali representadas totalmente distintas: a FEB não escreveu nenhuma linha sobre os problemas políticos brasileiros ou sobre a primavera árabe, para citar só dois exemplos.

Este é o nosso DNA: tratar dos assuntos importantes para a sociedade, buscando, como nos ensinou Allan Kardec, usar sempre uma linguágem de alto nível, para manter alto o padrão vibratório. Fazendo isso, ajudamos uma parcela da população a pensar e refletir sobre as relações do mundo físico com os conhecimentos do Espiritismo.

Este é, inclusive, o quarto princípio norteador do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) que fundamentalmente edita o Abertura :

“ O ICKS deverá manter-se atualizado com a cultura atual e que possua relevância com a Doutrina Espírita.”
Nos preocupa a maneira como muitos estão protestando. Policiando uns aos outros, desrespeitando as convicções individuais, como se fosse possível que todos pensassem da mesma forma. Recomendo a leitura cuidadosa dos artigos de Ricardo Nunes e do grande pensador espírita e ex-Presidente da CEPA, Milton Medran.
Está ficando claro, para boa parte da população, que a forma de se fazer política no Brasil está errada. Muitos de nós não nos sentimos representados. O número gritante de políticos envolvidos na Operação Lava-Jato e em outas operações em curso no país é alarmante. Claro que nem todos foram formalmente acusados, nem condenados ainda. Mas creio que este fato em si demonstra nossa tese.
Faltam lideranças éticas, sobram aproveitadores. O cuidado com o nosso voto é a única arma  que nos resta, façamos com que este ato cívico seja o momento mais importante do ano, ou teremos de conviver com o resultado por, pelo menos, 4 anos.

Não existe ideologia perfeita. Todas, de alguma maneira, favorecem uns em detrimento de outros.
Kardec era favorável à aristocracia intelecto-moral como uma forma de representação ideal. Certamente esta ideia é utópica e não resistiria aos tempos de “Big Brother” em que vivemos hoje. Qualquer um, com um simples telefone celular, pode facilmente desmascarar uma pessoa até então considerada de bem.

A justiça está aí para retirar de circulação aqueles que abusam do poder neles investido. E sim, sejam eles quem forem, são pessoas como quaisquer outras, tem os mesmos direitos e deveres, ainda que possam dispor de forum privilegiado.

Não há passe de mágica, precisamos votar tomando como base a melhor informação que dispomos e depois, se não agradar a escolha, na próxima oportunidade tentar votar melhor.

Este é um exercício que se enquadra dentro do que Jaci Régis denominou , com muita perspicácia, de Imortalidade Dinâmica:

 “Na Dinâmica do processo, o que, dentro da visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal. Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo é relativo ao grau evolutivo” Doutrina Kardecista – Modelo conceitual ( reescrevendo o modelo espírita). Portanto, dinâmico como conclusão.

Que este período de atrito em que vivemos termine logo e que possamos encher nossas páginas com boas notícias. Isto é o que desejamos. Até lá, continuaremos atentos.

Pensamento de Kardec


sexta-feira, 4 de março de 2016

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO - por Roberto Rufo

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO.


" A Lei Natural exprime o fundamento de uma ética, pois ela mesma é a lei ética que determina o que é adequado à natureza humana. " (Padre Antônio Vieira).

" A Lei Natural é a lei de Deus, é a única necessária à felicidade dos homens " (Resposta dos Espíritos à pergunta 614 do Livro dos Espíritos).


A lei natural para o Espiritismo é algo imanente na alma humana, e fundamenta o discernimento do bem e do mal no livre arbítrio. A lei humana ou positiva, para mim, é parte da lei natural, e o seu princípio e fim é o bem comum da sociedade. Assim, enquanto a lei natural aconselha e mostra o que o homem deve fazer para ser humano, usando da sua razão e liberdade, a lei positiva tem a função de fundamentar a adequação da moral e da política pela mediação da justiça legal. A isso pode-se chamar espiritualidade. Não falo de religião.

Roberto Ruffo


Infelizmente hoje o enraizamento social e político aponta tão somente para perspectivas de implantação de um materialismo que submergiu a dignidade espiritual do homem. Abandonou-se qualquer ideia ou conceito de que haja um projeto para a felicidade humana, projeto esse elaborado por uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Não falo do Deus judaico-cristão. O Espiritismo obviamente é uma filosofia racional, todavia sou muito crítico hoje quanto ao poder exacerbado da razão, definido hoje como produto apenas dos neurônios físicos. Esse poder da razão surgiu no Iluminismo, em resposta a um domínio cruel do poder religioso, que também ajudou a solapar qualquer essência de espiritualidade.

Criticou-se nos meios intelectuais materialistas que a ideia de uma lei natural funcionaria como algo determinista na vida humana, independente da vontade do sujeito pensante. Para o Espiritismo a lei natural é aquela que incide na mente humana para que distinga o bem do mal. Mas segundo a Doutrina Espírita, a vontade das pessoas permanece livre, pois nada pode obrigar essas pessoas a escolher segundo um caminho predeterminado. Nos dias que correm aprisionou-se lamentavelmente o debate político e filosófico a doutrinações ideológicas, notadamente nas universidades. O futuro está determinado por uma razão histórica. Que embuste! Como cansa meu Deus ouvir a cantilena de " direita " ou " esquerda " para se definir a qualidade das pessoas. Em ambos os lados temos na política indivíduos roubando descaradamente no Brasil. Dizem esses indivíduos que é em nome da governabilidade. Já cansou esse discurso!

 Acho que uma ótima ajuda em nossos tempos, especialmente nos meios espíritas, seria um estudo aprofundado da filosofia estoica. O estoicismo é uma escola fundada em Atenas por Zenão de Cicio no início do século III a.C. O estoicismo afirma que todo universo é governado por um Logos divino. A alma estaria identificada com esse princípio divino, que nos leva à harmonia e à felicidade.

Leiam " Sêneca e o Estoicismo " de Paul Veyne, tradução de André Telles e descobrirão ali muitos conceitos utilíssimos para tomada de decisões, além de falar de uma espiritualidade tão cara ao Espiritismo. No livro está escrito que o estoicismo é uma sabedoria da segurança. Inabalável pelas tormentas externas (por exemplo o terrorismo do Estado Islâmico, ou o preconceito racial), surdo aos clamores dos sentidos (o perigo  de uma sociedade baseada unicamente no mundo sensorial), o estoico conhece a real felicidade. A vida passaria a ser regida pelo que é mais nobre, firme e estável: sua alma, identificada com a razão, que impera soberana sobre as demandas exteriores. Mas é uma razão que expressa uma filosofia que assume contornos de uma transcendência, que não é muito distinta daquela expressa por uma espiritualidade baseada na evolução humana garantida pela reencarnação.


Não tenhamos qualquer pudor ou vergonha em afirmarmos, juntamente com os espíritos, de que os homens são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas.Complementam os espíritos que a harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade. Para um melhor entendimento de Deus, recomendo o trabalho apresentado pelo pensador espírita Milton Rúbens Medran Moreira no XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 2015 – O pai, o filho e o espírito.

Artigo publicado na edição de Janeiro - Fevereiro de 2016 do Jornal Abertura