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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

FRANCISCO MADERO - PRESIDENTE ESPIRITA DO MÉXICO por Jon Aizpúrua

 

FRANCISCO MADERO - PRESIDENTE ESPIRITA DO MÉXICO

 

Jon Aizpúrua

 

Nota da Redação: Este artigo trás a luz aos brasileiros de um personagem importante da história democrática mexicana e que ao conhecer o espiritismo mudou completamente a sua vida. Demonstrando o poder inegável da Doutrina Espírita. 

          Francisco Ignacio Madero, erroneamente chamado de Francisco Indalecio Madero (Parras de la Fuente, Coahuila, 1873 – Cidade do México, 1913). Homem simples e idealista, honesto e gentil, político com firmes convicções democráticas e sincera preocupação social, cujo pronunciamento contra a longa ditadura do General Porfirio Díaz desencadeou a Revolução Mexicana. Após seu assassinato enquanto ocupava o cargo de presidente mexicano, ficou conhecido como o "Apóstolo da Democracia".

 

Homem de terno e gravata

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Francisco Ignacio Madero

 

          Além de sua renomada carreira política, ele também tinha o status único e sem precedentes de ser o único governante de um país. Ele expressou publicamente sua adesão à doutrina espírita fundada e sistematizada por Allan Kardec em seus discursos, cartas e livros, bem como sua firme convicção de que o progresso da humanidade deve estar alinhado à evolução moral e espiritual de seus líderes. Portanto, ele via o Espiritismo não apenas como uma forma de compreender o espírito e a vida após a morte, mas também como um guia para as pessoas elevarem sua consciência e se identificarem com os princípios do amor, da liberdade, da justiça e da igualdade.

           Familia e Estudos

            Membro de uma família abastada de proprietários de terras e industriais, primogênito de Francisco Madero e Mercedes González, recebeu sua educação inicial em casa, continuou seus estudos no Colégio Jesuíta San Juan, em Saltillo, e posteriormente consolidou sua formação nos Estados Unidos e na França. Em 1886, seus pais o matricularam nas Academias Culver, em Indiana, e ele então foi para Baltimore, onde estudou agricultura na Escola Saint Mary. Em 1889, foi enviado a Paris, onde moravam vários parentes, para estudar contabilidade, economia política e sistemas comerciais no Liceu Hoche de Versailles, e estudos de avaliação comercial na École des Hautes Études Commerciales (HEC), em Paris. Finalmente, ingressou na Escola Técnica de Agricultura da Universidade Berkeley, em São Francisco.

           Após receber uma educação completa, retornou ao México em 1893 e dedicou-se à administração das propriedades e outros bens do pai; prosseguiu com estudos sobre a produção de vinho em Coahuila; modernizou os sistemas agrícolas; promoveu a educação; e fundou a escola comercial em San Pedro de las Colonias, onde residia. Propôs a construção de represas para abastecer a região durante as secas e, após a publicação da proposta, recebeu uma carta de felicitações do presidente Porfirio Díaz. No entanto, comovido com a miséria da população rural e as condições subumanas dos operários fabris, decidiu ingressar na política, começando em sua região natal e se espalhando gradualmente por todo o país. Madero começou a namorar Sara Pérez Romero por volta de 1897, e eles se casaram seis anos depois. Não tiveram filhos.

          Intensa participação política

          A longa ditadura do General Porfirio Díaz, que durou de 1876 a 1910, consolidou um modelo rígido de ordem política, econômica e social, garantindo a paz imposta ao país como condição indispensável para seu desenvolvimento econômico. Benfeitor da oligarquia agrária, protetor dos privilégios da Igreja Católica e dos investimentos americanos e europeus, o ditador perpetuou seu poder violando o princípio constitucional da não reeleição. A estabilidade política e algumas melhorias econômicas não corrigiram os desequilíbrios sociais e, em vez disso, agravaram a deterioração das condições de vida dos camponeses e da população urbana pobre. Nos anos que seriam os últimos do chamado "Porfiriato", o descontentamento não se limitou aos setores mais desfavorecidos; vozes críticas surgiram entre as próprias elites, novos partidos políticos foram fundados e novas lideranças surgiram, entre elas Francisco Ignacio Madero.

         Sua atividade política começou em 1904, quando concorreu à prefeitura de San Pedro de las Colonias. Com o apoio apenas da família e movido por seus ideais, competiu em desvantagem contra o candidato do partido governista e foi derrotado pela poderosa máquina governamental. Por volta de 1905, os abusos de poder do governador de Coahuila levaram ao início de seu ativismo político: fundou o Partido Democrático Independente e começou a expressar suas ideias no jornal El Demócrata.

         Em 1908, Porfirio Díaz declarou que o povo mexicano estava maduro para a democracia e anunciou a convocação de eleições, sua intenção de não se reeleger e de permitir a participação de outros partidos políticos. Madero aproveitou essa oportunidade para publicar o livro "A Sucessão Presidencial de 1910", uma obra moderada em defesa das liberdades civis e da verdadeira democratização do país, que foi amplamente divulgada e aceita. Mas uma mudança repentina de opinião do presidente, que se declarou candidato novamente, frustrou as expectativas e causou indignação generalizada. Tudo isso apenas intensificou o ativismo de Madero.

          Em 1909, o Partido Nacional Anti-reeleição indicou Madero como candidato presidencial e iniciou sua campanha nacional com o slogan "Sufrágio efetivo e nenhuma reeleição". No entanto, o ditador ordenou sua prisão e encaminhamento para uma prisão em San Luis Potosí. Assim, com seu rival subjugado, o Congresso reelegeu Díaz para um novo mandato de seis anos. Madero concluiu que não era possível chegar ao poder por meio de eleições e que somente uma revolta armada poderia trazer uma mudança real. Em outubro de 1910, conseguiu escapar para os Estados Unidos e, de seu exílio em San Antonio, Texas, publicou o programa político denominado "Plano de San Luis Potosí", no qual denunciava os abusos da ditadura, a necessidade de substituí-la por um governo democrático e a urgência de beneficiar os setores agrários, devolvendo aos camponeses as terras que lhes haviam sido confiscadas. A data de 20 de novembro de 1910 foi marcada para a revolta, à qual os camponeses aderiram com grande entusiasmo. Esta data entrou para a história como um marco que marcou o nascimento da Revolução Mexicana.

          Entre os insurgentes, juntamente com outros líderes locais, estavam alguns dos líderes que desempenhariam um papel fundamental nesse processo: Pascual Orozco, Emiliano Zapata e Pancho Villa. Diante da incapacidade do governo e da impotência do exército, a Revolução logo se espalhou por todo o país e, em 7 de junho de 1911, Madero entrou triunfantemente na capital. Um governo provisório foi formado, convocado para eleições, e em novembro daquele ano, ele assumiu o cargo de presidente constitucional do México.

          Embora o governo Madero tenha durado apenas quinze meses, obteve avanços notáveis em educação, saúde, condições de trabalho e organização do erário público. Também fomentou a atividade econômica, proporcionando maiores benefícios aos produtores de médio e pequeno porte e estabelecendo acordos mais justos e equilibrados com empresas internacionais. Politicamente, estabeleceu um regime de liberdade e democracia parlamentar. No fim das contas, porém, seus esforços se mostraram infrutíferos. Teve que confrontar setores representativos do antigo regime, o militarismo, a oligarquia e o clericalismo, bem como líderes revolucionários agrários como Emiliano Zapata, que exigiam medidas tão radicais que, se adotadas, mergulhariam a nação no caos.

          Em meio a essas lutas, o general Victoriano Huerta, que parecia leal a Madero e gozava de sua confiança, ganhou destaque. Comandante das forças que deveriam defender o governo, ele foi instrumental em uma famosa e ignominiosa traição durante os chamados Dez Dias Trágicos, nome dado aos violentos eventos ocorridos na capital mexicana de 9 a 19 de fevereiro de 1913. Huerta ordenou a prisão de Madero, obrigou-o a assinar sua renúncia e prometeu-lhe permissão para deixar o país com sua família. No entanto, em 22 de fevereiro de 1913, Madero e seu vice-presidente, José María Pino Suárez, foram fuzilados por um grupo de soldados no pátio da penitenciária. 

Seus passos iniciais no espiritismo

           Em suas Memórias, escritas em 1909, Madero relatou seu encontro com as ideias espíritas aos dezoito anos, enquanto estudava administração e comércio em Paris: 

Entre as minhas muitas e variadas impressões daquela época, a descoberta que mais impactou minha vida foi que, em 1891, por acaso, me deparei com alguns números da Revue Spirite, da qual meu pai era assinante e que era publicada em Paris desde sua fundação pelo imortal Allan Kardec. 

          O jovem estudante mexicano comenta que não tinha crenças religiosas ou filosóficas na época e que as ideias católicas de sua infância haviam desaparecido, de modo que se sentia na melhor disposição para julgar os ensinamentos do Espiritismo. Leu o máximo de exemplares daquela revista que conseguiu encontrar e adquiriu as obras de Allan Kardec: 

Não li esses livros, mas os devorei, porque suas doutrinas, tão racionais, tão belas, tão novas, me seduziram, e desde então me considero espírita. 

          Frequentou vários centros espíritas e ficou positivamente impressionado com os fenômenos que presenciou. Foi informado de que ele próprio era médium escrevente e decidiu comprovar isso organizando sessões com seus familiares, seguindo as instruções de Kardec em O Livro dos Médiuns. Após várias tentativas, começou a sentir que uma força além de seu controle movia sua mão com muita rapidez e, nos meses seguintes, as mensagens transmitiram lições importantes para completar sua formação intelectual e enfatizaram questões morais. Parou de beber, tornou-se vegetariano e aprendeu a aplicar técnicas de cura baseadas na homeopatia e no passe magnético. Reconhecia que o Espiritismo o transformara de um jovem depravado e indiferente em um homem justo, bondoso, atencioso e preocupado com o destino do mundo, particularmente de sua pátria. 

 

De volta ao México

 

          Aos vinte anos, Madero retornou ao México, formado profissionalmente como administrador e transformado em suas crenças pelo Espiritismo. Imediatamente entrou em contato com sociedades espíritas, assinava os periódicos então publicados e, com o apoio da família, fundou o Centro de Estudos Psicológicos San Pedro, onde promovia estudos doutrinários enquanto exercia sua faculdade mediúnica. Motivado pelo desejo de difundir os ensinamentos espíritas, Madero adquiriu livros de Kardec, Lèon Denis, Gabriel Delanne, Amalia Domingo Soler, Quintín López Gómez e outros autores de editoras francesas e espanholas, e os distribuiu generosamente a pessoas interessadas que conheceu ao longo do caminho. 

          O movimento espírita mexicano que Madero encontrou ao chegar não estava em seu auge, devido aos obstáculos impostos pelo regime porfiriano devido à sua aliança com a Igreja Católica. No entanto, em anos anteriores, havia demonstrado considerável força e se espalhado por todo o país, graças à atuação de diversas figuras de grande prestígio social, entre as quais o General Refugio González e o intelectual Santiago Sierra. Em 1872, esses homens fundaram uma revista para a divulgação e defesa dos ideais do Espiritismo, intitulada La Ilustración Espírita (A Ilustração Espírita), que circulou até 1893. Essa publicação gozou de grande prestígio no México e no exterior por seu excelente conteúdo e apresentação gráfica. Naquele ano, uma grande assembleia foi convocada a partir de suas páginas, que concordou com a criação da Sociedade Espírita Central da República Mexicana, da qual participaram dezenas de sociedades das principais cidades. Nos anos seguintes, esse órgão central representou o Espiritismo perante as autoridades e o público, conquistando seu reconhecimento e respeito, como ocorreu nos famosos debates realizados no Colégio Hidalgo, na capital, nos quais se discutiu o tema do Espiritismo e sua relação com a ciência, o materialismo e o positivismo. 

          O ano de 1906 pode ser considerado o ponto de partida de uma nova era na vida do Espiritismo mexicano, que, embora breve, foi muito intensa e produtiva em termos de divulgação. Em abril daquele ano, realizou-se o Primeiro Congresso Espírita Nacional, com a presença de delegados de quarenta sociedades espíritas e a participação de representantes de Cuba, Porto Rico, Nicarágua e das cidades de Laredo e San Antonio, no Texas. Foram discutidos temas de grande interesse doutrinário, acatadas as conclusões dos Congressos Espíritas Internacionais de Barcelona (1888) e Paris (1900), e aprovadas importantes resoluções, entre elas a criação de uma comissão científica e experimental para a verificação dos fenômenos psíquicos e mediúnicos, a fundação de uma livraria espírita e de um jornal chamado El Siglo Espírita, que circularia até 1911. Pela primeira vez, acordou-se estabelecer relações com os movimentos espíritas de outras nações para criar uma Confederação Espírita Latino-Americana, projeto que só se tornaria realidade em 1946, quando foi fundada em Buenos Aires a Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA). 

          Em 1908, realizou-se o Segundo Congresso Nacional Espírita, reunindo delegados de setenta e cinco centros espíritas. Teve significativo alcance internacional, com a presença de representantes de dez países, e foram discutidos trabalhos submetidos por proeminentes escritores europeus e americanos. Madero participou ativamente de ambos os Congressos, deixando uma marca duradoura com seu conhecimento, seu entusiasmo pelos ideais espíritas e seu status como uma figura pública que já brilhava intensamente no cenário político nacional. Em meio à sua agenda lotada, Madero encontrou tempo para terminar um livro que vinha escrevendo aos trancos e barrancos: Manual Espírita, um resumo dos ensinamentos básicos do Espiritismo, que seria publicado em 1911, após assumir a presidência da nação. Considerou apropriado, para não confundir o ideal espírita com circunstâncias políticas, assiná-lo com um pseudônimo e, neste caso, adotou o nome "Bhima", personagem mítico do texto épico indiano, o Mahabharata. 

           Além de suas leituras constantes, ele também fornecia informações obtidas no mundo espiritual, as quais psicografava. No desenvolvimento de suas atividades mediúnicas, distinguem-se duas etapas, com base em seu conteúdo e propósitos específicos. A primeira abrange os anos iniciais, desde seu retorno ao México até 1905. Uma entidade espiritual que se apresentou como "Raúl", o irmão mais novo que havia falecido tragicamente anos antes, instou Madero a aderir aos padrões morais derivados dos ensinamentos espiritualistas, insistindo que ele evitasse perder tempo com jogos, rejeitasse vícios, dedicasse boa parte de seus bens materiais a ajudar os pobres e lutasse por sua transformação interior. 

          Segundo suas memórias, ele cumpriu a disciplina prescrita e então iniciou uma segunda fase, na qual suas comunicações eram transmitidas por meio de um espírito que se identificava como "José". Agora, tendo superado a luta para controlar seus instintos, essa entidade anunciou que ele deveria se preparar para cumprir uma tarefa desafiadora em defesa da democracia mexicana. Anunciou que escreveria um livro que abalaria o clima político e o ajudaria a cumprir a tarefa que lhe fora confiada. "José" o chamou em suas comunicações de "soldado da liberdade e do progresso" e um "combatente incansável pela causa democrática". 

          Pode-se dizer que as comunicações mediúnicas recebidas por Madero retrataram com admirável precisão o caminho que ele percorreu desde o início do século: sua árdua preparação, a disciplina espiritual que teve que seguir, seus erros e acertos, a publicação de seu livro "A Sucessão Presidencial" em 1910, sua cruzada pelo México erguendo as bandeiras da regeneração moral e política, até que finalmente governou sua amada pátria como presidente. Uma parte significativa dessa obra, tão importante para a história mexicana, veio, em parte, das mensagens que ele recebeu de seu conselheiro espiritual. 

           Vários líderes espíritas ocuparam cargos em ministérios e escritórios durante sua administração de quinze meses. Um deles, que permaneceu ao seu lado como leal amigo e conselheiro, foi o escritor, poeta e jornalista costarriquenho Rogelio Fernández Güell, que serviu como Diretor da Biblioteca Nacional do México, o primeiro e último estrangeiro a dirigir aquela prestigiosa instituição cultural. Fernández Güell desempenhou papel de destaque em ambos os Congressos, fundou e editou a revista Helios e escreveu várias obras relacionadas a temas espíritas, incluindo Psiquis sin velo (Psiquê sem Véu), que dedicou com carinhoso afeto ao presidente. Ele também escreveu um livro histórico e político, El moderno Juárez. Estudio sobre la identidad de Francisco I. Madero (O Juárez Moderno. Um Estudo sobre a Personalidade de Francisco I. Madero), que destacou a imensa tarefa que ele desempenhou como presidente do país. 

           Durante grande parte de sua curta vida, Francisco Ignacio Madero oscilou entre dois polos que dominaram seu pensamento e suas ações: sua prática política e suas convicções espiritualistas. Alguns buscaram separar o Madero político do Madero espiritualista, com base em seus interesses ou pontos de vista particulares. Mas a verdade é que o idealismo de Madero, derivado dos princípios filosóficos e valores éticos do kardecismo, nos quais ele acreditava inequivocamente, norteou suas ações no espinhoso mundo da política partidária. Ele estava convencido de que era possível alcançar uma sociedade melhor, mais humana e inclusiva, livre e equitativa, apelando à educação e à boa-fé dos indivíduos. Talvez houvesse ingenuidade em seu projeto utópico, mas a imensa lição de dignidade que ele nos deixou com seu exemplo e seu sacrifício permanecerá para sempre como um legado indestrutível.

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura -agosto de 2025, se acessar o jornal clique no link abaixo:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/45-jornal-abertura-2025?download=353:jornal-abertura-agosto-2025



sexta-feira, 23 de julho de 2021

60 anos de Espiritismo: - Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

 

60 anos de Espiritismo:

Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

Este texto foi extraído da edição de novembro de 2007, Jaci Régis viria a desencarnar em dezembro de 2010, podemos perceber a tranquilidade e consciência que Jaci Régis tinha de seu papel e vida. Republicamos o texto, pois para muitos leitores, alguns detalhes da vida deste grande pensador podem ter passado despercebidos. O texto é escrito de próprio punho por Jaci Régis, vale a pena recordar.

Jaci Régis e Palmyra Coimbra Régis em Paris no túmulo de Allan Kardec – Cemitério Père-Lachaise.

“Neste mês de novembro completo 60 anos de atividades ininterruptas, diárias, no movimento espírita. Foi neste mês, em 1947, que comecei a participar da então Juventude Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Sessenta anos é um tempo bastante expressivo na vida de cada um. Nesse longo período a existência se corporificou no casamento, nos 6 filhos, 11 netos e, agora, na primeira bisneta. O mundo em que reencarnei, era totalmente diferente do atual. Acompanhar a febril transformação política, social e tecnológica, foi tarefa de inteligência e flexibilidade. Penso que consegui. De um simples aparelho de rádio às poderosas transmissões via satélite, estabelecendo novas formas de comunicação. Do automóvel desprovido e raro, aos carrões que circulam e se tornaram o sonho de consumo da maioria, da máquina de escrever ao computador. Do telefone precário de então ao celular e, finalmente, à internet, deixamos a aldeia circunscrita de meus primeiros dias neste mundo, à aldeias globais, na qual, a despeito de nosso desejo, estamos imersos até as orelhas. Li a República de Platão, aos treze anos, na Biblioteca Pública de Florianópolis, onde reencarnei. Desde sempre estive com livros embora só tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39 anos de idade. Dentro do movimento espírita as coisas também mudaram. Na mesma década de trinta do século passado em que reencarnei, começou a missão de Francisco Cândido Xavier, mudando o perfil do Espiritismo que, todavia, fortaleceu-se como uma religião menor. Primeiramente a iniciação num Espiritismo crítico, mas, sem dúvida, religioso, cristão.

Embora a influência do líder naqueles primeiros dias, sempre segui um caminho próprio e nunca fiquei atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência me rendeu, no tempo, muitos dissabores, se assim posso referir-me aos entraves, incompreensões e agressões que recebi. Todavia, jamais me tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fiz. Sem missão ou coisa parecida. Os desafios marcaram os passos. O ideal, a inovação, a criatividade estabeleceram novos caminhos. Mas o que mais me satisfaz, em termos de doutrina espírita, foi a liberdade de pensar fora do esquema religioso. Só quem libertou-se dos estritos caminhos do pensar religioso pode avaliar o que significa essa liberdade. Não é ser antirreligioso, maldizer as crenças. Nada disso. É ser livre para analisar os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir. Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca me tolheu, nem me cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, na minha visão, não cabe no Espiritismo, se ele quiser ser livre pensador, aberto, progressista.

Na verdade, minha existência terrena se pautou pelo trabalho no movimento espírita. Por ele, aderi ao Lar Veneranda, onde permaneço há 47 anos e que, posso dizer sem vaidade, solidifiquei sua estrutura, seu trabalho assistencial, sua destinação. Uma obra de minha vida. Formatei, também, o pensamento da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em cuja direção trabalhei muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Há também o desenvolvimento do gosto de escrever. Dirigi o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20 anos. Depois, devido a ruptura, fundei o ABERTURA, em 1987 e continua. Embora, tenha publicado folhetos e pequeno livreto, foi a partir de 1975, que me tornei um escritor, publicando oito livros que tiveram, a princípio, muita boa saída, contabilizando mais de 100 mil livros vendidos.

Desde 1986, o movimento espírita bloqueou-me. Fiquei na lista dos indesejáveis, as vendas tiveram uma queda muito grande e milhares de livros estão estocados. No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso, fundei a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar Veneranda, em substituição à Dicesp que criei e presidi no esquema unificador.

E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pelo sistema unificado do movimento. Um balanço bastante positivo pelo que vejo.

Na vida econômica ganho o suficiente para ter uma vida tranquila. Não dependo de ninguém, casa vazia, só eu e a esposa, enquanto filhos e netos seguem suas vidas dentro de padrões moralmente muito bons e economicamente satisfatórios. Não sei quanto tempo ainda estarei por aqui, mas reconheço um grande ganho para minha alma ao longo de setenta e cinco anos vividos com cardiopatia crônica, duas cirurgias para colocar pontes de safena, edema pulmonar, angioplastias, cateterismo, alguns pólipos na bexiga, gastrite crônica, mas assim mesmo relativamente sadio, pois permaneço ativo.

Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória me remete a todo um caminho no qual perfilei com pessoas de variadas expressões emotivas e intelectuais, com as quais aprendi a conviver, a superar impulsos e perdoar atritos. A maioria foi. Eu fiquei. Ao completar sessenta anos de trabalho doutrinário me sinto feliz. Meu olhar prossegue atento e mantenho alto meu estandarte de trabalho. Tenho objetivos. É o que vale”.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA - por Ricardo de Morais Nunes

 

DAS MESAS GIRANTES À FILOSOFIA ESPÍRITA

É curioso pensarmos nos dias de hoje que houve em plena Europa do tempo de Kardec, meados do século XIX, o fenômeno das mesas girantes. Quando relatamos às pessoas do século XXI que a chamada “dança das mesas” era uma verdadeira moda nos salões parisienses, muitos duvidam. E com razão, pois é muito difícil acreditar na possibilidade de brincadeiras de salão em torno de mesas que desafiam as leis da gravidade.

No entanto, as mesas giravam, o que pode ser constatado por vários jornais da época que registraram a ocorrência do curioso fenômeno. É a partir das mesas girantes que Allan Kardec se põe a pesquisar a causa de tais fenômenos insólitos, os quais iniciaram mais intensamente já em 1848 com o caso das irmãs Fox nos Estados Unidos. Arthur Conan Doyle descreve este momento histórico na Europa e nos Estados Unidos como uma verdadeira “invasão organizada” por parte dos espíritos que buscavam chamar a atenção para o outro lado da vida.

 Diferentemente do espiritualismo dogmático das religiões, que se baseavam na fé na revelação religiosa e no livro sagrado, e mesmo das correntes filosóficas espiritualistas, fundamentadas apenas na reflexão racional, o Espiritismo nasce apoiado em fatos, em fenômenos passíveis de serem observados. Allan Kardec assim se refere ao fenômeno das mesas girantes na introdução ao estudo da Doutrina Espírita em O Livro dos Espíritos:

 “O primeiro fato observado foi o movimento de objetos: designaram-no vulgarmente com o nome de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, que parece ter sido observado primeiramente na América, ou, melhor, que se teria repetido nesse país, porque a História prova que ele remonta à mais alta Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas como ruídos insólitos e golpes desferidos sem uma causa ostensiva, conhecida. Dali, propagou-se rapidamente pela Europa e por outras partes do mundo: a princípio provocou muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências em breve não permitiu que se duvidasse da sua realidade”

Estes movimentos não eram meramente mecânicos ou fortuitos. Descobriu-se que os movimentos dos objetos manifestavam inteligência. É o próprio Allan Kardec que ainda nos fala:

“As primeiras manifestações inteligentes verificaram-se por meio de mesas que se moviam e davam determinados golpes, batendo um pé, e assim respondiam, segundo o que se havia convencionado, por “sim” ou por “não” à questão proposta. Até aqui, nada de seguramente convincente para os céticos, porque podia crer-se num efeito do acaso. Em seguida, obtiveram-se respostas mais desenvolvidas por meios das letras do alfabeto; dando ao móvel um número de ordem de cada letra, chegava-se a se   formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A justeza das respostas e sua correspondência com a pergunta provocaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interpelado sobre a sua natureza, declarou que era um Espírito ou Gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. Esta é uma circunstância muito importante a notar. Ninguém havia então pensado nos Espíritos como um meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Fazem-se hipóteses frequentemente nas ciências exatas para se conseguir uma base ao raciocínio; mas neste caso não foi o que se deu.”

E aqui tem início a descoberta revolucionária dos espíritos e do mundo dos espíritos que nos cerca, que podem comunicar-se com o mundo terrestre através de médiuns, pessoas aptas, por sua organização psicofísica, a favorecer este intercambio. Da mesma forma que o telescópio possibilitou a investigação dos astros, e o microscópio a pesquisa dos microrganismos, a mediunidade foi o instrumento de pesquisa da realidade extrafísica que antes era apenas objeto de fé, reflexão filosófica ou intuição.

Das mesas que giravam saiu toda uma filosofia, uma cosmovisão de mundo, a partir do diálogo racional entre Kardec e os Espíritos. A pesquisa desta base fenomênica estava em conformidade com a época de Kardec de feitio positivista.  O “espírito do tempo” valorizava a pesquisa dos fatos e estava farto de teorias metafísicas indemonstráveis. O Espiritismo pretendia demonstrar concretamente suas teses, fundamentando-se não apenas na razão, mas também na observação.

Na sequência de O Livro dos Espíritos, Kardec publica o Livro dos Médiuns, no qual aborda uma vasta gama de fenômenos físicos e inteligentes ampliando assim a base empírica do Espiritismo. O Espiritismo teve grande êxito em chamar a atenção para estes fenômenos em sua época. A explicação espírita foi aceita por muitas personalidades eminentes daquele período. Na esteira das pesquisas espíritas surgiram a metapsíquica de Charles Richet, e a parapsicologia de Joseph Banks Rhine, entre outras tentativas de abordar os chamados “fenômenos espíritas”.

Mesmo que a tese espírita da imortalidade da alma e sua possibilidade de comunicação com este mundo terrestre através de médiuns não fosse verdadeira, Allan Kardec já teria contribuído com o mundo da pesquisa cientifica ao chamar a atenção para fenômenos da natureza antes atribuídos ao mágico, ao sobrenatural, à superstição ou a fraude. Por ser pioneiro na pesquisa deste tipo de fenômenos, Allan Kardec merece um lugar de destaque entre os grandes desbravadores do conhecimento.

Muitos perguntam por que as mesas não giram mais como giravam nos salões parisienses. Talvez a resposta seja que não é mais necessário este tipo de provocação intencional e coletiva por parte dos espíritos. A hipótese da comunicação dos espíritos através de médiuns já foi assimilada mesmo por aqueles que divergem da explicação espírita. A comunicação dos “mortos”, no mínimo, já integra o nosso horizonte cultural, fazendo parte da crença e da descrença de muitos, sendo que o Espiritismo descortinou, inclusive, um novo campo de possibilidades para a pesquisa cientifica e para a reflexão filosófica.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O Centésimo Abertura ninguém esquece e os 20 anos de ICKS - por Alexandre Cardia Machado


O Centésimo Abertura ninguém esquece e os 20 anos de ICKS

No dia 29 de outubro de 2010 todos da família Abertura fomos surpreendidos pela internação hospitalar de Jaci Régis então Presidente do ICKS e Editor-Chefe do jornal ABERTURA, fato este que infelizmente culminou com o retorno de Jaci ao Mundo dos Espíritos no mês dezembro do mesmo ano.

Passado alguns dias de sua internação na UTI nos ocorreu, e o ABERTURA? Foi então que nos dirigimos a antiga sede do ICKS e junto com a Danielle Pires verificamos o que havia de material em andamento e tratamos de agilizar o fechamento daquela edição, realmente pensávamos que, da mesma forma que já havíamos passado por problemas de saúde anteriores e Jaci Régis sempre voltava, que esta edição seria a única. Bem os fatos que se seguiram mostraram que não e aqui estamos escrevendo o nosso 100° editorial.

Vou compartilhar com vocês o e-mail que enviamos aos nossos articulistas, como de praxe é feito todos os meses, mas que especialmente nesta ocasião se tornaria em algo especial. Digo isto pois este jornal é feito pela direção do ICKS, pelos queridos articulistas e claro vocês, nossos leitores.

“Espero que vocês já tenham recebido o jornal de setembro, para outubro gostaria de informá-los que se tratará do 100° ABERTURA sem a participação direta de Jaci Régis. Os dois primeiros jornais que trabalhei, o primeiro estava 50% pronto e o segundo começamos do zero, mas ainda esperávamos pela recuperação do meu sogro o que acabou não ocorrendo. Tem sido uma grande honra seguir com esta tarefa e não poderia jamais ter chegado a esta quantidade de edições sem os artigos, o apoio e o incentivo de todos vocês, muito obrigado! Em outubro também o ICKS completará 20 anos, somos mais novos que o Abertura que antes era editado pela LICESPE. Vamos começar o jornal de outubro, favor enviar os seus artigos. Um grande abraço, Alexandre”.

Recebi vários e-mails que copio aqui pela importância desta amizade e dedicação deste grupo ao projeto ABERTURA.

“É uma honra para mim, e creio para todos nós escrevermos para um Jornal Espírita com excelente conteúdo. Parabéns a você Alexandre pela liderança expressiva na coordenação do Jornal Abertura. Parabéns a todos. Roberto Rufo”.

Parabéns Alexandre pela competente condução do jornal Abertura após a desencarnação de Jaci Régis. O Abertura continua sendo um jornal espírita sintonizado com o nosso tempo. É uma honra participar do grupo de articulistas do jornal. Devo observar que, no Abertura, somos livres para expor nossos pontos de vista, sem qualquer tipo de coação ou pressão da parte do editor do jornal. Viva o Abertura! Viva o livre-pensar espírita! Ricardo Nunes.”

Querido! Que orgulho da tua trajetória! Conte sempre conosco. Carolina Régis di Lucia”.
“Parabéns pela condução eficiente do jornal espero estar contigo enquanto a vida me permitir. Abraços. Egydio Régis”.

“Estimado Alexandre. Confesso que temia pela sobrevivência do Abertura, com a partida do Jaci. Ao contrário do ditado popular segundo o qual "ninguém é insubstituível", creio que há pessoas, em todos os setores de atividade, que deixam espaço que outros não conseguem ocupar com a mesma competência. Gosto da frase Bertold Brecht, segundo quem há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.

O Jaci, ao meu sentir, se fez imprescindível entre nós. Por isso tudo, me surpreendeu enormemente que alguém, de tua capacidade e dinamismo, logo após a desencarnação do Jaci assumisse o Abertura e seguisse, com a mesma competência, editando o jornal. Claro que te vales, para tanto, das ideias e, inclusive, de matérias deixadas por teu sogro e rememoradas a todo o momento. De uma certa forma, ele está presente nessa empreitada.

Assim, te cumprimento por levares avante esse projeto singular, mediante um enorme esforço pessoal. Posso avaliar isso, porque realizo tarefa semelhante com o coirmão do Abertura, que é o nosso Opinião, seguindo a mesma linha editorial e enfrentando as mesmas dificuldades e incompreensões. Parabéns, por tudo isso, e vida longa ao Abertura. Milton Medran”.

É claro que nossos companheiros não esperavam que seus e-mails se tornassem notícia, mas somos aqui jornalistas e como tal, o que cai na caixa de entrada do editor é matéria jornalista. Fazemos isso para que todos vocês que são parte interessada, pois pagam pela assinatura e podem e devem saber que sem vocês não há porque fazer o jornal. Assim carinhosamente digo a todos obrigado por seguirmos juntos em companhia nesta trajetória.

20 anos do ICKS

O ICKS foi fundado no dia 3 de outubro de 1999, esta data não é ocasional, Jaci Régis fez questão de escolher a data do nascimento de Hippolyte Léon Denizard Rivail mais conhecido pela alcunha de Allan Kardec. O nosso ABERTURA é um pouco mais velho, nasceu também em uma data importante para o espiritismo, exatamente no dia em que se comemora o lançamento do Livro dos Espíritos – 18 de abril - no ano de 1987, portanto já tem 32 anos.

O Espírito Jaci Régis

Temos notícias, principalmente vinda do Centro Espírita Allan Kardec que Jaci Régis está ativo, participando de diversas atividades no Mundo dos Espíritos e frequentemente se comunica por lá. Enquanto tivemos atividades mediúnicas no ICKS era comum recebermos boas notícias a seu respeito o que deixava a todos nós repletos de satisfação. Como disse muito bem o Milton Medran, Jaci era simplesmente imprescindível, então o que fazemos aqui é algo diferente, jamais teremos a vivência espírita, a capacidade intelectual e conhecimento do espiritismo daquele que era certamente uma referência para todos nós.

Mas como é costume dizer no Rio Grande: “Não está morto quem peleia” e este jornal seguirá sendo por muito tempo um canal importante de divulgação do Espiritismo Livre-pensador, porque podemos discordar, mas jamais impedir os outros de emitirem as suas opiniões.

Alexandre Cardia Machado – Editor-Chefe - editorial de outubro do Jornal Abertura

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos de outubro de 2019.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Abaixo o link para o Abertura de outubro de 2019

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=210:jornal-abertura-outubro-de-2019


Acesse: CEPA Internacional Publicações e encontrará outras edições do Abertura entre 2018 e os dias atuais.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

REFLETINDO SOBRE - HÁ DOIS MIL ANOS - por Ricardo Nunes


REFLETINDO SOBRE  - HÁ DOIS MIL ANOS


 Tenho me dedicado a reler alguns livros espíritas que li na juventude e que naquela época me impressionaram muito. Tento perceber a impressão que tais livros me causam hoje em dia. Com este objetivo, acabei de reler a famosa obra “Há dois mil anos” psicografada por Francisco Cândido Xavier. Esta obra pretende ser uma biografia de uma das reencarnações do Espírito Emmanuel, que teria sido, segundo informação ali existente, o senador Publius Lentulus, legado do imperador romano na Judeia ao tempo de Jesus.

Desde que foi publicado, na primeira metade do século XX, o livro causou polêmicas quanto aos fatos ali narrados. Na atualidade, podemos verificar na internet toda uma discussão sobre a existência ou não deste senador na Roma antiga. Existe um debate interessante sobre a veracidade de uma carta atribuída no livro ao senador Publius Lentulus e destinada ao senado romano, na qual o senador teria feito a descrição de algumas características físicas e morais de Jesus de Nazaré.

 Em minha opinião estas polêmicas não tiram o valor   literário e doutrinário do livro. Trata-se de um bom livro, bem escrito, e que trata de alguns episódios da época do cristianismo primitivo. Mesmo que a obra fosse ficcional, ainda assim teria o seu valor. Se existem nela elementos de ficção e realidade tão ao gosto de alguns escritores, não sei dizer. O fato é que Emmanuel não a oferece ao público como obra ficcional, mas como relato de sua própria história naquela distante Roma dos Césares, diz ele:

 “Tenho-me esforçado, quanto possível, para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno, mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos. Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírito, há dois mil anos. Permita Jesus que eu possa atingir os fins a que me propus, apresentando, nesse trabalho, não uma lembrança interessante acerca de minha pobre personalidade, mas, tão somente, uma experiência para os que os que hoje trabalham na semeadura e na seara do nosso divino Mestre. ”

De fato, o livro dá a impressão de ter sido escrito por alguém que conhecia profundamente aquela época da história de Roma, diz ainda Emmanuel:

 “Ante minha alma surgem as reminiscências das construções elegantes das colinas célebres; vejo o Tibre que passa, recolhendo os detritos da grande Babilônia imperial, os aquedutos, os mármores preciosos, as termas que pareciam indestrutíveis...Vejo ainda as ruas movimentadas, onde uma plebe miserável espera as graças dos grandes senhores, as esmolas de trigo, os fragmentos de pano para resguardarem do frio a nudez da carne. Regurgitam os circos.... Há uma aristocracia do patriciado observando as provas elegantes do Campo de Marte e, em tudo, das vias mais humildes até os palácios mais suntuosos, fala-se de César, o Augusto!”

Percebe-se que o livro é escrito por alguém profundamente cristão, o que condiz com as características ideológicas de Emmanuel e também de Chico Xavier, apesar de ambos terem se convertido ao espiritismo. Emmanuel também teria sido, em uma de suas reencarnações, segundo a tradição existente no movimento espírita, um sacerdote católico.

 A obra relata um amor frustrado entre o senador Publius Lentulus e Lívia, sua esposa, que teria sido uma das primeiras aristocratas romanas adeptas da mensagem cristã. No que diz respeito ao seu relacionamento afetivo com Lívia, Emmanuel sugere na obra um conceito questionável em termos de filosofia espírita, o de que seriam “almas gêmeas”.

 O livro traz uma interessante descrição da Roma dos Césares: do sofrimento e das atividades dos escravos, das competições e cruéis divertimentos no circo, dos costumes patrícios, do domínio militar das legiões romanas sobre os povos conquistados, das intrigas na disputa pelo poder na política do império. A obra relata ainda as pregações de Jesus, sua condenação e morte, a ascensão de Nero ao poder, a destruição de Jerusalém por Tito, bem como trata das primeiras perseguições aos cristãos e termina com a erupção do Vesúvio em Pompeia, entre outros temas. Daria certamente um grande filme.

 É necessário dizer que não acredito na desonestidade de Chico Xavier na composição do livro. Neste sentido, alguns adversários do espiritismo alegam que ele teria feito pesquisas sobre a Roma antiga para escrever o romance. Não creio.

 Outros defendem como fonte da obra o inconsciente do médium, que seria capaz de captar, através de “superpoderes”, sabe-se lá de que maneira, a narrativa do livro na mente de alguma pessoa em qualquer lugar do mundo. Também não creio.

  Seria a obra um produto do inconsciente profundo do médium, de origem anímica, em razão dele ter vivido naquela época em uma de suas reencarnações? Esta hipótese seria possível, porém também não acredito nesta alternativa considerando as múltiplas personalidades, com seus maneirismos, estilos característicos, perfis psicológicos, intelectuais e morais diversos, que se manifestaram através da psicografia de Chico durante toda a sua vida.

Muito interessante é o breve período de tempo em que o livro foi escrito, quase 4 meses, de 24 de outubro de 1938 a 09 de fevereiro de 1939.

Vale a pena ler este e outros romances psicografados por Chico Xavier e por outros médiuns, sem perder de vista, é claro, que a obra psicografada de qualquer médium deve ser analisada sob os critérios filosóficos, técnicos e éticos da ciência espírita. Para entender adequadamente a obra de Xavier ou de qualquer outro médium é necessário conhecer a obra de Allan Kardec, que nos ensina, entre outras coisas, que nenhum médium está isento da análise crítica de sua produção mediúnica, pois, afinal, não existe médium perfeito.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A reencarnação na História da Humanidade - por Jaci Régis


A reencarnação na História da Humanidade


A idéia da reencarnação é conhecida desde a mais remota antiguidade. Mas perdeu-se no emaranhado das superstições e do misticismo, refletindo as dificuldades da cultura em desvencilhar-se das pressões atávicas a respeito da relação da criatura e o Criador.

A vivência dos problemas cotidianos, a fragilidade do ser humano diante da natureza, fomentou uma relação casual entre os humores dos deuses e os sofrimentos baseada no medo, na condição de culpa, castigo, desobediência e punição.

Dentro desse quadro confuso, criaram-se seitas fundamentadas em crendices e superstições, seitas baseadas em crendices e superstições acerca da reencarnação. Por isso, a metempsicose foi aceita largamente por simbolizar o castigo mais cruel imposto ao pecador, fazendo com que, sendo uma pessoa humana, reencarnasse num animal. Até um filósofo como Pitágoras a aceitou e difundiu.

            A reencarnação é muito aceita na cultura asiática, mas não teve uma ação social redentora, revolucionária. Ao contrário, propiciou uma atitude contemplativa, conformista e acomodatícia. Em culturas como a indiana, a reencarnação não evitou, ao contrário, deu certa consistência à separação em castas sociais, mantendo um estado de flagelo para os mais pobres e desafortunados.

            A cultura ocidental sofreu sucessivas transformações até cristalizar-se, de uma maneira geral, sob a égide da Igreja, com a visão judaico-cristã. A predominância da religião como centro de conhecimento e comportamento, criou uma forma não racional de ver e compreender o ser e o mundo.
            Embora espiritualista, a Igreja não aceitou a reencarnação e fixou-se na unicidade da existência. Com isso estabeleceu o princípio de finitude e concretude para o ser humano. Ele é produto biológico ao qual se adiciona uma alma. Vive um certo tempo e morre e aí finda seu período produtivo. A imortalidade da alma é reflexo da existência terrena e não apresenta qualquer oportunidade de reciclagem, uma vez que após o período da encarnação da alma está definitivamente catalogada como boa ou má.

            Logo, a pessoa humana é um ser com trajetória fixada entre o berço e o túmulo. Na cultura isso significa que ele é concreto, definido e mortal.

            Toda a estrutura doutrinária da Igreja se funda no pecado original. A moralidade e a culpa se inserem na cultura como instrumentos de como preparatória para a vida eterna.

            Certamente a idéia de punição pela desobediência e até pelos humores dos deuses e de Deus não é exclusiva do judaico-cristianismo. Mas a adoção do deus Jeová dos judeus, manteve a relação criatura-Criador dentro dos limites do medo, terror e insegurança.


A Reencarnação no Espiritismo

A reencarnação, todavia, não é um princípio solitário e autônomo no pensamento kardecista. Faz parte de um corolário de leis que se encadeiam e dá um novo sentido, uma nova visão de vida e da pessoa.

            O projeto espírita é abrangente e inovador. Ele aproveita velhos conceitos sobre a natureza do ser humano, o progresso, sobre Deus e os redefine, atualiza, dando-lhes novas dimensões e refugando superstições e crendices.

            A Doutrina Kardecista procura escoimar seus princípios das concepções místicas procurando dar-lhes uma base científica, caminho que Kardec definiu para dar validade à proposta doutrinária.

            A doutrina kardecista reformula o entendimento sobre a Justiça Divina, que tem sido vista como uma forma policial, punitiva, exigindo pagamento. Para isso apresenta uma nova compreensão da lei de causa e efeito, geralmente tomada no seu aspecto negativo, de expiação. Para a doutrina kardecista, a Justiça Divina, ao contrário, só tem por objetivos dar oportunidade de crescimento e ampliação das qualidades do ser espiritual.

A reencarnação, como foi dito, é um elo no processo evolutivo a Lei da Evolução, uma concepção revolucionária do Espiritismo que ajuda a entender o ser humano e o mundo.

Texto extraído do livro Novas Ideias de Jaci Régis

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

15 anos do Livro Kadu e o Espírito Imortal de Cláudia Régis Machado


15 anos do Livro Kadu e o Espírito Imortal

Visite nossa página na web: www.ickardecista.com.br

Cláudia Régis Machado em outubro de 2013, na Feira do Livro de Porto Alegre, lançava este livro enfocado para jóvens de todas as idades, um livro com muitas atividades, desafios que não segue uma ordem clara e sequencial, cada leitor lerá o mesmo na ordem que entender mais apropriada.



Nas palavras de Jaci Régis o livro é destinado à juventude, mas também para adultos, é uma interessante e excitante gincana, onde o personagem Kadu, vai aprendendo os fundamentos do Espiritismo, através de jogos e buscas que transformam a leitura numa emocionante jornada.
Cláudia é a terceira filha de Palmyra e Jaci Régis tendo ainda outros três irmãos mais novos, escreveu também o livreto Desafios do Kadu.

O livro tem sido usado em infâncias espíritas e permanece muito atual.

Kadu e o Espírito Imortal tem 85 páginas, com 42 charadas.







Para abrir a sua mente: leia o livro Kadu e o Espírito Imortal de Cláudia Régis Machado a venda no ICKS pelo email: ickardecista1@terra.com.br
ou pela Loja Virtualhttps://icks.lojavirtualnuvem.com.br/

quarta-feira, 11 de abril de 2018

A ARTE OCULTA DE HILMA AF KLINT - sob a ótica espírita por Roberto Rufo


A ARTE OCULTA DE HILMA AF KLINT - sob a ótica espírita por Roberto Rufo

Gosto muito de ler a Revista Cláudia que rotineiramente costumo presentear a minha mulher Valéria Regis. Já escrevi alguns artigos baseados em reportagens dessa revista. Resolvi adquirir o número de fevereiro/2018 pois fiquei entusiasmado por uma reportagem com a americana Ophra Winfrey que se uniu a outras famosas para dar voz às vítimas de assédio. Mas depois pensei que muito certamente as pensadoras espíritas já devem estar debruçadas sobre este assunto e com certeza produzirão artigos sobre este assunto com base na teoria espírita. Afinal trata-se do debate sobre os direitos da mulher.

Todavia outro assunto me chamou mais a atenção. O tema era "Arte e Realidade" e fala da exposição de obras de mulheres neste ano na Pinacoteca em São Paulo. Quem não conhece, deveria urgentemente entrar em contato com a Pinacoteca de São Paulo, um lugar belíssimo e com obras permanentes de primeiro mundo. Adoro a obra de Almeida Junior existente na Pinacoteca.



O museu criou uma programação dedicada às mulheres e estreia com Hilma af Klint, sueca que viveu de 1.862 a 1.944. Como diz a reportagem suas obras só puderam ser conhecidas após 20 anos de sua morte. A própira artista determinou isso em testamento. Frequentou sessões mediúnicas com um grupo de amigas batizado de As Cinco. Foi aí que segundo Hilma af Klint, passou a pintar sob influência de seres superiores. Fascinada pelo espiritismo produziu mais de 200 obras. Museus e galerias negaram-se a exibir suas pinturas. Isso só foi possível em meados da década de 1980.

Este artigo foi publicado no Jornal Abertura de março de 2018: Baixe aqui!



Resolvi pesquisar sobre essa mulher intrigante e descobri um artigo de uma revista de nome Caliban sobre Hilma Af Klint além de trazer vária telas da pintora. Segue abaixo parte do texto da revista:
"  Para alguns ela é uma bruxa, para outros ela é a pioneira da arte abstrata.
A artista sueca Hilma af Klint (1862–1944) foi uma mulher enigmática, viveu de maneira simples e ascética, não casou, não seguiu o padrão de sua época e pertenceu a uma das primeiras gerações de mulheres educadas na Academia Real de Artes de Estocolmo. Trabalhava intensa e rigorosamente. Deixou mais de 1.200 pinturas, 124 cadernos de notas e desenhos em mais de 26.000 páginas manuscritas e datilografadas. Ela foi completamente devota àquilo que considerava ser sua missão: revelar mensagens do mundo espiritual através da arte.
Sua arte diz-se oculta por diferentes aspectos. O mais importante deles é o fato de sua obra ser a representação física em tela do mundo espiritual, por assim dizer, daquilo que não é visível. Mas talvez o fato que desperta maior curiosidade é que a pintora não mostrava suas obras abstratas publicamente e, além disso, deixou testamentado que seus herdeiros não poderiam exibí-las antes de completar 20 anos de sua morte. Ela acreditava que seus contemporâneos não estavam prontos para entender o significado de suas imagens e todas as suas tentativas de mostrar suas obras a grupos seletos e específicos foram recusadas na época. Assim, sua obra abstrata permaneceu secreta por muitos anos.
Mas o fato é que Hilma af Klint pintou uma série de imagens abstratas em 1906, anos antes dos modernistas da abstração Wassily Kandinsky, Kazimir Malevich, Frantisek Kupka e Piet Mondrian produzirem suas obras radicais e não-figurativas na segunda década do século XX.
Contudo, Hilma af Klint ainda não está nos livros de história da arte e muitos ainda desconhecem a importância de seu legado, mas este cenário está prestes a mudar. Se sua arte foi feita para o futuro, este futuro é agora. Mais de 70 anos após sua morte, muitos têm percebido essa urgência de despertar o mundo para o legado de Hilma af Klint. No Brasil, Luciana Pinheiro Ventre, artista plástica e aconselhadora biográfica, lançará o primeiro livro em português sobre a vida e a obra de Hilma af Klint".
Na revista Cláudia que citei está exibida uma de suas telas abstratas. Com certeza na exposição programada na Pinacoteca de São Paulo serão expostas diversa outras telas. Se sobrar um tempinho ( afinal desde 16/12/2017 reencarnaram meus netinhos gêmeos Artur e Benício ) na minha atual função de "vovô de apoio" irei à Pinacoteca de São Paulo. 
                                                                                   Roberto Rufo