sábado, 28 de março de 2020
Coronavius - por Roberto Rufo
O pastor e músico norte-americano Landon Spradlin, de 66
anos, morreu na quarta-feira (26) de covid-19 nos Estados Unidos. Dias antes de
apresentar os sintomas da doença, ele chamou o novo coronavírus de “histeria
coletiva” e chegou a compartilhar informações falsas sobre o assunto. As
informações são do jornal ABC.
Lembram da frase " se a ciência demonstrar que estamos
errados em algum ponto devemos modificar esse ponto"?
Esse pastor não percebeu que o ponto "a fé remove
montanhas" não basta tão somente para remover o Coronavirus.
A fé na ciência, e somente ela, é capaz disso.
Roberto Rufo.
domingo, 22 de março de 2020
2020 ano do XXIII Congresso Espírita da CEPA - organização do blog
2020 ano do
XXIII Congresso Espírita da CEPA
Chegou o ano de mais um Congresso da CEPA,
deverá ser o terceiro que participaremos, estivemos aqui em Santos e em Rosário
na Argentina, antes disso minhas atividades profissionais me impediram de poder
participar. A amostra que tenho é muito favorável, vale a pena participar. O
congraçamento das pessoas, a temática variável permite abertura de pensamento,
ainda que ligadas por um fio central determinado pelo tema do congresso
oportuniza o contraste, rever amigos e conhecer outros países, outras culturas,
são componentes que ajudam à tomada de decisão em participar.
Será o primeiro congresso da CEPA Internacional
fora da América. Em Rosário foi aprovada a mudança de nome da CEPA, de
Confederação Espírita Pan-americana, para CEPA Associação Espírita
Internacional e escolhida a Europa e em especial a Espanha como sede do
primeiro congresso após a mudança do nome.
O local escolhido – Salou, uma cidade na costa
da Catalunha, muito turística, propicia alguns passeios pela costa de
“trenzinho”, aqueles ônibus em formato de trem, bastante interessantes. A
cidade apresenta ruínas Romanas que são sempre muito atrativas, além é claro da
proximidade de Barcelona uma cidade fantástica.
O congresso tem como tema central – O
Espiritismo ante os desafios humanos – nada mais coerente com o momento
geopolítico que vivemos, certamente impulsionará os palestrantes a pensar em
como o nosso Espiritismo pode de alguma maneira influenciar local e
internacionalmente na ultrapassagem destes desafios. É uma oportunidade de
pensarmos grande, nesta edição Milton Medran nos comenta que somos 3% de
Espíritas no Brasil, há 20 anos a CNN, rede de Televisão americana, atingia 2%
dos americanos e eles diziam ... “são os 2% que fazem a diferença”, quem sabe
não esteja nesta perspectiva a nossa mola impulsionadora de nossas ações. Hoje
a CNN é uma realidade mundial. Sejamos também aqueles que fazem a diferença.
Detalhes de como se inscrever para participar
podem ser encontrados no link a seguir: https://cepainternacional.org/site/pt/xxiii-congresso-espirita-2020, na home página da CEPA
Internacional.
Salou fica na cidade de Tarragona, não percam
esta oportunidade de conhecer este litoral maravilhoso.
Allan Kardec, no livro Obras Póstumas nos
deixou algumas recomendações de como manter o Espiritismo unido e atualizado,
ele imaginava que poderia existir uma organização central, mas
fundamentalmente, esta organização poderia ter seus atos fiscalizados pelos
congressos ou assembleias gerais. Kardec previu que o Espiritismo, por seu
caráter progressista, teria necessariamente que ser revisado e confirmado por
meio de congressos.
A CEPA como organização também se utiliza
destes dois elementos as Assembleias Gerais que tomam decisões administrativas,
como eleger a diretoria, ou mesmo alterar o nome como em 2016 em Rosário.
Nossos congressos são também um ponto de consolidação de entendimentos
doutrinários. Fica aqui a expectativa de que isso também ocorra em Salou.
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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totalmente gratuito.
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Internacional
quinta-feira, 12 de março de 2020
Manifesto pela Democracia - por CPDoc
O CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita- grupo formado por espíritas de diversos estados brasileiros, comprometido há mais de 30 anos com o estudo, divulgação e desenvolvimento da filosofia espírita, a partir de uma perspectiva kardecista, progressista, laica e livre pensadora vem a público manifestar sua profunda preocupação com o atual momento político e institucional brasileiro.
Nos últimos anos tem sido comum encontrarmos nos meios de comunicação e nas redes sociais declarações públicas de enaltecimento a regimes ditatoriais e de menosprezo à ordem democrática. Declarações de caráter misógino, racista, LGBT fóbicas e de desprezo ao conhecimento científico. Temos observado também a intromissão de valores e interesses específicos de determinados grupos religiosos na esfera do Estado, colocando em risco o princípio da separação entre religião e Estado, fundamental conquista da modernidade.
Ante este estado de coisas, os espíritas ligados ao CPDoc, vêm reafirmar, perante todos os cidadãos brasileiros, espíritas e não espíritas, seu respeito aos valores democráticos, aos direitos humanos, ao estado laico, e aos valores da educação e da cultura, imprescindíveis na formação da cidadania e no desenvolvimento do pensamento crítico. Reafirmam, ainda, a igualdade entre homens e mulheres, o respeito à diversidade de gênero, etnia, cor e orientação sexual e seu compromisso com as liberdades de consciência, crença, expressão e imprensa.
O espiritismo, filosofia espiritualista fundada por Allan Kardec, tem como princípios os valores iluministas da racionalidade e do humanismo, o que faz com que nós, espíritas, rejeitemos, a partir das lições de Allan Kardec e dos espíritos colaboradores do mestre lionês, todos os tipos de obscurantismo, dogmatismo, autoritarismo, sectarismo e discriminação, venham eles das áreas religiosa ou política.
Aproveitamos para manifestar também nossa preocupação com o profundo abismo econômico e social que separa os brasileiros em dois grupos distintos, de um lado algumas poucas pessoas e grupos privilegiados, detentores de um poder econômico altamente concentrado, e de outro a grande maioria da população, que luta a duras penas pela sobrevivência, por pão e dignidade. Entendemos que a paz social é também produto da equidade, sendo impossível alcançá-la desprezando as condições materiais da vida das pessoas.
Esperamos, sinceramente, que o povo brasileiro e suas instituições saibam equacionar com sabedoria os graves conflitos sociais que cruzam a sociedade brasileira neste momento de instabilidade política e institucional, no qual muitos brasileiros estão divididos de forma a desprezar o diálogo e o exercício da alteridade. Que os valores democráticos, representados pelas ideias de liberdade e igualdade, sejam os faróis a iluminar os caminhos do Brasil nesta quadra da história. Que a ideia de fraternidade possa unir os brasileiros em torno do objetivo comum de um Brasil melhor para todos, sem perder de vista, no entanto, o respeito à diferença e à pluralidade de ideias.
Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, CPDoc. Santos, março de 2020.
Nos últimos anos tem sido comum encontrarmos nos meios de comunicação e nas redes sociais declarações públicas de enaltecimento a regimes ditatoriais e de menosprezo à ordem democrática. Declarações de caráter misógino, racista, LGBT fóbicas e de desprezo ao conhecimento científico. Temos observado também a intromissão de valores e interesses específicos de determinados grupos religiosos na esfera do Estado, colocando em risco o princípio da separação entre religião e Estado, fundamental conquista da modernidade.
Ante este estado de coisas, os espíritas ligados ao CPDoc, vêm reafirmar, perante todos os cidadãos brasileiros, espíritas e não espíritas, seu respeito aos valores democráticos, aos direitos humanos, ao estado laico, e aos valores da educação e da cultura, imprescindíveis na formação da cidadania e no desenvolvimento do pensamento crítico. Reafirmam, ainda, a igualdade entre homens e mulheres, o respeito à diversidade de gênero, etnia, cor e orientação sexual e seu compromisso com as liberdades de consciência, crença, expressão e imprensa.
O espiritismo, filosofia espiritualista fundada por Allan Kardec, tem como princípios os valores iluministas da racionalidade e do humanismo, o que faz com que nós, espíritas, rejeitemos, a partir das lições de Allan Kardec e dos espíritos colaboradores do mestre lionês, todos os tipos de obscurantismo, dogmatismo, autoritarismo, sectarismo e discriminação, venham eles das áreas religiosa ou política.
Aproveitamos para manifestar também nossa preocupação com o profundo abismo econômico e social que separa os brasileiros em dois grupos distintos, de um lado algumas poucas pessoas e grupos privilegiados, detentores de um poder econômico altamente concentrado, e de outro a grande maioria da população, que luta a duras penas pela sobrevivência, por pão e dignidade. Entendemos que a paz social é também produto da equidade, sendo impossível alcançá-la desprezando as condições materiais da vida das pessoas.
Esperamos, sinceramente, que o povo brasileiro e suas instituições saibam equacionar com sabedoria os graves conflitos sociais que cruzam a sociedade brasileira neste momento de instabilidade política e institucional, no qual muitos brasileiros estão divididos de forma a desprezar o diálogo e o exercício da alteridade. Que os valores democráticos, representados pelas ideias de liberdade e igualdade, sejam os faróis a iluminar os caminhos do Brasil nesta quadra da história. Que a ideia de fraternidade possa unir os brasileiros em torno do objetivo comum de um Brasil melhor para todos, sem perder de vista, no entanto, o respeito à diferença e à pluralidade de ideias.
Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, CPDoc. Santos, março de 2020.
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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Internacional
quarta-feira, 11 de março de 2020
METAS por Cláudia Régis Machado
METAS
“Todo
esquema evolutivo é tornar a continuidade existencial mais feliz e produtiva
possível”. Jaci Régis
Podemos nos perguntar como alcançar
resultados positivos que nos tragam satisfação e crescimento.
Tendo como conceitos a Evolução
Contínua e a Imortalidade Dinâmica, bases da teoria espírita em
nossas vidas, compreendemos que temos muito o que fazer.
Somos imortais e podemos aproveitar
as oportunidades das encarnações de nos tornarmos o melhor possível dando assim
passos para a construção da nossa evolução.
Em cima disso, ouvindo um stories da
minha filha Bruna Machado no Instagram, na qual ela falava sobre metas a serem
alcançadas “acendeu uma luzinha”: de podermos empregar as “dicas”, as
orientações dadas em nosso desenvolvimento pessoal, espiritual; no crescimento
do nosso ser. Fui buscar mais informações no processo de coaching sobre
o tema e foi superpositivo.
Estamos vivendo mais e isto nos
monstra a necessidade de que mesmo tendo realizado as orientações mestras da
existência: estudo, carreira, família, situação financeira há muito que pode
ser feito principalmente no desenvolvimento pessoal e no social (no servir)
visto que somos espíritos eternos com a responsabilidade de desenvolver-nos.
Evitar estagnação aproveitar as
oportunidades da existência. Muitas vezes não falta capacidade nem
possibilidades e sim ausência de metas. Na compreensão espírita a vida pede
produtividade.
As colocações dos coachs são
mais usadas para o trabalho nas empresas, para direcionar uma maior
produtividade, mas podem ser utilizadas como motivação, com caráter instrutivo
para realizarmos nossa trajetória evolutiva com mais objetividade,
comprometimento e um aproveitamento efetivo da vida.
Estamos no início de um novo ano e
com ele a vontade de realizar sonhos e concretizar metas. Muitos fazem listas,
anotam o que desejam efetuar no decorrer do ano, mês etc. Para os que tem esta prática um fator básico
é deixar as anotações, a lista sempre presente e não em uma gaveta, este
procedimento geralmente não traz resultados positivos.
Metas são tarefas que devem ser
cumpridas dentro de um prazo curto, médio ou longo, de preferência devem ser
simples- que estejam alinhadas a sua realidade, devem ser objetivas e bem
definidas. Devem ter um foco estabelecido. Isto para estimular e para que não
nos sintamos frustrados no fato de não conseguirmos concretizar aquilo que
queremos. Uma tarefa que não atende estes requisitos tende ao insucesso.
Todo este processo pode parecer
engessado, mas não, as metas nos oferecem um caminho, uma direção e serão
estipuladas por nós. São inúmeras as possibilidades: Cuidar de seus
relacionamentos, direcionar seu tempo, desenvolver uma habilidade ou
competência, comunicar-se melhor.
Ser mais caridoso, solidário, ter
mais gestos carinhosos, ser afetivo muitos são os itens que podem ser elegidos.
Escolha aquele que você ache importante depois de uma análise e observação
pessoal.
Para que isso não fique só no desejo
é necessário planejamento saber o que executar, quais as ações e medidas que
devem ser tomadas. Muitas vezes os sonhos são abstratos e genéricos
transforme-os em tarefas especificas e claras que façam conquistá-los. O
esforço empregado seja em algo realizável.
Este movimento gera um campo de
energia produtiva. Estimula buscar o autoconhecimento, poder se olhar e
compreender-se. Quais os pontos fracos, fortes, que qualidades suas podem ser
empregadas para atingir seus objetivos. Muitas vezes, para sair da zona de
conforto, estabelecer desafios para enfrentar as crenças limitantes, “eu não
consigo”, “eu não dou para isso” etc.
Assuma o controle de sua vida. Nada
ocorre sem dedicação, trabalho e persistência, nosso propósito é a evolução, o
desenvolvimento. Disciplina, organização, dizer não as distrações, eleger
prioridades, manter-se positivo são elementos importantes para a execução das
metas, que elas nos tragam satisfação e que a vida flua melhor.
Examine o seu desempenho, estou indo
pelo caminho correto, tenho tido resultados, preciso adaptações, mudanças. Nada
disso é fácil, mas é possível. Esteja com a mente aberta e forte para enfrentar
os obstáculos diários.
O foco é estabelecer novas atitudes,
novos comportamentos voltados para o bem pessoal e social.
Aprecie seu progresso torne essas atitudes
em hábitos. Isto tudo para construção da melhor versão de nós mesmo nesta
existência.
Cláudia Régis Machado é psicóloga e
reside em Santos
Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos. Janeiro de 2020. quer ver o jornal completo- baixe aqui:
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Internacional
sexta-feira, 6 de março de 2020
O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS por Roberto Rufo e Silva
INSTITUTO CULTURAL KARDECISTA DE SANTOS
ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA
O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS
SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013
ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA
O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS
Trabalho
elaborado para apresentação no XIII SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento
Espírita organizado pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos
SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013
RESUMO
A liberdade é uma das grandes conquistas da sociedade
moderna. Tem-se por pressuposto que uma pessoa, um povoado, uma cidade e um
país só se desenvolvem plenamente se os governos garantirem aos seus cidadãos o
exercício pleno da liberdade.
E por liberdade entende-se a capacidade de criar, escrever,
falar sem quaisquer amarras, exercer
enfim o livre-arbítrio passando então a sua população a ser identificada como o
conjunto de cidadãos livres. Os regimes
totalitários, as ditaduras e as grandes religiões sempre se intitularam como as
guardiãs do comportamento de todos os seres humanos. As práticas utilizadas
para alcançar seus objetivos foi o de sempre colocar percalços ao longo do caminho
da evolução das pessoas. Não raro utilizaram
a tortura como “ método corretivo” aos recalcitrantes .
O Espiritismo, dito evolucionista, tem a priori a
necessidade da utilização do livre-arbítrio dos seres humanos, pois somente
isso garantirá o progresso moral e intelectual do planeta em que habitamos.
Entendemos que vários perigos se interpõem à doutrina espírita quanto à plena
utilização do livre-arbítrio e que devemos nos preparar adequadamente para
enfrentá-los.
Sumário
1 INTRODUÇÃO
Procurei ao longo do meu trabalho, composto basicamente de
apenas um capítulo, mostrar a evolução do conceito de liberdade ao longo da
história até o seu momento atual, definida como a capacidade de livre escolha,
e como o Espiritismo tem tudo a ver com essa necessidade da escolha como
condição principal da evolução dos espíritos.
A seguir listo quais os principais perigos que a meu ver o livre-arbítrio
terá que enfrentar.
Alguns deles já habitam conosco no dia a dia do movimento
espírita, outros podem se introduzir caso não tenhamos a capacidade de
identificá-los adequadamente.
Reitero no final que devemos ter esperança na construção de
uma sociedade digna, partindo sempre do uso do livre arbítrio como condição
primordial .
2 O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS
INIMIGOS
2.1 O LIVRE-ARBÍTRIO
Segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, a
Liberdade teria três significados fundamentais, correspondentes a três concepções:
a 1ª, segundo a qual a Liberdade é a ausência de condições e limites; a 2ª, a Liberdade é vista como
necessidade, que se baseia no mesmo conceito da 1ª, ou seja, a
autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence; a 3ª concepção
vê a Liberdade como possibilidade ou escolha, sendo então a Liberdade limitada
e condicionada. ( 1 )
As duas primeiras, ao longo da história da filosofia estão
ligadas a uma ordem cósmica ou divina, à Substância, ao Absoluto, ao Estado . A
origem dessas concepções está nos estóicos, para os quais, a Liberdade consiste
na autodeterminação e, portanto, só o sábio é livre. Isto porque somente o
sábio vive em conformidade com a natureza, só ele se conforma à ordem do mundo
, do destino .
Ainda segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano,
enquanto as duas primeiras concepções de Liberdade possuem um núcleo conceitual
comum, a terceira concepção não recorre a esse núcleo porque entende a
Liberdade como medida da possibilidade, portanto escolha motivada ou
condicionada. Nesse sentido a Liberdade é um problema aberto. Livre, nesse
sentido não é quem se identifica com o Absoluto, o Estado, mas quem possui uma
variável de possibilidades.
Segundo a Doutrina Espírita, especificamente na sua Lei de
Liberdade, o homem não pode vangloriar-se de gozar de absoluta liberdade,
porque os seres humanos precisam uns dos outros, limitando dessa forma o uso de
uma Liberdade absoluta. Dizem os espíritos "Desde que dois homens estejam
juntos, há entre eles direitos a serem respeitados e, portanto, nenhum deles
gozará de liberdade absoluta." Mas reforçam
que sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina ( 2 ) .
O Espiritismo, portanto, se identifica muito mais com a
terceira concepção do que com as outras duas, conceito esse apresentado no
Capítulo " Fatalidade " do Livro dos Espíritos onde, apesar de falar
na escolha das provas antes de encarnar, a escolha inicial que determinaria um
destino , reforça que o Espírito
conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de resistir
ou ceder às provas morais.
Sucede-se que historicamente o movimento espírita brasileiro
trouxe para dentro de si os vírus da anti-liberdade que acabaram por
comprometer a capacidade de escolha e decisão dos seus praticantes bem como dos
movimentos espíritas regionais pelo Brasil afora.
"A Sociedade aberta e os seus Inimigos" é o nome
de um dos livros mais instigantes do filósofo da ciência Karl Raimund Popper,
nascido em Viena em 1.902 e falecido em 1.994 , aos 92 anos de idade , em
Londres . Karl Popper fundou a teoria da falibilidade do conhecimento.
Argumentou que o conhecimento científico não se assenta no chamado método
indutivo, mas numa contínua interação entre conjecturas e refutações.
Entre as consequências desta visão progressista do
conhecimento encontram-se duas consequências que terão particular importância
para a filosofia política e moral de Popper. A primeira é que passa a se adotar
o chamado critério de demarcação entre asserções científicas e não científicas:
científicas são apenas aquelas que sejam susceptíveis de teste, isto é, de
refutação. Algo do tipo "se a ciência demonstrar que estamos errados em algum
ponto, nós mudaremos ".
Uma segunda consequência da teoria do conhecimento de Popper
está na liberdade de crítica. "A possibilidade de se criticar uma teoria,
de submetê-la a teste e de tentar refutá-la é condição indispensável do
progresso do conhecimento", afirma Popper.
2.2 O PRIMEIRO INIMIGO AO
LIVRE-ARBÍTRIO
O primeiro inimigo
ao livre-arbítrio no Espiritismo oficial surgiu quando se assumiu uma
posição claramente avessa a qualquer crítica, já que o Absoluto determinou antecipadamente
o certo e o errado.
Diga-se que as ideologias dominantes no século XIX e XX
tiveram o mesmo comportamento. Hoje vejo claramente que devemos desconfiar de
toda concepção otimista da sociedade baseada nas duas primeiras concepções de Liberdade
citadas, pois as injustiças têm um auto grau de aceitação no corolário dessas
concepções. Fico com o grande escritor Elias Canetti quando afirma que a ladainha de uma "astúcia da razão"
histórica , capaz de se impor mesmo com a humanidade trabalhando na direção
contrária , é um grande embuste ( 3 ) . O mesmo vale para uma razão natural.
O grande pensador espírita Eugênio Lara em seu interessante
livro "Breve ensaio sobre o humanismo espírita" nos esclarece que
apesar de o Humanismo Espírita ter suas raízes no pensamento iluminista,
anteclerical, ele não entra em confronto com o cristianismo, com a Igreja. O
autor Eugênio Lara sugere que ao querer interpretar os dogmas e princípios
católicos sob a ótica espírita, Allan Kardec trouxe para dentro da Doutrina
Espírita o ovo da serpente. Gosto muito quando afirma que o Espiritismo é determinista,
mas não é fatalista. E que não há um destino pré-estabelecido bem como não
existir fatalidade nos atos da vida moral. ( 4 ) Essa ideia é desenvolvida pelo
pensador argentino Manuel Porteiro em uma conferência de 09 de outubro de 1.935
no Teatro Lasalle na Argentina .
Reproduzo aqui o texto completo pela sua beleza e densidade:
A filosofia espírita
é determinista, mas não é fatalista, nem no sentido teológico, nem no
materialista . No primeiro, porque não admite que as ações humanas nem as
causas que as produzam estejam dispostas por Deus para a realização de cada fim
individual, e porque este fim não é um limite no qual se encerre a evolução do
espírito, nem está fora do ser , nem é oposto à sua essência nem à sua vontade,
senão que é dinâmico, indefinido e livre na eleição dos meios e das ações que
hão de realizá-lo: é o ser realizando-se a si mesmo no processo sem limites de
sua evolução, superando-se nas noções e na prática do bem, da justiça e do amor
, desenvolvendo as potencialidades e faculdades de seu espírito, elevando-se a
uma maior compreensão de sua personalidade e da natureza no meio da qual se
desenvolve. (Manuel Porteiro, 1936)
2.3 O SEGUNDO INIMIGO AO
LIVRE-ARBÍTRIO
O segundo inimigo
ao livre-arbítrio agora no ideário espírita , assim como à democracia ,
é não ficarmos atentos ao crescimento da intolerância religiosa e política.
Estou preocupado com o que Fernando Bonassi, autor e ensaísta teatral, chama de
criação no mundo contemporâneo de uma "República Fundamentalista
Evangélica" no mundo ocidental. Sua
regra de conduta se baseia no ódio, às vezes disfarçado pelo desprezo, ao mundo
científico e ao avanço do conhecimento, traduzidos numa intolerância ao Estado
Democrático de Direito. Especialmente em se tratando dos neo-pentecostais o
perigo é ainda maior, pois ao avançarem suas garras no mundo político formal,
levam junto consigo a intolerância, que ganha dimensões de tragédia quando é
incrementada aos aparelhos de estado.
Sua força na Câmara Federal (a bancada evangélica) colabora no
patrocínio de um ideário de desprezo pela individualidade humana.
Se no movimento espírita a presença física nos cargos
políticos é ainda incipiente, o perigo do ideário também ultraconservador é
latente. Basta acompanhar o órgão
oficial de imprensa da Federação Espírita Brasileira, a revista "O
Reformador", que repete os mesmos jargões/conceitos de 50 anos atrás ,
como se os grandes movimentos civis da segunda metade do século XX , que alteraram as relações sociais, nunca
tivessem existido.
E onde se situa nisso
tudo o nosso querido Espiritismo? Jaci Regis, em seu artigo "Palavras de
Emmanuel" do Jornal Abertura de Junho/2010, demonstra através da análise
do livro "O Consolador" psicografado por Francisco Cândido Xavier e
publicado pela FEB em 1940 ( há setenta
anos atrás), o qual traz as opiniões do Espírito Emmanuel , que a palavra desse
espírito passou a ser considerada como uma "autorizada versão vertida da
Espiritualidade Superior e tornou-se paradigma para o movimento espírita
brasileiro" nas mesmas palavras de Jaci Regis . Eu complemento afirmando
que é um paradigma que não pode ser
submetido a testes, pois sua fonte advém
de uma profecia superior , logo não passível de progressos oriundos de
quaisquer avanços do conhecimento . Nesse ponto a FEB é extraordinariamente
coerente com seu desprezo pelas mudanças sociais e morais que as ciências
apontam como urgentes para o aperfeiçoamento do comportamento humano.
2.4 O TERCEIRO INIMIGO AO
LIVRE-ARBÍTRIO
O terceiro inimigo
ao livre-arbítrio vem da política. Aquela que nas palavras da filósofa
Hannah Arendt seria a nossa última garantia de sanidade mental, hoje se
transformou num grande negócio. A
frequência constante dos políticos nas páginas policiais é um atestado do
perigo que falarei a seguir. O grande
fracasso da distribuição de renda no mundo e da solidariedade política entra as
nações, com países importantes relegando durante anos a segundo ou terceiro
planos anseios legítimos de outros povos, foi o combustível necessário para o
aparecimento, o que parecia impossível nessa altura do campeonato, de um
ideário baseado no controle do Estado, das comunicações e do comportamento
humano. É o que eu chamo de perigo do reaparecimento de doutrinas totalitárias,
com uma nova roupagem, onde até mesmo o uso de estratégias democráticas são
utilizadas em causa própria. O Estado total não reconhece limites morais.
Determinados grupos que sairam às ruas, têm desprezo pelas
instituições democráticas, aproveitando a fragilidade das mesmas pelo principal
motivo que expus acima. A perseguição a veículos da mídia na cobertura dos
protestos, com uso sistemático de violência física, demonstra a pouca
importância que esses fanáticos têm pela liberdade de imprensa. Prestemos atenção, pois como disse a
escritora Lya Luft estamos em momentos extremamente confusos, perigosos, de
vulnerabilidade e indecisão.
Em seu magistral livro "O povo brasileiro" em sua introdução , o antropólogo Darcy Ribeiro ( 5 ) escreve :
A estratificação
social separa e opõe os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles
dos miseráveis. Nesse plano, as relações de classe chegam a ser tão infranqueáveis
que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a
minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a
deplora, como se essa fosse uma conduta natural.
Os espíritos foram muito claros e contundentes ao responder
que a desigualdade social é obra dos homens e não de Deus. Mas desafio quem
nunca leu a estapafúrdia afirmação que as injustiças sociais são resgates do
passado. Por esse tipo de conduta aliado ao desprestigio da política, os "
revolucionários " e os " reacionários " estão de volta . Cuidado
com eles. O livre-arbítrio nada significa para esse tipo de gente. No desejo de
participarmos de movimentos sociais coletivos, devemos analisar muito bem o
conteúdo desses grupos antes de entregarmos solenemente a nossa liberdade.
O engajamento entusiasmado costuma dar em grandes decepções.
Os intelectuais fascistas e socialistas são pródigos em dar cria a grandes
monstros.
Nas palavras do filósofo Czeslaw Milosz, Prêmio Nobel de
Literatura de 1.980 , em seu livro Mente Cativa , " pertencer às massas é
a grande força motriz do intelectual engajado " .
2.5 O QUARTO INIMIGO AO
LIVRE-ARBÍTRIO
O quarto inimigo do
livre-arbítrio que listo agora é o da " civilização do espetáculo
" , a cultura da celebridade , a adoração das novidades tecnológicas ,
onde o conhecimento que induz a valores não tem mais significado . Cultura
passou a ser diversão. O que não é divertido não é cultura. O capitalismo está
passando por uma grave crise justamente por aceitar como único valor existente
aquele fixado pelo mercado. É espantosa a generalização da frivolidade, a
proliferação do jornalismo de fofocas e de escândalos.
Sinto-me um ser à parte da humanidade quando vou ao cinema
com minha esposa, em espaços alternativos, para assistir a um filme denominado
" de arte " , ou seja , filmes que tratam das relações humanas e seus
valores . Duram no máximo duas a três semanas no circuito cinematográfico.
Quando entrei para a Mocidade Espírita Estudantes da Verdade em Santos no ano
de 1.978, que maravilha de ambiente cultural encontrei naquela casa e naqueles
jovens, assim como eu. Cinema, teatro e televisão eram fontes de cultura, saber
e conhecimento do ser humano . Muitos tabus e preconceitos foram ultrapassados
com esse conhecimento. Até mesmo na criação de argumentos contra a ditadura
militar que vigia na época.
Porque o salto pra trás?
Onde estavam os intelectuais americanos que permitiram vários governos
Bush ( pai e filho ) com seu atraso intelectual e moral ? Porque os
intelectuais espíritas não perceberam esse fenômeno do aviltamento da cultura e
se prepararam adequadamente para suprir as pessoas de subsídios para o seu dia
a dia? E a tão famosa frase de que o progresso intelectual engendra o progresso
moral, onde fica?
Para os intelectuais de porte mundial há uma explicação dada
pelo escritor Mário Vargas Llosa ( 6 ):
O que levou ao apoucamento e à volatilização
do intelectual em nosso tempo? Uma razão
que deve ser considerada é o descrédito em que várias gerações de intelectuais
incidiram em virtude de suas simpatias
pelos totalitarismos nazista , soviético e maoísta, bem como de seu
silêncio e cegueira diante de horrores como o Holocausto , o Gulag soviético e
os massacres da Revolução Cultural chinesa. (2012)
Sugiro a leitura do livro " Por uma esquerda sem futuro
" de Timothy James Clark , que ao tratar da crise da modernidade , faz uma
pergunta que repasso a todos : " Será que ainda temos à mão os materiais
com as quais se constitui uma sociedade digna do nome " ? ( 7 ) Ao responder à pergunta 766 os espíritos de
uma outra forma respondem qual o caminho para a busca dos materiais que fazem
uma sociedade participativa . Afirma que Deus nos deu a palavra e todas as
outras faculdades necessárias à vida de relação. Dizem que os homens devem
concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. T.J.Clark ainda tem
esperança quando diz que os " os elementos de uma nova linguagem possam de
fato ser encontrados no espetáculo de uma política engessada, de uma economia
impiedosa e de um entusiasmo generalizado ( como sempre ) pela mais recente e
estúpida novidade tecnológica " .
Finalizo com as palavras do genial Eugênio Lara no Prólogo ao seu
citado livro : " O Espiritismo afasta-se radicalmente do dogmatismo
cristão , do religiosismo , do pensamento mágico , da visão teológica do Ser e
integra-se ao laicismo, alinha-se à ciência , sobretudo porque ele possui uma
natureza humanista, portanto laica e secular " .( 8 ) .
Parece fácil, mas o caminho pela frente é muito árduo e
cheio de perigos . A capacidade de organização dos viciados em religião e
ideologias não deve ser menosprezada. No entanto , acredito nas palavras do
poeta irlandês Seamus Heaney : " virá um dia em que a esperança irá rimar
com história " .
3 CONCLUSÃO
O Espiritismo só sobreviverá como ideia capaz de participar
das decisões importantes da humanidade quando for capaz de construir um ideário
e um comportamento isentos de preconceitos.
Para isso o livre-arbítrio é a ferramenta mais importante do seu
conjunto doutrinário. Sem ele, ficaremos como as demais correntes
espiritualistas que repetem sem cessar as mesmas ladainhas conservadoras. O
pior corolário disso é a incapacidade de se abrir ao novo, mudar o
comportamento, compreender melhor os seres humanos e com isso evoluir.
Infelizmente acredito que corremos o risco atualmente de nos
transformarmos em mais uma religião, que para se defender da acusação de retrógrada,
imobilizada, repete as palavras de Salomão de que não há nada de novo debaixo
do sol.
REFERÊNCIAS
(
1 ) Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano - 6ª edição 2012 - Martins Fontes
.
(
2 ) O Livro dos Espíritos - 1ª Edição comemorativa do Sesquicentenário - 2007 -
FEB .
(
3 ) Livro Auto de Fé - Elias Canetti -
2ª edição 2011 - COSACNAIFY .
(
4 ) Breve ensaio sobre o humanismo
espírita - Eugênio Lara - 1ª edição 2012
- CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita .
(
5 ) O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro -
12ª edição - Companhia de Bolso .
(
6 ) A Civilização do Espetáculo - Maria
Vargas Llosa - 1ª edição 2012 - Editora Objetiva Ltda .
(
7 ) Por uma esquerda sem rumo -
T.J.Clark - 1ª edição 2013 - Editora 34 .
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