domingo, 23 de abril de 2023

Medo da Morte por Alexandre Cardia Machado

 

Medo da Morte

Os espíritas não deveriam temer a morte, pois a prática do Espiritismo nos permite o contato constante com o outro lado da vida, ou seja, o Mundo dos Espíritos como bem o denominou Allan Kardec. Assim que sabemos que existe apenas uma cortina entre dois mundos.

Nestes meses de verão tive a oportunidade de ler um interessante livro chamado – A morte é um dia que vale a pena viver - Editoria Sextante, de autoria da médica geriatra Ana Claudia Quintana Arantes, presente de minha filha também médica Beatriz. Creio que o li em uma semana, apesar do tema, que sempre nos impressiona, pois mesmo sem termos medo da morte e sabermos que ela virá para todos, a gente tem uma certa aversão ao tema. Ana Claudia nos leva pelos caminhos da morte onde ela é mais comum, nos hospitais e casas de repouso.



A sensibilidade da autora se destaca pelo valor que ela dá à preparação para o momento da morte, anos ou meses antes, se for possível. Dignificando a pessoa humana que está presente e na maioria das vezes consciente deste processo.

A autora do livro de educação cristã se demonstra ao longo da obra por ter adquirido uma visão de mundo budista, que de certa forma se mostra interessante, pois ao menos no que tange os cuidados com a pessoa que se aproxima do fim desta vida guarda muita semelhança com o que médicos espíritas fariam.

Não quero dar spoiler deixo aqui apenas o convite para aqueles que ainda sentem arrepios, só de pensar no tema, para que enfrentem o livro de 222 páginas.

Quero chamar a atenção ao relato interessante do momenta na vida desta médica, quando, tendo de trabalhar muitas horas de plantão, com a irritação que sua vida  provocava, dormindo mal, cheia de problemas, como de certa forma todos nós podemos ter em nossa vida. No entanto ela encontra a sua vocação, talvez do modo mais improvável, num momento de laser, assistindo uma peça sobre Gandhi. Acho que todos que leram sobre a vida deste personagem importante do século XX, podem ter tido um momento em que pensaram, como alguém pode ser assim? Despojado e focado no bem comum. Pois bem, a autora, nas suas palavras nos descreve o momento: “ Fico em pé, olhando Gandhi com minha alma nua. Uma epifania ... Em poucos instantes, eu compreendi o que estava para ser o grande passo da minha carreira, da minha vida. Naquele dia, eu me dei conta de que a maior resposta que eu procurava havia chegado: todo o trabalho de cuidar das pessoas na sua integralidade humana só poderia fazer sentido se, em primeiro lugar, eu me dedicasse a cuidar de mim mesma e da minha vida. Me lembrei dos meus tempos de carola. Me lembrei de um ensinamento importante de Jesus: “amai o próximo como a ti mesmo”. E cheguei à conclusão de que tudo o que estava fazendo pelos meus pacientes, por minha família, por meus amigos era uma imensa, enorme, pesada e insuportável hipocrisia. Nesse dia, fui tomado por uma fortaleza e uma paz que eu jamais imaginei que morassem em mim. Desse dia em diante eu teria a certeza de estar com os pés no meu caminho: posso cuidar do sofrimento do outro porque estou cuidando do meu”. Esta foi a chave que ela encontrou para fazer cada vez melhor o seu trabalho. A passagem de Gandhi, que a fez dar este salto de qualidade em sua vida, é bem simples- em certo momento uma mãe vai ao seu encontro e lhe pede que diga ao seu filho que não coma açúcar, o pedido é muito simples mas a resposta é surpreendente, Gandhi pede 2 semanas para poder ajudar a mãe. Passadas as duas semanas a mãe com o filho retornam e Gandhi por fim dá o conselho ao filho. A mãe agradece, mas pergunta a ele, porque ele precisou de duas semanas e Gandhi reponde, porque eu precisava primeira passar duas semanas sem comer açúcar para depois poder aconselhar.

O insight da médica é claro, como ela poderia aconselhar seus pacientes se não estava fazendo consigo mesma o que ela dizia.

Mas o mais importante, acredito seja que cada um de nós encontre o seu momento, no qual passe a acreditar que possa fazer a diferença primeiro a si mesmo.

Levamos desta vida, com a nossa alma ao mundo dos espíritos, a vida que a gente leva, No Espiritismo aprendemos que devemos trabalhar até o limite de nossas forças, e devemos fazer isto com gosto, em coisas que nos dão prazer e que podemos ajudar a nós mesmos e com isto ajudar os outros.

A Ciência da Alma, como proposto por Jaci Régis dispões com relação a vida, a morte e nossa transcendência o seguinte:

“Devemos desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.

Assim, o Espiritismo pretende equacionar o ser humano essencialmente como uma alma, definindo sua natureza, sua evolução, seu destino, dentro de um conjunto metodológico de reflexão, observação e pesquisa.

A ciência espírita elabora seus princípios a partir de um espaço interexistencial, onde a alma desenvolve sua vida atemporal. Nesse espaço, sem fronteiras definidas, coexistem tanto a matéria concreta quanto as energias que constituem o universo. Ali interagem o mundo corporal e  um plano extrafísico.

 Na verdade, o corporal se insere nesse espaço interexistencial como um hiato onde a alma se exterioriza na sociedade organizada como humanidade em transição permanente, isto é, vida e morte.

Homem - o definirá essencialmente como um ser inteligente - um espírito - atemporal temporariamente ligado a um organismo físico.

Essa atemporalidade sugere que o ser inteligente é permanentemente atual. Ele não é de ontem, nem do amanhã é de hoje. Atemporalidade o define como o ser que vive sua atualidade constante.

A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece. Este ser atemporal não depende de um organismo para ser. Ontologicamente ele é. E vive a sua experiência no nível mental na expectativa de desenvolver potencialidades que lhe são inerentes”.

Como conclusão não devemos temer a morte e devemos sim tentar viver o melhor possível, cuidando de nossa alma imortal.

Se você gostou do artigo, leia mais o Abertura de  março: 

 https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/31-jornal-abertura-2023?download=227:jornal-abertura-marco-de-2023 

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Racismo e o Espiritismo por Alexandre Cardia Machado

 Racismo e o Espiritismo 

 

Da mesma forma que a sociedade, como um todo, passamos pelo mesmo processo de crítica à literatura, é o caso dos grupos antirracistas, que lutam pela revisão da história, este é um fato recorrente mundo afora e não seria o Brasil um caso diferente.


As obras literárias escritas antes da Segunda Guerra mundial estão sendo criticadas e em muitos casos forçadas a serem alteradas. 


Pessoalmente, quando leio um livro dos anos 80, ou assisto um filme desta época, espero encontrar lá um pensamento desta época. Não me parece que seja necessário escrever, numa nova edição, ou na apresentação de um filme " esta obra representa o modo de pensar da época em que foi produzida" isto é óbvio. No entanto isto atingiu obras de Allan Kardec. 





Não é possível mudar o passado e a mente eurocentrista de escritores do século XIX. 


Podemos e devemos sim escrever artigos novos, ou outros livros que tratem destes fatos. Devemos nos declarar e praticar o antirracismo. Mas existem muitas dúvidas quanto à forma revisora na fonte. 

Os jornais ligados à CEPA estão o tempo todo analisando, criticando e mesmo propondo mudanças na visão espírita. A própria CEPA, juntamente com o CPDoc lançaram a série literária - Livre Pensar- Espiritismo para o Século XXI, atualizando o pensamento com os avanços científicos e sociais.  

No entanto, tempos de indignação são assim mesmo. Passa-se aqui e ali do ponto, entendemos que não com a intenção de adulterar uma obra, mas contextualizá-la, portanto, conviver com notas explicativas, em livros, não parece um problema.  


Nos anos 80, Herculano Pires fez isto, ao traduzir os livros de Allan Kardec na LAKE, adicionou uma série de notas explicativas, não o fazia na forma de revisão, mas sim com o intuito de esclarecer, ou mesmo trazer para o português coloquial do fim do século XX alguns aspectos que podem trair o leitor.

 

Entretanto é inequívoco que Allan Kardec teve sim uma visão científica equivocada na questão dos indígenas e africanos, algo que nós chamamos a atenção, talvez pela primeira vez, já em 1997 no V Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Cajamar -SP, no trabalho “O ser humano e a evolução, uma análise pré-histórica”, não por menos este artigo é o mais acessado no blog do ICKS. https://icksantos.blogspot.com/2011/12/o-ser-humano-e-evolucao-uma-analise-pre.html. Parte deste texto está incorporado em nosso livro – Uma breve história do Espírito - num capítulo de mesmo nome. 

 

“A posição de Kardec, ... os selvagens também fazem parte da humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral”. (Gênese,1868) 
 
A utilização de técnicas genéticas - ... Com relação às raças existentes atualmente, comparando as amostras coletadas dos mais diversos grupos étnicos, os cientistas verificaram serem pequenas e triviais as diferenças entre as raças. “A cor da pele, por exemplo, é resultado de mera adaptação ao clima – negra na África, para se proteger do sol forte; branca na Europa, para facilitar a absorção dos raios ultravioleta, que ajudam a produção da vitamina D.” (Revista Superinteressante, setembro de 1988). O que nos leva, portanto, a crer que, antes da expansão do homem moderno os nossos ancestrais comuns eram todos negros. (Celso Lima, A Evolução Humana 1990) 


 

Todas as experiências feitas até hoje com seres humanos de diversas origens jamais conseguiram demonstrar a superioridade racial de qualquer tipo sobre os outros, qualquer ser humano, dispondo de condições semelhantes de alimentação e educação, apresentará resultados médios semelhantes em quaisquer testes psicológicos. É evidente que a comparação direta entre um europeu com um índio semicivilizado do interior da Amazônia, dentro de critérios desenvolvidos por europeus demonstrará uma superioridade muito grande a favor dos europeus, mas o inverso ocorrerá se colocarmos um europeu no meio da selva amazônica. 

 
O racismo é uma criação recente, surgida com os grandes descobrimentos, quando por razões econômicas iniciaram-se as escravidões em massa de negros e índios, no século XVI.  

 

Claro está que os seres humanos brancos, de olhos azuis, são oriundos dos primeiros homens modernos, que eram africanos e de pele negra e que as diferenças na inteligência e na posição social ocupada pelas diversas raças, se originam de sua história natural e não da sua história biológica. Somos todos da mesma família originária há 150 mil anos. 

 
O conhecimento sobre este tema avançou infinitamente, com relação ao que se pensava então, em meados do século XIX. Tanto Allan Kardec como qualquer outro estudioso daquele tempo pensariam da mesma forma na sua época.  

 

Isto é mais uma evidência de que precisamos atualizar o conhecimento, principalmente na forma de produção de conteúdo novos e não revisando obras antigas, pois elas em muitos aspectos estão superadas como não poderia ser diferente. Einstein não revisou Newton, simplesmente apresentou uma nova teoria da relatividade. Seguimos estudando as leis de Newton, naquilo nas quais as mesmas se aplicam perfeitamente, quase ninguém estuda Newton na fonte, razão pela qual não se faz necessária nenhuma alteração na mesma. 

 

Por outro lado, defendendo a tese de que Kardec não era racista estrutural, lá atrás no século XIX ele ressaltava que "na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade". Uma ideia muito além de sua época. 



 Extraído do editorial do Jornal Abertura de abril de 2023.


Para ler o exemplar do jornal, clique abaixo é grátis e seguro:


https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/31-jornal-abertura-2023?download=230:jornal-abertura-abril-de-2023



terça-feira, 18 de abril de 2023

17° Fórum Espírita Livre-Pensar da Baixada Santista - semana do lançamento do Livro dos Espíritos

 

17° Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista

 

Ocorreu com bastante participação das casas espíritas ligada à CEPA a décima sétima edição, no sábado 15 de abril, os Fóruns sempre são realizados próximo do dia 18 de abril, que neste ano estamos comemorando 166 anos do lançamento da primeira edição do Livro dos Espíritos.

Após dois anos onde os fóruns se realizaram de forma virtuais, em decorrência da Pandemia de Covid, pudemos nos reunir nas dependências do CEAK – Centro Espírita Allan Kardec de Santos. Estiveram presentes mais de 50 pessoas para conversar sobre  o tema “ Reflexões sobre o Amor”.

O evento constou de uma abertura feita pela presidente do CEAK, Sandra Lia Chioro dos Reis e do coordenador do evento Jaílson Mendonça, logo seguida de uma apresentação do coral Integrasom, formado por espírita de várias casas espíritas de Santos, sob a regência de Sandra Régis.








 Inicialmente os participantes foram divididos em grupos, numa oficina, para discutir o que é o amor sobre a ótica espírita, três grupos receberam uma pergunta em comum e duas distintas. A pergunta em comum era: “É possível amar o outro como a ti mesmo?”. Foram 30 minutos de discussão, seguido das apresentações.










Na segunda parte, três convidados falaram 15 minutos sobre os seguintes temas:

Ricardo de Morais Nunes – O Amor a partir da Filosofia e do Espiritismo



Alexandre Cardia Machado – A delicada questão do sexo e do amor

 


Alcione Moreno – O amor nas relações humanas.

 








Após as apresentações houve um debate com os presentes no evento, seguido das considerações finais. Ao término foi oferecido um lanche a todos.

Foi um encontro feliz de muita amizade, integração e amor!