Mostrando postagens com marcador Possível professia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Possível professia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Eu e a Bruna no século XXI – Jaci Régis

 

Eu e a Bruna no século XXI – Jaci Régis

Texto publicado no jornal Abertura em fevereiro de 1989.

Após a publicação do e-mail de Jaci Régis a Bruna quando de seus 15 anos de idade, isto no ano de 2003, no jornal Abertura de junho de 2022, muita gente perguntou sobre o referido artigo - Eu e a Bruna no século XXI – desta forma Cláudia e eu fizemos um mergulho no tempo, não tínhamos certeza de quando havia sido publicado, revisamos os jornais Abertura que temos encadernados e finalmente o encontramos. Bruna estava com apenas 7 meses de vida, nesta encarnação. Hoje tem 33 anos e no próximo mês dará à luz a Helena, sua primeira filha.

Bruna com 6 meses em 1989


Interessante é que Jaci diz que: quem sabe ele não reencarnaria como seu neto no fim do século XXI, claro que é uma previsão poética, mas quem saberá a verdade?

Fiquem com Jaci Régis:

“Este fim de século e de milênio apresenta-se com todos os sinais característicos de fim de ciclo e transição para nova era. Usos e costumes sociais apresentam-se contundentes, no seu existencialismo sufocante, onde objeto e o fim da existência são resumidos no gozo, no prazer e no bem-estar dos sentidos. Uma constância materialista invade os domínios das religiões neutralizando seus esforços no sentido de impor os seus ensinos morais. (...) Até onde chegará esta imensa chaga que alcança todas as coletividades, essa imoralidade crescente envolvendo as próprias crianças e adolescentes como protagonistas e vítimas?”

 Lia essas linhas tão pessimistas e preparatórias para dizer, afinal, que “somente uma doutrina abrangente e generosa como a Doutrina dos Espíritos revivendo o Cristianismo (...) será capaz de dar ao homem sofredor, renovado pela esperança, a visão de um mundo novo de justiça e equidade, de amor e compreensão ...” com minha neta Bruna, de apenas 6 meses, brincando no meu colo, rasgando papeis. Ela viverá plenamente no século vinte e um. Ela é o futuro.

Recordei a peça “Cerimônia do Adeus” que havia assistido na véspera. Trata-se do jogo entre o radicalismo teórico do existencialismo sartreano, bebidos nos livros de Jean Paul Sartre e sua companheira Simone de Beauvoir, vividos na fantasia de um jovem leitor e as colocações de um espírita, radicalmente centrada no além, na fé nos Espíritos.

A personagem não é caricata, mas a lídima impressão da maioria dos espíritas, as voltas com operações espirituais, pensando que fora Cleópatra ou tentando enquadrar-se num passado qualquer. Era a imagem do espírita comum, que acredita que Victor Hugo tivesse se comunicado em seu centro e que estivesse arrependido. Mesmo quando o personagem Simone de Beauvoir cita tudo o que ele fez e realizou no campo político, literário etc., a espírita afirma que para “Deus isso não vale nada”. O que parece ser aceito por quase a totalidade dos adeptos que não se admiram quando um grande escritor, poeta, inventor, se apresenta como um pobre diabo, sem talento, ditando coisas medíocres, como a dizer que “no lado de lá” se perde o entusiasmo, a criatividade. As intervenções do personagem espírita, faziam a plateia rir muito.

Esse tipo de espírita vai mudar o quê?

Ainda há quem procure sinais no céu. Tenho pensado que Deus é muito mais inteligente do que seus pretensos porta-vozes querem fazer nos crer. O século vinte e um vai acontecer como os demais vinte séculos atrás e todos os que vieram antes deles. Sem maiores traumas do que os traumas da vida.

O tão malsinado materialismo, foi a única saída honrosa para o pensamento humano, preso ao catecismo católico, sufocado pelo evangelismo protestante que estavam a pretexto de salvar o homem, conduzindo-o para o abismo. O malsinado materialismo foi a libertação.

Agora esse materialismo está apto a se “espiritualizar” sem submeter-se, todavia, aos modismos de um Espiritismo medíocre, igrejeiro, sem vibração timbre para ser ouvido. Se quisermos que ele seja ouvido, tenha vez, antes de ser sepultado por outras correntes mais abrangentes e ousadas, tem que libertar-se desses enfadonhos discursos sobre catástrofes, vingança divina. Precisa encarar a evolução como fruto do conflito, do gozo, do prazer, da sublimação, da reparação e continuidade.

O Espiritismo já poderia sim, se não tivesse sido abortado, ter exercido uma influência muito grande, porque abre uma compreensão maior da natureza humana. Talvez ainda reste uma esperança de fazê-lo. Não, porém, enquanto entre nós houver quem se considere entre os “observadores perplexos”, do momento que vivemos. Porque jovens e crianças, envolvidos nessa transição libertadora, são Espíritos que precisam superar lutas tremendas, parte inclusive por culpa dessa mentalidade medieval, que julga que o homem precisa ser salvo, que necessita de um Salvador e de Anjos, para guiá-los.

Minha neta, olhos castanhos muito vivos, sorri para mim. E eu para ela. Eu partirei deste mundo e ela ficará. Vivenciará seus anseios e temores e terá que optar num mundo cheio de percalços, por uma via de vida. Como eu enfrentei, quando vim para cá, há 56 anos atrás, nas vésperas da II Guerra Mundial e submetido ao explodir da parafernália eletrônica, ao desvendamento do cosmos, aos horrores do nazismo, das ditaduras de direita e da esquerda, ao surgimento dos hippies, o repúdio ao racismo, a personalidades como Hitler e Gorbatchev.

Se fosse diferente, eu teria o direito de pedir contas a Deus, porque com o seu poder de dizer “faça-se a luz” e a luz se fez, porque não coíbe “tanta insensibilidade, movida pelo egoísmo humano exacerbado” que na ótica do autor das linhas que lia, move o fim de século, que ele talvez espere cheio de morte e sangue.

Minha neta é um Espírito que volta ao mundo num momento privilegiado. Será informada e talvez formada em princípios espíritas. Eu espero que descubra a si mesma e que caminhe, entre lágrimas e sorrisos, construindo seu destino, eficiente e satisfatoriamente. E quem sabe, me afague no seu regaço, como um neto que volta, na continuidade da vida, lá pelo fim do século vinte e um.

Texto publicado no jornal Abertura de julho de 2022. veja o jornal na sua integra no link abaixo.

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022?download=189:jornal-abertura-julho-de-2022.