quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

15 anos sem a presença física de Jaci Régis - por Gisela Régis

 15 anos sem a presença física de Jaci Régis


15 anos sem a presença física de Jaci Régis

Jaci Regis, meu pai querido, muito poderia escrever sobre ele, de quem tive o privilégio de ser filha e mais do que isso, sua admiradora e seguidora. Quinze anos de ausência física, desse pai atencioso, preocupado com a família e importante espírita de nosso tempo.

Poucos da multidão de espíritas puderam realmente conhecer e admirar a personalidade marcante desse incansável trabalhador, quer dos assuntos doutrinários, quer da benemerência dedicada à infância e às mães sofridas carentes à procura de uma vida digna junto de seus filhos.

Possuía uma energia de trabalho e mente criativa para novos projetos arrojados que faziam tremer as bases estabelecidas no pieguismo e nos valores envelhecidos pelo comodismo.

Meu pai, além da dedicação a família, que ao longo período de sua existência se corporificou no casamento, 6 filhos, 11 netos e uma bisneta, trabalhou por 63 anos, nas atividades ininterruptas, diárias, ao movimento espírita. Desde a adolescência ousou contrariar e enfrentar os velhos líderes do movimento espírita santista, cujos centros mais pareciam simulacros de igrejas e templos evangélicos do que casas de estudos e de divulgação da Doutrina Espírita.

Participando, no início, em 1947, da então Juventude Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Durante seu tempo, acompanhou transformações política, social e tecnológica, com inteligência e flexibilidade. Sua existência terrena se pautou pelo trabalho no movimento espírita. Por ele, aderiu ao Lar Veneranda, onde permaneceu 47 anos e onde solidificou sua estrutura, seu trabalho assistencial, sua destinação. Uma obra de sua vida.

Formatou, também, o pensamento da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em cuja direção trabalhou muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Dirigiu o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20 anos. Depois, devido a ruptura, fundou o ABERTURA, em 1987 que continua hoje com a direção de Alexandre Cardia Machado. 

No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso, fundou a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar Veneranda, em substituição à Dicesp que criou e presidiu no esquema unificador. E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pela USE.

Desde sempre esteve às voltas com livros embora só tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39 anos de idade. Laureou-se em três cursos superiores: Economia, Jornalismo e Psicologia, os dois primeiros em horário noturno por causa de sua atividade profissional como empregado da Petrobrás. Psicologia cursou quando já estava aposentado e foi sua última atividade profissional. A iniciação num Espiritismo religioso, cristão, levou a questionamento doutrinários o que o levou a seguir sempre caminho próprio, não atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência lhe rendeu, muitos dissabores, entraves, incompreensão e agressões. Todavia, jamais lhe tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fez. Os desafios marcaram os seus passos.

O ideal, a inovação, a criatividade, bem como, a libertação dos estritos caminhos do pensar religioso estabeleceram seus caminhos. Analisava os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir. Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca lhe tolheu ou o cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, com a visão, de livre pensador, aberto, progressista. Se tornou escritor, publicando oito livros que continuam sua obra.

Sua existência teve balanço bastante positivo, foi de grande ganho para todos que tiveram o prazer de sua convivência.

Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória, me remete a todo um caminho no qual perfilou-se com pessoas de variadas expressões emotivas e intelectuais, com as quais aprendeu a conviver, a superar impulsos e perdoar atritos. Sessenta e três anos completos de trabalho doutrinário sempre com olhar atento e mantendo alto seu estandarte de trabalho. 

Ha 15 anos, sentimos falta de Jaci Régis, fundador do ICKS – Instituto Cultural Kardecista e seu principal líder intelectual, de seu pensamento claro e de seu calor afetivo. Jaci foi o grande incentivador do espiritismo laico, hoje bem sedimentado no continente sul-americano. Idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que reuniu espíritas de todo o Brasil e de outros países, é sempre lembrado e citado por muitos participantes.

Este é um pequeno relato da vida profícua desse grande pai, desse grande homem. Espero que algumas pessoas, através de seus livros, se interessem e mergulhem nos seus ensinamentos. Eu como filha e que acredita na vida após a morte, sempre converso com ele através de pensamentos sentindo sua presença carinhosa próxima a mim.

 

GISELA REGIS


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