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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A tranquilidade espírita por Alexandre Cardia Machado

 

 A tranquilidade espírita

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida:

1837 a 1901 – período chamado de Era Vitoriana - onde a rainha Vitória reinou – celebrizada pela frase” O Sol não se põe no Império Britânico” – esta pressão era muito grande para os eternos rivais franceses;

1848 – Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte assume a presidência da França, em 1852 ele dá um golpe militar e se transforma em rei da França num novo retorno a monarquia e fica no poder até 1870, portanto em todo o período de atuação do professor Hippolyte Leon Denizard como Allan Kardec a França voltava a ser uma monarquia;

1861 – 1865 – Guerra da Secessão nos Estados Unidos, os Confederados tinham apoio logístico e militar da França;

1865 -1867 – Segunda intervenção Francesa no México que terminou com a expulsão das tropas Francesas – isto no período de Napoleão III;

1862 – A França começa a apoderar-se da Indochina – que determinaria 100 anos depois nas guerras do Vietnam – primeiro francesa e depois norte-americana;

1870 – Napoleão III declara Guerra a Prússia, guerra que iria perder, perdendo dois estados Alsácia e Lorena à Prússia e que resultaria mais tarde em um dos componentes da I Guerra mundial entre 1914 a 1918;

Neste período a França apoia a unificação da Itália que se consolida em 1870, com a França anexando o condado de Nice ao seu território.

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Mostro este quadro para demonstrar, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipin na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 19 anos de século 21, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, das mortes nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita

O Século 19 se caracterizou pelo desenvolvimento de armas e munições mais destrutivas, a escalada prosseguiu no século 20 com a aviação e as bombas atômicas, mas chegamos a um ponto onde a opinião pública, a imprensa e mais recentemente as redes sociais detiveram a utilização de armas de destruição em massa. Ainda temos o risco, pois o arsenal existe, mas sua utilização está contida.

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo.

artigo publicado no Jornal abertura - março 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 17 de julho de 2018

Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro, leva o barco devagar - por Alexandre Cardia Machado


Faça como um velho marinheiro que durante o nevoeiro, leva o barco devagar

Recorro a Paulinho da Viola que em 1975, contrariado com as influências que vinham de fora do país, tentava defender o samba de raiz, em sua música Argumento, ao fazer isto nos deixou a frase que uso como título e que muito bem nos serve para muitas situações.

Enfrentamos hoje águas agitadas, muita neblina nos ofuscando a visão, não vemos claramente o que está passando. Vivemos num país muito diferente daqueles anos de 1975, em pleno regime militar, com censura e opressão às ideias progressistas. Vivemos um Brasil nublado, com um estado fraco sim, desacreditado e desrespeitado mas democrático. Onde todos podem se expressar através das redes sociais. E, claro, está na moda reclamar como bem escreveu Reinaldo di Luccia no seu artigo sobre Fake News, no Abertura de maio de 2018, “No passado costumávamos dizer que um cliente satisfeito falava para algo como 10 pessoas, mas um insatisfeito atingia por volta de 25 pessoas. Hoje, com sites como Reclame Aqui e o próprio Facebook, o número de pessoas atingidas é praticamente ilimitado – e muito, muito mais rápido”.

Num ambiente deste, talvez tenhamos a grande oportunidade de nos apoiarmos na Doutrina Kardecista. Kardec  trouxe à luz o conhecimento racional da imortalidade dinâmica e suas implicações em nossa vida. Assim como bem se refere o nosso amigo e pensador Ciro Pirondi “ a poética das vidas intinerantes”. Neste ambiente agitado, levemos o barco devagar e de forma segura na direção que cada um de nós acredita seja a melhor.

Com tolerância, com ternura, pois problemas sempre houveram e sempre haverão, pois conforme avançamos no nosso processo civilizatório, aumentamos nossas exigências, subimos a “barra” dos saltos que queremos que nossa sociedade dê.

Cito Leandro Karnal, ateu e crítico da sociedade contemporânea “ As coisas, em si, não são provocadoras de infelicidade. Vivemos o chamado mundo líquido, na pós-modernidade, onde perdemos a ideia da dimensão trágica da existência. Ela durou até a geração da minha avó ( Karnau tem 58 anos). As fotos eram sérias, sem sorrisos ou explosões. Hoje, para conseguir emprego, ter amigos, estar presente no virtual e no real, você precisa ser otimista, dizer coisas divertidas e mostrar como sua vida é simpática. Quando isso não ocorre, interpretam que não está bem e deve ser medicado. Não que o remédio seja ruim. Mas tratar a tristeza é errado. Ela tem muita importância.” Ou seja, estar feliz ou triste é natural. Ora estamos sorrindo e ora estamos de cara fechada, mas não precisamos fazer disto um drama, um mergulho na tristeza profunda, na depressão, ou um salto quántico nos bons momentos, levemos a vida com poesia e devagar.

Em tempos de escassez de combustível devido a greve dos caminhoneiros, caminhar é preciso! E pensando em caminhar, dentro da perspectiva da imortalidade dinâmica, aproveitando para aprender com as dificuldades, atuando de forma a melhorar a sociedade, mas sem incitar a desordem.

Difícil encontrar este ponto de equilíbrio, talvez esteja certo Leonard Mlodinov, em seu livro – O Andar do Bêbado – Como o Caos Determina Nossas Vidas, no prólogo do livro nos deixa esta pérola “ Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48. Orgulhoso por seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48.”  Quem tiver melhor domínio da tabuada talvez ache graça do erro, mas todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda que menos óbvios, são tão significativos quanto esse.”

O autor nos mostra que muito do que ocorre ao nosso redor, ocorre, ocorreu e ocorrerá sem que possamos fazer nada para impedir. É preciso saber viver e a sabedoria, não passa por tentar controlar tudo, simplesmente não dá. Temos de nos equilibrar, nas ondas, nas ventanias, nas tempestades e correr quando tudo está calmo. Aproveitar o sol, com protetor solar, sorrir e chorar, enfim viver.

Imortalidade Dinâmica segundo Jaci Régis

Trancrevemos aqui algumas considerações importantes do proposto por Jaci Régis quando elaborava o que chamou de ciência da alma. referia-se a este princípio muito sutilmente, como se o mesmo fosse uma interpretação conhecida por todos, talvez o tenha feito pela familiaridade que ele tinha com a expressão, que a utilizava constantemente.

Fomos buscar textos onde Régis define o termo na extensão que costumava dar ao tema, vejam: “a Lei Natural estabelece uma sequência fundamental para o desenvolvimento dos seres: sobrevivência, convivência e produtividade. É por essa sequência fundamental que os seres, numa sucessão contínua e aperfeiçoada realizam seu autodesenvolvimento.”.  Complementando, “ A Lei Natural não é moral. O universo não tem propósitos restritos ou punitivos. Embora não haja possibilidade de entender todas as nuances da vida, nada na natureza autoriza o modelo de pecado e punição secular”.

“ No estágio evolutivo médio da humanidade terrena, o ponto de referência é a vida corpórea, onde ele (espírito) elabora progressivamente sua identidade”. “ Na Dinâmica do processo, o que, dentro da visão sensorial sugere o caos, o acaso, na verdade caminha para a busca do equilíbrio. A questão, nessa visão sensorial, se complica pela variável do tempo, cronológico ou sensível. A culpa será desenvolvida no nível hominal. Dispondo da capacidade de analisar, comparar e decidir, ele exercerá ou sofrerá a ação recíproca do ato e da resposta. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta e nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, que por isso mesmo é relativo ao grau evolutivo” Portanto dinâmico como conclusão.

Ou ainda   Numa visão dinâmica, contudo, concebemos a vida humana como um continuum existencial, através da vivência no plano extrafísico e no plano corpóreo, intermitentemente. Isso explica a realidade evolutiva das pessoas, em seguimentos reencarnatórios. A pessoa humana possui uma biografia atemporal, em que experimenta uma extraordinária aventura de erro e acerto. Permanentemente inquietante, sem correlação estrita com o tempo, mas desenvolvendo-se em seu próprio tempo”.

O Novo modelo identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”

Os textos de onde tiramos estas referências são: Doutrina Kardecista – modelo conceitual   e  Introdução a Doutrina Kardecista. Respire fundo, solte o ar devagar e siga em frente nesta caminhada.

nota: Editorial de Junho de 2018 do jornal ABERTURA por Alexandre Cardia Machado