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ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE
“O prazer é a meta natural na vida. O sofrimento é
transitório, eventual. Temos que construir uma consciência feliz, que ame, que
busque o prazer de viver “Jaci Régis
Será
que o espiritismo combina com a ideia de prazer e felicidade? Não estaria o
espiritismo ligado apenas a ideia da morte, de fantasmas do outro mundo, de
resignação ante o sofrimento? Não busca o espírita apenas a libertação do
Espírito com vistas a uma entrada feliz no outro mundo?
Certamente
a felicidade absoluta é impossível neste mundo. Como poderíamos ser absolutamente
felizes em um planeta no qual existem tantos problemas. Aqui na Terra temos
insegurança alimentar, doenças, violência, desemprego, famílias sem teto,
crianças desamparadas, destruição ecológica, ditaduras políticas e tantos
outros problemas. Neste sentido, falarmos em felicidade absoluta seria um
verdadeiro egoísmo, pois estaríamos alimentando uma postura indiferente, alienada
dos graves problemas que vivemos na faixa da existência terrestre.
Mas podemos perguntar ainda. É possível pelo menos
uma felicidade relativa neste mundo? É possível uma felicidade pessoal geradora
de prazer interior, porém não alienada, não desconhecedora dos problemas
terrenos?
O
espiritismo nos traz uma ideia de felicidade e prazer possíveis de serem
alcançados na Terra. O espiritismo bem compreendido nos traz alguns princípios
filosóficos importantes para que compreendamos a vida física de forma positiva.
A
primeira ideia a ser destacada que nos oferece a filosofia espírita é que a
defende que a vida terrena é oportunidade de aprendizado, de crescimento,
amadurecimento, realização e conquista da sabedoria. O espiritismo nos convida
a olharmos nossas existências terrestres como oportunidades de construção de
nós mesmos e do mundo ao qual pertencemos. Portanto, nos ensina a valorizarmos
e amarmos a vida, a Terra, o mundo.
Em
relação ao sofrimento o espiritismo nos ensina a distinguir entre o bem e o mal
sofrer. O mal sofrer é o que causa a revolta, o desânimo, que nos faz desistir.
Já o bem sofrer é aquele que nos faz resistir corajosamente aos desafios e
dificuldades da vida com vistas a nos tornarmos mais firmes, mais sábios, mais
experientes perante nossas dores e sofrimentos, com vistas a superação.
Sem
dúvida que existirão as lutas que não venceremos e que a aceitação madura
perante o incontornável será necessária. Segundo Léon Denis: “É um dever lutar contra a adversidade.
Abandonar-nos, deixar-nos levar pela preguiça, sofrer sem reagir aos males da
vida seria uma covardia. Mas, quando os nossos esforços se tornam supérfluos,
quando tudo é inevitável, chega então o momento de apelarmos à resignação”.
Não
há dúvida, no entanto, que mesmo as batalhas perdidas podem trazer ensinamentos
ao Espírito imortal que somos e podem se traduzir em amadurecimento pessoal,
espiritual, se soubermos enfrentar com sabedoria esses momentos de perda.
É
necessário dizer também que o espiritismo não condena a alegria, os momentos de
festa. Não nos diz para sermos sisudos e aparentarmos uma seriedade que muitas
vezes não temos. O exemplo Jesus de Nazaré tem relevância para os espíritas
nesse sentido. Da mesma maneira que brindava o casamento de alguns amigos,
chorava por Lázaro e expulsava os vendilhões do templo. Jesus de Nazaré possuía uma conduta natural,
não artificial, não farisaica, fingindo hipocritamente ser melhor do que os
outros. Agia em conformidade com cada ocasião.
Provavelmente,
Jaci Regis foi o pensador espírita que melhor compreendeu a importância teórica
de se ressaltar o prazer de viver como tema relevante no âmbito filosofia
espírita e como práxis existencial espírita. Jaci compreendeu extraordinariamente
a importância de se construir uma vida produtiva e útil no bem e de nos
afastarmos do culto ao sofrimento tão presente na proposta cristã e espírita
cristã.
Não que Jaci negasse a existência do
sofrimento, apenas enfatizava a necessidade de nos dedicarmos a sua superação,
sem ficarmos perdendo tempo em cogitações hipotéticas, de caráter reencarnacionista,
frequentemente indemonstráveis empiricamente, sobre eventuais causas anteriores
do sofrimento. Não desconhecia, é claro, a lei natural das vidas sucessivas,
apenas criticava esse procedimento especulativo inútil banalizado em nosso
movimento espírita.
A
vida é para ser vivida agora com alegria e confiança. Não precisamos esperar o
além para sermos felizes. Aqui e agora realizaremos o céu e o inferno dentro de
nós. No momento presente, nesse instante, nessa fração de segundos entre o
passado e o futuro, é que se encontra a vida. Portanto, segundo o melhor
entendimento da filosofia espírita, é o agora que importa. O além obviamente
existe, mas nosso estado futuro será determinado pelo que somos agora.
Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo - Jaci Régis
Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro
da cultura cristã.
Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros,
compatíveis com o modelo cristão.
1. O
mundo é de provas e expiações,
2.
Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de
vidas sucessivas,
3. Deus se manifestou em três grandes momentos,
para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras
de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos.
São as três revelações da Lei de Deus. Dentro
desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o
Espiritismo completaria a verdade atual.
A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria
que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que
fosse religião. Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.
Todavia, aceitou que o motivo central do
Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus,
utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da
humanidade ocidental, cristã.
Isso levou à afirmação do Espiritismo como
o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus
Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse
Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as
verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que,
brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da
Terra. Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade.
Era a implantação do Reino de Deus no
mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do
Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas
não têm lugar. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec
afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não
teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento
de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no
desenvolvimento moral das civilizações.
O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o
rei governando o mundo.
Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto
institucional, político e religioso estava no fim.
Desenvolver a ideia espírita dentro do
caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura
básica é a negação do cristianismo. Consequentemente tornou o Espiritismo
prisioneiro da promessa da vinda do reino de Deus. Kardec então elaborou seu pensamento tentando
encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos
profetas e messias.
Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a
essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais
e projetar-se para o futuro, porque teve a
sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal
forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias e
mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se. O que seria, disse, o
suicídio da doutrina.
É
baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias
que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias
atuais.
A definição do Espiritismo
O século XXI desponta como uma incógnita
sob a liderança inconteste da ciências duras, coadjuvadas pelas ciências
humanas.
Como definir, compreender e projetar o
Espiritismo neste século vinte e um?
Neste século, o Espiritismo terá pelo menos
duas expressões.
1. O Espiritismo cristão
Com duas versões:
- Religião
Espírita
Atualmente, de modo geral e
majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento
remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove,
repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para o contexto em que foram ditas.
Os espíritas cristãos são basicamente
católicos mediúnicos.
-Espiritismo laico cristão.
Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência
Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã.
Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.
2 -
Espiritismo pós-cristão
A única saída para que o Espiritismo alcance
sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo
do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão.
Esse Espiritismo pós-cristão não apenas
abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente
como uma ciência humana. A Ciência da alma.
Como Ciência da Alma, o Espiritismo
abandona a ilusão de ser uma revelação
divina, para ombrear-se, de forma muito
especial, com o esforço das ciências humanas que surgiram para
entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites
das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar
o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.
Com isso pode desenvolver um espírito
crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural,
da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma
atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.
Como Ciência da Alma, o Espiritismo
abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da
humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o
leque das realidades e comportamentos das pessoas.
O objetivo maior será introduzir na cultura
o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo.
Terá que dispor de recursos e meios para
provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do
exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e
religiosa em que se situa atualmente.
Só a prova da imortalidade será a base de
renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da
reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a
evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de
espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio
pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade
em mudança que vivemos.
Muitos podem questionar se um Espiritismo
pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a
crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec,
conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces
básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das
interpretações e extensões contextualizadas no início e do tempo decorrente.
O caráter da Ciência da Alma, como qualquer
ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no
presente, apoiada somente no que for provado.
Assimilará as ideias reconhecidamente
justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser
jamais ultrapassada, constituindo isso
uma das principais garantias de credibilidade.
Jaci Régis, escritor espírita, psicólogo e
economista - desencarnado em 2010