sábado, 10 de dezembro de 2016

ARTE ESPÍRITA, UM SONHO DE KARDEC - por Jaci Régis

Allan Kardec acreditava que “Assim como a Arte cristã sucedeu à arte pagã e a transformou, assim a Arte espírita irá complementar e transformar a arte cristã.”
Existe uma arte espírita, como queria Kardec?
Costuma-se dizer que existe arte com temática espírita. Mas não é a mesma coisa.
Existem produções mediúnicas com reprodução de artes plásticas. Mas a essa “arte mediúnica” poderia ser enquadrada no que Kardec sugeriu?
Na poesia, na literatura, no teatro, na música, há atividades de grupos espíritas. Mas certamente não foi inventada uma arte especificamente espírita, talvez porque “arte espírita”, “arte cristã” e “arte pagã” sejam apenas adjetivações da mesma Arte, colocada em letras maiúsculas para sinalizar que ela, como tal, não pode ser mais inventada, existe desde sempre.
Neste artigo vamos analisar essas questões.


A ARTE ESPIRITA

No livro Obras Póstumas, existe um capítulo denominado “Influência perniciosa das idéias materialistas” que contém uma análise de Kardec sobre artigo do jornal “Courrier de Paris du Monde Illustré” de 19 de dezembro de 1868, há 138 anos.

O artigo comenta a fugacidade da fama e cita Caromouche que “escreveu mais de duzentas comédias e revistas teatrais e seria muito justo que ainda hoje seu nome fosse lembrado. Mas é tremendamente fugaz essa glória dramática que excita tantas ambições. A não ser que trate de autor de obras-primas excepcionais, tudo está votado ao esquecimento logo que ele abandona o campo de batalha” O artigo afirma que “as preocupações materiais soprepõem-se cada vez naus aos interesses artísticos”.

Para Kardec “a decadência das artes no século atual (século dezenove) é o resultado inevitável da concentração das idéias nas coisas materiais e essa concentração, por sua vez, é o resultado da ausência de qualquer crença na espiritualidade do ser.” E sentencia: “As artes só sairão de seu torpor quando houver uma reação visando às idéias espiritualistas” Ainda “É matematicamente exato dizer que, sem crença, as Artes não têm vitalidade possível.”.

O fundador do Espiritismo descreve seu sentimento sobre a arte: “O sublime da arte é a poesia do ideal que nos transporta fora da estreita esfera de nossa atividade. E o ideal está precisamente nesta região extra-material, onde só penetramos pelo pensamento e que a imaginação concebe, embora não a alcance os olhos do corpo. Que inspiração pode trazer ao espírito a idéia do nada?”.

A análise continua “O Espiritismo, realmente, nos mostra o futuro sob uma nova luz, mais ao nosso alcance (...) Que inesgotáveis fontes de inspiração para a arte! Quantas obras primas, de todos os gêneros, poderão estas novas idéias criar, pela reprodução das múltiplas e tão variadas cenas da vida espírita!

Em vez de representar frios e inanimados despojos, ver-se-á a mãe tendo a seu lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima perdoando o algoz; o criminoso fugindo em vão o espetáculo, sempre presente, de suas ações culposas; o isolamento do egoísta e do orgulhoso no meio da multidão; a perturbação do Espírito que renasce par a vida espiritual, etc, etc.

E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre aos mundos superiores, verdadeiros edens onde os Espíritos adiantados gozam a felicidade que conquistaram, ou se quiser reproduzir algumas cenas dos mundos inferiores, verdadeiros infernos, onde dominam as paixões que cenas comoventes terá parta reproduzir! Sim! O Espiritismo abre para a Arte um campo novo, imenso, ainda inexplorado.”.

Passados 149 anos da fundação do Espiritismo não se viu o nascimento de uma arte espírita.

Embora Kardec afirme que “a Arte espírita irá complementar e transformar a Arte cristã” A arte espírita que ele desenhou no texto acima parece muito com um simulacro da arte cristã. Esta, segundo ainda Kardec, “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio, Essa fase pode ser apreciada nas pinturas da Idade Média, representando o inferno e o céu, as penas eternas ou, então, uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível. E talvez por isso, tão pouco impressione quando a vemos reproduzida na tela ou no mármore”.

J.Herculano Pires comenta essa parte afirmando que “O caráter grandioso e sublime da arte medieval foi determinado pela concepção cristã. O Renascimento determinou a volta ao Paganismo, mas numa assimilação renovada dos valores antigos sob a influência cristã. O mundo moderno não ofereceu elementos para uma renovação profunda das artes porque não trazia ainda uma cosmovisão nova. As artes modernas são prelúdio de uma nova fase que só o Espiritismo, a concepção espírita do mundo irá difundir. É o que Kardec viu com clareza neste trabalho.

Herculano também disse em nota de rodapé que “A Arte Espírita já uma realidade nascente. A Pintura Espírita começou no tempo de Kardec (...) A Poesia Espírita é realidade que já mereceu antologia (...) A ficção espírita impõe-se no mundo e a influência espírita no Cinema, na Música, no Rádio, na Televisão, no Teatro é visivelmente crescente. (O volume analisado de Obras Póstumas é de 1971).

Além da costumeira ufania de Herculano relativamente ao Espiritismo no mundo, a nota remete a outra questão. Como é ai definida a “arte espírita?” ou seriam apenas temas espíritas e assemelhados?

Claro que Kardec retratou sua época e sua concepção de arte, para ele assentada sobre a crença. A arte espírita seria, então, na sua visão, uma arte voltada para o sublime de um lado e para o horror de outro, com seus edens e infernos, seus Espíritos atormentados e felizes.

Seria, todavia,  uma visão extremamente sectária querer que a artes plásticas, por exemplo, abandonassem a apresentação do que seria “material”. Some-se isso que desde a desencarnação de Kardec muitas escolas artísticas foram criadas, algumas com duração efêmera e que artistas geniais ou pelo menos talentosos surgiram e que exprimir o corpo, a beleza, o cenário material, físico também é obra de arte, quando o artista consegue superar-se.

Depois, se a arte cristã “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio” devido sua ambição de retratar, sobretudo, a visão mística e uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível, uma arte inspirada pelo Espiritismo teria quer ser equânime, ou seja, abranger também a beleza e os problemas do ser encarnado e não apenas as projeções da vida futura.


A arte, de modo geral, reproduz o momento, a angustia, a ansiedade e o amor das pessoas encarnadas, vivas, atuantes ou amortalhadas. Poderá fazer introdução na vida extra corpórea sem aquela beatitude ou aquele descer ao inferno.

A ARTE MEDIÚNICA

A produção mediúnica no campo das artes é muito grande. Mas isso caracterizaria a “arte espírita”?

Desde o tempo de Kardec realmente foram produzidos desenhos através da mediunidade.

No Brasil, mais recentemente tivemos o fenômeno Gasparetto, com sua assombrosa produção pictográfica. Com os dedos da mão e do pé, a partir de um borrão de tintas, aleatoriamente misturadas, em poucos segundos surgia uma figura, uma paisagem assinada por um artista famoso, desencarnado.

Logo seguiram-se outros médiuns que fizeram e fazem demonstrações públicas desse tipo de mediunidade. . Todavia, os supostos autores espirituais reproduzem seu estilo, sua marca, talvez como forma de identificação e aí, parece que o que está em jogo é mais a confirmação da imortalidade da alma do que propriamente a arte, embora algumas telas tenham merecido elogios e admiração de especialistas.

 No campo da literatura temos obras de poesia, como O Parnaso de Além Túmulo obra primeira do médium Francisco Cândido Xavier, coletânea de poemas, sonetos e poesias de autores brasileiros e portugueses desencarnados geralmente famosos quando encarnados.

A ficção teve no passado recente, algumas produções muito bem escritas. Atualmente, porém, existe uma produção em escala de romances, novelas, contos, agora assinados por autores desconhecidos, sem biografia ou antecedentes.  São designados por um nome simples e cujo conteúdo e a forma, com raríssimas exceções, não constituem propriamente um literatura, mas uma subliteratura.

Como sabemos que o médium é interprete, por isso nenhuma produção artística pode ser considerada “pura”, isto é, sem interferência do médium. Este interpreta o desejo, a habilidade, o gênio do artista desencarnado dentro de suas possibilidades.

Por isso, a produção mediúnica não pode, a rigor, ser considerada “arte espírita”, como produto próprio, inédito, diferente.

Não se pode negar a crescente invasão de temas espíritas, se considerarmos como tal, todos os fenômenos mediúnicos, no cinema, na televisão, no teatro, mesmo em paises onde a tradição religiosa não tem qualquer ligação com o Espiritismo.

Filmes como Ghost, Sexto Sentido e outros foram saudados com grande entusiasmo e alcançaram muito sucesso e séries de televisão americana, por exemplo, apóiam-se em atuação de médiuns, sem qualquer ligação com a “paranormalidade” defendida pela parapsicologia, embora esta, se consultada, não deixará de encontrar uma explicação fora da mediunidade.

A televisão brasileira também tem aproveitado temas mediúnicos ou espíritas em novelas e séries.

Seria isso, afinal que Kardec pensou? Ou devemos repensar o que ele queria com a arte espírita? Sem dúvida as pessoas com pendores artísticos e que se tornam espírita devem e podem apoiar-se na filosofia espírita como base de suas produções.

Cabe-lhes, contudo, a responsabilidade de veicular o Espiritismo de forma positiva e coerente, pelos canais da música, do teatro, da televisão, da literatura, sem desvios e misturas espiritualistas... 


NR: Encontramos este artigo no computador de Jaci Régis, o artigo tem o estilo de Jaci, mas não está assinado, publicamos aqui, por mostrar uma vertente distinta do autor, na próxima edição complementaremos o artigo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”. por Reinaldo di Lucia

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”.

Das diversas crises que o Brasil enfrenta, há uma, algo silenciosa, que se agrava gradativamente ao longo dos anos, vem tomando proporções alarmantes e que não tem previsão nem a curto nem a longo prazo de solucionar-se: é a crise educacional.

A educação no Brasil já teve seus bons momentos, nos quais podíamos, mesmo no ensino público, apresentar alguma qualidade. Não escrevo aqui como especialista em história da educação, o que não sou, mas apenas como alguém que recebeu, nos anos 70, uma educação que me permitiu formar uma base conceptual suficiente para que o prosseguimento dos estudos se desse sem grandes percalços. Mas nunca foi algo que pudesse ser uma referência mundial em qualidade de ensino. Principalmente porque, numa época em que vivíamos um regime de exceção, não era objetivo formar pensadores, mas técnicos que pudessem contribuir para o "milagre brasileiro".

Entretanto, ao longo desses últimos 40 anos, a educação básica no Brasil, em linhas gerais, só piora. Talvez pelo desestímulo dos professores, cujo salário é um acinte, talvez pela falta de estrutura escolar e, certamente, pelo interesse da classe política em evitar transformar nossas crianças em cidadãos donos de seu próprio destino, o fato é que a qualidade do ensino básico é das piores do mundo.

Como se não bastasse essa verdadeira catástrofe, vem agora uma organização propor, com o apoio de uma parcela do Congresso Nacional, mais uma excrescência: a "Escola sem Partido". Com o suposto objetivo de impedir uma mítica ideologização nas escolas, na verdade evita a única forma de proporcionar o crescimento intelectual, que é a contraposição de ideias que permitirá o surgimento de jovens livre pensadores, sem amarras e preconceito, prontos a tornarem-se conscientemente responsáveis por suas escolhas e aptos a construir seu futuro
Há que se discutir que finalidades escusas se ocultam nesta proposta. Não sou daqueles que veem em tudo a mão maquiavélica da elite dominante tentando massacrar a plebe ignara. Mas não se pode bancar a Poliana e achar que o mundo é rosa. Há, sim, o claro interesse de uma certa classe de manter a população o mais intelectualmente despreparada possível, pois é obviamente muito mais fácil o domínio sobre os ignorantes. É pensar pode ser muito perigoso...
Como espíritas, temos o dever de desaprovar qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de pensamento, de crença, de expressão. 
O Espiritismo surgiu a partir de um amplo debate realizado entre encarnados (principalmente Kardec) e desencarnados, no qual questões muito profundas e polêmicas foram analisadas e discutidas. Assim, em consonância com nossa visão laica, livre-pensadora, humanista e progressista, qualquer tentativa de bloquear o debate livre, desde que imparcial, deve ser amplamente rechaçado.


Se algo não for feito para frear este tipo de proposta, a consequência será a formação de um contingente de jovens que delegará a outros seu direito inalienável de pensamento e escolha, pois será facilmente manipulável. Como professor universitário, percebo a cada ano que passa o quanto aqueles que ingressam no ensino superior estão cada vez menos preparados, não conseguindo realizar tarefas básicas, como leitura e interpretação de textos simples, compreensão das relações causais e entendimento das vertentes históricas que formam a realidade atual. E afirmo, sem medo de errar: não ha ação que tire o país do buraco que não passe pelo investimento maciço em educação. O que, com os políticos que temos, está longe de acontecer.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Progresso – lei inabalável - por Alexandre Cardia Machado

Progresso – lei inabalável
Marcha do Progresso
779. A força para progredir, haure-a o homem em si mismo, ou o progresso é apenas fruto de um ensinamento?
“ O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente  e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meiodo contato social.”
Creio que esta resposta é muito boa, no Livro dos Espíritos ao longo do capítulo se pode entender com mais detalhes a questão da evolução pessoal e moral versus a evolução intelectual e social. Mas a marcha é inevitável.
A seguir dou alguns exemplos do que está acontecendo no mundo que comprova este avanço:
Udo Gollub em Messe Berlin- (Conferência da Universidade da Singularidade)

Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendeu 85% de todo o papel fotográfico vendido no  mundo. No curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. O que aconteceu com a Kodak vai acontecer com um monte de indústrias nos próximos 10 anos – e a maioria das pessoas não enxerga isso chegando. Você poderia imaginar em 1998 que 3 anos mais tarde você nunca mais iria registrar fotos em filme de papel?

No entanto, as câmeras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras só tinham 10.000 pixels, mas seguiram a Lei de Moore. Assim como acontece com todas as tecnologias exponenciais, elas foram decepcionantes durante um longo tempo, até se tornarem imensamente superiores e dominantes em uns poucos anos. O mesmo acontecerá agora com a inteligência artificial, saúde, veículos autônomos e elétricos, com a educação, impressão em 3D,  agricultura e quem sabe, nossos empregos atuais.

Bem-vindo à quarta Revolução Industrial!

O software irá destroçar a maioria das atividades tradicionais nos próximos 10 a 15 anos.

O UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não são proprietários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo.

Inteligência Artificial: Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. Com o WATSON, da IBM, qualquer americano pode conseguir aconselhamento legal (por enquanto em assuntos mais ou menos básicos) dentro de segundos, com 90% de exatidão se comparado com os 70% de exatidão quando feito por humanos.

O WATSON já está ajudando enfermeiras a diagnosticar câncer, quatro vezes mais exatamente do que enfermeiras humanas.  O FACEBOOK incorpora agora um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer faces melhor que os humanos. 

Veículos autônomos: em 2018 os primeiros veículos dirigidos automaticamente aparecerão ao público. Ao redor de 2020, a indústria automobilística completa poderá iniciar um processo de reposicionamento.  As pessoas  não desejarão mais possuir um automóvel

Os negócios imobiliários mudarão. Pelo fato de poderem trabalhar enquanto se deslocam, as pessoas vão se mudar para mais longe para viver em uma vizinhança mais bonita.

Carros elétricos se tornarão dominantes até 2020. As cidades serão menos ruidosas porque todos os carros rodarão eletricamente. A eletricidade se tornará incrivelmente barata e limpa: a energia solar tem estado em uma curva exponencial por 30 anos.

No ano passado, foram montadas mais instalações de geração de energia elétrica solares que fósseis. O preço da energia solar vai cair de tal forma que todas as mineradoras de carvão cessarão atividades ao redor de 2025.

Com eletricidade barata teremos água abundante e barata. A dessalinização agora consome apenas 2 quilowatts/hora por metro cúbico. Não temos escassez de água na maioria dos locais, temos apenas escassez de água potável. Imagine o que será possível se cada um tiver tanta água limpa quanto desejar, quase sem custo.


Estes são apenas alguns exemplos – tipo Desenho animado dos Jetsons, só que reais, coisas que estão acontecendo e mundando o mundo.  Nem tudo são flores, há toda uma adaptação humana e claro, tudo dependerá de quão democrática estas mudanças acontecerão, nos poderão ajudar ou não a diminuir as diferenças sociais. Isto dependerá de nossa real vontade de melhorar o conjunto da sociedade, pois o progresso tecnológico virá de qualquer forma.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O Preconceito, uma doença da alma por Roberto Rufo

O Preconceito, uma doença da alma.

" Sonho com o dia em que todos levantarão e compreenderão que fomos feitos para vivermos como irmãos " ( Nelson Mandela ).

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha para o Fórum Nacional de Segurança Pública mostrou uma deplorável visão que os  brasileiros têm sobre o estupro. Um percentual de 30% dos entrevistados concordaram com a frase: " A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada ". Este percentual sobe para 41% entre pessoas que só possuem o Ensino Fundamental. Da mesma forma, 37% concordaram que mulheres que se dão ao respeito não são estupradas. Este percentual sobe para 46% entre os que têm 60 anos ou mais.

É lamentável, que após de anos de luta dos movimentos feministas, de campanhas educativas,tantas pessoas ainda invertam a relação de causalidade. As mulheres deveriam ser vistas como vítimas por essa gente, e não como responsáveis por atos de violência sexual contra elas mesmas.

No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, segundo dados oficiais, totalizando quase 50 mil crimes desse tipo por ano. Onde está o papel da educação? Onde está a reação das autoridades?

Mas eu aposto que se essa pesquisa fosse feita entre nossos parlamentares, os índices não seriam muito diferentes dos apontados pelo Instituto Datafolha . Torna-se urgente romper essa cultura machista e atrasada. Paralelo ao ensinamento dos meninos para que não se tornem adultos estupradores, o rigor da lei tem que se fazer sentir sobre esses selvagens. A dificuldade é que leis mais rigorosas contra esse descalabro, terão que ser votadas por parlamentares em sua maioria machistas.

Mudemos de assunto, para um não menos desagradável, a questão do preconceito racial. Novos casos de negros mortos em abordagens policias nos EUA  incendiaram novamente os ânimos da população negra no estado de Oklahoma. Os números sobre a ação policial confirmam, segundo  relatos da mídia americana, o tratamento desigual e injusto. Em 2016, até o momento 706 cidadãos foram mortos pela polícia americana, sendo 40% brancos e 24% negros. Sucede-se que os brancos são 77% da população e os negros 13 % .  Onde os negros habitam, geralmente bairros muito pobres, são os locais mais visados pela polícia. Pode não ser ódio racial, mas é certamente preconceito.  A questão da inserção dos negros no mundo branco e rico ainda não foi resolvida nos EUA.

Aprecio muito o pensamento do filósofo e sociólogo francês, Raymond Aron, quando afirma que " a sociedade americana não passou pelo equivalente da luta contra o Antigo Regime na Europa e não conta com nenhum partido operário ou socialista, uma vez que os dois partidos tradicionais sufocaram as tentativas de um terceiro partido progressista ou socialista. Os princípios da Constituição americana, continua Aron, e do sistema econômico nunca foram seriamente questionados. As controvérsias políticas nos EUA, finaliza Aron, em geral, se apresentam de forma mais técnica do que ideológica ".  
Bom, e o que o Espiritismo tem a ver com tudo isso? Muita coisa, pois em sua teoria do comportamento, a doutrina espírita aborda com clareza a questão da civilização, e o que caracteriza esse termo. No comentário à pergunta 793 do Livro dos Espíritos, Allan Kardec assinala que " a civilização tem seus graus, como todas as coisas... À medida que a civilização se aperfeiçoa faz cessar alguns dos males que engendrou e esses males desaparecerão com o progresso moral ".

Entre os males citados, sem dúvida está o preconceito criado pelo homem e muitas vezes ao fazê-lo carregava uma Bíblia debaixo do braço. As religiões foram céleres em criar preconceitos, notadamente contra as mulheres,  baseados em interpretações equivocadas dos textos ditos sagrados. Se bem que " textos sagrados " sempre ofereceram um grande perigo para a humanidade. Como dizia uma professora de filosofia, Conceição Gmeiner, a Grécia Antiga teve seu apogeu porque na época não existiam nem teólogos nem livros sagrados. 

E continua Kardec, " a civilização, na verdadeira acepção do termo, será quando as leis não consagrem nenhum privilégio, onde a justiça se exerça com imparcialidade, onde o fraco encontre apoio contra o forte e onde todos os homens e mulheres de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário ". Falta muito. O trabalho de conscientização plena ainda levará muitas gerações para se concretizar.

Até lá os negros e as mulheres  sofrerão bastante.  

Um adendo providencial , neste ano será julgado  no Supremo Tribunal Federal o direito das mulheres fazerem aborto em caso de microcefalia causado pelo virus  Zika. Esperemos que prevaleça o bem senso e esse direito seja dado às mulheres . Mesmo porque nenhum homem tomará conta dessas crianças . Será sempre tarefa das mulheres . Deixem-nas terem o direito de optar .
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 Publicado no Jornal Abertura de outubro de 2016.


                                                                                                          


segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Abrindo a Mente - sobre o livro O Laço e o Culto por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a mente

O Laço e o Culto



Krisnamurti de Carvalho Dias escreveu um livro sensacional, especialmente na época em que foi lançado, basta recordar o comentário feito pelo leitor Eduardo Simões, do Jornal “Espiritismo e Unificação”, quando o mesmo apresentou o livro – “eta livro porreta!”.

O Laço e o Culto, veio, à época, destruir completamente a armação sobre a qual a FEB construiu a religião espírita, deixa bem claro  porquê o professor Rivail acreditava que o Espiritismo não era uma religião. E ainda de quebra nos dá uma aula sobre o orígem da palavra religião, que ele defende seja originada da palavra romana Religiones e não religare, dizendo portanto que religião seria um “laço” e não um “culto” a Deus.

Krisnamurti baseia sua tese no diálogo entre Kardec e o Abade Chesnel que pode ser lido no livro “O Que é o Espiritismo”, livro recomendado pelo professor Rivail como o primeiro a ser lido, antes mesmo de O livro dos Espíritos.

O grande argunto de Kardec, contra o Espiritismo como religião se dá por esta troca de ideias. “ O abade Chesnel se esforça sempre por provar que o espiritismo é, deve ser e não pode deixar de ser senão uma religião nova, porque dele decorre uma filosofia e porque nele nos ocupamos da constituição moral e física dos mundos”. Isto até então era propriedade exclusiva das religiões. Mas Kardec não deixa por menos “ se isto fosse verdade diz ele “ sob este aspecto, todas as filosofias seriam religião”.

Segundo Krisnamurti “ o Espiritismo é um laço que reúne homens, que os aproxima, laço de substância moral, feito de costumes espontaneamente assumidos e livrement mantidos e aceitos”.

Fica aqui o convite para que nossos leitores mais novos que não tenham o livro que o busquem, em pdf na internet. Ele pode ser encontrado no site Pense, o link para o site pense está disponível no blog do ICKS.





Para abrir mais a sua mente:  Leia o Laço e o Culto – Krisnamurti de Carvalho Dias – editora DICESP e o livro O que é o Espiritismo de Allan Kardec.

Publicado no Jornal Abertura em outubro de 2015. O livro está esgotado, mas entrando em contato com o ICKS, pelo email ickardecista1@terra.com.br ,  você poderá comprar cópia em CD, R$ 10,00 mais frete, Totalizando R$ 15,00 se no Brasil.

domingo, 4 de dezembro de 2016

O difícil caminho da democracia por Alexandre Cardia Machado

O difícil caminho da democracia



Esta foto da calçada da Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de passar neste editorial. A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar.
Santos é uma cidade que possui 6 quilômetros de praia, na área urbana, na sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos apenas com a calçada.

Andar por este caminho é exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.

Ultimamente estamos sofrendo adversidades externas pois, depois da dragagem do canal do porto na entrada da barra de Santos, o perfil do fundo do mar alterou e desprotegeu a mureta da calçada. Desde então, convivemos com a erosão causada por ressacas, que teimam em destruir a mureta, simbolo da cidade de Santos e com ela a calçada.

O que isto tem a ver com a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.

Neste espaço estreito da calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos afim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas balanço de pagamentos internacional, guerras ou preços das comodites.

Parece que no Brasil,nas últimas eleições, houve uma ligeira guinada à direita. Assim como na foto, se fez necessário nos apertarmos à direita pelo buraco causado pela ressaca. Na política brasileira aconteceu o mesmo pelo buraco causado no caixa do governo federal pelos diversos escandálos de roubalheira, tais como mensalão e principalmente o petroduto foco da Lava Jato.

Este fenômeno de mudanças radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições  acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a vontade popular é que a democracia sobreviva. Assim como em Santos queremos que a calçada continue ali. Os buracos serão consertados e a vida seguirá.

René Descartes dizia que o bom senso é a coisa mais bem distribuída no mundo, pois todos nós pensamos tê-lo. Já Allan Kardec, chamado por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuia o bom senso ao avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia.

Este foi o Editorial Principal do Jornal Abertura de Novembro de 2016



sábado, 3 de dezembro de 2016

Abrindo a Mente - Medo dos Ets? por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a Mente - Medo dos Ets?

Alexandre Cardia Machado

Estávamos em uma reunião no ICKS, quando nosso companheiro  Mauricy Silva trouxe uma reportagem que ele havia capturado na Internet, onde Stepen Halking declarava-se a favor da possibilidade de vidas extraterrestres e discorria sobre os riscos de um contato com civilizações mais adiantadas.

Alexandre Cardia Machado


Este assunto não é novo Halking já havia se declarado a favor da possibilidade de vida em outros planetas em 2010, assim como já havia considerdo os riscos envolvidos num contato desta natureza.
O assunto voltou aos noticiários, pois Halkings está apoiando uma iniciativa –chamada Breakthroug: Listem – um grande projeto de análise de dados em radiofrequência que está em andamento, nos dias de hoje. Além disto foi lançado um documentário “Stephem Hawkings’s Favorite Places” – numa tradução livre – Os locais favoritos de Stephem Hawking – trata-se de um documentário de 30 minutos, em uma de suas falas mais importantes ele diz “ Se existir vida inteligente lá, nós deveremos ouví-la” referindo-se a um exo-planeta Gliese 832 localizado a 16 anos luz da Terra e que acredita-se tenha potencial para desenvolver a vida.

Em resumo Hawking alerta para a necessidade de preparamos nossas defesas contra Ets, e seu principal argumento é que nossa história terrestre demonstra que os mais fortes colonizam os mais fracos. Portanto precisamos pensar que civilizações mais avançadas podem ser perigosas e que se captado um sinal do espaço, precisaráimos pensar muito bem, antes de responder.

Estas questões são antigas, de certo ponto antagônicas à corrente tradicional espírita de que espíritos extraterretres, mais evoluídos estariam cuidando do planeta e ajudando no seu desenvolvimento, acreditamos que ambas as possibilidades existem e que sim, deveremos, dentro do possível estar preparados. O Filme Contato com Judie Foster, já explorou um pouco esta ideia.
Não há certezas neste campo, mas sim muita pesquisa em andamento. Em meu trabalho – Pluralidade dos Mundos Habitados – Uma atualização do conceito para o Século XXI – apresentado em Córdoba em Maio deste ano no XXII Congresso Panamericano da CEPA, resalto exatamente esta questão:

Contatos com extraterrestres via Radiofrequência Esta técnica é baseada na captação de sinais de rádio vindos do espaço, passar estes sinais pelo computador para verificar a existência de alguma repetição de frequências que possam ser consideradas de elaboração inteligente. Caso isto seja detectado, pode-se identificar o fonte desta emissão e iniciar um processo de pesquisa.

A grande incógnita se dá no caso de detectarmos este sinal, se devemos ou não responder. O risco de contactar uma civilização extraterrestre mais avançada já foi muito explorada no cinema, mas uma coisa é verdadeira, não há como saber se caso sejam contactados eles serão ou não hostís.”
Ter Stephem Halking compartilhando ideis não deixa de ser um incentivo.



Outros artigos relacionados publicados no blog :


Sobre a pluralidade dos mundos habitados – alguns passos importantes dado pela humanidade - por Alexandre Machado


Análise da necessidade de recorrermos à exobiologia , quer física, quer espiritual para explicar o desenvolvimento das civilizações na Terra. - Alexandre Cardia Machado



EVOLUÇÃO DO PRICÍPIO EPIRITUAL:

Reencarnação e o desenvolvimento do homem

Abrindo a mente - A pluralidade dos mundos habitados e o critério de falseabilidade por Alexandre Cardia Machado
Abrindo a mente:60 bilhões de humanos – nossa história. Por Alexandre Cardia Machado

O Ser Humano e a Evolução- - Uma análise pré-histórica

O Terceiro Chimpanzé - Marcelo Régis

Abrindo a Mente - 7 bilhões de humanos – estaríamos ‘raspando’ o umbral? Por Alexandre Machado

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A Política, uma arte em decadência por Roberto Rufo

A Política, uma arte em decadência

" A política é nossa última garantia de sanidade mental " ( Hannah Arendt )

" O marxismo é totalmente religião, no sentido mais impuro da palavra.Antes de tudo, compartilha com todas as formas inferiores da vida religiosa o fato de ter sido continuamente usado, segundo a observação tão precisa de Marx, como um ópio para o povo ". ( Simone Weil )


 Em seu excelente livro " Reflexões sobre um século esquecido 1901-2000 ", o escritor inglês Tony Judt, falecido em Agosto de 2010, faz uma série de perguntas muito intrigantes no capítulo XXII ( O silêncio dos inocentes: sobre a estranha morte da América Liberal ). Eis duas delas: por que os liberais norte-americanos aceitaram a incompetente política externa do ex-presidente Bush, especialmente em relação à catastrófica invasão do Iraque em 2003, resultando na morte de milhares de civis? Por que a seguida ofensiva contra as liberdades civis e a lei internacional, ainda no governo Bush, causaram tão pouca oposição e revolta entre as pessoas que costumavam se importar tanto com essas questões? 

Tony Judt alerta que nem sempre foi assim, e lembra que em Outubro/1.988 o New York Times publicou um anúncio de página inteira com propaganda do liberalismo onde pensadores liberais atacavam abertamente o presidente Reagan.

Hoje o liberalismo é atacado tanto pelos extremistas da esquerda quanto pelos extremistas da direita. Já vai tarde os tempos dos intelectuais formados pela liberal education do professor Mortimer Adler. 

Citemos alguns exemplos de como as coisas hoje mudam de lado rapidamente, ocasionando o triste fenômeno da pobreza política dos dias atuais: a globalização que já foi a besta-fera da esquerda, hoje é atacada pela plataforma populista de direita do candidato Donald Trump. Ontem Vladimir Putin era um ícone da esquerda pelo simples fato de ser contra os EUA. Hoje ele é elogiado pelos direitistas Trump e Marine Le Pen.

Com tudo isso a matéria " ética na política" passou a conhecer um período de vale tudo, em nome da governabilidade, onde as ilusões perdidas da geração de 1960, foram substituídas pela dedicação integral à acumulação material e de poder a qualquer custo.

A obra " Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade "  do pensador espírita Aylton Paiva representa segundo ele " mais um esforço para conscientizar o leitor espírita quanto à real oportunidade de influência da Doutrina Espírita sobre a ordem social ". Ele tem razão, pois sob o aspecto filosófico o Espiritismo tem muito a ver com a Política, sendo esta  " a arte de administrar a sociedade de forma justa ".

No Brasil, tivemos agora em Agosto/2016 o impeachment da Sra. Dilma Roussef. O atual presidente Temer inspira pouquíssima confiança para tirar o Brasil do grave atoleiro econômico. Nas últimas semanas foi aberta uma nova frente de investigação policial: os fundos de pensão. De novo milhões de reais desviados, agora desses fundos de pensão  aparelhados pelo governo que caiu. E lá estavam eles, os partidos de sustentação do governo anterior, claramente envolvidos também na maracutaia. Afinal a base de sustentação tem que colaborar.

 Por sua vez em uma das fases da Operação Lava Jato aparece o nome do Sr. Aécio Neves, ex-candidato a Presidente da República, que ontem era  oposição e hoje é situação. Depois essa divulgação passou a ter uma postura bem mais reservada, quietinho  para não despertar maiores suspeitas.

Como membro da sociedade o espírita deve participar ativamente da política, até mesmo de forma partidária, para de alguma forma levar a mensagem poderosa da evolução espiritual, se organizando e trabalhando  com o pensamento alicerçado na verdade, na justiça e no amor ao próximo.  Conheci pessoalmente o senador espírita José de Freitas Nobre, sempre exemplificando na política, a honestidade e retidão de caráter. 

Voltando infelizmente aos tristes fatos da política nacional: calcula-se que o cartel dos trens do Metrô e da CPTM em São Paulo tenham causado milhões de reais de prejuízos aos cofres públicos. Dos R$ 2,5  bilhões  que o BNDES emprestou ao Grupo JBS, este repassou 18,5% da grana em doações partidárias para o governo da época. 
O que não se fez em nome da tal governabilidade; falcatruas sempre tramadas a partir da Casa Civil, a nível federal e estadual . E é com essa mediocridade de políticos  que se pretende fazer a transição até 2018. Oremos!
Como muito bem disse o Teólogo Roberto Miguel, mestre em Ciência da Religião pela PUC, se Jesus resistiu às três tentações, o movimento messiânico do governo anterior e os políticos de todos os matizes sucumbiram a todas elas. Como escreveu sarcasticamente o escritor e humorista Millôr Fernandes " VIVA O BRASIL, ONDE O ANO INTEIRO É PRIMEIRO DE ABRIL "

Nos EUA, a trajetória de Donald Trump nos mostra lá como cá, que ampliou-se a aventura política. Os mágicos de sempre aparecem prometendo soluções fáceis para problemas difíceis. 
Uns à direita falam em construção de muros. Outros à esquerda, fingindo-se agora de vítimas,  prometem a multiplicação dos pães mesmo que se destrua noções elementares da ciência econômica. Até hoje não entendi  porque se escolheu como ministro da economia o neoliberal ( afinal o neo liberalismo era a medusa dos tempos modernos )  Joaquim Levy, se como diziam,  as coisas estavam indo muito bem. Obviamente não estavam. Mentiu-se descaradamente. O Brasil foi enganado por uma falsa renovação ética.  

É claro que sempre existirão os crentes, não sei se ingenuamente ou não,  acreditando na tese de que a ex-presidente Dilma e o atual presidente Temer e seu novo séquito habitam mundos distintos. Não, todos vivem no mesmo mundo da dissimulação, do conluio, dos acordos espúrios. Apequenaram a política. E como dizia um antigo narrador esportivo Fiori Gigliotti quando um time tomava um gol,  " agora não adianta chorar ". Moral é que nem virgindade, perdeu está perdida, diz outra frase espetacular do Millôr.

Espíritas, cidadãos de bem, eu sei que a decepção com a política no Brasil e no mundo é grande, mas é oportuno, neste momento, recordarmos a afirmação de Allan Kardec, item 25, de A Gênese, obra editada em 1.868: " O Espiritismo não cria a renovação social; a maturidade da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento ". Que texto maravilhoso e útil para o mundo de hoje.

Roberto Rufo. 

NR - Publicado no jornal Abertura outubro 2016


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Perguntas Sem Respostas - Jaci Régis

Perguntas Sem Respostas

Após a palestra em que o tema era a família no século XXI, fui entrevistado para um progrma de rádio. O entrevistador, depois de outras perguntas, desferiu a seguinte: “ Você tem levantado muitos problemas e tem uma visão diferente da vida. Você julga que isso é uma missão?” A pergunta surpreendeu-me. E a resposta foi intempestiva: “ Nada de missão, apenas estou numa luta, num modo de pensar e num momento de atuação”.

Depois, meditando verifiquei que certos grupos gostam de ver as coisas sob um prisma meio fantástico, sobrenatural. Uma delas é essa sobre os missionários. E aí temos três posições interessantes: os que se transformam em missionários por injunções do grupo, da coletividade; os que se deixam tornar missionários e, finalmente, os que querem ser missionários.

Parece-me que o verdadeiro missionário não se aprecebe que o é. Se julga tal, já não é. Mas o tema é fascinante. Ser “missionário” tem algumas vantagens. Adquire o caráter trancedental de quem sabe das coisas e precisa ser ouvido com devoção.

O modelo mais comum de “missionário” é o que assume a posição de guru.
Então, ele é o consultor, o confessor, o psicólogo, o cientista, o filósofo, o sacerdote. E quantos gostam desta posição!

Há também um aspecto não desprezível. É que o missionário pode esconder-se atrás dessa posição para fugir à sua condição humana.  Porque tal missão parece dar o direito ou o dever de viver com os deuses e então, quando se pode camuflar os próprios desejos!

Quanto à minha frente pergunta: “ Você se considera realizado?”. Eu a encaro surpreso. E digo: “ O que é ser realizado? E lembro que alguém disse, talvez Tagore, não sei bem, que o homem para se realizar precisava plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.

Bem, já escrevi alguns livros, tive muitos filhos e plantei algumas árvores. Seria isso realização? Aprecio a vida no seu dinamismo.

Gostei muito quando um pessoa ouvindo a música de Ivan Lins que, entre outras coisas, diz: “ Quero tua risada mais gostosa .../ esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa .../ não ter vergonha de aprender como se goza/ quero tua louca liberdade .../ e o desejo de passar de seus limites/ e ir além “, disse “ você é isso aí ... Porque tem todo um sentido de romper, de ruptura, de não considerar limites para a busca, para o encontro com realidades nem sempre sonhadas.”

Às vezes penso que as tentativas de encontrar respostas para a razão de viver, perdem-se no emaranhado de palavras. Alguns dizem que é preciso ter um objetivo para a vida. Outros supõem equacionar todos os problemas com enunciados como: de onde venho, por que estou aqui e para onde vou”.

Creio que ter um objetivo é fechar, limitar, circunscrever o trajeto vivencial. Suponho que mais correto é ter um sentido, uma orientação vivencial que não se esgota. Nem se alcança ou termina.
É preciso compreender que viver é ser angustiado. Não atormentado. A liberação da angústia só é possível pelo  intercâmbio emocional, pela troca de sentimentos. E sentimento engloba também inteligência, saber e investigação. Todos os mecanismos do Espírito estão inevitavelmente impregnados de emoções, até mesmo quando se diz do raciocínio frio.

Por isso, não há porque me dizer realizado, acabado, terminado, completo, satisfeito, feliz. Como poderia sê-lo? Estou na inquietude do saber, na incerteza da emoção, nos altos e baixos dos desejos, na refrega da luta, na alternância do amor e do ódio, da tolerância e da intolerância, do acerto e do erro.

Diante dessa realidade, eu disse à pessoa que me olhava, em silêncio: “ Prefiro que ao término desta jornada, eu diga apenas, como Pablo Neruda: confesso que vivi...


NR: Este artigo está publicado no Livro Caminhos da Liberdade e saiu no Jornal Abertura de Julho de 2016

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O Perispírito
Uma abordagem do século XX

Reinaldo Di Lucia


 Crítica as idéias espíritas


                         Muitas das idéias anteriormente expostas são passíveis de contestação e constituem, minimamente, uma desatualização em relação aos avanços do conhecimento humano. Faz-se, portanto, necessária uma análise crítica delas e o desenvolvimento de uma nova hipótese que seja mais adequada aos problemas e observações atuais.
                         A afirmação que o perispírito é um envoltório para o espírito é tirada diretamente da observação que os espíritos desencarnados tem de si mesmos. Kardec, ao querer informar-se sobre a vida no mundo espírita, pergunta se esses espíritos possuem um envoltório ou vivem "a descoberto" (O Livro dos Espíritos, perg. 93), ao que os espíritos respondem ter um envoltório. A denominação períspirito, como já dissemos anteriormente, é fruto de analogia que Kardec (e não os espíritos) fazem com elementos da ciência.
                         Também não causa dúvida a afirmação que o perispírito pertence ao elemento material do Universo. No dizer de Kardec, é composto da quintessência da matéria. Entretanto, o conceito de matéria sofreu modificações profundas desde a época em que o espiritismo veio ao mundo. É assentado nestas modificações que se propõe neste trabalho um novo modelo (ou, ao menos, um novo entendimento) do perispírito.
                         Também da experiência direta obtém-se a informação que o perispírito pode ser modificado em forma de acordo com a vontade do espírito. Muitos médiuns videntes têm relatado essas modificações, assim como pesquisadores em experimentos de materialização. Entretanto, esta observação leva uma conclusão interessante: a de que o espírito pode atuar sobre o elemento material diretamente. É preciso, então, rever a idéia, fortemente disseminada em todo o movimento espírita, de que o espírito e matéria não interagem por serem de essências distintas.
                         Esta última idéia leva um número grande de espíritas a interpretar o termo semimaterial, empregado por Kardec para referir-se ao perispírito, como sendo um terceiro elemento universal, que participaria de ambas naturezas (espírito e matéria) e, assim, permitiria a ligação entre ambas. Não há respaldo nenhum para essa interpretação. Kardec foi claro quando postulou um sistema dualista completivo para a filosofia espírita, isto é, formado de duas substâncias essenciais em mútua e incessante interação.
                         Nesta mesma linha de raciocínio, parece estranha a afirmação que o perispírito deve ser elo de ligação, ou laço que prende o espírito a matéria. Se assim fosse, porque os desencarnados, dotados de perispírito, nao conseguem mover objetos sem o concurso de um médium?
                         O problema está no modo de pensar da ciência do século XIX. Essa ciência é discreta, ou seja, pensa o Universo macroscopicamente, em elementos distintos e estanques, ligados entre si por algum tipo de meio físico. Assim, o perispírito seria um ente particular, perfeitamente definido em si mesmo, que serviria de meio entre dois elementos, o espírito inteligente e a matéria bruta.
                         A ciência do século XX quebrou esses dois conceitos: mostrou que, apesar de no ambito das partículas subatomicas as energias serem trocadas em quantidades determinadas, ou "pacotes" fechados, e existirem "saltos quânticos" que afetam drasticamente as partículas, no mundo macro há um desenvolvimento contínuo da matéria no que tange, p.e., as frequências envolvidas, nos níveis em que é possível a detecção pelos equipamentos disponíveis. E mostrou também que não são necessários quaisquer meios para transmissão de energia ou informações a distância no espaço-tempo (a luz, p.e., transmite-se no vácuo). Parece então mais lógico postular o perispírito como uma continuação energética da matéria, como sera descrito adiante.
                         Não é muito claro também o papel do perispírito nas comunicações mediúnicas. Claro que, estando indissoluvelmente ligado ao espírito e sendo responsável por dar-lhe uma forma, o perispírito atua nas manifestações físicas. Entretanto, se a comunicação mediúnica classificada como manifestação inteligente (a psicofonia ou a psicografia, p.e.) é uma transmissão mente a mente (equivale dizer, de espírito a espírito), que nao precisa de intermediários, essa função de perispírito precisa ser revista.
                         As três últimas idéias apresentadas pelos pensadores descritos parecem as mais problemáticas, ainda que se possa dar uma explicação viável do porque elas apareceram.
                         A primeira é a do perispírito como molde do corpo fisico. As principais tentativas neste sentido foram feitas para resolver um problema sério que a ciência já enfrentava desde a antiguidade, qual seja, o de como é possível a formação de um ser tão complexo, a partir, aparentemente, da união fortuita de elementos materiais, sem que existisse algum organizador para estes elementos.
                         Ocorre que a última metade do século XX trouxe significativos avanços no entendimento do modo como a matéria orgânica estrutura-se e transmite as informações necessárias para a manutenção. Os avanços da genética, iniciados com o descobrimento dos ácidos nucleicos e de sua estrutura, e que atingiram o auge com o Projeto Genoma (estudo de mapeamento dos genes humanos) forneceram e continuam fornecendo explicações cada vez mais precisas sobre a organização corporal. Criou-se uma nova disciplina, a Engenharia Genética, especializada em estudar técnicas de modificação destas caracteristicas, alterando as funções, propriedades e aparências de órgãos, vegetais, etc.
                         Ao mesmo tempo, estudos de biologia celular e aplicações médicas destes avanços, como no caso das intervenções diretas sobre órgãos doentes, através de terapias químicas o de transplantes, mostraram definitivamente que a própria matéria tem sim condições de auto gerenciamento, sem a necessidade de um organizador extrínseco a ela.
                         A questão dos estudos termodinâmicos da vida ainda nao está perfeitamente equacionada, mas uma série de grandes cientistas, e não só da área biologica, como o físico austríaco Erwin Schrodinger (Premio Nobel de Física de 1933) tem feito sérias restrições às dificuldades da vida em relação a entropia. Este é um campo ainda aberto, com muitas possibilidades a serem estudadas. 
                         Mais difícil ainda é sustentar o perispírito como sede de faculdades racionais ou emocionais, como a memória, as sensações ou a inteligência. Tais funções intelectivas são, consoante a filosofia espírita, de competência exclusiva do espírito, uma vez que só ele possui inteligência. Sendo o perispírito matéria, ele nao poderia participar destes processos.
                         A argumentação de Delanne, neste aspecto, perdeu muito da força quando se demonstrou que as células do cérebro não se modificam com o passar dos anos, sendo as únicas no organismo incapazes de regenerar -  uma vez destruídas, perdem-se para sempre.
                         Claro está que os estudos das relações hegemônicas no cérebro e da permanência das lembranças após o fim da vida corporal encontram-se longe de estarem completos. As relações entre o espírito e o cérebro é um dos temas mais fascinantes da ciência espírita, e um dos menos estudados.
                         Finalmente, a idéia da existência de órgãos no perispírito também parece estranha já que eles sao estruturas  organizadas que servem apenas para a manutenção da vida física. Provavelmente, esta idéia surgiu como suporte a função do perispírito de organizador biológico. Em não se admitindo esta, aquela deixa de ter importância.