sexta-feira, 4 de março de 2016

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO - por Roberto Ruffo

A LEI NATURAL, A FELICIDADE E O ESTOICISMO.


" A Lei Natural exprime o fundamento de uma ética, pois ela mesma é a lei ética que determina o que é adequado à natureza humana. " (Padre Antônio Vieira).

" A Lei Natural é a lei de Deus, é a única necessária à felicidade dos homens " (Resposta dos Espíritos à pergunta 614 do Livro dos Espíritos).


A lei natural para o Espiritismo é algo imanente na alma humana, e fundamenta o discernimento do bem e do mal no livre arbítrio. A lei humana ou positiva, para mim, é parte da lei natural, e o seu princípio e fim é o bem comum da sociedade. Assim, enquanto a lei natural aconselha e mostra o que o homem deve fazer para ser humano, usando da sua razão e liberdade, a lei positiva tem a função de fundamentar a adequação da moral e da política pela mediação da justiça legal. A isso pode-se chamar espiritualidade. Não falo de religião.

Roberto Ruffo


Infelizmente hoje o enraizamento social e político aponta tão somente para perspectivas de implantação de um materialismo que submergiu a dignidade espiritual do homem. Abandonou-se qualquer ideia ou conceito de que haja um projeto para a felicidade humana, projeto esse elaborado por uma inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Não falo do Deus judaico-cristão. O Espiritismo obviamente é uma filosofia racional, todavia sou muito crítico hoje quanto ao poder exacerbado da razão, definido hoje como produto apenas dos neurônios físicos. Esse poder da razão surgiu no Iluminismo, em resposta a um domínio cruel do poder religioso, que também ajudou a solapar qualquer essência de espiritualidade.

Criticou-se nos meios intelectuais materialistas que a ideia de uma lei natural funcionaria como algo determinista na vida humana, independente da vontade do sujeito pensante. Para o Espiritismo a lei natural é aquela que incide na mente humana para que distinga o bem do mal. Mas segundo a Doutrina Espírita, a vontade das pessoas permanece livre, pois nada pode obrigar essas pessoas a escolher segundo um caminho predeterminado. Nos dias que correm aprisionou-se lamentavelmente o debate político e filosófico a doutrinações ideológicas, notadamente nas universidades. O futuro está determinado por uma razão histórica. Que embuste! Como cansa meu Deus ouvir a cantilena de " direita " ou " esquerda " para se definir a qualidade das pessoas. Em ambos os lados temos na política indivíduos roubando descaradamente no Brasil. Dizem esses indivíduos que é em nome da governabilidade. Já cansou esse discurso!

 Acho que uma ótima ajuda em nossos tempos, especialmente nos meios espíritas, seria um estudo aprofundado da filosofia estoica. O estoicismo é uma escola fundada em Atenas por Zenão de Cicio no início do século III a.C. O estoicismo afirma que todo universo é governado por um Logos divino. A alma estaria identificada com esse princípio divino, que nos leva à harmonia e à felicidade.

Leiam " Sêneca e o Estoicismo " de Paul Veyne, tradução de André Telles e descobrirão ali muitos conceitos utilíssimos para tomada de decisões, além de falar de uma espiritualidade tão cara ao Espiritismo. No livro está escrito que o estoicismo é uma sabedoria da segurança. Inabalável pelas tormentas externas (por exemplo o terrorismo do Estado Islâmico, ou o preconceito racial), surdo aos clamores dos sentidos (o perigo  de uma sociedade baseada unicamente no mundo sensorial), o estoico conhece a real felicidade. A vida passaria a ser regida pelo que é mais nobre, firme e estável: sua alma, identificada com a razão, que impera soberana sobre as demandas exteriores. Mas é uma razão que expressa uma filosofia que assume contornos de uma transcendência, que não é muito distinta daquela expressa por uma espiritualidade baseada na evolução humana garantida pela reencarnação.


Não tenhamos qualquer pudor ou vergonha em afirmarmos, juntamente com os espíritos, de que os homens são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas.Complementam os espíritos que a harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade. Para um melhor entendimento de Deus, recomendo o trabalho apresentado pelo pensador espírita Milton Rúbens Medran Moreira no XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 2015 – O pai, o filho e o espírito.

Artigo publicado na edição de Janeiro - Fevereiro de 2016 do Jornal Abertura