MEMES DE FRANCISCO E MUJICA - coluna Opinião em Tópicos
-Milton Medran Moreira
As
mortes do Papa Francisco e de Pepe Mujica, acontecidas no espaço de uma semana,
deram origem a muitos “memes” nas redes sociais. Alguns deles retratam a
presença dos dois, na dimensão espiritual, compartilhando, descontraidamente, o
mate, bebida típica da região onde nasceram.
Se
a gente for raciocinar a partir da doutrina do primeiro, esse encontro seria
impossível. A fé cristã sustenta que somente serão salvos aqueles que creem. E
a crença fundamental tem por objeto a divindade, que se apresenta em três
pessoas, uma das quais seria o único salvador.
Na tradição
cristã, o ateísmo é o mais grave dos pecados, e a história da Igreja está
repleta de episódios de condenação à morte impingida aos ateus.
Mujica
não cria em Deus - pelo menos no deus de configuração cristã, e sua morte,
assim, não poderia fazê-lo encontrar-se com Francisco.
PEPE
E A RELIGIÃO
O
ex-presidente do Uruguai, por outro lado, ao que se saiba, também nunca
demonstrou qualquer convicção acerca da sobrevivência após a morte. Um lugar
paradisíaco, extensão da chácara onde tinha sua morada terrena, igualmente,
pois, seria inimaginável para ele.
Apesar disso tudo, Mujica deu-se muito bem com
Bergoglio, platino como ele, durante a vida terrena. Até podem ter tomado
alguns mates juntos, mas, suponho, nenhum deles imaginou viessem a fazê-lo após
a morte.
Diferentemente
da ideia fundamental da religião, a de que estamos num “vale de lágrimas”, por
força do pecado original, e que a felicidade estaria reservada, pela “graça”,
apenas a alguns, após a morte, Pepe lutou a vida toda para que o bem-estar
social e a justiça, intrínsecos à felicidade, atingissem a todos, num clima de
igualdade e fraternidade, por aqui mesmo. Para ele, a religião não
levaria a isso, eis ser “uma forma de consolo e não de transformação”.
FRANCISCO
E A JUSTIÇA SOCIAL
O
cardeal argentino que comandou a Igreja de Roma por 12 anos passou todo o seu
papado tentando conciliar a fé cristã com a justiça social.
Essa
sua visão encontra óbices difíceis de transpor, por força, mesmo, daqueles
fundamentos doutrinários a que antes me referi. Com base neles, o cristão deve
suportar resignadamente as injustiças sociais, transformando-as em crédito para
a salvação: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus”.
Querer fazer da sua Igreja um instrumento de transformação
social é postura vista por segmentos conservadores, nela expressivamente
existentes, como desvio de seus fins. É coisa de “comunista”, expressão com a
qual muitos tacharam Bergoglio.
HUMANISMO – O TRAÇO DE UNIÃO.
As contradições entre Francisco e Pepe, ou entre a fé e a
justiça social, só podem ser superadas por uma visão mais otimista acerca do
ser humano. Nessa perspectiva, estão superlativamente presentes o que a
Modernidade definiu como direitos inalienáveis e fundamentais do ser humano.
O humanismo, ou seja, o reconhecimento de que o ser humano
nasce livre, sujeito de direito ao bem-estar, sob a garantia do Estado
Democrático de Direito, é o único caminho a conciliar ateus ou agnósticos com
aqueles outros que vislumbram no homem/espírito uma origem e um destino
transcendentais.
Para nós, espíritas, não deve existir nenhuma contradição
entre justiça social e espiritualidade. Uma é parte integrante da
outra, e a luta na busca da felicidade deve se dar, progressivamente, por todos
os estágios da caminhada do espírito.
Um humanismo capaz de transcender à matéria plasma, assim, o
cenário ideal a unir espíritos da qualidade de Francisco e Mujica. E permite –
por que não? - imaginá-los mateando juntos, em alguma aprazível chácara deste
universo infinito.
Nota da Redação: Este artigo chamou muita
atenção e levou a manifestações positivas e negativas, parece que é sempre
difícil conviver com o oposto.
quer saber mais leia o Jornal Abertura de junho página 4) e
julho (página 5).
Abertura junho 2025:
Abertura julho 2025: