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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Gente que Faz - Maestro João Carlos Gandra da Silva Martins História de superação: por Alexandre Cardia Machado

 

Maestro João Carlos Gandra da Silva Martins História de superação:

João Carlos Gandra da Silva Martins é um pianista e maestro brasileiro. Seu trabalho como pianista é reconhecido mundialmente, especialmente suas gravações das obras de Bach. É irmão do jurista Ives Gandra Martins e do pianista José Eduardo Martins. Nasceu em 25 de junho de 1940, tendo no momento 79 anos.

Retiro dados de uma reportagem da revista IstoÉ: Desde 1998, uma doença e vários acidentes foram comprometendo as mãos do maestro João Carlos Martins, a ponto de fazerem com que ele parasse de tocar piano. A despedida, porém, não foi definitiva — graças a luvas especiais, os dedos do aclamado músico puderam reencontrar as teclas.

“Minha luta se tornou ainda maior quando percebi o reconhecimento do meu passado na imprensa internacional”, disse Martins à AFP durante entrevista no seu apartamento em São Paulo, antes de tocar algumas notas em seu piano Petrof.

A motivação foi recompensada. Prestes a completar 80 anos, Martins comemorará em outubro os 60 anos da sua primeira apresentação no Carnegie Hall, um concerto em Nova York.

 “Sou perfeccionista. João Gilberto e eu, a gente dava se muito bem, um pior que o outro”, brinca o maestro, em referência a conhecida meticulosidade do pai da Bossa Nova.

Em seu caminho há dores e glórias. Martins enfrentou as consequências de uma distonia focal, uma enfermidade neurológica que altera as funções musculares, diagnosticada quando tinha apenas 18 anos. Além disso, machucou o cotovelo em um acidente durante uma partida de futebol e foi golpeado na cabeça durante um assalto na Bulgária.

À medida que seus dedos foram enrijecendo, ele foi renunciando ao piano. Há duas décadas passou a tocar apenas com a mão esquerda, mas aos poucos o movimento se tornou limitado aos polegares. Com todas estas limitações passou a se dedicar à regência.

A mão biônica

Certo dia o designer de produtos Ubiratã Costa, após ver uma entrevista do maestro, apareceu em seu camarim com um par de luvas e a esperança de poder devolver algo de alegria ao lendário músico.

“As luvas não serviram, mas o convidei para almoçar”, disse o pianista, e a partir dali Costa começou a desenvolver novos protótipos.

As luvas, que combinam Neoprene e peças feitas em impressora 3D, passam por constantes adaptações.

“Já perdi a conta de quantas fiz”, relata o designer.

De forma carinhosa, Martins conta que “antes de aparecer esse maluco com essas luvas”, sua rotina consistia em acordar à 5h30, ler os jornais, comer dois ovos fritos e memorizar partituras, já que a sua condição não o permite passar as páginas durante a música. O maestro sabe de cor cerca de 15 mil partituras.

Agora, por causa dessa tecnologia e de um robô desenvolvido na Europa para conseguir passar as páginas das partituras, poderá voltar a fazer o que mais ama: tocar piano.

No programa do dia 29 de fevereiro de 2020 – Altas Horas da TV Globo, o maestro relatou que se surpreendeu, após conseguir tocar piano com os 10 dedos, depois de 20 anos, em janeiro de 2020. Esta notícia saiu em 158 órgãos de imprensa no mundo todo e porque não dizer, 159 contando o nosso ABERTURA. No mesmo programa o maestro tocou a música “A lista de Schindler” de John Williams que ele fez questão de tocar para marcar os 70 anos da libertação dos judeus do campo de concentração de Auschwitz onde o maior número de judeus foi morto em câmaras de gás.

Projetos sociais

O pianista gostaria de trazer para o Brasil uma versão do programa venezuelano “El Sistema”, do maestro José Antonio Abreu, que trouxe esperanças a milhares de crianças pobres e de classe média.  “Tudo foi gratificante na minha carreira como pianista e maestro, mas tem um buraco aqui: tentar deixar um legado, e tentar deixar um legado é o projeto ‘Orquestrando São Paulo, Orquestrando Brasil’, como intitulei ‘El Sistema’ no Brasil”, diz Martins, que resume sua trajetória como “uma vida baseada em ideais”.

O maestro não é espírita, mas é sem sombra de dúvidas um idealista, trabalhador incansável e um apaixonado pela música. Certamente uma mente plural e desprendida. Um grande Espírito.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Politica e Fé não se misturam - Carolina Regis di Lucia e Reinaldo di Lucia


Politica e Fé não se misturam

Há duas décadas, também em período eleitoral, um grande companheiro de Espiritismo lançava-se no cenário politico local. Eu estava na Mocidade e acompanhava o apoio de todos à sua empreitada, certos de que era uma opção acertada e ética a votar. Até que comecei a ver santinhos do candidato no mural do centro e uma discussão sobre trazê-lo para falar aos jovens em uma de nossas reuniões... Aquilo me pareceu estranho, de certo modo até errado, mas, com a maturidade em formação na época, não sabia elaborar perfeitamente o que sentia. Lembro que havia recém convidado duas amigas não espiritas para frequentar o grupo e receava o que elas iriam pensar, vendo uma casa para estudo da Doutrina, estar claramente apoiando, divulgando e incentivando o voto em um candidato interno. Quando da votação sobre trazê-lo ou não para o grupo, fui a única contrária, expondo que não achava correto propaganda politica dentro do centro, de quem quer que fosse. Algumas pessoas ficaram chocadas com meu posicionamento, afinal, era diretor da casa, de moral inquestionável, que faria a diferença na política da região. Outros não entendiam o porquê da casa não poder apoiar um candidato conhecido. Porém, apesar de ser minoria, meus questionamentos foram incômodos o suficiente para que os santinhos saíssem dos murais e o evento não acontecesse. Em tempo, o candidato não alcançou os votos necessários e jurou que nunca mais se meteria com política – desgostoso do que encontrou nos bastidores eleitorais.

Vinte anos após esse episódio, já tenho alguma bagagem a mais para poder afirmar que política e fé não devem se misturar oficialmente. Haja vista o caos social desta eleição: nas redes sociais, mesas de bar, nos almoços e encontros de trabalho e nas manifestações populares são observadas toda a imaturidade do brasileiro em, não apenas discutir política – assunto que absolutamente não dominamos - , mas no direito básico e intrínseco do outro em pensar diferente. Parentes, amigos antigos, colegas e completos desconhecidos, com a tradicional paixão latino americana, se agridem, se humilham, cortam relações pelo simples fato de não aceitarem a escolha eleitoral do outro.
Aceitemos: o brasileiro ainda é analfabeto politico. Sequer entende o próprio sistema de governo, escolhe o candidato por frases e ideias soltas, como se fossem personagens de vídeo game com poderes ilimitados para salvar um país afundado por anos e anos de.... analfabestimo político. A mistura deste campo, ao campo da fé é uma combinação inevitavelmente explosiva e nociva. Exemplos claros são as bancadas já constituídas parlamentares-religiosas, exemplos fanáticos e opressores de voto vicioso de seus fiéis, impedidos de poderem exercer a livre escolha dos candidatos oprimidas pelo argumento religioso.

E as maiores decepções desta eleição, repleta de episódios desagradáveis, foram os manifestos Espíritas e, pasmem, auto intituladas Livre Pensadores, contrários a este ou aquele determinado partido. Chegou-se ao auge da alucinação em afirmar que Espíritas, principalmente os Livre Pensadores, não deveriam votar em X candidato, por motivos Espíritas. Que contraditória a afirmação que um livre pensador de Kardec, por ser livre pensador de Kardec, não deveria votar em X candidato... A que ponto paradoxal a cegueira causada pela imaturidade Espirito-Politica chegou?

Em nossas ultimas filosofias, batemos na mesma tecla de que o Espírita deve vivenciar a Doutrina, não apenas a estudar. Os atos diários, a pratica, o lidar com o outro nas questões sociais são os fatores determinantes da Espiritualidade de alguém, não apenas o que ele lê, o que prega nas palestras, o cargo que ocupa nas casas. E esta eleição expos claramente o hiato existente entre o Filósofo Espirita (profundo conhecedor da doutrina) e o Praticante Espírita (que transpira seus valores éticos em suas ações). O Espírita, assim como qualquer cidadão, tem o direito de votar em quem ele acredita ser o melhor representante de suas ideias para governar a sociedade em que ele está inserido. Se, avaliando as argumentações do candidato, ele como eleitor acredita que se aproximem do que a Ética Espírita propõe, que vote em quem escolher.

Minha maior preocupação é que, talvez, o despreparo histórico para a política impeça esse eleitor Espirita de fazer essa ponte avaliatória entre a ética Espírita e a ética Politica proposta por esse ou aquele partido/candidato. Em geral, as avaliações são feitas isoladamente, olhando em separado, o cenário político, do cenário Espirita. Não há o cruzamento da Ética Espírita com as propostas dos futuros governantes a ponto de realmente embasar a escolha com um arcabouço de valores daquele individuo, escolhendo os políticos que irão governar a todos ao seu redor.
E essa escolha final deve ser particular, individual, fora dos bancos das casas Espiritas. Pelo simples fato de que não temos maturidade para lidar com ambas as questões ao mesmo tempo. E, ainda que tivéssemos, teríamos que ter, sobretudo, alteridade o suficiente, responsabilidade o suficiente e discernimento o suficiente para sair do centro sabendo que, ainda que a maioria julgue tal candidato ou partido melhor, eu posso escolher qualquer outro, sem prejuízo das amizades, sem julgamento moral, sem perder o vinculo com o grupo. Jovens políticos que somos não temos essa capacidade ainda.

 publicado no jornal ABERTURA em outubro de 2018

segunda-feira, 16 de abril de 2018

A mulher, seu dia, seu mês, sempre mulher! Na Ótica Espírita - por Alexandre Cardia Machado


A mulher, seu dia, seu mês, sempre mulher!
Um pouco de história: O Dia Internacional da Mulher é celebrado em 8 de março. A história de lutas por direitos iguais inicia-se no século XIX, é sustentada por movimentos socialistas na europa e Estados Unidos durante a primeira metade do século XX e finalmente é reconhecida pela ONU, na década de 70, no ano de 1975. Foi designado como o Ano Internacional da Mulher e o dia 8 de março foi adotado como o Dia Internacional da Mulher.. Seu objetivo é lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, religiosas, culturais, econômicas ou políticas.
Transcrevo um texto que não tem autor identificado, do blog espírita “ letraespírita”
“A história do empoderamento feminino é mais antiga do que você pode imaginar. Diferente do que muitos pensam, não é uma causa de uma pessoa ou organização. Empoderar uma mulher engloba tudo o que qualquer pessoa pode fazer para fortalecer as mulheres e desenvolver a igualdade de gênero nos âmbitos onde as mulheres são a minoria.

Este artigo foi publicado no jornal ABERTURA de março de 2018: Baixe aqui!



Quais são os 7 princípios do empoderamento feminino?

Desde 2010, existe um documento chamado “Os Princípios de Empoderamento das Mulheres”, lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para mostrar às empresas e comunidades como dar poder para as mulheres”.  As notas entre parenteses são do autor deste editorial:

“1. Estabelecer liderança corporativa, no mais alto nível, com sensibilidade à igualdade de gênero; ( O Livro dos Espíritos já antecipava isto ainda no meio do século XIX, em 1857)
2. Tratar todas as pessoas, independente do gênero, de maneira justa no ambiente de trabalho, com respeito e apoio aos direitos humanos e à não discriminação; (alinhada com o pensamento Espírita)
3. Garantir saúde, bem-estar e segurança para todas as mulheres e homens que fazem parte de uma organização profissional; (Lei de Igualdade)
4. Promover a educação, o desenvolvimento profissional e a capacitação a todas as mulheres; (medida esta universal, não cabendo somente à mulher)
5. Apoiar o empreendedorismo feminino e promover políticas que deem poder às mulheres por meio de cadeias de suprimento e marketing;
6. Promover a igualdade de gênero, por meio de ações direcionadas à comunidade e ao ativismo social;
7. Medir e documentar os progressos de qualquer empresa na promoção da igualdade de gênero. (grandes empresas, especialmente as multinacionais, costumam ter algum tipo de valorização forçada para minorias, mulhers, negras, latinas etc, como forma de diminuir a desigualdade)”
Mais detalhes sobre o empoderamento da mulher podem ser encontrados no link:
Qualquer artigo espírita sobre a mulher nos dias atuais deveria abordar pelo menos os seguintes assuntos: igualdade de direitos; igualdade de rendimentos, onde hoje vemos a mulher inserida em todas as profissões; igualdade de raças e em especial  o crescimento da valorização da mulher negra e de outras minorias; os abusos contra a mulher;  o papel da mulher na política e a participação da mulher no Movimento Espírita. O Espiritismo não pode se furtar desta discussão, que afeta 50% dos espíritos encarnados.
Não é concebível que ainda existam preconceitos quanto a capacidade da mulher, eles erram e acertam como os homens, hoje temos a presidência do Supremo Tribunal Federal, nas mãos da Ministra Carmen Lúcia, já tivemos uma presidente mulher eleita duas vezes, temos comandantes de navios, embarcadas em submarinos, médicas, engenheiras, presidindo casas espíritas enfim em todas as atividades possíveis e imagináveis.
Este jornal, como demonstrado no 15° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, sempre debateu as questões que afetam o emponderamento feminino, ainda, claro, sem conhecer este termo.
Viva a igualdade!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Gente que faz - O grave problema do suícidio e Jacques Conchon - por Roberto Rufo

Gente que faz - O grave problema do suícidio e Jacques Conchon ( Português e em Espanhol)

" Não desista. Geralmente é a última chave no chaveiro que abre a porta " ( Paulo Coelho )..

Suicídio, um transtorno que vem afetando cada vez mais os jovens brasileiros, de acordo com pesquisas realizadas pela (SIM), Sistema de Informações de Mortalidade. A taxa de mortalidade aumentou 10% de 2002 para 2014, e a maior causa é a depressão com os traumas sofridos ao longo da vida. 

Repetimos que a depressão está ligada diretamente com algum trauma  vivido que leva à não aceitação de si mesmo e do próximo. Isso  acaba alavancando o número de suicídios. Segundo os especialistas nessa área, quando uma pessoa é querida e tem uma boa interação com a sociedade isso causa um bem estar social que é o fator primordial para a vida. Traz tranquilidade no ato de viver. Para essa interação é essencial o afeto dos familiares e uma boa convivência com amigos. Dessa busca o caminho para a felicidade é mais fácil de ser trilhado.

Em artigo da escritora Dora Incontri de nome Suicídio - a visão espírita revisitada, cita a preocupação de Kardec com esse tema assim explanado no referido artigo:

" O suicídio é tema recorrente na maioria dos 12 volumes da Revista Espírita, demonstrando que Kardec tinha uma grande preocupação com o assunto. Em julho de 1862, escreve um artigo intitulado Estatística dos Suicídios, fazendo uma análise sobre o aumento dos suicídios na França, e procurando apontar as causas, lamentando que não existam pesquisas a respeito. Hoje, há essas pesquisas em todo mundo. Entre as que Kardec reconhece em seu tempo estavam as doenças mentais, problemas sociais, e sobretudo, o avanço do materialismo e a falta de perspectiva existencial. O artigo continua muito atual e revela bem como Kardec procurava abordar as questões, abrangendo todos os seus aspectos e procurando soluções educativas e preventivas. Para ele, a maior prevenção possível para o suicídio seria o conhecimento seguro e com contornos mais precisos da vida pós-morte, que o Espiritismo nos dá. Demonstrada a imortalidade, de maneira clara e racional, o suicídio perde sua razão de ser ". Sucinto e genial.

O engenheiro Jacques Conchon, 75 anos,  deu uma entrevista ao jornal " A Tribuna ", dizendo que no ínício dos anos 60 as estatísticas o incomodavam: quatro suicídios por dia em São Paulo. Com essa preocupação ele ajudou a fundar em março de 1962 (aos 20 anos), o Centro de Valorização da Vida ( CVV ) que este ano completou 55 anos de existência. Tudo começou quando entrou em contato com um material da Inglaterra, de um grupo chamado Samaritanos.

O trabalho de prevenção do suicídio teve início em 1.953 quando o jovem sacerdote anglicano, Chad Varah estava em sua primeira paróquia. Uma jovem havia se suicidado, julgando-se portadora de doenças venéreas (na verdade, apresentava sua primeira menstruação). Enquanto cavava a sepultura com as próprias mãos, num campo profano, fora da cidade, pois os tabus não permitiam que os suicidas fossem sepultados em cemitérios comuns, o jovem Varah, mostrava-se abatido e visivelmente perturbado, não tanto pelo suicídio, mas sim pelo motivo que teria levado essa jovem se matar. Não teve dúvida: o problema era desinformação, tabu, solidão. Publicou imediatamente no jornal Picture Post o número do telefone da igreja onde atuava para “ouvir, seriamente, pessoas falar de assuntos sérios”. E, a partir daquele momento não mais descansou. No outro dia, já recebia a visita de alguém que atravessou o Canal da Mancha somente para conversar.

Indagado por que ser voluntário do CVV, Jacques Conchon respondeu: " Porque é uma valorização do tempo. É um tempo qualitativo de excelente nível, nunca esquecendo que relação de ajuda é um processo a dois. Eu não posso dizer " eu ajudo ", mas eu posso dizer " nós nos ajudamos ". Nesse processo a dois, o crescimento é mútuo. E isso não tem preço ". Começar a trabalhar para o próximo tão intensamente aos 20 anos de idade merece muito respeito.



                                                                                               Por Roberto Rufo

Texto publicado em Dezembro de 2017 no Jornal Abertura - seja nosso assinante!

Abaixo publicamos a edição do mesmo no Jornal Catalão – Flama espírita – tradução e adaptação de Pura Argelich

Suicidio, un trastorno que viene afectando cada vez más a los jóvenes brasileños4, según investigaciones realizadas por el Sistema de Informaciones de Mortalidad (SIM)…, y la mayor causa es la depresión con los traumas sufridos a lo largo de la vida.

 Insistimos que la depresión está ligada directamente con algún trauma vivido que lleva a la no aceptación de sí mismo y del prójimo. Ello termina por impulsar el número de suicidios. Según los especialistas en esa área, cuando una persona es querida y su interacción con la sociedad es buena ello le produce una sensación de bienestar social que es el factor primordial para la vida. Trae tranquilidad en el acto de vivir. Para esa interacción, es esencial el afecto de los familiares y    una buena convivencia con los amigos. De esa búsqueda resulta que el camino hacia la felicidad es más fácil de ser recorrido.

 En un artículo de la escritora Dora Incontri titulado Suicidio – la visión espírita revisada, hace mención a la preocupación de Kardec con ese tema explicado como sigue en el referido artículo:

 “El suicidio es un tema recurrente en la mayoría de los 12 volúmenes de la Revista Espirita, demostrando que Kardec tenía una gran preocupación con dicha cuestión. En julio de 1862, escribió un artículo titulado Estadística de los Suicidios, haciendo un análisis sobre el aumento de los mismos en Francia, e intentando señalar las causas, así como lamentando que no hubiesen investigaciones al respecto. Actualmente, existen esas investigaciones en todo el mundo. Entre las que Kardec reconoce en su época estaban las enfermedades mentales, problemas sociales, y sobre todo, el avance del materialismo y la falta de perspectiva existencial. El artículo sigue siendo muy actual y revela muy bien cómo Kardec intentaba abordar los temas, abarcando todos sus aspectos y buscando soluciones educativas y preventivas. Para él, la mayor prevención posible para el suicidio sería el conocimiento más preciso y seguro de la vida futura, que el Espiritismo nos da. Demostrada la inmortalidad, de manera clara y racional, el suicidio pierde su razón de ser”.  ¡Sucinto y genial!
  El ingeniero Jacques Conchon,5 a los 75 años, concedió una entrevista al periódico “A Tribuna”, explicando que en el inicio de los años 60 las estadísticas le incomodaban: cuatro suicidios por día en São Paulo. Fue tanta su preocupación que, en marzo de 1962 (con 20 años), ayudó a fundar el Centro de Valorización de la Vida (CVV), que este 2019 cumplió 57 años de existencia. Todo empezó cuando entró en contacto con un material de un grupo de Inglaterra, llamado Samaritanos.

 El trabajo de prevención del suicidio se inició en 1953 cuando el joven sacerdote anglicano, Chad Varah estaba en su primera parroquia. Una joven se había suicidado, convencida de que era portadora de enfermedades venéreas (cuando en verdad, presentaba su primera menstruación). Mientras el joven Varah cavaba la sepultura con sus propias manos, en un cementerio civil, fuera de la ciudad, pues los tabúes no permitían que los suicidas fuesen enterrados en cementerios comunes, estaba abatido y visiblemente perturbado, no tanto por el suicidio, sino por el motivo que habría llevado a  esa joven a matarse. No tuvo duda: el problema era desinformación, tabú, soledad. Inmediatamente publicó en el periódico Picture Post el número de teléfono de la iglesia donde trabajaba para “escuchar, seriamente, a personas hablar sobre asuntos serios”. Y, a partir de aquel momento, ya no descansó más. Al día siguiente, ya recibía la visita de alguien que cruzó el Canal de la Mancha solamente para hablar.

 Preguntado Jacques Conchon sobre el porqué ser voluntario del CVV, éste respondió: “Porque es una valorización del tiempo. Es un tiempo cualitativo de excelente nivel, no olvidando nunca que la relación de ayuda es un proceso de doble sentido. Yo no puedo decir: “yo ayudo”, pero sí puedo decir: “nosotros nos ayudamos”. En ese proceso de dos, el crecimiento es mutuo. Y eso no tiene precio”.

 Empezar a trabajar a favor del prójimo tan intensamente, a los 20 años de edad, merece mucho respeto.




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Pau que nasce torto as vezes se endireita - por Alexandre Cardia Machado

Pau  que nasce torto as vezes se endireita

Gostaríamos de falar de uma iniciatva que já conta com 10 anos, trata-se do Prêmio Trip Transformadores – realizado pela Revista Trip, neste ano padrocinada pelo Grupo Boticário junto com outros onze co-patrocinadores. A ideia do prêmio veio de Paulo Lima, Editor – Presidente da revista.

Este Prêmio tem por objetivo identificar, brasileiros capazes de recriar a noção de desenvolvimento humano, transformando a realidade. Isto tem tudo a ver com o Jornal Abertura, onde sempre que possível buscamos chamar a atenção para aqueles que fazem algo de bom pela sociedade, aqules que demonstram o Caráter do Homem (ou Mulher) de Bem.

A revista, em edição especial, impressa em papel reciclado, em seu editorial escreve o que buscamos destacar aqui: “Você acredita no Brasil? Deveria. Por alguns minutos desapegue-se das imagens mal construídas do país que você vive. Esqueça a corrupção de colarinho branco que parece minimizar a honestidade de um povo. Acredite que há mesmo quem tira dinheiro do bolso para ajudar os outros. Conteste com veemência a máxima de que pau que nasce torto nunca se endireita. Quem contou isso para você mentiu.”

Li a revista, num voô entre Porto Alegre e São Paulo, leitura fácil, as pessoas que lá foram reconhecidas são muito diferentes umas das outras, o que elas tem em comum é o fazer acontecer as mudanças, no campo social, na cultura ou na transformação para melhor do mundo ao seu redor.
Escolhi um caso que bem representa o que no Espiritismo chamamos do progresso que o Espírito experimenta em sua encarnação, nunca é tarde para mudar. Ainda que mais raro, é possível sim mudar alguém que está em um presídio, ou que caminhou no mau, por muito tempo, não há uma solução única, mas se oferecermos alternativas, alguns conseguirão melhorar. Jacira Jacinto da Silva, Presidente da CEPA, em seu livro Criminalidade: Educar ou Punir, assim se refere à situações semelhantes a que busco mostrar aqui: “ As lições do espiritismo nos ensinam a enxergar que todas as pessoas, incluíndo as que nasceram e cresceram sem oportunidade, e até mesmo as que cometeram infrações graves à ordem social, têm perspectiva de sucesso, pois fomos criados para aprender e crescer indefinidamente”.

Escreveremos sobre Luiz Alberto Mendes, escritor e colunista da revista Trip, autor de 6 livros, esteve preso por 31 anos no presídio do Carandirú, na cidade de São Paulo, tendo o peso sobre si de pelo menos dois assassinatos. Saiu de casa aos 12 anos, para fugir de um pai alcólatra que batia na esposa e nos filhos, vivendo nas ruas até os 19 anos quando foi preso. Não se importava com nada, não via perspectiva na vida. Assim passou um bom tempo na cadeia, até que veio a epidemia de AIDS, nos anos 80 do século passado, que infestou os presídios.

Luiz relata que não havia profissionais de saúde em número suficiente no Carandirú e por um impulso ele resolveu se importar com aquilo e fazer algo no presídio, foi ajudar no cuidado aos pacientes. Foi quando uma conheceu uma enfermeira travesti que gostava muito de ler. Ali surgiu uma amizade.Ela foi a primeira a lhe mostrar a importância da leitura. 

A transformação foi imediata, do não fazer nada o dia inteiro, passou a ser um leitor voraz, passou a ler 10 horas por dia. Em meio a dor e a agonia do presídio conheceu a obra de Jean Paul Sarte, a quem admira, mas a quem se propõe  discordar, Sarte disse “ O inferno são os outros” ele contesta “ O inferno é a ausência dos outros”. Esta reflexão demonstra que ele foi capaz de perceber que a importância da relação com o outro, perceber a importância da outra pessoa nos humaniza.

O conhecimento melhora a vida, desde que não seja ornamental, ou seja apenas para distração. A leitura tem o potencial de ser um transformador de estrutura mental e por consequência fazer com que passemos da ideia à ação.

Pesquisando um pouco mais encontramos uma entrevista de Luiz Mendes, onde ele explica um pouco melhor como iniciou o interesse pela leitura e a explicação para a frase colocada acima.

O contato começa com uma mulher que trocava conversa comigo por cartas. Essa história tem início bem antes, pois quando fui preso eu não sabia escrever carta direito e um amigo me ensinou a escrevê-la, com rascunho e eu passava a limpo para enviar à minha mãe. Então chegou um momento em que comecei a modificar a carta, porque eram relatos íntimos com minha mãe, até que num ponto comecei a escrever sozinho. Fui escrevendo para outras pessoas também até chegar nessa professora, que morava no Rio de Janeiro, estava se formando em Letras, gostava de literatura e me mandava os livros importantes para eu ler. Os primeiros livros que eu me apaixonei foram os de Érico Veríssimo.”
Este relato, lembra um pouco o que descrevem os romances espíritas, onde as palavras de amor, e de esclarecimento, abrem um espaço na mente do espírito, por onde o amor penetra. Não foi bem assim com Luiz, demorou um bom tempo, em suas próprias palavras, já bem mais maduro afirma, “não foram os livros que me salvaram, mas as pessoas que me enviram os livros”. Esta frase denota toda uma perspectiva filosófica e não mítica de Luiz. 

Em algum momento a ação transformadora da leitura, transformou Luiz em um ser moral que se preocupa com o bem estar e os direitos dos outros.

Luiz Mendes hoje dá palestras, ajuda com seus livros outras pessoas a sair da marginalidade, ele não é espírita, o texto não tem nenhuma referência a religião, pela proximidade com Sarte, tudo leva a crer que seja materialista. Mas seja como for o Espírito tem em si mesmo o impulso do progresso e mais uma vez parafrasiando Sarte “ Liberdade é o que você faz com aquilo que aconteceu com você”.

 A lei do progresso é de ação permanente pois sempre queremos, ou almejamos algo a mais para nós mesmos ou para a nossa sociedade.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Livre-Arbítrio no Espiritismo - por Eugenio Lara

O Livre-Arbítrio no Espiritismo

Eugenio Lara

A existência do livre-arbítrio tem importância fundamental para a Filosofia Espírita porque toda sua ética, sua axiologia ou teoria de valores é baseada na ideia de liberdade, de livre-escolha. A base, o esteio da Ética Espírita é a liberdade. E liberdade, aplicada à ação do sujeito, pressupõe, segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio, sem o qual “o homem seria uma máquina”.
A Filosofia Espírita admite que há um determinismo natural, engendrado pela “força das coisas”, pelas leis naturais. Todavia, esse determinismo não anula o livre-arbítrio. O espirito é livre e responsável pelos seus atos. E mais, diz que nos atos da vida moral, jamais há fatalidade. A fatalidade somente existe no momento em que reencarnamos e desencarnamos: no nascimento e na morte:
“Não existe de fatal, na verdadeira acepção do vocábulo, senão o instante da morte. Quando ele chega, deste ou daquele modo, não podeis a ele fugir”. (O Livro dos Espíritos q. 852).
“A fatalidade não consiste senão na hora em que deveis aparecer e desaparecer daqui debaixo”. (LE q. 859).
“A fatalidade está nos acontecimentos que se apresentam, pois estes são a consequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Pode não ser o resultado desses acontecimentos, pois pode o homem lhes modificar o curso por uma ação prudente. Jamais ela está nos atos da vida moral.” (LE - Resumo teórico do móvel das ações humanas).
Segundo a Filosofia Espírita, o livre-arbítrio se caracteriza da seguinte maneira:
1. É um atributo natural do princípio inteligente, do espírito, que molda a capacidade de pensar e de agir, sem o qual ele seria uma máquina desprovida de liberdade. Ser senhor de si mesmo é um direito que vem da Natureza. A liberdade é, portanto, um direito natural do princípio inteligente.
2. É evolutivo porque se desenvolve na medida em que o princípio inteligente progride. De início o livre-arbítrio é bastante rudimentar, instintivo, para se tornar pleno e integrado ao espírito em seu estágio hominal, quando este supera os primeiros patamares do progresso intelecto-moral.
3. É relativo porque depende das relações sociais, interpessoais, da cultura. A liberdade absoluta somente existe, teoricamente, para o eremita no deserto.
4. Depende das vicissitudes materiais para se manifestar. Quanto menos materialidade, maior a sua expressão e manifestação.
5. Tem um sentido profundamente moral, ético porque através do livre-arbítrio o ser humano toma decisões comportamentais que irão influir nos relacionamentos interpessoais, sociais. É a responsabilidade moral e social.
6. É compatível com o determinismo natural, porque não há fatalidade nos atos da vida moral. É como imaginar as correntes do mar que não impedem o nado livre dos peixes. Do mesmo modo, as correntes da vida natural e social não impedem que o espírito aja com liberdade.
A Filosofia Espírita acompanha os avanços da ciência, os fatos comprovados e admite os fatores ambientais, culturais, genéticos e psicológicos que influem nas decisões humanas. E ainda acrescenta mais alguns dados complicadores:
a.   A influência dos espíritos. Muitas vezes “são eles que nos dirigem”. Os processos obsessivos influem decisivamente no livre-arbítrio.
b.   A voz do instinto, um dado novo na obra kardequiana, porque representa todo um conjunto de vivências e experiências advindas de outras existências e que, de modo intuitivo, podem servir como orientação em decisões cruciais na vida do espírito reencarnado.
c.    O livre-arbítrio permite ao espírito configurar o gênero de vida, determinando desta forma o gênero de morte. Tal escolha está subordinada à capacidade intelecto-moral e psíquica do espírito reencarnante.
d.   A volição existe sempre, mesmo nos estágios inferiores do desenvolvimento intelecto-moral. Já o livre-arbítrio, desenvolve-se na medida em que o espírito vivencia a erraticidade, com um certo nível de consciência de si mesmo e do meio em que vive.
A partir desses pressupostos, pode-se inferir que todos os seres da natureza têm volição. O espírito puro, conforme a escala espírita, também é volitivo, todavia, por estar plenamente integrado às leis naturais, não possui livre-arbítrio, dada a inutilidade desse atributo natural, em função de seu avançado estágio evolutivo.

NR: Este artigo foi originalmente publicado na edição de dezembro de 2015 do Jornal ABERTURA.

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico E-mail: eugenlara@hotmail.com

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.  www.cpdocespirita.com.br  -  contato@cdocespirita.com.br

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A Doutrina Kardecista - uma reflexão -por Roberto Rufo

DOUTRINA KARDECISTA - Parte I

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” ( Allan Kardec ).


Em Março de 2008, portanto há oito anos, Jaci Regis lançava uma cartilha de nome "Doutrina Kardecista - ( Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita). Passado esse tempo já é possível uma discussão desapaixonada sobre o material e as suas pretensões. Abordarei em vários artigos o conteúdo dessa cartilha e suas consequências. Logo na sua explicação o autor Jaci Regis fala que esse modelo conceitual surgiu a partir de uma análise crítica e da releitura da obra de Allan kardec. Obviamente toda releitura está sujeita a contraposições de quem já está acostumado a afirmar conceitos fincados no subconsciente há muito tempo.

Apesar se sabermos que as ideias básicas continuam válidas, alguns fatores impulsionam a necessidade dessa releitura. São: o aspecto evolutivo do Espiritismo, que permite segundo Jaci a adaptação aos progressos da sociedade em geral e a sua transformação em religião, que fraudaria seus conceitos evolutivos. A meu ver o maior problema seria a diversidade de atuação de cada Casa Espírita, mesmo adesas à CEPA, em se tratando da forma como abordam os conceitos espíritas. 


O principal deles é o papel de Jesus de Nazaré, que via de regra, é visto como o Cristo das igrejas. Não é visto como um homem simplesmente, um espírito com uma evolução muito grande. O Mestre como falava Allan Kardec. 


Criar uma linguagem nas casas espíritas, desvinculada do cristianismo, é o maior desafio dos espíritas livre-pensadores da CEPA. Como fazer isso sem correr o risco de perder adeptos?  Se continuarmos simplesmente a respeitar as características de cada região em busca apenas de alguns pontos comuns não alcançaremos o progresso das ideias.
Nas Diretrizes Estratégicas da CEPA 2016/2020, existe no seu Plano de Trabalho, uma proposta de regionalização muito interessante, onde deve-se incentivar a organização a partir de semelhanças, incentivando encontros que favoreçam essa regionalização. O problema maior está na pouca mão de obra para essa execução, bem como a forma de abordagem para se atingir as mudanças que se pretendam na linguagem e no comportamento.


Por exemplo, quantos estariam dispostos a renunciar na consideração do Espiritismo como a terceira revelação da Lei de Deus? Como a CEPA apresentaria um elenco de ideias desvinculadas do cristianismo? Nos artigos seguintes veremos como Jaci Regis pretende fazer com que as pessoas se abram ao novo, sem no entanto perder as raízes do pensamento  de Allan Kardec. 


Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual




Parte II

“Não afirmo que conspirações nunca acontecem. Ao contrário, elas são  fenômenos sociais comuns. Mas tornam-se importantes, por exemplo, quando pessoas que acreditam em teorias conspiratórias chegam ao poder e se engajam contra inexistentes conspirações. Por que precisam explicar seu fracasso em produzir o prometido paraíso".  ( Karl Popper - A Sociedade Aberta e seus Inimigos).

“Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender” (Allan Kardec).



O pensador espírita Mauro Spínola, em seu excelente artigo’O Sorriso de Diegues’(Abertura de Julho/2016), nos recorda das eleições da USE em 1986 onde um grupo de pessoas vibrantes e sonhando com uma proposta inovadora decidiu montar a chapa Unificação hoje! Para os novos tempos uma nova USE. A chapa concorrente “Tríplice Aspecto” colocava-se claramente como o antídoto contra a destruição da religião espírita. Lembro bem, criou-se uma teoria conspiratória por parte dessa chapa de que a outra na disputa queria tirar Jesus Cristo do Espiritismo. 
Foi o  golpe de misericórdia. Derrota por 63 votos a 13. A religião e Jesus Cristo estavam salvos dos conspiradores.

Em seu trabalho Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita, Jaci Regis em seu capítulo I - Modelos Conceituais, expõe claramente que o modelo espírita se deturpou e perdeu o eixo de sua originalidade, devido às influências das ideias cristãs. A chapa vencedora fracassou em produzir o prometido paraíso para o Espiritismo, ao se deixar aliciar “pela absorção total do sentido e da linguagem do evangelho cristão” nas palavras de Jaci Regis. Me pergunto se na sua proposta modernizadora, o grupo perdedor das eleições da USE em 1986 já conseguiu, após 30 anos, fazer com que suas casas espíritas adesas à CEPA possuam uma linguagem limpa, não mais viciada em teses como considerar o Espiritismo a terceira revelação da Lei de Deus, dentro da cultura cristã. Que tal um questionário aos dirigentes e frequentadores dessas instituições adesas á CEPA se já abandonaram essa linguagem inadequada. Ou uma lista com terminologias corretas, mais adequadas ao modelo que se quer do Espiritismo exprimindo sua visão de homem e de mundo.

Jaci Regis, com este trabalho, pretendeu a recuperação da identidade da obra de Allan Kardec. Para tanto ele indicou que a revisão da linguagem e a atualização de conceitos é indispensável para essa finalidade.

Caso isso não ocorra, perderemos o lugar na história do pensamento humano em se tratando de espiritualidade para as ciências, que exercem hoje o papel de principal opositora ao modelo cristão. O que não concordamos com as ciências em geral é o seu modelo limitador a uma visão totalmente orgânica.

Jaci Regis não viveu para ver o nascimento do Estado Islâmico, com seu fanatismo muçulmano, mas escreveu que “some-se a isso a abrangência da geopolítica mundial, a influência das religiões orientais e do Islamismo e veremos que todos os modelos religiosos, com suas nuances específicas, são incapazes de dar uma direção, ajudar a criar uma forma de respeito recíproco e da fraternidade básica entre as pessoas”.


                                                                                                                                            Roberto Rufo.

NR: Este artigo foi publicado no Jornal Abertura, nos meses de julho e setembro de 2016.

você pode conseguir um exemplar do Modelo Conceitual no email: ickardecista1@terra.com.br



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O caminho e o Caminhante – por Jaci Régis

O caminho é estático. O caminhante é dinâmico. Move-se, percorre, caminha sobre o caminho. Isso veio-me à mente porque o homem, de sotaque estrangeiro, confuso e sob certa medida amedrontado, perguntara qual o caminho a seguir para superar seus problemas.

Problemas da alma, do coração são especiais, específicos. Angústias sufocam, represam a emoção pressionando a vida, destruindo a alegria, a esperança. Leves se tornam pesados. Subjetivos, transformam-se em fardos concretos, exaurindo energias, levantando questões que como são formuladas, não encontram respostas.

À minha frente, o jovem era um amargo espelho de aflição. Perguntei-lhe como se sentia aos 27 anos e ele disse que não se sentia bem. Às vezes, disse, esses poucos anos pareciam demais. Às vezes, sugeriam-lhe inexperiência.

De um lado, via aberturas para criar, para avançar. De outro, uma desilusão, tomava vulto, porque parecia que perdera tempo, oportunidades e muito poderia ter sido feito e não fora.

- “Não, não me sinto feliz”, disse. A barba que lhe cobria o rosto jovem, tendia a esconder os olhos tristes, orbitando em paragens, em sonhos, em desejos que, controversos, vetores opostos, impunham imobilidade, como se as forças concorrentes se equivalessem em esperança e desilusão.

O caminho é estático. É opção a desdobrar-se diante de nós, indicando rumos que devemos eleger.
O caminhante é o agente de seu caminhar. A direção de seus pés, segue a diretriz de sua alma. Alma confusa, andar sem rumo. Alma exultante, andar saltitante. Alegria no coração, pés leves. Tristeza íntima, sulcos marcados, pés sangrando.

A encolher-se diante da realidade, a jovem mulher consumia-se em angustiante conflito interior, inteligente, educação superior, profissional competente, defrontava-se com sua sexualidade, emoção não resolvida, impondo-lhe temores e tremores.

Jaci Régis


Como resolver essa angustiante questão? De que maneira ajudar a superar barreiras erguidas por deprimentes experiências infantis, fruto de sutis relações afetivas.

O caminho é uma expectativa, uma perspectiva. O caminhante é um ser, uma criatura em busca de si mesma. A margem do caminho, caminhando encontrará tropeços, abismos, desvios, obstáculos. Mas também flores.

A solução para os problemas da alma, na sequência da vida, é encontrar o caminho que na liga ao outro. Parece fácil, à primeira vista. Percorre-lo, contudo é viagem tão perigosa quanto a dos velhos navegantes em suas naus, enfrentando os mares desconhecidos.

Esse é o caminho curto ou longo, conforme os fatores que armazenamos na alma. Pois, difícil é sair de nós mesmos. Só é possível quando aprendemos diuturnamente as lições dos sentimentos e aspirações e nos libertamos de laços fortes, mas sutis, de fantasmas criados no interior de nós mesmos.
Qualquer caminhada, por mais longa, começa pelo primeiro passo. Se queremos respostas, soluções, aprendamos a caminhar, a ser caminhantes, dispostos a aprender, a mudar, a retomar a lição não aprendida

Dar o primeiro passo é decidir expor-se aos riscos da paixão.  

Artigo re-publicado em outubro de 2014 no jornal ABERTURA

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Educação? Bem... Por Reinaldo di Lucia

Muito se falou, recentemente, sobre a lição que os estudantes do ensino público de São Paulo deram aos governantes de plantão, ao, através de seu posicionamento ativo – incluindo protestos nas ruas e principalmente a ocupação das escolas – fazer valer sua voz contrária à reestruturação do ensino proposta (talvez melhor dizer “imposta”, dada a falta de discussão e comunicação com os envolvidos) pelo Governo paulista.

Esta falta de transparência foi tamanha que, até agora, mesmo interessado, não consegui tomar ciência completa do projeto. De modo geral, gosto de mudanças e acho que modernizações são necessárias em todas as áreas. Mas o que me preocupa de fato nesta proposta é o fechamento de salas e a diminuição de escolas.

Não falo somente de forma teórica. Atuando há mais de 6 anos como professor universitário, venho percebendo a gradual, porém inflexível deterioração da qualidade do aluno que entra na faculdade. Com a facilidade cada vez maior desse acesso, através de programas como o FIES e o PROUNI, um contingente cada vez maior de estudantes vindos do ensino público estão entrando em universidades particulares. Infelizmente, boa parte destes estudantes, mesmo muito esforçados, não têm base suficiente para acompanhar adequadamente as exigências do estudo superior.

Apresentam-se então dois caminhos: ou as universidades diminuem suas exigências, e os profissionais formados não são aqueles que o mercado necessita, aprofundando ainda mais o problema da falta de qualificação da força de trabalho brasileira, com uma desculpa a mais para o achatamento salarial, ou a manutenção destas exigências faz com que, após uma quantidade sensível de dependências e repetências, os alunos abandonem os cursos e resignem-se com subempregos mal pagos, num círculo vicioso perverso.

Reinaldo Di Lucia


É urgente um trabalho imediato para a melhoria do ensino fundamental, para na sequência atuarmos no ensino médio e só então mexer ainda mais no ensino superior. Então, se há, como se alega, salas sobrando, que se coloquem menos alunos – certamente isso melhorará a qualidade do ensino. Dizem que 2 milhões de crianças deixaram o ensino público, seja pela diminuição da natalidade, seja pela migração para as escolas particulares. Ora, porque razão se dá essa migração se não pela própria má qualidade da nossa escola pública?

Até agora, o exemplo de sucesso de alguns países passa notadamente pela melhoria do ensino público. Claro que isso não é uma panaceia: não existe nada que seja uma solução única par tantos problemas que assolam a governabilidade das nações. Mas sem essa base, seguramente, nada se conseguirá. Principalmente porque não criaremos cidadãos pensadores e capazes de criar o futuro como desejam.


E realmente estão de parabéns os estudantes paulistas. Minimamente mostram àqueles que nos governam que, nos dias de hoje, as decisões precisam ser discutidas à exaustão com a sociedade – e não somente tomadas nos obscuros do poder, levados sabe-se lá por quais interesses.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Dezembro de 2015 - seja assinante!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Generosidade e riqueza são antagônicas? Por Alexandre Cardia Machado

Generosidade e riqueza

Uma primeira olhada no título nos faz pensar que a riqueza é antagônica à generosidade, mas não parece ser este o caso. Podemos recorrer à história para demonstrar a nossa tese, mas não o faremos, vamos usar exemplos recentes de pessoas bem vivas e muito ricas e que tem uma postura generosa.
Citarei Bill Gates o principal acionista da Microsoft e Mark Zuckemberg ainda não tão famoso, mas igualmente bem sucedido através do Facebook, acredita-se que ambos tenham atingido furtunas de  70 e 45 bilhões de dolares respectivamente.

Bill Gates e sua mulher Melinda nos anos 2000 criaram uma Fundação, denominada Bill e Melinda Gates Fundation com foco em finaciar pesquisas contra a AIDS e também outras doenças infecto-contagiosas.

No dia 1° de dezembro de 2015, Mark Zunckenberg e sua esposa Priscilla apresentaram à imprensa sua primeira filha, deram-lhe o nome de Max. Durante a entrevista, surpreenderam o público ao anunciar que ao longo de suas vidas, doarão 99% de suas ações no Facebook, a entidades que desenvolvam trabalhos para o bem do planeta. Com isto esperam serem capazes de ajudar a proporcionar um mundo melhor, não só a sua filha, mas também às gerações futuras.

Bill Gates, junto com outros 28 milhonários criaram outra organização, chamada Breakthrough Energy Coalition voltada a fomentar pesquisas em tecnologias alternativas, capazes de resolver a crise energética e suavizar os efeito da mudança climática. Estima-se que os Gates tenham doado a diversas organizações não governamentais cerca de 30 bilhões de dolares, desde o anos 2000.

Por que eles fazem isto? Bill Gates é agnóstico, portanto não o faz por seguir uma ideologia religiosa, já Zuckemberg é judeu, toalvez possa vir desta religião a motivação maior para a decisão tomada. Acontece que existe quase que uma cobrança, nos Estados Unidos para que as famílias ricas sejam benfeitorias, elas pagam por alas hospitalares, por centros comunitários e iniciativas desta natureza, este modelo vem sendo repetido por celebridades, podemos citar Shakira e até o brasileiro Neymar que tem um grande projeto em Praia Grande em São Paulo.

Os 1% dos 45 bilhões de dólares que sobrarão das doações dos Zuckemberg são 450 milhões de dólares, é muito mais dinheiro que qualquer pessoa ou família possa gastar. É mais do que suficiente para realizar todos os desejos possíveis. Mas não é este o ponto que queremos salientar, o importante aqui é algo maior, é a capacidade de abrir mão do dinheiro ganho em seus negócios e retorná-los, fundeando boas ideias ou iniciativas que ajudem a sociedade.

 É mais que caridade é benemerência.

Do Livro dos Espíritos, nas questões 882 e 883 extraio estes textos que permanecem atuais, quase que escritos em linguagem universal.

Comentário à questão 882:  ... “O que, por meio do trabalho honesto, o que o homem junta constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado quanto o de trabalhar e de viver.” Ou seja, é seu por direito e deve defendê-lo e usá-lo como melhor lhe interessar. Mas na questão seguinte os Espíritos complementam :

“Questão 883. É natural o desejo de possuir?

“Sim, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, o que há é egoísmo.”
a)      — Não será, entretanto, legítimo o desejo de possuir, uma vez que aquele que tem de que viver a ninguém é pesado? “Há homens insaciáveis, que acumulam bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar suas paixões. Julgas que Deus vê isso com bons olhos? Aquele que, ao contrário, junta pelo trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e Deus abençoa o seu trabalho.”

Isto nos leva a concluir que no contexto do Livro dos Espíritos, Bill Gates e Mark Zuckenberg são vistos com muito bons olhos por Deus e claro, por todos nós.

Se faz evidente que todas estas pessoas  citadas o fazem por terem adquirido uma certa maturidade, ou por possuírem uma boa acessoria que lhes ajuda a pensar melhor. Nos dias de hoje, uma boa imagem vale muito, pois o marketing é uma ferramenta que pode proporcionar reconhecimento e respeito. Talvez o que afinal, todos buscam.

Que outros sigam o mesmo exemplo, isto o mudaria o mundo para melhor. Nos Estados Unidos e Europa as deduções do Imposto de Renda por doações a fundações abarcam um expectro muito maior de possibilidades que aqui no Brasil onde, praticamente, só há dedução se for associada à lei de Incentivo à Cultura, este certamente é um estímulo a mais aos benfeitores de lá. Mas só isto não basta, há que querer dar o que é seu  para socorrer os seus semelhantes e aí é que a coisa pega.


Nossa admiração aos que possuem estas virtudes.

NR: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura - Dezembro de 2015.