sábado, 28 de março de 2020

Coronavius - por Roberto Rufo


O pastor e músico norte-americano Landon Spradlin, de 66 anos, morreu na quarta-feira (26) de covid-19 nos Estados Unidos. Dias antes de apresentar os sintomas da doença, ele chamou o novo coronavírus de “histeria coletiva” e chegou a compartilhar informações falsas sobre o assunto. As informações são do jornal ABC. 

Lembram da frase " se a ciência demonstrar que estamos errados em algum ponto devemos modificar esse ponto"?

Esse pastor não percebeu que o ponto "a fé remove montanhas" não basta tão somente para remover o Coronavirus.

A fé na ciência, e somente ela, é capaz disso.

Roberto Rufo.

domingo, 22 de março de 2020

2020 ano do XXIII Congresso Espírita da CEPA - organização do blog


2020 ano do XXIII Congresso Espírita da CEPA

Chegou o ano de mais um Congresso da CEPA, deverá ser o terceiro que participaremos, estivemos aqui em Santos e em Rosário na Argentina, antes disso minhas atividades profissionais me impediram de poder participar. A amostra que tenho é muito favorável, vale a pena participar. O congraçamento das pessoas, a temática variável permite abertura de pensamento, ainda que ligadas por um fio central determinado pelo tema do congresso oportuniza o contraste, rever amigos e conhecer outros países, outras culturas, são componentes que ajudam à tomada de decisão em participar.

Será o primeiro congresso da CEPA Internacional fora da América. Em Rosário foi aprovada a mudança de nome da CEPA, de Confederação Espírita Pan-americana, para CEPA Associação Espírita Internacional e escolhida a Europa e em especial a Espanha como sede do primeiro congresso após a mudança do nome.

O local escolhido – Salou, uma cidade na costa da Catalunha, muito turística, propicia alguns passeios pela costa de “trenzinho”, aqueles ônibus em formato de trem, bastante interessantes. A cidade apresenta ruínas Romanas que são sempre muito atrativas, além é claro da proximidade de Barcelona uma cidade fantástica.

O congresso tem como tema central – O Espiritismo ante os desafios humanos – nada mais coerente com o momento geopolítico que vivemos, certamente impulsionará os palestrantes a pensar em como o nosso Espiritismo pode de alguma maneira influenciar local e internacionalmente na ultrapassagem destes desafios. É uma oportunidade de pensarmos grande, nesta edição Milton Medran nos comenta que somos 3% de Espíritas no Brasil, há 20 anos a CNN, rede de Televisão americana, atingia 2% dos americanos e eles diziam ... “são os 2% que fazem a diferença”, quem sabe não esteja nesta perspectiva a nossa mola impulsionadora de nossas ações. Hoje a CNN é uma realidade mundial. Sejamos também aqueles que fazem a diferença.

Detalhes de como se inscrever para participar podem ser encontrados no link a seguir: https://cepainternacional.org/site/pt/xxiii-congresso-espirita-2020, na home página da CEPA Internacional.

Salou fica na cidade de Tarragona, não percam esta oportunidade de conhecer este litoral maravilhoso.

Allan Kardec, no livro Obras Póstumas nos deixou algumas recomendações de como manter o Espiritismo unido e atualizado, ele imaginava que poderia existir uma organização central, mas fundamentalmente, esta organização poderia ter seus atos fiscalizados pelos congressos ou assembleias gerais. Kardec previu que o Espiritismo, por seu caráter progressista, teria necessariamente que ser revisado e confirmado por meio de congressos.

A CEPA como organização também se utiliza destes dois elementos as Assembleias Gerais que tomam decisões administrativas, como eleger a diretoria, ou mesmo alterar o nome como em 2016 em Rosário. Nossos congressos são também um ponto de consolidação de entendimentos doutrinários. Fica aqui a expectativa de que isso também ocorra em Salou.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 12 de março de 2020

Manifesto pela Democracia - por CPDoc

O CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita-  grupo formado por espíritas de diversos estados brasileiros, comprometido há mais de 30 anos com o estudo, divulgação e desenvolvimento da filosofia espírita, a partir de uma perspectiva kardecista, progressista, laica e livre pensadora vem a público manifestar sua profunda preocupação com o atual momento político e institucional brasileiro. 

Nos últimos anos tem sido comum encontrarmos nos meios de comunicação e nas redes sociais declarações públicas de enaltecimento a regimes ditatoriais e de menosprezo à ordem democrática. Declarações de caráter misógino, racista, LGBT fóbicas e de desprezo ao conhecimento científico. Temos observado também a intromissão de valores e interesses específicos de determinados grupos religiosos na esfera do Estado, colocando em risco o princípio da separação entre religião e Estado, fundamental conquista da modernidade.

Ante este estado de coisas, os espíritas ligados ao CPDoc, vêm reafirmar, perante todos os cidadãos brasileiros, espíritas e não espíritas, seu respeito aos valores democráticos, aos direitos humanos, ao estado laico, e aos valores da educação e da cultura, imprescindíveis na formação da cidadania e no desenvolvimento do pensamento crítico. Reafirmam, ainda, a igualdade entre homens e mulheres, o respeito à diversidade de gênero, etnia, cor e orientação sexual e seu compromisso com as liberdades de consciência, crença, expressão e imprensa.

O espiritismo, filosofia espiritualista fundada por Allan Kardec, tem como princípios os valores iluministas da racionalidade e do humanismo, o que faz com que nós, espíritas, rejeitemos, a partir das lições de Allan Kardec e dos espíritos colaboradores do mestre lionês, todos os tipos de obscurantismo, dogmatismo, autoritarismo, sectarismo e discriminação, venham eles das áreas religiosa ou política.

Aproveitamos para manifestar também nossa preocupação com o profundo abismo econômico e social que separa os brasileiros em dois grupos distintos, de um lado algumas poucas pessoas e grupos privilegiados, detentores de um poder econômico altamente concentrado, e de outro a grande maioria da população, que luta a duras penas pela sobrevivência, por pão e dignidade.  Entendemos que a paz social é também produto da equidade, sendo impossível alcançá-la desprezando as condições materiais da vida das pessoas.

Esperamos, sinceramente, que o povo brasileiro e suas instituições saibam equacionar com sabedoria os graves conflitos sociais que cruzam a sociedade brasileira neste momento de instabilidade política e institucional, no qual muitos brasileiros estão divididos de forma a desprezar o diálogo e o exercício da alteridade. Que os valores democráticos, representados pelas ideias de liberdade e igualdade, sejam os faróis a iluminar os caminhos do Brasil nesta quadra da história. Que a ideia de fraternidade possa unir os brasileiros em torno do objetivo comum de um Brasil melhor para todos, sem perder de vista, no entanto, o respeito à diferença e à pluralidade de ideias.

Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, CPDoc. Santos, março de 2020.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quarta-feira, 11 de março de 2020

METAS por Cláudia Régis Machado


METAS

“Todo esquema evolutivo é tornar a continuidade existencial mais feliz e produtiva possível”. Jaci Régis

Podemos nos perguntar como alcançar resultados positivos que nos tragam satisfação e crescimento.
Tendo como conceitos a Evolução Contínua e a Imortalidade Dinâmica, bases da teoria espírita em nossas vidas, compreendemos que temos muito o que fazer.

Somos imortais e podemos aproveitar as oportunidades das encarnações de nos tornarmos o melhor possível dando assim passos para a construção da nossa evolução.




Em cima disso, ouvindo um stories da minha filha Bruna Machado no Instagram, na qual ela falava sobre metas a serem alcançadas “acendeu uma luzinha”: de podermos empregar as “dicas”, as orientações dadas em nosso desenvolvimento pessoal, espiritual; no crescimento do nosso ser. Fui buscar mais informações no processo de coaching sobre o tema e foi superpositivo.

Estamos vivendo mais e isto nos monstra a necessidade de que mesmo tendo realizado as orientações mestras da existência: estudo, carreira, família, situação financeira há muito que pode ser feito principalmente no desenvolvimento pessoal e no social (no servir) visto que somos espíritos eternos com a responsabilidade de desenvolver-nos.

Evitar estagnação aproveitar as oportunidades da existência. Muitas vezes não falta capacidade nem possibilidades e sim ausência de metas. Na compreensão espírita a vida pede produtividade.
As colocações dos coachs são mais usadas para o trabalho nas empresas, para direcionar uma maior produtividade, mas podem ser utilizadas como motivação, com caráter instrutivo para realizarmos nossa trajetória evolutiva com mais objetividade, comprometimento e um aproveitamento efetivo da vida.

Estamos no início de um novo ano e com ele a vontade de realizar sonhos e concretizar metas. Muitos fazem listas, anotam o que desejam efetuar no decorrer do ano, mês etc.  Para os que tem esta prática um fator básico é deixar as anotações, a lista sempre presente e não em uma gaveta, este procedimento geralmente não traz resultados positivos.

Metas são tarefas que devem ser cumpridas dentro de um prazo curto, médio ou longo, de preferência devem ser simples- que estejam alinhadas a sua realidade, devem ser objetivas e bem definidas. Devem ter um foco estabelecido. Isto para estimular e para que não nos sintamos frustrados no fato de não conseguirmos concretizar aquilo que queremos. Uma tarefa que não atende estes requisitos tende ao insucesso.

Todo este processo pode parecer engessado, mas não, as metas nos oferecem um caminho, uma direção e serão estipuladas por nós. São inúmeras as possibilidades: Cuidar de seus relacionamentos, direcionar seu tempo, desenvolver uma habilidade ou competência, comunicar-se melhor.

Ser mais caridoso, solidário, ter mais gestos carinhosos, ser afetivo muitos são os itens que podem ser elegidos. Escolha aquele que você ache importante depois de uma análise e observação pessoal.
Para que isso não fique só no desejo é necessário planejamento saber o que executar, quais as ações e medidas que devem ser tomadas. Muitas vezes os sonhos são abstratos e genéricos transforme-os em tarefas especificas e claras que façam conquistá-los. O esforço empregado seja em algo realizável.
Este movimento gera um campo de energia produtiva. Estimula buscar o autoconhecimento, poder se olhar e compreender-se. Quais os pontos fracos, fortes, que qualidades suas podem ser empregadas para atingir seus objetivos. Muitas vezes, para sair da zona de conforto, estabelecer desafios para enfrentar as crenças limitantes, “eu não consigo”, “eu não dou para isso” etc.

Assuma o controle de sua vida. Nada ocorre sem dedicação, trabalho e persistência, nosso propósito é a evolução, o desenvolvimento. Disciplina, organização, dizer não as distrações, eleger prioridades, manter-se positivo são elementos importantes para a execução das metas, que elas nos tragam satisfação e que a vida flua melhor.

Examine o seu desempenho, estou indo pelo caminho correto, tenho tido resultados, preciso adaptações, mudanças. Nada disso é fácil, mas é possível. Esteja com a mente aberta e forte para enfrentar os obstáculos diários.

O foco é estabelecer novas atitudes, novos comportamentos voltados para o bem pessoal e social.
Aprecie seu progresso torne essas atitudes em hábitos. Isto tudo para construção da melhor versão de nós mesmo nesta existência.

Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos. Janeiro de 2020. quer ver o jornal completo- baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/26-jornal-abertura-2020?download=178:jornal-abertura-janeiro-de-2020

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sexta-feira, 6 de março de 2020

O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS por Roberto Rufo e Silva

INSTITUTO CULTURAL KARDECISTA DE SANTOS


ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA






O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS













SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013






ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA



O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS








Trabalho elaborado para apresentação no XIII SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita organizado pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos




SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013
RESUMO

A liberdade é uma das grandes conquistas da sociedade moderna. Tem-se por pressuposto que uma pessoa, um povoado, uma cidade e um país só se desenvolvem plenamente se os governos garantirem aos seus cidadãos o exercício pleno da liberdade.
E por liberdade entende-se a capacidade de criar, escrever, falar sem quaisquer amarras,  exercer enfim o livre-arbítrio passando então a sua população a ser identificada como o conjunto de cidadãos livres.  Os regimes totalitários, as ditaduras e as grandes religiões sempre se intitularam como as guardiãs do comportamento de todos os seres humanos. As práticas utilizadas para alcançar seus objetivos foi o de sempre colocar percalços ao longo do caminho da evolução das pessoas. Não raro utilizaram  a tortura como “ método corretivo”  aos recalcitrantes .
O Espiritismo, dito evolucionista, tem a priori a necessidade da utilização do livre-arbítrio dos seres humanos, pois somente isso garantirá o progresso moral e intelectual do planeta em que habitamos. Entendemos que vários perigos se interpõem à doutrina espírita quanto à plena utilização do livre-arbítrio e que devemos nos preparar adequadamente para enfrentá-los.













Sumário


















1 INTRODUÇÃO


Procurei ao longo do meu trabalho, composto basicamente de apenas um capítulo, mostrar a evolução do conceito de liberdade ao longo da história até o seu momento atual, definida como a capacidade de livre escolha, e como o Espiritismo tem tudo a ver com essa necessidade da escolha como condição principal da evolução dos espíritos.  A seguir listo quais os principais perigos que a meu ver o livre-arbítrio terá que enfrentar.
Alguns deles já habitam conosco no dia a dia do movimento espírita, outros podem se introduzir caso não tenhamos a capacidade de identificá-los adequadamente.
Reitero no final que devemos ter esperança na construção de uma sociedade digna, partindo sempre do uso do livre arbítrio como condição primordial .














2 O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS


2.1 O LIVRE-ARBÍTRIO


Segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, a Liberdade teria três significados fundamentais, correspondentes a três concepções: a 1ª, segundo a qual a Liberdade é a ausência de condições e  limites; a 2ª, a Liberdade é vista como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da 1ª, ou seja, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence; a 3ª concepção vê a Liberdade como possibilidade ou escolha, sendo então a Liberdade limitada e condicionada. ( 1 )
As duas primeiras, ao longo da história da filosofia estão ligadas a uma ordem cósmica ou divina, à Substância, ao Absoluto, ao Estado . A origem dessas concepções está nos estóicos, para os quais, a Liberdade consiste na autodeterminação e, portanto, só o sábio é livre. Isto porque somente o sábio vive em conformidade com a natureza, só ele se conforma à ordem do mundo , do destino .
Ainda segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, enquanto as duas primeiras concepções de Liberdade possuem um núcleo conceitual comum, a terceira concepção não recorre a esse núcleo porque entende a Liberdade como medida da possibilidade, portanto escolha motivada ou condicionada. Nesse sentido a Liberdade é um problema aberto. Livre, nesse sentido não é quem se identifica com o Absoluto, o Estado, mas quem possui uma variável de possibilidades. 
Segundo a Doutrina Espírita, especificamente na sua Lei de Liberdade, o homem não pode vangloriar-se de gozar de absoluta liberdade, porque os seres humanos precisam uns dos outros, limitando dessa forma o uso de uma Liberdade absoluta. Dizem os espíritos "Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitados e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta."  Mas  reforçam que sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina ( 2 ) .
O Espiritismo, portanto, se identifica muito mais com a terceira concepção do que com as outras duas, conceito esse apresentado no Capítulo " Fatalidade " do Livro dos Espíritos onde, apesar de falar na escolha das provas antes de encarnar, a escolha inicial que determinaria um destino ,  reforça que o Espírito conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de resistir ou ceder às provas morais.
Sucede-se que historicamente o movimento espírita brasileiro trouxe para dentro de si os vírus da anti-liberdade que acabaram por comprometer a capacidade de escolha e decisão dos seus praticantes bem como dos movimentos espíritas regionais pelo Brasil afora.
"A Sociedade aberta e os seus Inimigos" é o nome de um dos livros mais instigantes do filósofo da ciência Karl Raimund Popper, nascido em Viena em 1.902 e falecido em 1.994 , aos 92 anos de idade , em Londres . Karl Popper fundou a teoria da falibilidade do conhecimento. Argumentou que o conhecimento científico não se assenta no chamado método indutivo, mas numa contínua interação entre conjecturas e refutações.
Entre as consequências desta visão progressista do conhecimento encontram-se duas consequências que terão particular importância para a filosofia política e moral de Popper. A primeira é que passa a se adotar o chamado critério de demarcação entre asserções científicas e não científicas: científicas são apenas aquelas que sejam susceptíveis de teste, isto é, de refutação. Algo do tipo "se a ciência demonstrar que estamos errados em algum ponto, nós mudaremos ".
Uma segunda consequência da teoria do conhecimento de Popper está na liberdade de crítica. "A possibilidade de se criticar uma teoria, de submetê-la a teste e de tentar refutá-la é condição indispensável do progresso do conhecimento", afirma Popper.

2.2 O PRIMEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O primeiro inimigo ao livre-arbítrio no Espiritismo oficial surgiu quando se assumiu uma posição claramente avessa a qualquer crítica, já que o Absoluto determinou antecipadamente o certo e o errado.
Diga-se que as ideologias dominantes no século XIX e XX tiveram o mesmo comportamento. Hoje vejo claramente que devemos desconfiar de toda concepção otimista da sociedade baseada nas duas primeiras concepções de Liberdade citadas, pois as injustiças têm um auto grau de aceitação no corolário dessas concepções. Fico com o grande escritor Elias Canetti quando afirma que  a ladainha de uma "astúcia da razão" histórica , capaz de se impor mesmo com a humanidade trabalhando na direção contrária , é um grande embuste ( 3 ) . O mesmo vale para uma razão natural.
O grande pensador espírita Eugênio Lara em seu interessante livro "Breve ensaio sobre o humanismo espírita" nos esclarece que apesar de o Humanismo Espírita ter suas raízes no pensamento iluminista, anteclerical, ele não entra em confronto com o cristianismo, com a Igreja. O autor Eugênio Lara sugere que ao querer interpretar os dogmas e princípios católicos sob a ótica espírita, Allan Kardec trouxe para dentro da Doutrina Espírita o ovo da serpente. Gosto muito quando afirma que o Espiritismo é determinista, mas não é fatalista. E que não há um destino pré-estabelecido bem como não existir fatalidade nos atos da vida moral. ( 4 ) Essa ideia é desenvolvida pelo pensador argentino Manuel Porteiro em uma conferência de 09 de outubro de 1.935 no Teatro Lasalle na Argentina .
Reproduzo aqui o texto completo pela sua beleza e densidade:
A filosofia espírita é determinista, mas não é fatalista, nem no sentido teológico, nem no materialista . No primeiro, porque não admite que as ações humanas nem as causas que as produzam estejam dispostas por Deus para a realização de cada fim individual, e porque este fim não é um limite no qual se encerre a evolução do espírito, nem está fora do ser , nem é oposto à sua essência nem à sua vontade, senão que é dinâmico, indefinido e livre na eleição dos meios e das ações que hão de realizá-lo: é o ser realizando-se a si mesmo no processo sem limites de sua evolução, superando-se nas noções e na prática do bem, da justiça e do amor , desenvolvendo as potencialidades e faculdades de seu espírito, elevando-se a uma maior compreensão de sua personalidade e da natureza no meio da qual se desenvolve. (Manuel Porteiro, 1936)

2.3 O SEGUNDO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O segundo inimigo ao livre-arbítrio agora no ideário espírita , assim como à democracia , é não ficarmos atentos ao crescimento da intolerância religiosa e política. Estou preocupado com o que Fernando Bonassi, autor e ensaísta teatral, chama de criação no mundo contemporâneo de uma "República Fundamentalista Evangélica" no mundo ocidental.  Sua regra de conduta se baseia no ódio, às vezes disfarçado pelo desprezo, ao mundo científico e ao avanço do conhecimento, traduzidos numa intolerância ao Estado Democrático de Direito. Especialmente em se tratando dos neo-pentecostais o perigo é ainda maior, pois ao avançarem suas garras no mundo político formal, levam junto consigo a intolerância, que ganha dimensões de tragédia quando é incrementada aos aparelhos de estado.  Sua força na Câmara Federal (a bancada evangélica) colabora no patrocínio de um ideário de desprezo pela individualidade humana.
Se no movimento espírita a presença física nos cargos políticos é ainda incipiente, o perigo do ideário também ultraconservador é latente.  Basta acompanhar o órgão oficial de imprensa da Federação Espírita Brasileira, a revista "O Reformador", que repete os mesmos jargões/conceitos de 50 anos atrás , como se os grandes movimentos civis da segunda metade do século XX ,  que alteraram as relações sociais, nunca tivessem existido.
 E onde se situa nisso tudo o nosso querido Espiritismo? Jaci Regis, em seu artigo "Palavras de Emmanuel" do Jornal Abertura de Junho/2010, demonstra através da análise do livro "O Consolador" psicografado por Francisco Cândido Xavier e publicado  pela FEB em 1940 ( há setenta anos atrás), o qual traz as opiniões do Espírito Emmanuel , que a palavra desse espírito passou a ser considerada como uma "autorizada versão vertida da Espiritualidade Superior e tornou-se paradigma para o movimento espírita brasileiro" nas mesmas palavras de Jaci Regis . Eu complemento afirmando que é um paradigma  que não pode ser submetido a  testes, pois sua fonte advém de uma profecia superior , logo não passível de progressos oriundos de quaisquer avanços do conhecimento . Nesse ponto a FEB é extraordinariamente coerente com seu desprezo pelas mudanças sociais e morais que as ciências apontam como urgentes para o aperfeiçoamento do comportamento humano.

2.4 O TERCEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O terceiro inimigo ao livre-arbítrio vem da política. Aquela que nas palavras da filósofa Hannah Arendt seria a nossa última garantia de sanidade mental, hoje se transformou num grande negócio.  A frequência constante dos políticos nas páginas policiais é um atestado do perigo que falarei a seguir.  O grande fracasso da distribuição de renda no mundo e da solidariedade política entra as nações, com países importantes relegando durante anos a segundo ou terceiro planos anseios legítimos de outros povos, foi o combustível necessário para o aparecimento, o que parecia impossível nessa altura do campeonato, de um ideário baseado no controle do Estado, das comunicações e do comportamento humano. É o que eu chamo de perigo do reaparecimento de doutrinas totalitárias, com uma nova roupagem, onde até mesmo o uso de estratégias democráticas são utilizadas em causa própria. O Estado total não reconhece limites morais.
Determinados grupos que sairam às ruas, têm desprezo pelas instituições democráticas, aproveitando a fragilidade das mesmas pelo principal motivo que expus acima. A perseguição a veículos da mídia na cobertura dos protestos, com uso sistemático de violência física, demonstra a pouca importância que esses fanáticos têm pela liberdade de imprensa.  Prestemos atenção, pois como disse a escritora Lya Luft estamos em momentos extremamente confusos, perigosos, de vulnerabilidade e indecisão.
Em seu magistral livro "O povo brasileiro"  em sua introdução , o  antropólogo Darcy Ribeiro ( 5 ) escreve :
A estratificação social separa e opõe os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis. Nesse plano, as relações de classe chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se essa fosse uma conduta natural.
Os espíritos foram muito claros e contundentes ao responder que a desigualdade social é obra dos homens e não de Deus. Mas desafio quem nunca leu a estapafúrdia afirmação que as injustiças sociais são resgates do passado. Por esse tipo de conduta aliado ao desprestigio da política, os " revolucionários " e os " reacionários " estão de volta . Cuidado com eles. O livre-arbítrio nada significa para esse tipo de gente. No desejo de participarmos de movimentos sociais coletivos, devemos analisar muito bem o conteúdo desses grupos antes de entregarmos solenemente a nossa liberdade.
O engajamento entusiasmado costuma dar em grandes decepções. Os intelectuais fascistas e socialistas são pródigos em dar cria a grandes monstros.
Nas palavras do filósofo Czeslaw Milosz, Prêmio Nobel de Literatura de 1.980 , em seu livro Mente Cativa , " pertencer às massas é a grande força motriz do intelectual engajado " . 

2.5 O QUARTO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O quarto inimigo do livre-arbítrio que listo agora é o da " civilização do espetáculo " , a cultura da celebridade , a adoração das novidades tecnológicas , onde o conhecimento que induz a valores não tem mais significado . Cultura passou a ser diversão. O que não é divertido não é cultura. O capitalismo está passando por uma grave crise justamente por aceitar como único valor existente aquele fixado pelo mercado. É espantosa a generalização da frivolidade, a proliferação do jornalismo de fofocas e de escândalos.
Sinto-me um ser à parte da humanidade quando vou ao cinema com minha esposa, em espaços alternativos, para assistir a um filme denominado " de arte " , ou seja , filmes que tratam das relações humanas e seus valores . Duram no máximo duas a três semanas no circuito cinematográfico. Quando entrei para a Mocidade Espírita Estudantes da Verdade em Santos no ano de 1.978, que maravilha de ambiente cultural encontrei naquela casa e naqueles jovens, assim como eu. Cinema, teatro e televisão eram fontes de cultura, saber e conhecimento do ser humano . Muitos tabus e preconceitos foram ultrapassados com esse conhecimento. Até mesmo na criação de argumentos contra a ditadura militar que vigia na época.
Porque o salto pra trás?  Onde estavam os intelectuais americanos que permitiram vários governos Bush ( pai e filho ) com seu atraso intelectual e moral ? Porque os intelectuais espíritas não perceberam esse fenômeno do aviltamento da cultura e se prepararam adequadamente para suprir as pessoas de subsídios para o seu dia a dia? E a tão famosa frase de que o progresso intelectual engendra o progresso moral, onde fica?
Para os intelectuais de porte mundial há uma explicação dada pelo escritor Mário Vargas Llosa ( 6 ):
 O que levou ao apoucamento e à volatilização do intelectual em nosso  tempo? Uma razão que deve ser considerada é o descrédito em que várias gerações de intelectuais incidiram em virtude de suas simpatias  pelos totalitarismos nazista , soviético e maoísta, bem como de seu silêncio e cegueira diante de horrores como o Holocausto , o Gulag soviético e os massacres da Revolução Cultural chinesa. (2012)
Sugiro a leitura do livro " Por uma esquerda sem futuro " de Timothy James Clark , que ao tratar da crise da modernidade , faz uma pergunta que repasso a todos : " Será que ainda temos à mão os materiais com as quais se constitui uma sociedade digna do nome " ? ( 7 )  Ao responder à pergunta 766 os espíritos de uma outra forma respondem qual o caminho para a busca dos materiais que fazem uma sociedade participativa . Afirma que Deus nos deu a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. Dizem que os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. T.J.Clark ainda tem esperança quando diz que os " os elementos de uma nova linguagem possam de fato ser encontrados no espetáculo de uma política engessada, de uma economia impiedosa e de um entusiasmo generalizado ( como sempre ) pela mais recente e estúpida novidade tecnológica " .
Finalizo com as palavras  do genial Eugênio Lara no Prólogo ao seu citado livro : " O Espiritismo afasta-se radicalmente do dogmatismo cristão , do religiosismo , do pensamento mágico , da visão teológica do Ser e integra-se ao laicismo, alinha-se à ciência , sobretudo porque ele possui uma natureza humanista, portanto laica e secular " .( 8 ) .
Parece fácil, mas o caminho pela frente é muito árduo e cheio de perigos . A capacidade de organização dos viciados em religião e ideologias não deve ser menosprezada. No entanto , acredito nas palavras do poeta irlandês Seamus Heaney : " virá um dia em que a esperança irá rimar com história " .

















3 CONCLUSÃO


O Espiritismo só sobreviverá como ideia capaz de participar das decisões importantes da humanidade quando for capaz de construir um ideário e um comportamento isentos de preconceitos.  Para isso o livre-arbítrio é a ferramenta mais importante do seu conjunto doutrinário. Sem ele, ficaremos como as demais correntes espiritualistas que repetem sem cessar as mesmas ladainhas conservadoras. O pior corolário disso é a incapacidade de se abrir ao novo, mudar o comportamento, compreender melhor os seres humanos e com isso evoluir.
Infelizmente acredito que corremos o risco atualmente de nos transformarmos em mais uma religião, que para se defender da acusação de retrógrada, imobilizada, repete as palavras de Salomão de que não há nada de novo debaixo do sol.

             












REFERÊNCIAS


( 1 ) Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano - 6ª edição 2012 - Martins Fontes .
( 2 ) O Livro dos Espíritos - 1ª Edição comemorativa do Sesquicentenário - 2007 - FEB .
( 3 )  Livro Auto de Fé - Elias Canetti - 2ª edição 2011 - COSACNAIFY .
( 4 )  Breve ensaio sobre o humanismo espírita - Eugênio Lara -  1ª edição 2012 - CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita .
( 5 )  O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro - 12ª edição - Companhia de Bolso .
( 6 )  A Civilização do Espetáculo - Maria Vargas Llosa - 1ª edição 2012 - Editora Objetiva Ltda .
( 7 )  Por uma esquerda sem rumo - T.J.Clark - 1ª edição 2013 - Editora 34 .
( 8 )  Breve ensaio sobre o humanismo