Mostrando postagens com marcador Artigos de Carolina Régis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artigos de Carolina Régis. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

O Luto por Reinaldo di Lucia e Carolina Régis

O Luto 

        Muito se fala, especialmente nos dias atuais, sobre a importância do luto, da vivência do luto como algo necessário para que consigamos seguir em frente após as perdas que vivenciamos em nossa caminhada encarnatória. 

        Esse foi precisamente o tema da discussão de um grupo de amigos espíritas no último mês. Não há como negar que o luto é inevitável. A perda dos entes queridos é um dos momentos mais dolorosos na vida de qualquer pessoa e não há como não sentir esta dor. Muitas vezes, ela dura por períodos excessivamente longos, podendo dificultar ou mesmo impedir que a pessoa continue sua vida normalmente. Por isso se diz que o luto deve ser vivido, sentido, trabalhado e, finalmente, superado. 

        Quanto tempo isso leva? Depende de cada um, obviamente. Mas deve ser um tempo que possibilite que o ser que o vive retome, ainda que gradualmente, sua vida – que não será a mesma, mas deve continuar com mais conhecimento e serenidade.

         Agora, como o espírita encara o luto? Porque, sem dúvida, a Doutrina Espírita nos coloca em uma condição diferente, uma vez que nos apresenta uma visão de mundo diferente, baseada na continuidade da existência do ser. E é aí que a coisa começa a ficar complexa. Principalmente porque, com a tendência dos seres humanos de uniformizarem os sentimentos e acharem que todos devem sentir as coisas da mesma forma, acabam padronizando o luto: “Ah, mas você é espírita, não é? Sabe que a vida continua, não precisa ficar desse jeito...”. – Porquê não? Vejo o luto como uma profunda saudade da presença, do toque, do olho no olho. A falta do contato, da conversa, da convivência. 

        Talvez seja mais que simplesmente saudade, já que a saudade pode normalmente ser sanada com uma visita ou um telefonema. Mas a ausência, essa permanece. E dói. Muito. Eis o luto. Ah, dirão, isso passa. Não nos iludamos, meus amigos. Não passa jamais. Diminui, sim, a um ponto em que conseguimos seguir em frente – de uma maneira quase normal. Mas ela, a dor, a saudade, a falta, sempre estarão lá. 

        E o que podem os Centros Espíritas fazer para, de alguma forma, ajudarem as pessoas a passar por essa fase? Penso que o primeiro passo é entenderem que a acolhida é fundamental – entender, empaticamente, o que as pessoas em luto estão sentindo é um primeiro passo essencial para essa ajuda. Mas, por melhor que seja a intenção, só ela não basta (de boas intenções ... lembram?). É preciso uma capacitação, algo mais profissional, para que possamos, com firmeza e doçura, estar ali para aquela criatura. E assim ajudá-la a passar por esta fase. 

        E vocês, amigos leitores? O que pensam sobre o luto e o Espiritismo? Mandem comentários. Gostaríamos muito de saber a visão de vocês.

        Deixem os seus comentários aqui no blog.

Este artigo foi publicado no jornal Abertura de outubro de 2019, agora disponível online.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=210:jornal-abertura-outubro-de-2019


quinta-feira, 2 de julho de 2020

O criacionismo com novo fôlego - Carolina Regis di Lucia Reinaldo di Lucia

O criacionismo com novo fôlego
 

Ah, esta nossa vida. É engraçado como as coisas são cíclicas, não é? A moda, os costumes ... Até a tecnologia – não é à toa que os discos de vinil, os famosos “bolachões”, estão encontrando novamente o seu lugar ao Sol.

Também é assim com as teorias que buscam explicar o mundo. Desde que Darwin e outros cientistas estabeleceram a Teoria da Evolução como sendo a forma mais provável pela qual a vida e o homem apareceram na Terra, os adeptos do criacionismo (Deus como criador, ao invés da evolução) sentem-se fortemente ameaçados. E, obviamente, reagem. Por exemplo, em 1925, no Estado do Tennessee, nos Estados Unidos, foi promulgada uma lei que estabelecia que o professor que ensinasse qualquer teoria contrária à bíblica, seria preso. Dirão, porém: vivemos novos tempos, o obscurantismo está acabado, a razão e a ciência triunfam. Será?

No final de janeiro passado, foi nomeado um novo presidente da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A CAPES é uma das principais agências de fomento à pesquisa no Brasil. Ligada ao Ministério da Educação, teve uma redução orçamentária de quase 50% para 2020 – e olhe que em 2019 já havia reduzido significativamente o número de bolsas. Certamente é um ataque, de dentro, contra tudo o que o Brasil consegue produzir de positivo no âmbito da pesquisa. Em outras palavras, estão acabando, cada vez mais rápido, com o ensino superior.

Ocorre que o sr. Aguiar Neto é um defensor do design inteligente, uma repaginação pseudocientífica do criacionismo. Sendo reitor de uma Universidade religiosa (presbiteriana) isso talvez não surpreenda. E, enquanto se mantiver como opinião pessoal ou, no máximo, com política de sua universidade privada, poderia ser aceitável.

O problema é que, na posição em que agora se encontra, pode interferir na produção científica do país, por exemplo, coordenando a negativa de bolsas para pesquisas que não estejam de acordo com suas opiniões. Ora, dirão, como já ouvi dizerem, não se vai definir a política científica do país por causa de uma opinião pessoal. Mas a opinião não é só pessoal - é a da bancada evangélica, que se torna mais abundante e poderosa a cada eleição.

Mas tudo o que é ruim pode ficar pior. No final do ano passado, Aguiar Neto afirmou, no site da própria universidade, que deseja disseminar esta teoria na educação básica, como um “contraponto” à ideia da evolução.

Fico me perguntando o que os espíritas pensam disto tudo. Afinal, apesar de a evolução ser um dos princípios básicos do Espiritismo, a primeira questão do Livro dos Espíritos afirma que Deus é a causa primária de todas as coisas, ou seja, temos algo de criacionista em nossa doutrina.

Sempre fui a favor da liberdade de pensamento e de expressão. Exatamente por isso é que não se pode permitir que nossas crianças tenham tolhidas o seu direito ao conhecimento. Porque a intolerância, seja ela política, religiosa ou de qualquer outra fonte, não se dá por satisfeita até que só haja uma única forma de pensar.


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O maior desafio do Espiritismo é o próprio Espírita por Carol e Reinaldo di Lucia


O maior desafio do Espiritismo é o próprio Espírita - por Carol Regis di Lucia



Rodando pelos posts do Facebook pouco antes de dormir, apareceu uma atualização do perfil da Associação Espirita Mensageiros da Luz que não pude ignorar: era a escultura de um homem puxando uma carroça com dificuldade, tendo em cima sua própria cabeça, desproporcionalmente imensa. A legenda dizia: Nosso Ego é Nosso Fardo.



Fiquei pensando em tudo o que aquilo significava, especialmente vindo de um meio de comunicação Espírita. Me veio a sentença: o maior desafio do Espiritismo atual é o próprio Espirita e suas questões consigo mesmo. Antes de pensarmos em como resolver a falta de quórum, a questão da sucessão nas casas, os temas a abordar em grades de estudos (atualizar ou não), os modelos de comunicação para as novas gerações, precisamos re-conhecer os Espíritas.

Que algo aconteceu, e continua acontecendo, não há como negar. São depoimentos, observações, textos, impressões de diversos locais e culturas diferentes, no sentido de que o Espírita e a dinâmica doutrinária aplicada à prática já não é mais a mesma de antigamente. Obviamente, e não poderia ser uma vez que tudo muda, os tempos são outros, o mundo é absolutamente diferente da geração dos pais e avós Espíritas que fundaram os centros. O preocupante é que a conclusão de que essas mudanças não foram as ideais, como eram esperadas, não geraram os frutos pretendidos pelas gerações anteriores, reflete uma angústia quase paralisante nos frequentadores e dirigentes.

Cabem aqui as questões há tempos levantadas: evasão de frequentadores, politização do movimento, temas esgotados pela não atualização, ausência de núcleos jovens e infantis, baixo quórum de trabalhadores, sobrecarga dos atuais gestores, entre outras. Planos de melhoria, discussões, boas intenções não faltam no sentido de sanar grande parte desses entraves. Porém, todos se originam de análises externas, olhos que veem para fora e enxergam no outro e em ações programadas a solução do futuro do Espiritismo que queremos. Mas qual é o Espiritismo que queremos?  Quem são os Espiritas que queremos? Quem somos como Espiritas em 2019?
Filosofia que cuida do Ser, da alma, do Ente, o Espiritismo tem como ponto focal o Espírita. E este não sabe quem ele é. Está perdido na rotina do trabalho, do dia a dia, dos afazeres infinitos.

O Espirita não está conseguindo posicionar-se, encontrar o meio para ser Espirita e tudo o que isso implica: estudo, participação, dedicação, tempo. E o cenário onde ele vive impacta diretamente nessa condição indefinida em que se encontra, especialmente aqui no Brasil.

O país vive à flor da pele, uma epidemia de malemolência ética, onde hoje tudo pode, amanhã tudo é vetado. Os brasileiros sofrem de uma frouxidão moral momentânea, resultado de uma tomada de consciência politica e social inédita em um país historicamente paternalista. E como adolescentes no auge das mudanças, não sabem exatamente como agir, burlam regras, falam o que querem, experimentam novidades inconsequentemente. E nesse momento aparecem as fragilidades de cada um: falta de respeito ao próximo, ausência de sentimento de pertencimento, individualização exacerbada, busca pelo sucesso social atrelada à paradoxal falta de comprometimento geral. Impossível estar imerso nessa realidade e não ser abalado de alguma forma.  E o grande desafio é esse: tocar as pessoas de forma que elas reencontrem a si mesmas, refaçam o link da importância do Espiritismo em suas vidas.
E é nesse momento que o Espiritismo e os centros devem focar no retorno ao objeto principal: o Espírita. É papel deles trazer as origens de volta, de forma adaptada à cultura atual. Olhar para cada um, envolver-se genuinamente com cada participante, ajudar ao outro efetivamente, essencialmente. Talvez por isso as casas com cunho assistencialista ou com atividades relacionadas ao tratamento físico/espiritual tenham muito mais gente engajada, doando seu tempo à causa, ao estudo, ao próximo.  O grande desafio é ajudar os Espiritas a reposicionarem a cabeça no corpo, tirarem o ego da carroça, retomarem e inserirem a doutrina em suas rotinas, para que efetivamente torne-se prática nas demais instâncias do Ser.

Se o ego é nosso fardo, o Espiritismo deve ser nossa bússola. O Espirita precisa ver na doutrina o instrumento orientador nesse tumulto existencial momentâneo. E será a partir desse guia que poderemos retomar o curso, aprofundar os ensinamentos, retornar às origens repaginados.

Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2019 

Quer ler o jornal completo?



Refletindo sobre: o maior desafio do espírita é o próprio Espiritismo - por Reinaldo di Lucia

Na coluna do mês passado, Carol lançou-nos um desafio: como ressignificar o Espiritismo de modo a torná-lo, em suas palavras, “o instrumento orientador nesse tumulto existencial momentâneo”.
O grande desafio é como fazer isso, isto é, como, a partir de uma doutrina cuidadosamente construída há 150 anos, transformá-la para atender aos anseios e necessidades de uma sociedade que já se diferencia bastante daquela na qual o Espiritismo surgiu.

Ao analisarmos a história do surgimento dessa filosofia que vem, por todo este tempo, ajudando as pessoas com uma concepção de Universo positiva, humanista e progressista, percebemos que ela surgiu devido a uma necessidade social ou, pelo menos, de uma parte daquela sociedade. Naquele tempo, a Igreja desmoronava com os estertores da Inquisição e, assim, perdia cada vez mais tanto o poder temporal  quanto o religioso, já não conseguindo ser a bússola que as pessoas necessitavam. Por outro lado, a ciência, fonte legítima do conhecimento, não se preocupava com problemas que escapassem de suas rígidas limitações de objeto e método. Havia uma lacuna, bem grande por sinal.

Nesse campo, fértil de oportunidades, surgiu uma filosofia que se propunha a oferecer uma nova visão de homem e de mundo. Cresceu porque respondia àquelas necessidades humanas de conhecimento e consolação. Naquele tempo, o futuro parecia promissor, e a filosofia positivista, tanto quanto a espírita, previam que a evolução traria ao homem a felicidade e tranquilidade tão desejadas.
Infelizmente, isto não ocorreu. De lá para cá, tivemos duas guerras mundiais, vários conflitos locais e o retorno, 150 anos depois, de ideologias extremistas, como o neofascismo. A sociedade está cada vez mais polarizada, maniqueísta. Vivemos a época do “nós contra eles”, do 8 ou 80. Parecemos crianças que perguntam se tal pessoa é “do bem ou do mal”, ignorando a enorme complexidade e as múltiplas gradações que existem. Pensamos no preto ou branco, fechando os olhos ao fato que a vida é um composto de inumeráveis tons de cinza.

O que se observa na sociedade em geral repete-se no meio espírita. É triste vermos que, mesmo em nosso meio laico, livre pensador e humanista, não conseguimos nos livrar desta polarização. Não seguimos pelo caminho do meio, não primamos pelo equilíbrio, não praticamos a alteridade – seguramente um dos maiores pilares da ética espírita. Ao contrário, nos atacamos mutuamente, com uma dose de violência absolutamente contrária aos princípios espíritas.

Temos agora que realizar o processo inverso da época da criação da Doutrina Espírita, isto é, partir de uma visão de mundo já consolidada, visão esta que nos mostra o caminho de uma atuação ética no mundo em que vivemos, para retomarmos a importância do Espiritismo em nossas vidas. E isto numa sociedade em que a valorização do capital é maior que a do homem, em que o consumismo alcança patamares estratosféricos (mas em consonância com o estilo neoliberalista de viver), enfim, uma sociedade que valoriza muito mais a informação rasa das redes sociais ao conhecimento aprofundado do estudo sério e consistente.

O Espiritismo precisa voltar a ser a bússola ética do espírita. É imprescindível que nós espíritas compreendamos que precisamos viver como espíritas, praticando a alteridade, compreendendo as nuances do nosso cotidiano e nunca esquecermos que não somos donos da verdade, que podemos estar errados e que só crescemos no confronto respeitoso de ideias.

Artigo publicado no Jornal Abertura de agosto de 2019

Quer ler o jornal completo?


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O Espiritismo aos 90 anos por Carolina Regis


O Espiritismo aos 90 anos

“A doutrina salvou minha juventude, não fosse ela eu não sei como seria”.

Ivon Régis e Mauricy Silva

Essa é a frase que ouço desde muito pequena, sempre dita com gratidão e verdade por um Espírita de berço, de vida e ideal. Tenho a sorte de ter Ivon Régis como meu avô, mas qualquer um que o conhece – de Santos a Florianópolis – reconhece os valores doutrinários arraigados em sua personalidade, seus atos e seu sorriso que há 90 anos é distribuído gratuitamente, a quem precise. E tantos já precisaram...

Não sei quais os perigos e desvios que um jovem da década de 30 poderia enfrentar, quando comparados aos adolescentes atuais e o mundo moderno. Mas sejam quais fossem, era o Espiritismo que balizava e norteava os 7 irmãos Régis: Jaci, Egidio, Ivon, Arnaldo, Francisco, Albertina, Lucy. E é assim que permaneceu durante toda a vida – alguns permanecem contribuindo com a doutrina no Plano Espiritual, outros por aqui.

Fazendo aniversário no meio do mês do meio do ano, como ele costuma dizer, em 2018 Ivon completou 90 anos e o mais impressionante não é a aparência 10 anos mais jovem, nem a disposição para montar em uma bicicleta e sair rodando pela cidade. O incrível é que a Doutrina segue inabalável, diária, com a mesma lucidez da juventude, quando da fundação da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, das Campanhas Auta de Souza, do Centro Espírita Allan Kardec. Esse jovem de 90 anos é a prova de que, realmente, uma vez “Meeviano Sempre Meeviano”; um o exemplo prático da vivência doutrinaria cotidiana, fraterna.

Ivon Régis não se tornou conhecido nos círculos Espíritas pela eloqüência, por grande obras, por palestras inspiradoras, livros emblemático, idéias inovadoras. Ele é o Espirita obreiro, trabalhador, de bastidores, da rotina da casa Espirita. Contador de formação, até mês passado assinava os balancetes do CEAK com o rigor moral de que “o dinheiro dos outros vale o dobro”. E por décadas abria a casa para as palestras de 3ª e 4ª feira, recebendo os novos freqüentadores, cobrando mensalidades, cuidando do patrimônio. Espiritismo na prática, nos atos, nos abraços, como deve ser.

Sua companheira de 66 anos de casamento partiu 5 dias após as comemorações de aniversario. Ele estava lá para lhe oferecer o ultimo passe energético, as orações de apoio, chamar pela equipe que a vida inteira os apoiou. Por mais doloroso que seja, ele tem a certeza de um reencontro, da continuidade, da vida nova que a espera. E sua Doutrina “salvadora” o mantém de pé, forte, mais do que nunca. Olho pra ele e penso: O Espiritismo resiste há 90 anos.

Certa vez, meu avô me disse: “Faça pela obra, pelo ideal. Continue fazendo, não importa a quem”. Nesse dia, algo de seu DNA Espírita invadiu meus ideais, salvou minha juventude. Como uma herança passada de pai para filho, de avô para neta. E de Ivon para tantos que por ele passaram e ainda passam e foram contagiados pela alegria, pelo carinho, pelo genuíno amor pela vida e pelas pessoas, por Kardec, sempre na prática.