15 anos sem a presença física de Jaci Régis
15 anos
sem a presença física de Jaci Régis
Jaci Regis, meu pai querido, muito poderia escrever sobre
ele, de quem tive o privilégio de ser filha e mais do que isso, sua admiradora
e seguidora. Quinze anos de ausência física, desse pai atencioso, preocupado
com a família e importante espírita de nosso tempo.
Poucos da multidão de espíritas puderam realmente conhecer e
admirar a personalidade marcante desse incansável trabalhador, quer dos
assuntos doutrinários, quer da benemerência dedicada à infância e às mães
sofridas carentes à procura de uma vida digna junto de seus filhos.
Possuía uma energia de trabalho e mente criativa para novos
projetos arrojados que faziam tremer as bases estabelecidas no pieguismo e nos
valores envelhecidos pelo comodismo.
Meu pai, além da dedicação a família, que ao longo período
de sua existência se corporificou no casamento, 6 filhos, 11 netos e uma
bisneta, trabalhou por 63 anos, nas atividades ininterruptas, diárias, ao
movimento espírita. Desde a adolescência ousou contrariar e enfrentar os velhos
líderes do movimento espírita santista, cujos centros mais pareciam simulacros
de igrejas e templos evangélicos do que casas de estudos e de divulgação da
Doutrina Espírita.
Participando, no início, em 1947, da então Juventude
Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade.
Durante seu tempo, acompanhou transformações política, social e tecnológica,
com inteligência e flexibilidade. Sua existência terrena se pautou pelo
trabalho no movimento espírita. Por ele, aderiu ao Lar Veneranda, onde
permaneceu 47 anos e onde solidificou sua estrutura, seu trabalho assistencial,
sua destinação. Uma obra de sua vida.
Formatou, também, o pensamento da Mocidade Espírita
Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em
cuja direção trabalhou muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Dirigiu
o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20
anos. Depois, devido a ruptura, fundou o ABERTURA, em 1987 que continua hoje
com a direção de Alexandre Cardia Machado.
No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso,
fundou a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar
Veneranda, em substituição à Dicesp que criou e presidiu no esquema unificador.
E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que
se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento
Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pela USE.
Desde sempre esteve às voltas com livros embora só
tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39
anos de idade. Laureou-se em três cursos superiores: Economia, Jornalismo e
Psicologia, os dois primeiros em horário noturno por causa de sua atividade
profissional como empregado da Petrobrás. Psicologia cursou quando já estava
aposentado e foi sua última atividade profissional. A iniciação num Espiritismo
religioso, cristão, levou a questionamento doutrinários o que o levou a seguir
sempre caminho próprio, não atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência
lhe rendeu, muitos dissabores, entraves, incompreensão e agressões. Todavia,
jamais lhe tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fez. Os desafios marcaram os
seus passos.
O ideal, a inovação, a criatividade, bem como, a libertação
dos estritos caminhos do pensar religioso estabeleceram seus caminhos.
Analisava os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir.
Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de
ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca lhe tolheu ou o
cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, com a visão, de
livre pensador, aberto, progressista. Se tornou escritor, publicando oito
livros que continuam sua obra.
Sua existência teve balanço bastante positivo, foi de grande
ganho para todos que tiveram o prazer de sua convivência.
Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória, me remete
a todo um caminho no qual perfilou-se com pessoas de variadas expressões
emotivas e intelectuais, com as quais aprendeu a conviver, a superar impulsos e
perdoar atritos. Sessenta e três anos completos de trabalho doutrinário sempre
com olhar atento e mantendo alto seu estandarte de trabalho.
Ha 15 anos, sentimos falta de Jaci Régis, fundador do ICKS –
Instituto Cultural Kardecista e seu principal líder intelectual, de seu
pensamento claro e de seu calor afetivo. Jaci foi o grande incentivador do
espiritismo laico, hoje bem sedimentado no continente sul-americano.
Idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que reuniu espíritas
de todo o Brasil e de outros países, é sempre lembrado e citado por muitos
participantes.
Este é um pequeno relato da vida profícua desse grande pai,
desse grande homem. Espero que algumas pessoas, através de seus livros, se
interessem e mergulhem nos seus ensinamentos. Eu como filha e que acredita na
vida após a morte, sempre converso com ele através de pensamentos sentindo sua
presença carinhosa próxima a mim.
GISELA REGIS
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