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sexta-feira, 23 de julho de 2021

60 anos de Espiritismo: - Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

 

60 anos de Espiritismo:

Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

Este texto foi extraído da edição de novembro de 2007, Jaci Régis viria a desencarnar em dezembro de 2010, podemos perceber a tranquilidade e consciência que Jaci Régis tinha de seu papel e vida. Republicamos o texto, pois para muitos leitores, alguns detalhes da vida deste grande pensador podem ter passado despercebidos. O texto é escrito de próprio punho por Jaci Régis, vale a pena recordar.

Jaci Régis e Palmyra Coimbra Régis em Paris no túmulo de Allan Kardec – Cemitério Père-Lachaise.

“Neste mês de novembro completo 60 anos de atividades ininterruptas, diárias, no movimento espírita. Foi neste mês, em 1947, que comecei a participar da então Juventude Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Sessenta anos é um tempo bastante expressivo na vida de cada um. Nesse longo período a existência se corporificou no casamento, nos 6 filhos, 11 netos e, agora, na primeira bisneta. O mundo em que reencarnei, era totalmente diferente do atual. Acompanhar a febril transformação política, social e tecnológica, foi tarefa de inteligência e flexibilidade. Penso que consegui. De um simples aparelho de rádio às poderosas transmissões via satélite, estabelecendo novas formas de comunicação. Do automóvel desprovido e raro, aos carrões que circulam e se tornaram o sonho de consumo da maioria, da máquina de escrever ao computador. Do telefone precário de então ao celular e, finalmente, à internet, deixamos a aldeia circunscrita de meus primeiros dias neste mundo, à aldeias globais, na qual, a despeito de nosso desejo, estamos imersos até as orelhas. Li a República de Platão, aos treze anos, na Biblioteca Pública de Florianópolis, onde reencarnei. Desde sempre estive com livros embora só tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39 anos de idade. Dentro do movimento espírita as coisas também mudaram. Na mesma década de trinta do século passado em que reencarnei, começou a missão de Francisco Cândido Xavier, mudando o perfil do Espiritismo que, todavia, fortaleceu-se como uma religião menor. Primeiramente a iniciação num Espiritismo crítico, mas, sem dúvida, religioso, cristão.

Embora a influência do líder naqueles primeiros dias, sempre segui um caminho próprio e nunca fiquei atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência me rendeu, no tempo, muitos dissabores, se assim posso referir-me aos entraves, incompreensões e agressões que recebi. Todavia, jamais me tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fiz. Sem missão ou coisa parecida. Os desafios marcaram os passos. O ideal, a inovação, a criatividade estabeleceram novos caminhos. Mas o que mais me satisfaz, em termos de doutrina espírita, foi a liberdade de pensar fora do esquema religioso. Só quem libertou-se dos estritos caminhos do pensar religioso pode avaliar o que significa essa liberdade. Não é ser antirreligioso, maldizer as crenças. Nada disso. É ser livre para analisar os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir. Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca me tolheu, nem me cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, na minha visão, não cabe no Espiritismo, se ele quiser ser livre pensador, aberto, progressista.

Na verdade, minha existência terrena se pautou pelo trabalho no movimento espírita. Por ele, aderi ao Lar Veneranda, onde permaneço há 47 anos e que, posso dizer sem vaidade, solidifiquei sua estrutura, seu trabalho assistencial, sua destinação. Uma obra de minha vida. Formatei, também, o pensamento da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em cuja direção trabalhei muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Há também o desenvolvimento do gosto de escrever. Dirigi o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20 anos. Depois, devido a ruptura, fundei o ABERTURA, em 1987 e continua. Embora, tenha publicado folhetos e pequeno livreto, foi a partir de 1975, que me tornei um escritor, publicando oito livros que tiveram, a princípio, muita boa saída, contabilizando mais de 100 mil livros vendidos.

Desde 1986, o movimento espírita bloqueou-me. Fiquei na lista dos indesejáveis, as vendas tiveram uma queda muito grande e milhares de livros estão estocados. No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso, fundei a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar Veneranda, em substituição à Dicesp que criei e presidi no esquema unificador.

E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pelo sistema unificado do movimento. Um balanço bastante positivo pelo que vejo.

Na vida econômica ganho o suficiente para ter uma vida tranquila. Não dependo de ninguém, casa vazia, só eu e a esposa, enquanto filhos e netos seguem suas vidas dentro de padrões moralmente muito bons e economicamente satisfatórios. Não sei quanto tempo ainda estarei por aqui, mas reconheço um grande ganho para minha alma ao longo de setenta e cinco anos vividos com cardiopatia crônica, duas cirurgias para colocar pontes de safena, edema pulmonar, angioplastias, cateterismo, alguns pólipos na bexiga, gastrite crônica, mas assim mesmo relativamente sadio, pois permaneço ativo.

Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória me remete a todo um caminho no qual perfilei com pessoas de variadas expressões emotivas e intelectuais, com as quais aprendi a conviver, a superar impulsos e perdoar atritos. A maioria foi. Eu fiquei. Ao completar sessenta anos de trabalho doutrinário me sinto feliz. Meu olhar prossegue atento e mantenho alto meu estandarte de trabalho. Tenho objetivos. É o que vale”.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA - por Ricardo de Morais Nunes

 

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA

É curioso pensarmos nos dias de hoje que houve em plena Europa do tempo de Kardec, meados do século XIX, o fenômeno das mesas girantes. Quando relatamos às pessoas do século XXI que a chamada “dança das mesas” era uma verdadeira moda nos salões parisienses, muitos duvidam. E com razão, pois é muito difícil acreditar na possibilidade de brincadeiras de salão em torno de mesas que desafiam as leis da gravidade.

No entanto, as mesas giravam, o que pode ser constatado por vários jornais da época que registraram a ocorrência do curioso fenômeno. É a partir das mesas girantes que Allan Kardec se põe a pesquisar a causa de tais fenômenos insólitos, os quais iniciaram mais intensamente já em 1848 com o caso das irmãs Fox nos Estados Unidos. Arthur Conan Doyle descreve este momento histórico na Europa e nos Estados Unidos como uma verdadeira “invasão organizada” por parte dos espíritos que buscavam chamar a atenção para o outro lado da vida.

 Diferentemente do espiritualismo dogmático das religiões, que se baseavam na fé na revelação religiosa e no livro sagrado, e mesmo das correntes filosóficas espiritualistas, fundamentadas apenas na reflexão racional, o Espiritismo nasce apoiado em fatos, em fenômenos passíveis de serem observados. Allan Kardec assim se refere ao fenômeno das mesas girantes na introdução ao estudo da Doutrina Espírita em O Livro dos Espíritos:

 “O primeiro fato observado foi o movimento de objetos: designaram-no vulgarmente com o nome de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, que parece ter sido observado primeiramente na América, ou, melhor, que se teria repetido nesse país, porque a História prova que ele remonta à mais alta Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas como ruídos insólitos e golpes desferidos sem uma causa ostensiva, conhecida. Dali, propagou-se rapidamente pela Europa e por outras partes do mundo: a princípio provocou muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências em breve não permitiu que se duvidasse da sua realidade”

Estes movimentos não eram meramente mecânicos ou fortuitos. Descobriu-se que os movimentos dos objetos manifestavam inteligência. É o próprio Allan Kardec que ainda nos fala:

“As primeiras manifestações inteligentes verificaram-se por meio de mesas que se moviam e davam determinados golpes, batendo um pé, e assim respondiam, segundo o que se havia convencionado, por “sim” ou por “não” à questão proposta. Até aqui, nada de seguramente convincente para os céticos, porque podia crer-se num efeito do acaso. Em seguida, obtiveram-se respostas mais desenvolvidas por meios das letras do alfabeto; dando ao móvel um número de ordem de cada letra, chegava-se a se   formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A justeza das respostas e sua correspondência com a pergunta provocaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interpelado sobre a sua natureza, declarou que era um Espírito ou Gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. Esta é uma circunstância muito importante a notar. Ninguém havia então pensado nos Espíritos como um meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Fazem-se hipóteses frequentemente nas ciências exatas para se conseguir uma base ao raciocínio; mas neste caso não foi o que se deu.”

E aqui tem início a descoberta revolucionária dos espíritos e do mundo dos espíritos que nos cerca, que podem comunicar-se com o mundo terrestre através de médiuns, pessoas aptas, por sua organização psicofísica, a favorecer este intercambio. Da mesma forma que o telescópio possibilitou a investigação dos astros, e o microscópio a pesquisa dos microrganismos, a mediunidade foi o instrumento de pesquisa da realidade extrafísica que antes era apenas objeto de fé, reflexão filosófica ou intuição.

Das mesas que giravam saiu toda uma filosofia, uma cosmovisão de mundo, a partir do diálogo racional entre Kardec e os Espíritos. A pesquisa desta base fenomênica estava em conformidade com a época de Kardec de feitio positivista.  O “espírito do tempo” valorizava a pesquisa dos fatos e estava farto de teorias metafísicas indemonstráveis. O Espiritismo pretendia demonstrar concretamente suas teses, fundamentando-se não apenas na razão, mas também na observação.

Na sequência de O Livro dos Espíritos, Kardec publica o Livro dos Médiuns, no qual aborda uma vasta gama de fenômenos físicos e inteligentes ampliando assim a base empírica do Espiritismo. O Espiritismo teve grande êxito em chamar a atenção para estes fenômenos em sua época. A explicação espírita foi aceita por muitas personalidades eminentes daquele período. Na esteira das pesquisas espíritas surgiram a metapsíquica de Charles Richet, e a parapsicologia de Joseph Banks Rhine, entre outras tentativas de abordar os chamados “fenômenos espíritas”.

Mesmo que a tese espírita da imortalidade da alma e sua possibilidade de comunicação com este mundo terrestre através de médiuns não fosse verdadeira, Allan Kardec já teria contribuído com o mundo da pesquisa cientifica ao chamar a atenção para fenômenos da natureza antes atribuídos ao mágico, ao sobrenatural, à superstição ou a fraude. Por ser pioneiro na pesquisa deste tipo de fenômenos, Allan Kardec merece um lugar de destaque entre os grandes desbravadores do conhecimento.

Muitos perguntam por que as mesas não giram mais como giravam nos salões parisienses. Talvez a resposta seja que não é mais necessário este tipo de provocação intencional e coletiva por parte dos espíritos. A hipótese da comunicação dos espíritos através de médiuns já foi assimilada mesmo por aqueles que divergem da explicação espírita. A comunicação dos “mortos”, no mínimo, já integra o nosso horizonte cultural, fazendo parte da crença e da descrença de muitos, sendo que o Espiritismo descortinou, inclusive, um novo campo de possibilidades para a pesquisa cientifica e para a reflexão filosófica.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O Centésimo Abertura ninguém esquece e os 20 anos de ICKS - por Alexandre Cardia Machado


O Centésimo Abertura ninguém esquece e os 20 anos de ICKS

No dia 29 de outubro de 2010 todos da família Abertura fomos surpreendidos pela internação hospitalar de Jaci Régis então Presidente do ICKS e Editor-Chefe do jornal ABERTURA, fato este que infelizmente culminou com o retorno de Jaci ao Mundo dos Espíritos no mês dezembro do mesmo ano.

Passado alguns dias de sua internação na UTI nos ocorreu, e o ABERTURA? Foi então que nos dirigimos a antiga sede do ICKS e junto com a Danielle Pires verificamos o que havia de material em andamento e tratamos de agilizar o fechamento daquela edição, realmente pensávamos que, da mesma forma que já havíamos passado por problemas de saúde anteriores e Jaci Régis sempre voltava, que esta edição seria a única. Bem os fatos que se seguiram mostraram que não e aqui estamos escrevendo o nosso 100° editorial.

Vou compartilhar com vocês o e-mail que enviamos aos nossos articulistas, como de praxe é feito todos os meses, mas que especialmente nesta ocasião se tornaria em algo especial. Digo isto pois este jornal é feito pela direção do ICKS, pelos queridos articulistas e claro vocês, nossos leitores.

“Espero que vocês já tenham recebido o jornal de setembro, para outubro gostaria de informá-los que se tratará do 100° ABERTURA sem a participação direta de Jaci Régis. Os dois primeiros jornais que trabalhei, o primeiro estava 50% pronto e o segundo começamos do zero, mas ainda esperávamos pela recuperação do meu sogro o que acabou não ocorrendo. Tem sido uma grande honra seguir com esta tarefa e não poderia jamais ter chegado a esta quantidade de edições sem os artigos, o apoio e o incentivo de todos vocês, muito obrigado! Em outubro também o ICKS completará 20 anos, somos mais novos que o Abertura que antes era editado pela LICESPE. Vamos começar o jornal de outubro, favor enviar os seus artigos. Um grande abraço, Alexandre”.

Recebi vários e-mails que copio aqui pela importância desta amizade e dedicação deste grupo ao projeto ABERTURA.

“É uma honra para mim, e creio para todos nós escrevermos para um Jornal Espírita com excelente conteúdo. Parabéns a você Alexandre pela liderança expressiva na coordenação do Jornal Abertura. Parabéns a todos. Roberto Rufo”.

Parabéns Alexandre pela competente condução do jornal Abertura após a desencarnação de Jaci Régis. O Abertura continua sendo um jornal espírita sintonizado com o nosso tempo. É uma honra participar do grupo de articulistas do jornal. Devo observar que, no Abertura, somos livres para expor nossos pontos de vista, sem qualquer tipo de coação ou pressão da parte do editor do jornal. Viva o Abertura! Viva o livre-pensar espírita! Ricardo Nunes.”

Querido! Que orgulho da tua trajetória! Conte sempre conosco. Carolina Régis di Lucia”.
“Parabéns pela condução eficiente do jornal espero estar contigo enquanto a vida me permitir. Abraços. Egydio Régis”.

“Estimado Alexandre. Confesso que temia pela sobrevivência do Abertura, com a partida do Jaci. Ao contrário do ditado popular segundo o qual "ninguém é insubstituível", creio que há pessoas, em todos os setores de atividade, que deixam espaço que outros não conseguem ocupar com a mesma competência. Gosto da frase Bertold Brecht, segundo quem há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.

O Jaci, ao meu sentir, se fez imprescindível entre nós. Por isso tudo, me surpreendeu enormemente que alguém, de tua capacidade e dinamismo, logo após a desencarnação do Jaci assumisse o Abertura e seguisse, com a mesma competência, editando o jornal. Claro que te vales, para tanto, das ideias e, inclusive, de matérias deixadas por teu sogro e rememoradas a todo o momento. De uma certa forma, ele está presente nessa empreitada.

Assim, te cumprimento por levares avante esse projeto singular, mediante um enorme esforço pessoal. Posso avaliar isso, porque realizo tarefa semelhante com o coirmão do Abertura, que é o nosso Opinião, seguindo a mesma linha editorial e enfrentando as mesmas dificuldades e incompreensões. Parabéns, por tudo isso, e vida longa ao Abertura. Milton Medran”.

É claro que nossos companheiros não esperavam que seus e-mails se tornassem notícia, mas somos aqui jornalistas e como tal, o que cai na caixa de entrada do editor é matéria jornalista. Fazemos isso para que todos vocês que são parte interessada, pois pagam pela assinatura e podem e devem saber que sem vocês não há porque fazer o jornal. Assim carinhosamente digo a todos obrigado por seguirmos juntos em companhia nesta trajetória.

20 anos do ICKS

O ICKS foi fundado no dia 3 de outubro de 1999, esta data não é ocasional, Jaci Régis fez questão de escolher a data do nascimento de Hippolyte Léon Denizard Rivail mais conhecido pela alcunha de Allan Kardec. O nosso ABERTURA é um pouco mais velho, nasceu também em uma data importante para o espiritismo, exatamente no dia em que se comemora o lançamento do Livro dos Espíritos – 18 de abril - no ano de 1987, portanto já tem 32 anos.

O Espírito Jaci Régis

Temos notícias, principalmente vinda do Centro Espírita Allan Kardec que Jaci Régis está ativo, participando de diversas atividades no Mundo dos Espíritos e frequentemente se comunica por lá. Enquanto tivemos atividades mediúnicas no ICKS era comum recebermos boas notícias a seu respeito o que deixava a todos nós repletos de satisfação. Como disse muito bem o Milton Medran, Jaci era simplesmente imprescindível, então o que fazemos aqui é algo diferente, jamais teremos a vivência espírita, a capacidade intelectual e conhecimento do espiritismo daquele que era certamente uma referência para todos nós.

Mas como é costume dizer no Rio Grande: “Não está morto quem peleia” e este jornal seguirá sendo por muito tempo um canal importante de divulgação do Espiritismo Livre-pensador, porque podemos discordar, mas jamais impedir os outros de emitirem as suas opiniões.

Alexandre Cardia Machado – Editor-Chefe - editorial de outubro do Jornal Abertura

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos de outubro de 2019.

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Abaixo o link para o Abertura de outubro de 2019

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=210:jornal-abertura-outubro-de-2019


Acesse: CEPA Internacional Publicações e encontrará outras edições do Abertura entre 2018 e os dias atuais.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

REFLETINDO SOBRE - HÁ DOIS MIL ANOS - por Ricardo Nunes


REFLETINDO SOBRE  - HÁ DOIS MIL ANOS


 Tenho me dedicado a reler alguns livros espíritas que li na juventude e que naquela época me impressionaram muito. Tento perceber a impressão que tais livros me causam hoje em dia. Com este objetivo, acabei de reler a famosa obra “Há dois mil anos” psicografada por Francisco Cândido Xavier. Esta obra pretende ser uma biografia de uma das reencarnações do Espírito Emmanuel, que teria sido, segundo informação ali existente, o senador Publius Lentulus, legado do imperador romano na Judeia ao tempo de Jesus.

Desde que foi publicado, na primeira metade do século XX, o livro causou polêmicas quanto aos fatos ali narrados. Na atualidade, podemos verificar na internet toda uma discussão sobre a existência ou não deste senador na Roma antiga. Existe um debate interessante sobre a veracidade de uma carta atribuída no livro ao senador Publius Lentulus e destinada ao senado romano, na qual o senador teria feito a descrição de algumas características físicas e morais de Jesus de Nazaré.

 Em minha opinião estas polêmicas não tiram o valor   literário e doutrinário do livro. Trata-se de um bom livro, bem escrito, e que trata de alguns episódios da época do cristianismo primitivo. Mesmo que a obra fosse ficcional, ainda assim teria o seu valor. Se existem nela elementos de ficção e realidade tão ao gosto de alguns escritores, não sei dizer. O fato é que Emmanuel não a oferece ao público como obra ficcional, mas como relato de sua própria história naquela distante Roma dos Césares, diz ele:

 “Tenho-me esforçado, quanto possível, para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno, mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos. Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírito, há dois mil anos. Permita Jesus que eu possa atingir os fins a que me propus, apresentando, nesse trabalho, não uma lembrança interessante acerca de minha pobre personalidade, mas, tão somente, uma experiência para os que os que hoje trabalham na semeadura e na seara do nosso divino Mestre. ”

De fato, o livro dá a impressão de ter sido escrito por alguém que conhecia profundamente aquela época da história de Roma, diz ainda Emmanuel:

 “Ante minha alma surgem as reminiscências das construções elegantes das colinas célebres; vejo o Tibre que passa, recolhendo os detritos da grande Babilônia imperial, os aquedutos, os mármores preciosos, as termas que pareciam indestrutíveis...Vejo ainda as ruas movimentadas, onde uma plebe miserável espera as graças dos grandes senhores, as esmolas de trigo, os fragmentos de pano para resguardarem do frio a nudez da carne. Regurgitam os circos.... Há uma aristocracia do patriciado observando as provas elegantes do Campo de Marte e, em tudo, das vias mais humildes até os palácios mais suntuosos, fala-se de César, o Augusto!”

Percebe-se que o livro é escrito por alguém profundamente cristão, o que condiz com as características ideológicas de Emmanuel e também de Chico Xavier, apesar de ambos terem se convertido ao espiritismo. Emmanuel também teria sido, em uma de suas reencarnações, segundo a tradição existente no movimento espírita, um sacerdote católico.

 A obra relata um amor frustrado entre o senador Publius Lentulus e Lívia, sua esposa, que teria sido uma das primeiras aristocratas romanas adeptas da mensagem cristã. No que diz respeito ao seu relacionamento afetivo com Lívia, Emmanuel sugere na obra um conceito questionável em termos de filosofia espírita, o de que seriam “almas gêmeas”.

 O livro traz uma interessante descrição da Roma dos Césares: do sofrimento e das atividades dos escravos, das competições e cruéis divertimentos no circo, dos costumes patrícios, do domínio militar das legiões romanas sobre os povos conquistados, das intrigas na disputa pelo poder na política do império. A obra relata ainda as pregações de Jesus, sua condenação e morte, a ascensão de Nero ao poder, a destruição de Jerusalém por Tito, bem como trata das primeiras perseguições aos cristãos e termina com a erupção do Vesúvio em Pompeia, entre outros temas. Daria certamente um grande filme.

 É necessário dizer que não acredito na desonestidade de Chico Xavier na composição do livro. Neste sentido, alguns adversários do espiritismo alegam que ele teria feito pesquisas sobre a Roma antiga para escrever o romance. Não creio.

 Outros defendem como fonte da obra o inconsciente do médium, que seria capaz de captar, através de “superpoderes”, sabe-se lá de que maneira, a narrativa do livro na mente de alguma pessoa em qualquer lugar do mundo. Também não creio.

  Seria a obra um produto do inconsciente profundo do médium, de origem anímica, em razão dele ter vivido naquela época em uma de suas reencarnações? Esta hipótese seria possível, porém também não acredito nesta alternativa considerando as múltiplas personalidades, com seus maneirismos, estilos característicos, perfis psicológicos, intelectuais e morais diversos, que se manifestaram através da psicografia de Chico durante toda a sua vida.

Muito interessante é o breve período de tempo em que o livro foi escrito, quase 4 meses, de 24 de outubro de 1938 a 09 de fevereiro de 1939.

Vale a pena ler este e outros romances psicografados por Chico Xavier e por outros médiuns, sem perder de vista, é claro, que a obra psicografada de qualquer médium deve ser analisada sob os critérios filosóficos, técnicos e éticos da ciência espírita. Para entender adequadamente a obra de Xavier ou de qualquer outro médium é necessário conhecer a obra de Allan Kardec, que nos ensina, entre outras coisas, que nenhum médium está isento da análise crítica de sua produção mediúnica, pois, afinal, não existe médium perfeito.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A reencarnação na História da Humanidade - por Jaci Régis


A reencarnação na História da Humanidade


A idéia da reencarnação é conhecida desde a mais remota antiguidade. Mas perdeu-se no emaranhado das superstições e do misticismo, refletindo as dificuldades da cultura em desvencilhar-se das pressões atávicas a respeito da relação da criatura e o Criador.

A vivência dos problemas cotidianos, a fragilidade do ser humano diante da natureza, fomentou uma relação casual entre os humores dos deuses e os sofrimentos baseada no medo, na condição de culpa, castigo, desobediência e punição.

Dentro desse quadro confuso, criaram-se seitas fundamentadas em crendices e superstições, seitas baseadas em crendices e superstições acerca da reencarnação. Por isso, a metempsicose foi aceita largamente por simbolizar o castigo mais cruel imposto ao pecador, fazendo com que, sendo uma pessoa humana, reencarnasse num animal. Até um filósofo como Pitágoras a aceitou e difundiu.

            A reencarnação é muito aceita na cultura asiática, mas não teve uma ação social redentora, revolucionária. Ao contrário, propiciou uma atitude contemplativa, conformista e acomodatícia. Em culturas como a indiana, a reencarnação não evitou, ao contrário, deu certa consistência à separação em castas sociais, mantendo um estado de flagelo para os mais pobres e desafortunados.

            A cultura ocidental sofreu sucessivas transformações até cristalizar-se, de uma maneira geral, sob a égide da Igreja, com a visão judaico-cristã. A predominância da religião como centro de conhecimento e comportamento, criou uma forma não racional de ver e compreender o ser e o mundo.
            Embora espiritualista, a Igreja não aceitou a reencarnação e fixou-se na unicidade da existência. Com isso estabeleceu o princípio de finitude e concretude para o ser humano. Ele é produto biológico ao qual se adiciona uma alma. Vive um certo tempo e morre e aí finda seu período produtivo. A imortalidade da alma é reflexo da existência terrena e não apresenta qualquer oportunidade de reciclagem, uma vez que após o período da encarnação da alma está definitivamente catalogada como boa ou má.

            Logo, a pessoa humana é um ser com trajetória fixada entre o berço e o túmulo. Na cultura isso significa que ele é concreto, definido e mortal.

            Toda a estrutura doutrinária da Igreja se funda no pecado original. A moralidade e a culpa se inserem na cultura como instrumentos de como preparatória para a vida eterna.

            Certamente a idéia de punição pela desobediência e até pelos humores dos deuses e de Deus não é exclusiva do judaico-cristianismo. Mas a adoção do deus Jeová dos judeus, manteve a relação criatura-Criador dentro dos limites do medo, terror e insegurança.


A Reencarnação no Espiritismo

A reencarnação, todavia, não é um princípio solitário e autônomo no pensamento kardecista. Faz parte de um corolário de leis que se encadeiam e dá um novo sentido, uma nova visão de vida e da pessoa.

            O projeto espírita é abrangente e inovador. Ele aproveita velhos conceitos sobre a natureza do ser humano, o progresso, sobre Deus e os redefine, atualiza, dando-lhes novas dimensões e refugando superstições e crendices.

            A Doutrina Kardecista procura escoimar seus princípios das concepções místicas procurando dar-lhes uma base científica, caminho que Kardec definiu para dar validade à proposta doutrinária.

            A doutrina kardecista reformula o entendimento sobre a Justiça Divina, que tem sido vista como uma forma policial, punitiva, exigindo pagamento. Para isso apresenta uma nova compreensão da lei de causa e efeito, geralmente tomada no seu aspecto negativo, de expiação. Para a doutrina kardecista, a Justiça Divina, ao contrário, só tem por objetivos dar oportunidade de crescimento e ampliação das qualidades do ser espiritual.

A reencarnação, como foi dito, é um elo no processo evolutivo a Lei da Evolução, uma concepção revolucionária do Espiritismo que ajuda a entender o ser humano e o mundo.

Texto extraído do livro Novas Ideias de Jaci Régis

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

15 anos do Livro Kadu e o Espírito Imortal


15 anos do Livro Kadu e o Espírito Imortal



Cláudia Régis Machado em outubro de 2013, na Feira do Livro de Porto Alegre, lançava este livro enfocado para jóvens de todas as idades, um livro com muitas atividades, desafios que não segue uma ordem clara e sequencial, cada leitor lerá o mesmo na ordem que entender mais apropriada.



Nas palavras de Jaci Régis o livro é destinado à juventude, mas também para adultos, é uma interessante e excitante gincana, onde o personagem Kadu, vai aprendendo os fundamentos do Espiritismo, através de jogos e buscas que transformam a leitura numa emocionante jornada.
Cláudia é a terceira filha de Palmyra e Jaci Régis tendo ainda outros três irmãos mais novos, escreveu também o livreto Desafios do Kadu.

O livro tem sido usado em infâncias espíritas e permanece muito atual.

Kadu e o Espírito Imortal tem 85 páginas, com 42 charadas.







Para abrir a sua mente: leia o livro Kadu e o Espírito Imortal de Cláudia Régis Machado a venda no ICKS pelo email: ickardecista1@terra.com.br

quarta-feira, 11 de abril de 2018

A ARTE OCULTA DE HILMA AF KLINT - sob a ótica espírita por Roberto Rufo


A ARTE OCULTA DE HILMA AF KLINT - sob a ótica espírita por Roberto Rufo

Gosto muito de ler a Revista Cláudia que rotineiramente costumo presentear a minha mulher Valéria Regis. Já escrevi alguns artigos baseados em reportagens dessa revista. Resolvi adquirir o número de fevereiro/2018 pois fiquei entusiasmado por uma reportagem com a americana Ophra Winfrey que se uniu a outras famosas para dar voz às vítimas de assédio. Mas depois pensei que muito certamente as pensadoras espíritas já devem estar debruçadas sobre este assunto e com certeza produzirão artigos sobre este assunto com base na teoria espírita. Afinal trata-se do debate sobre os direitos da mulher.

Todavia outro assunto me chamou mais a atenção. O tema era "Arte e Realidade" e fala da exposição de obras de mulheres neste ano na Pinacoteca em São Paulo. Quem não conhece, deveria urgentemente entrar em contato com a Pinacoteca de São Paulo, um lugar belíssimo e com obras permanentes de primeiro mundo. Adoro a obra de Almeida Junior existente na Pinacoteca.



O museu criou uma programação dedicada às mulheres e estreia com Hilma af Klint, sueca que viveu de 1.862 a 1.944. Como diz a reportagem suas obras só puderam ser conhecidas após 20 anos de sua morte. A própira artista determinou isso em testamento. Frequentou sessões mediúnicas com um grupo de amigas batizado de As Cinco. Foi aí que segundo Hilma af Klint, passou a pintar sob influência de seres superiores. Fascinada pelo espiritismo produziu mais de 200 obras. Museus e galerias negaram-se a exibir suas pinturas. Isso só foi possível em meados da década de 1980.

Este artigo foi publicado no Jornal Abertura de março de 2018: Baixe aqui!



Resolvi pesquisar sobre essa mulher intrigante e descobri um artigo de uma revista de nome Caliban sobre Hilma Af Klint além de trazer vária telas da pintora. Segue abaixo parte do texto da revista:
"  Para alguns ela é uma bruxa, para outros ela é a pioneira da arte abstrata.
A artista sueca Hilma af Klint (1862–1944) foi uma mulher enigmática, viveu de maneira simples e ascética, não casou, não seguiu o padrão de sua época e pertenceu a uma das primeiras gerações de mulheres educadas na Academia Real de Artes de Estocolmo. Trabalhava intensa e rigorosamente. Deixou mais de 1.200 pinturas, 124 cadernos de notas e desenhos em mais de 26.000 páginas manuscritas e datilografadas. Ela foi completamente devota àquilo que considerava ser sua missão: revelar mensagens do mundo espiritual através da arte.
Sua arte diz-se oculta por diferentes aspectos. O mais importante deles é o fato de sua obra ser a representação física em tela do mundo espiritual, por assim dizer, daquilo que não é visível. Mas talvez o fato que desperta maior curiosidade é que a pintora não mostrava suas obras abstratas publicamente e, além disso, deixou testamentado que seus herdeiros não poderiam exibí-las antes de completar 20 anos de sua morte. Ela acreditava que seus contemporâneos não estavam prontos para entender o significado de suas imagens e todas as suas tentativas de mostrar suas obras a grupos seletos e específicos foram recusadas na época. Assim, sua obra abstrata permaneceu secreta por muitos anos.
Mas o fato é que Hilma af Klint pintou uma série de imagens abstratas em 1906, anos antes dos modernistas da abstração Wassily Kandinsky, Kazimir Malevich, Frantisek Kupka e Piet Mondrian produzirem suas obras radicais e não-figurativas na segunda década do século XX.
Contudo, Hilma af Klint ainda não está nos livros de história da arte e muitos ainda desconhecem a importância de seu legado, mas este cenário está prestes a mudar. Se sua arte foi feita para o futuro, este futuro é agora. Mais de 70 anos após sua morte, muitos têm percebido essa urgência de despertar o mundo para o legado de Hilma af Klint. No Brasil, Luciana Pinheiro Ventre, artista plástica e aconselhadora biográfica, lançará o primeiro livro em português sobre a vida e a obra de Hilma af Klint".
Na revista Cláudia que citei está exibida uma de suas telas abstratas. Com certeza na exposição programada na Pinacoteca de São Paulo serão expostas diversa outras telas. Se sobrar um tempinho ( afinal desde 16/12/2017 reencarnaram meus netinhos gêmeos Artur e Benício ) na minha atual função de "vovô de apoio" irei à Pinacoteca de São Paulo. 
                                                                                   Roberto Rufo

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A História e o Espiritismo livre-pensador - por Roberto Rufo

A História e o Espiritismo livre-pensador  - por Roberto Rufo


" A diferença entre o capitalismo e o comunismo, é que o capitalismo é a exploração do homem pelo homem e o comunismo é o contrário " ( Millôr Fernandes )

" No casamento, cada pessoa deve realizar a função que lhe compete. O homem deve ganhar dinheiro, a mulher deve economizar " ( Martinho Lutero )

 Afinal o que seria um Espiritismo livre-pensador na prática?  Antes de tentar responder a essa pergunta gostaria de relembrar dois acontecimentos históricos importantes que tiveram suas datas simbólicas ocorridas em Outubro/2017.  Em 31.10.2017 celebrou-se os 500 anos da Reforma Protestante. Em 31.10.1517 Martinho Lutero pregou na porta da igreja de Wittemberg na Alemanha as 95 teses que revolucionaram o cristianismo, a igreja e a política. Lutero tornou-se referência para os anseios de reforma que ecoavam na Europa. Ele recebeu proteção de autoridades simpáticas à causa.
Um jovem aristocrata de 23 anos, Albrecht de Brandenburg, havia sido sagrado arcebispo. Para arcar com os custos devidos ao Vaticano, ele recebeu do papa a autorização para vender indulgências, uma espécie de créditos adquiridos pelos fiéis para aplacar dívidas de pecados já cometidos e por cometer. A ideia alastrou-se.
Mas a Reforma Protestante não foi apenas um marco religioso, foi também um movimento que mudou os cenários político, econômico e cultural naquele período. Mas ilude-se quem pensa que Lutero foi um liberal em matéria religiosa ou no comportamento moral. Vivia sob um dilema: em que consiste a justiça de Deus? Resposta: a justiça de Deus se revela nos textos sagrados e só é acessível pelos caminhos da fé. O controle absoluto pelos livros sagrados intensificou-se. Quinhentos anos depois o pastor reverendo Milton Ribeiro da Igreja Presbiteriana ( Doutor em Educação pela USP, Mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de onde já foi vice-reitor emitiu as seguintes opiniões em entrevista ao jornal A Tribuna de Santos:

1ª -  A igreja presbiteriana não aceita a união homoafetiva. A razão é simples. Os textos sagrados da Bíblia falam o contrário.
2ª -  Não aceitamos pastoras pela mesma razão.
Lutero, com certeza, assinaria essas assertivas há 500 anos atrás. A abertura a novas ideias é praticamente nula. O imobilismo uma certeza.

O mês de Outurbo marcou também os 100 anos da Revolução Bolchevique que levou ao surgimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( URSS ) que trouxe inúmeros progressos a uma sociedade semi feudal russa. Alguns historiadores citam o surgimento do primeiro sistema universal de saúde, a participação da mulher no mercado de trabalho, a transformação educacional e a planificação da economia. No entanto, ainda segundo esses historiadores, o sistema de partido único criou um paradigma. O modelo que queria a busca da utopia na terra ( a sociedade sem classes ) queria também carta branca para decidir qual tipo de comportamento era o ideal para a sociedade. Transformou-se numa das mais sanguinárias experiências sociais da História da humanidade. Em 1.973 Alexander Soljenitsyn, Prêmio Nobel de Literatura, lançou o livro Arquipélago Gulag. Físico e matemático russo, Soljenitsyn passou 11 anos aprisionado em campos de trabalhos forçados na Sibéria sob a acusação de nas suas correspondências fazer críticas  ao ditador Stalin. No livro Arquipélago Gulag ele enumera dez traços ou comportamentos dos presos nos campos de " reeducação " na Sibéria. 

  1º  - O medo constante;   2º - Servidão e subjugação;   3º - Dissimulação e desconfiança;
  4º - Ignorância universal;   5º - O medo de ser delatado;   6º - A traição como forma de existência;   7º - Degradação moral;   8º - A mentira como parte de sua natureza;   9º -  Crueldade; 10º  -Psicologia de escravos.

Quem já leu o livro sabe as imagens chocantes e asustadoras relatadas da vida dos prisioneiros nos campos de concentração na Sibéria. Quarenta e quatro anos depois da primeira edição do livro ainda existem adultos bem formados que se dizem stalinistas e  defensores ferrenhos do total controle dos comportamentos humanos  pelo estado. 

Dessa forma fica muito difícil uma sociedade desse tipo estar aberta às evoluções do comportamento. O imobilismo estabeleceu-se.

Por sua vez o Espiritismo foi pensado como um modelo aberto às ideias progressistas, mesmo porque Allan Kardec aventou essa possibilidade de transformação doutrinária diante do contraditório dos fatos. Leiam-se sua declaração:
" Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará " ( A Gênese, capítulo I, Item 55 ).

Na edição de janeiro de 1867, da Revista Espírita, Kardec ainda esclareceu que essa natureza contingente do conhecimento espírita deve ser garantida pelo exercício do livre-pensar de seus adeptos:
“Toda crença eclética pertence ao livre pensamento; todo homem que não se guia na fé cega é, por isto mesmo, livre-pensador; a esse título, os Espíritas são também livres-pensadores”.
Em resumo, o exercício do livre pensar espírita torna-se condição essencial para que o aspecto progressivo do Espiritismo seja mantido. Dependerá sempre, é claro, da utilização de critérios racionais que evitem o imobilismo. É um fator de sobrevivência doutrinária. Finalizemos com Obras Póstumas, II dos Cismas, cap. XXXVII:


" O princípio progressivo, que a doutrina espírita inscreve no seu código, será salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não se assenta no princípio da imobilidade ".

domingo, 20 de agosto de 2017

Irmãs Fox - Uma tragédia Espiritualista por Marcelo Coimbra Régis

Irmãs Fox: Uma Tragédia Espiritualista
Marcelo C. Regis

Os fenômenos de Hydesville são considerados o berço do espiritualismo moderno e são também precursores do Espiritismo. Ao tornar popular a comunicação inteligente com espíritos através de sons e batidas em superfícies de madeiras (rap), os fenômenos atraíram a atenção do público e de muitos cientistas, primeiramente nos EUA e logo na Europa. Não demorou muito para que implicações filosóficas e religiosas fossem construídas a partir dos fenômenos e daí surgissem as várias correntes espiritualistas modernas. Infelizmente a história das irmãs Fox não tem um final feliz, incluindo confissão de fraude, alcoolismo, brigas, culminando com a morte das duas Fox mais famosas – Katherine (Kate) e Margaret (Maggie) – no esquecimento e na pobreza. 

Os casos de supostos médiuns de efeitos físicos pegos em fraude são numerosos, incluindo muitos médiuns estudados por autores que dão ainda hoje a base científica ao Espiritismo. Eusapia Paladino, Leonora Piper, Eva Carriere, D.D. Home, Mme. d'Ésperance são apenas alguns dos mais famosos médiuns estudados por gente como Aksakov, Bozzano, Geley, pegos em algum tipo de fraude durante sessões de efeitos físicos. Normalmente os periódicos espiritas, por motivos óbvios, ignoram esses contraditórios e assumem apenas as opiniões dos cientistas favoráveis a causa espirita ou espiritualista. Penso que precisamos conhecer todos os fatos para que o Espiritismos não seja apenas mais uma crença de fanáticos cegos por suas convicções.

No caso das irmãs Fox, tudo começou no final de Março de 1848. Maggie, então com 14 anos e Kate, com 11 anos, viviam em Hydersville uma pequena comunidade rural no estado de Nova Iorque quando os estranhos ruídos começaram. Elas diziam escutar uma série de pancadas nas paredes e móveis. Foi Kate quem teve a idéia de iniciar alguma comunicação com as batidas, pedindo que a entidade batesse o mesmo número de vezes que ela estalava seus dedos. Começava aí toda uma carreira de comunicações e sessões mediúnicas em que as irmãs Fox seriam protagonistas. A notícia das irmãs que se comunicavam com os mortos rapidamente se espalhou. Entra em cena Leah, irmã 23 anos mais velha que Maggie, que vivia em condições precárias em Rochester, NY após ser abandonada pelo marido. Rochester era uma próspera cidade americana e também efervescente com movimentos religiosos como Mormonismo e Milenarismo (precursor do Adventistas do Sétimo Dia). As sessões das irmãs Fox tornaram-se a coqueluche da cidade, lotando teatros em sessões pagas. Com Leah gerenciando as irmãs, elas logo chegaram a Nova Iorque, onde conduziam três sessões diárias cobrando um dólar de ingresso. Nessa época Leah também desenvolveu habilidades mediúnicas, apesar de menos impressionantes que suas irmãs menores. Assim, com Leah garantindo as sessões em Nova Iorque, Maggie e Kate levaram suas sessões para diversas cidades americanas, num tour que incluiu Cleveland, Cincinnati, St. Louis, Washington, DC entre outras cidades. Essa extensa, extenuante e lucrativa rotina continuou até 1853, quando Maggie apaixona-se pelo explorador Elisha Kent Kane, que a convence a abandonar suas atividades mediúnicas. Os dois se casam, mas Elisha falece em 1857 deixando Maggie em situação financeira, mental e emocional difícil. Maggie retoma suas atividades mediúnicas e começa a beber. Em 1871 Kate, que nunca abandonou sua carreira como médium, viaja para a Inglaterra sob o patrocínio de um banqueiro americano. Na Inglaterra Kate, agora realizando fenômenos mais extraordinários como escrita direta e sem cobrar por suas sessões, submetesse a sessões com renomados espiritualistas britânicos. Porém a fama cobra seu preço e por essa época Kate se torna alcoólatra. Em 1872 Kate casa-se com H.D. Jencken advogado e espiritualista, porém Jencken falece em 1881 deixando Kate com dois filhos pequenos. Em 1885 o espiritualismo já se encontrava em declínio e sob ataques, investigações e alegações de fraude. A tragédia começa a abater as irmãs. Maggie chamada perante um comitê de investigação não consegue provar suas habilidades mediúnicas. Kate retorna a Nova Iorque e é presa por alcoolismo e vadiagem. Ato continuo, perde a guarda de seus dois filhos.

Em outubro de 1888, Maggie Fox concede entrevista exclusiva ao The New York World. O jornal publica sua confissão assinada. Na mesma Maggie denuncia o espiritualismo e suas sessões mediúnicas como fraude. Ela culpa sua irmã Leah por incentivar a fraude em troca dos benefícios financeiros e da exploração das irmãs mais jovens. Pela entrevista Maggie recebe US$1.500. Na mesma noite, Maggie confirma sua confissão em uma sessão no New York Academy of Music. Com Kate na platéia, Maggie explica como conseguia realizar as batidas através do controle dos músculos e juntas de suas pernas, dedos dos pés, joelhos e calcanhares. Na sessão Maggie demonstra as famosas batidas utilizando seu pé direito e um banco de madeira. Posteriormente Kate, que durante a audiência se manteve calada,  pronunciasse contrariamente a confissão da irmã e continua com suas atividades mediúnicas. Em 1891 Maggie retratasse da confissão, novamente atribuindo o ódio e ressentimento a Leah como motivação da mesma. Infelizmente a credibilidade de ambas já estava totalmente arruinada.

Kate vem a falecer por conseqüência do alcoolismo em julho de 1892 com apenas 56 anos. Maggie falace pobre e alcoólatra em março de 1893, com 59 anos.

Essa história digna dos folhetins e novelas brasileiras, demonstra que os Espiritas devem estar atentos aos aspectos científicos e guardar sempre algum ceticismo quanto aos fenômenos mediúnicos. Também convém manter a mediunidade e interesses econômicos totalmente separados conforme nos ensinou Allan Kardec. Os fenômenos mediúnicos parecem ser muito mais raros do que gostaríamos e os casos de fraude explícita muitas vezes mascaram fenômenos reais, afastando a comunidade científica do estudo dos mesmos. Hoje em dia são raríssimas as pesquisas nesse campo o que impede e atrasa qualquer avanço nas ciências do Espirito.

Rational Wiki, http://rationalwiki.org/wiki/Spiritualism#Fox_Sisters, Wikepedia, Fox Sisters
Paranormal Encyclopedia. com, Signed Confession of Margaret Fox Kane, October 1888

Marcelo Coimbra Régis é Engenheiro e reside em Cincinaty, Estados Unidos - artigo publicado na edição de Maio de 2017 do Jornal Abertura.


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Kardec e os desertores - por Eugenio Lara

KARDEC E OS DESERTORES, por Eugenio Lara

Nota do Redator: Destacamos neste mês o trabalho apresentado por Eugenio Lara, em 2013 no 13° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Lara ressalta a dificuldade de manter alinhadas as diversas personalidades que participaram da construção do Espiritismo.

Daremos ênfase a dois sub-capítulos, esperamos capturar o sua atenção e para a leitura do trabalho completo é só visitar o blog do ICKS. Fiquem com Eugenio Lara


***
Nos últimos escritos de Allan Kardec, podemos observar sua preocu-pação para com os rumos do Espiritismo, com os desertores, com as divi-sões que o incomodavam. Segundo ele: “Se todas as grandes ideias tiveram apóstolos fervorosos e devotados, mesmo nas melhores tiveram desertores. Não poderia o Espiritismo escapar às consequências da fraqueza humana”. (Os Desertores, em Obras Póstumas). Neste texto, o fundador do Espiritismo desenvolve interessante caracterização dos vários tipos de desertores:

1. Os primeiros desertores consideravam o Espiritismo apenas como divertimento, passatempo, distração social. No século 19, com o modismo das mesas girantes ou dançantes, o Espiritismo como fenômeno ocupava o tempo da elite nos salões parisienses, atraindo a curiosidade e o interesse pelo oculto. No entanto, quando essas mesmas pessoas viram que o Espiritismo era algo sério e não simples objeto de entretenimento, se afastaram.

2. Na segunda categoria se inserem os que viam no Espiritismo uma forma de ganho pessoal, um negócio vantajoso. Seu desejo era obter dos espíritos informações que lhes desse algum tipo de benefício: ganhar na loteria, achar algum tesouro escondido etc. qualquer tipo de vantagem material, pecuniária. Porém, logo se afastaram quando perceberam que o Espiritismo emergia como ciência e filosofia, como uma doutrina séria, racional e, portanto, jamais se prestaria aos seus interesses frívolos. “É destes que se constitui a categoria mais numerosa dos desertores, mas vê-se perfeitamente que não se pode, conscienciosamente, qualificá-los de espíritas”, conclui Kardec.

3. A terceira categoria se caracteriza pela ação dos espíritas de contrabando (spirites de contrebande): “Pregam a união e semeiam a cisão; atiram ardilosamente à arena questões irritantes e ofensivas; excitam a rivalidade de preponderância entre os diferentes centros.” A única utilidade dessa categoria de desertores foi a experiência obtida: “Ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspeto e não se fiar nas aparências.”

4. E por último, aqueles espíritas que, por divergirem do Espiritismo, se afastaram e seguiram outro caminho. Allan Kardec os divide em dois tipos: a) Os que são guiados pela sinceridade e b) Os que são guiados pelo amor-próprio.

Os primeiros não podem ser considerados desertores porque têm o pleno direito de divergir e buscar outro caminho, pois são sinceros e guiados “pelo desejo de propagar a verdade”.
Quanto à segunda subcategoria, Kardec é bem claro e incisivo: “Seus esforços tendem unicamente para se porem em evidência e captarem a atenção pública, satisfazendo seu amor-próprio e seu interesse pessoal.”

O fundador do Espiritismo enfrentou todo tipo de desertor, desde o mais frívolo até o mais preparado. Essa categorização é fruto da experiência, de seu olhar perspicaz e observador, podendo inclusive ser aplicada na aná-lise do movimento espírita contemporâneo.

O caminho apontado por Kardec para a superação dos conflitos e da rivalidade entre grupos e pessoas é moral, ético: “Espíritas! Se quiserdes ser invencíveis, sede benevolentes e caritativos. O bem é uma couraça contra a qual sempre se anulam as manobras da malevolência.” E, para finalizar, não deixa de lado seu ufanismo e o otimismo exagerado ao ver o intenso desenvolvimento do Espiritismo num curto espaço de pouco mais de dez anos: “A vulgarização universal do Espiritismo é questão de tempo, e, neste século, o tempo caminha a passos de gigante, sob o impulso do progresso”.

Allan Kardec era um homem prático, empreendedor. Ele apontou um caminho moral, ético, mas não se limitou a esse discurso. Ciente da força filosófica do Espiritismo e de sua capacidade de penetrar no âmago das consciências, propôs o Projeto 1868. Publicado inicialmente na Revista Es-pírita (dezembro de 1868) e posteriormente ampliado, em Obras Póstumas, Kardec estabelece nesse texto parâmetros seguros a fim de que as inevitáveis cisões e deserções pudessem comprometer o futuro do Espiritismo, como veremos a seguir.

CHEFE COLETIVO

Allan Kardec tinha plena consciência de que as fraquezas humanas não poderiam ser ignoradas em se tratando do futuro do Espiritismo, tanto que elaborou o Projeto 1868 com a intenção de neutralizar sua ação insidiosa.

A fim de evitar dissidências, procurou dotar o Espiritismo de uma linguagem aberta, objetiva, que desse pouca margem a interpretações. Precisão e clareza foram dois critérios adotados por ele na elaboração de toda a Kardequiana: “Podem formar-se, paralelas à Doutrina, seitas que não adotem os seus princípios, ou todos os seus princípios, mas não dentro da Doutrina por questões de interpretação do texto, como se formaram tantas pelo sentido que deram às próprias palavras do Evangelho. É este um pri-meiro ponto, de importância capital”.

Manter-se no círculo das ideias práticas, deixando de lado teses utópicas que poderiam ser rejeitadas por homens positivos e abrir as portas doutrinárias ao progresso do conhecimento foram outros dois critérios bem definidos pelo fundador do Espiritismo.

Kardec propõe em detalhes a criação de um comitê central dirigente, gestor, encarregado de manter a unidade doutrinária e o caráter progressivo do Espiritismo, sempre sob a responsabilidade exclusiva dos encarnados: “Que os homens se contentem em ser assistidos e protegidos pelos bons Espíritos, mas não descarreguem sobre eles a responsabilidade que lhes cabe como encarnados”.

Esse comitê central teria suas ações controladas por assembleias ge-rais, congressos, a fim de desempenhar o papel de “chefe coletivo que nada pode sem o assentimento da maioria.” A proposta kardequiana fundamenta- se em ações de caráter democrático, sem esquemas hierarquizantes e centralizadoras.

O mais interessante de sua proposta é a relação libertária desse comitê central com os grupos espíritas, que funcionariam num esquema de au-togestão, de independência e liberdade de ação, como células autônomas, cada qual com sua forma peculiar de organização, porém fiel aos princípios doutrinários aceitos por todos, princípios estes que Kardec não pôde finalizar em razão de sua súbita desencarnação.


O profundo respeito à liberdade de pensamento, a tolerância e a alteridade não poderiam ficar de fora, fatores que nos conduzem ao respeito por todas as crenças: “Se estou com a razão, os outros acabarão por pensar como eu; se estou errado, acabarei por pensar como os outros. Em virtude desses princípios, não atirando pedras em ninguém, não dará pretexto a represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos”.