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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Espiritismo, antídoto contra o fundamentalismo - por Roberto Rufo

 

Espiritismo, antídoto contra o fundamentalismo

 

“Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo.”   (Umberto Eco).

 

"Se eu atirasse em alguém numa avenida nova-iorquina, nem por isso perderia um só voto" (Donald Trump)

 

"Eu não sou um ditador, mas às vezes a situação faz com que você se torne um" (Nicolás Maduro).

 

 


Em interessante artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo,Dom Odílio Scherer, Cardeal-Arcebispo de São Paulo aborda o tema "Cultura Bipolar" e a meu ver com razão afirma que vivemos tempos marcados pela exacerbação ideológica, em que se confundem facilmente valores com posições ideológicas e partidárias. O que interessa no discurso ideológico é desqualificar o oponente. Ou se trata de um esquerdista comunista e ateu ou se trata de um direitista ultra-conservador. Ou se é mortadela ou se é coxinha. Na verdade, trata-se de um debate paupérrimo de ideias. O articulista está sentado na razão quando assinala que a complexidade das coisas não cabe necessariamente em duas caixinhas tão apertadas. 

Caso contrário, serei obrigado a admitir como certo o pensamento de um grande amigo,ex-metroviário como eu, que tentava me convencer na época do escândalo do mensalão de que na verdade o que estava acontecendo é que a quadrilha azul queria apenas tirar a quadrilha vermelha do poder. E hoje esta gostaria de recuperar o lugar de onde foi apeada. O mundo não pode ser tão simplista assim. 

 

Claro que os extremistas raivosos e as manifestações de ódio envenenam o convívio social. Segundo D. Odílio Scherer a vida social alicerçada no respeito às pessoas e no senso de colaboração e justiça faz bem a todos. O Espiritismo em seu surgimento oficial em 18 de abril de 1857 com o lançamento do Livro dos Espíritos sempre expressou uma mensagem ponderada e isenta de preconceitos.

 

Numa entrevista que Herculano Pires concedeu ao primeiro Anuário Espírita, em 1964 o jornalista e filósofo foi questionado sobre diversos temas: parapsicologia, tradução das obras da Codificação, filosofia e fanatismo.

 

“Do ponto de vista espírita, um fanático espírita, é uma aberração, porque o Espiritismo, está sujeita ao exame crítico. Onde se fala de crítica, no sentido exato do termo, que é o do exame aprofundado e sereno das coisas, não há lugar para manifestações de fanatismo”, disse o escritor.

Os sistemas livres, diz H. Pires, correspondem ao espírito da filosofia; já os sistemas fechados, ao espírito das religiões. Como a filosofia nasceu da religião, e esta era, interpretada sempre de forma rigidamente sistemática, durante muito tempo os filósofos elaboraram grandes sistemas filósofos, que fizeram época. No tempo de Kardec, os sistemas filosóficos imperavam. O sistema de Hegel (1770-1831), por exemplo, e o de Tomás de Aquino (1225-1274). E nesse mesmo tempo surgiam dois novos sistemas: o positivismo e o marxismo. Eram o que podemos chamar “sistemas-sistemáticos”, construções dogmáticas do pensamento. Os Espíritos Superiores indicaram a Kardec a inconveniência dessas construções, que encarceravam o pensamento em determinados princípios. Daí a formulação por Kardec de um “sistema não-sistemático”, ou seja, livre “dos prejuízos do espírito de sistema”. Uma doutrina que, à maneira do Evangelho, se constituía de orientações gerais do pensamento. Este é um aspecto que nos revela a perfeita atualidade do Espiritismo, no plano filosófico.

                                               

O preocupante para mim no debate político exacerbado de hoje é que não existe um programa de governo de ambos os lados. A luta é pelo poder. Nas palavras do cientista político e professor da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna há uma realidade nova no país. Tem uma ralé diz ele (no sentido que a pensadora Hannah Arendt a utiliza), 

que pode se tornar uma base de apoio a grupos fundamentalistas de esquerda e de direita. Não é só pobre não diz o cientista político. É classe média também. É apenas ressentimento e falta de valores. A sociedade abdicou de valores, deixou-se perverter.   Cumpre esclarecer o sentido da palavra ralé apresentada pela pensadora Hannah Arendt (1906-1975) em sua obra magna "As origens do totalitarismo":  

 

"Ao buscar entender como o nazismo se apossou da Alemanha, Arendt formula a tese de que a ralé chegou ao poder. Como ela define o que seja esta ralé? Ela se funda em grupos residuais de todas as classes sociais, por esta razão lembra Hannah, é fácil confundi-la com o povo; é como se fosse um grande resto, uma porção das mais diferentes classes sociais que tem em comum negar a política e a contradição como instâncias da vida social, por isso sua aversão à política e às práticas de equalização ou equilíbrio social e às diferentes instâncias da vida democrática; a ralé tem o ódio como missão e a violência como seus motores".   

 

Portanto, fica muito claro que o Espiritismo, em sua teoria racional e equilibrada, quando parte para a prática, só pode apoiar projetos que façam autocritica permanente, pois dessa forma sempre podem corrigir desvios inerentes a qualquer processo de gestão. Como subsídio oferece as Leis Morais do Livro dos Espíritos como exemplificação do que julga ser o modelo correto de convivência política e social.

Artigo publicado no jornal ABERTURA abril 2020

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional

 

 

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Tolerância, diversidade e as próximas eleições - por Alexandre Cardia Machado


Tolerância, diversidade e as próximas eleições

O jornal ABERTURA mudou o seu logotipo, invertendo o B em março de 2017. Fizemos isto como forma explícita de apoio à diversidade e a tolerância, ao novo e ao menos comum, mas também natural. Aceitar que todos tenham direito às suas próprias escolhas. A sociedade plural funciona, desde que todos respeitem os limites de seu livre arbítrio, entendendo que o direito de um termina, onde começa o direito do outro.

Apoiar a diversidade significa dizer que independente de nossas escolhas devemos respeitar, no sentido mais amplo, as escolhas dos outros. Isto vale para ideias conservadoras e também para ideias liberais, pois a sociedade é plural, sempre teremos diferenças e isto nos faz melhores.

Sobre a intolerância recorro a um trecho do artigo Intolerância e Falta de Conhecimento da coluna Mundo Atual do Abertura de junho de 2017 de Reinado di Lucia e Carolina Régis di Lucia: “ Se há algo que é completamente incompatível com o Espiritismo é essa não aceitação da possibilidade de haver pensamentos distintos daqueles que abraçamos. Tal postura, revelando consciente ou inconscientemente a certeza de ser possuidor de uma “verdade absoluta”, é inconciliável com a proposta da evolução contínua que constitui o cerne da Filosofia Espírita”.

Próximas eleições

Que estamos com o nosso país dividido não há dúvidas, isto nada mais é do que democracia em essência. Estar dividido no campo das ideias, mas respeitando a ética nas relações entre as partes é normal e desejável.  O debate que daí nasce é o que produzirá soluções mas abrangentes e possíveis de implementação. A democracia propõe o melhoramento contínuo, não é uma forma de mudança revolucionária. Ainda que aqui e ali, em condições especiais, face a crises importantes, os estados possam tomar medidas mais radicais, com apoio popular e de seus representantes mas idealmente deveríamos mudar aos poucos e incessantemente, ou seja monitorar as condições socias e ir agindo para melhorar. Este é o que se espera de uma democracia.

Volto a citar num editorial um trecho atribuído a Allan Kardec em Obras Póstumas – As Aristocracias: “ ...dizemos primeiro que os bons, sobre a Terra, não são inteiramente tão raros quanto se crê; os maus são número, isto infelizmente é verdade; mas o que os faz parecer ainda mais numerosos, é que são audazes, e sentem que esta audácia mesma lhes é necessária para triunfarem ... os bons ao contrário, não exibem as suas boas qualidades; não se colocam em evidência e eis porque parecem tão pouco numerosos ...”

Nos últimos 15 anos a revolução digital mudou um pouco isto, hoje as pessoas se expõe muito mais nas redes sociais, existem formas novas de influenciar o mundo ao nosso redor. Portanto está mais do que na hora de fazermos algo, participarmos mais, sem criar fake news, mas sabendo detalhes da atuação dos candidatos, a que grupos está associado, sobre como se portou no passado.  Os candidatos querem o seu voto, sim seu voto irá para quem você decidir outorgar seu poder.

Dar de ombros e votar em qualquer um, ou pior, nem votar, não ajuda a resolver os problemas de nosso estado, nem do país. A solução passa pela decisão de cada um de nós.

Começe a sua lição de casa agora, assista aos debates, informe-se, converse com seus amigos, participe. No final do processo, urnas abertas, aceite as divergências. O congresso, as assembléias representarão o conjunto de ideias e varições da nossa sociedade e não apenas as nossas crenças e valores.
Este artigo foi publicado no editorial do jornal ABERTURA de agosto de 2018.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Intolerância ou vandalismo - ataque a Jornal Espírita - por Alexandre Cardia Machado

Recentemente colocamos no muro da sede do ICKS, um dispositivo que permitia a qualquer pessoa que por lá pasasse, retirar um exemplar do Jornal Abertura, de forma gratuita.



Esteve por lá por aproximadamente 40 dias, até que um dia destes alguém, mal intensionado ateou fogo nos jornais, lembrando-nos do que faziam os nazistas no século passado, ou os espanhóis nos famosos auto de fé de Barcelona. Jamais saberemos a motivação, mas de certo é que não desistiremos. Iremos reparar e voltaremos a oferecer nossos jornais, pois acreditamos na humanidade.

A ignorância é a base da intolerância, não conseguir conviver com outras opiniões, outras formas de ver o mundo, principalmente quando estas formas de ver o mundo bucam o amor entre as pessoas e almejam um mundo melhor é algo impensável. Mas sabemos que as pessoas nem sempre param para pensar. Agem por impulso.

Já tivemos vários casos onde nossos jornais não chegavam aos nossos assinantes e o motivo, identificado em muitos dos casos eram os porteiros evangélicos. Motivados sabe lá porque?

Nossos jornais, se enviados como correio normal, não chegam a Jon Aispúrua, na Venezuela, neste caso por razões menos espirituais mas sim por perseguição política. As motivações são muito diversas, mas estamos longe de viver em uma sociedade plural.

Acredito que o atentado que sofreu nosso jornal, seja muito mais um ato isolado de alguma pessoa que resolveu se divertir, depredando, elas o fazem com a coisa pública que  a elas mesmo pertencem, porque não fariam com um bem privado.

Oferecemos nosso jornal pois acreditamos que apresentamos desta forma uma oportunidade de reflexão à sociedade. Jogar fora ou reciclar simplesmente não passa por nossa cabeça, pois sabemos que muitas vezes uma leitura esporádica de um texto espírita, pode abrir uma porta a alguém que está perdido ou buscando uma resposta.

Por que alguém se sentiria ofendido ou atacado por um jornal que professe uma forma diferente de pensar? Se a pessoa não tem interesse naquilo,que siga em frente. Vivemos numa sociedade caótica, se alguém arruma a sua calçada, com cimento fresco, precisa ficar vigiando pois mutios tentarão pisar para deixar a sua marca ou colocar o seu nome?

Há algum tempo passou na televisão uma reportagem, sobre um professor estrangeiro da Unicamp, que reside em Barão Geraldo, Campinas. Ele recebeu de presente da prefeitura uma parada de ônibus em frente à sua casa. Para quem já passou por esta experiência, sabe bem a que me refiro. Pois bem, ele resolveu transformar  o limão em limonada. Instalou um bebedouro, colocou jornais,
disponibilizou bancos e claro passou a “curtir” esta onda positiva. Quem sabe não seja isto que tenhamos que fazer?

Por enquanto estamos na ressaca, de quem viu uma ideia ser destruída, mas iremos repensar e achar uma forma resiliente de seguir oferecendo o que de melhor temos a dar.

Só nos resta mesmo apelar aos poetas, pois  apesar de tudo “Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser bem melhor e será / Mas isso não impede que eu repita / É bonita, é bonita e é bonita... (Gonzaguinha).

Ou então como diria Belchior“ viver é melhor que sonhar” – precisamos superar todos os obstáculos, e ir em frente, pois não tem nada fácil na vida, estamos em eterno conflito, aprendendo com este convívio, buscando ajudar aqui e ali, contribuindo para um mundo melhor, menos repleto de pessoas levadas por maus impulsos. Com mais espaço para o contraditório.

Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016.

Após o ocorrido, uma pessoa, que costuma levar seus cães ao Veterinário, vizinho ao ICKS - Instituto Cultural Kardecista da Santos, por iniciativa própria reinstalou as cordas que mantém os jornais no lugar. Assim que retomamos a distribuição. agradescemos esta iniciativa. O bem sempre vence!