Mostrando postagens com marcador lei de igualdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lei de igualdade. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Contra o racismo, não bastam palavras. Temos que ser antirracistas - por Roberto Rufo

 

Contra o racismo, não bastam palavras. Temos que ser antirracistas

 

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar". (Nelson Mandela).

"O que eu mais me orgulho em mim mesmo é da minha condição de cidadão". (Ator Marcello Mastroianni).

 

Vini Júnior

É profundamente injusto e nojento o preconceito racial sofrido pelo jogador Vini Jr. na Espanha. O caso expõe a covardia da cúpula do futebol, que se limita a notas ridículas de repúdio e alguns slogans vazios. Esses dirigentes de futebol estão a anos luz de dimensionar os efeitos nefastos do racismo. A dor e a humilhação da vítima não os comovem.

 O Espiritismo tem uma posição clara e definida sobre os preconceitos:

  "Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade. (A Gênese, cap. I, item 36, p. 42-43. Vide também Revista Espírita,1867, p. 373.)".

 Essa é uma luta que tem de ser protagonizada por todos que se julgam cidadãos do mundo, os quais devem ter sempre atitudes antirracistas, para que desde hoje as pessoas e até às futuras gerações não passem por situações humilhantes como passou o jovem Vini Jr. de apenas 21 anos de idade.

 Mais uma vez o Espiritismo nos oferece um caminho de trabalho cujo objetivo nos torne pessoas melhores do ponto de vista moral:

 "Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais. (KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1863 – 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. – Janeiro de 1863.)”       

 Allan Kardec indaga na pergunta 795 qual é a causa da instabilidade das leis humanas, e os espíritos respondem que nos tempos de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis. As leis vão se aperfeiçoando à medida que os homens compreendam melhor a justiça. As leis humanas se tornam mais estáveis quanto mais se identificam com a lei natural. 

Contra o racismo só há dois caminhos: a aplicação da lei e a sanção moral da sociedade como um todo.

Gostou do artigo - Ele foi o Editorial do Jornal Abertura de junho 2023 - quer ler o jornal todo?

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/31-jornal-abertura-2023?download=233:jornal-abertura-junho-de-2023


 

                                                                                                                                                                                                            

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A doença do racismo persiste, mas não é incurável! - por Roberto Rufo e Silva

 

                                      A doença do racismo persiste, mas não é incurável!

“Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”  (Nelson Mandela)

Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um Advogado(reconhecido pela OAB em 2015), orador, jornalista, escritor brasileiro e considerado o Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Em 21 de Junho de 2020 fez 190 anos do seu nascimento em Salvador na Bahia. Faleceu em 1882 na cidade de São Paulo aos 52 anos de idade.Recomendo uma leitura atenta da biografia desse admirável brasileiro e de sua luta pelos direitos dos negros no nosso país.

Num de seus poemas Luiz Gama escreve "em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade".

Esse poema é um manifesto que revela a inquietude e a sua luta contra o racismo. Luiz Gama sem dúvida é um dos maiores abolicionistas da história brasileira. Lembrei-me de sua história e circunstâncias ao assistir ao em pleno século XXI a cena deplorável do senhor George Floyd sendo barbaramente assassinado por um policial branco nos EUA.

 Num artigo muito interessante escrito na revista Carta Capital o psicólogo, educador e um dos idealizadores do movimento de espíritas pelos direitos humanos Franklin Félix reafirma algo que deveríamos saber e praticar cotidianamente. Diz ele que "nós espíritas temos a obrigação moral de lutar contra todas as formas de opressão, em especial aquelas oriundas de raça e cor". O nome que ele dá ao seu artigo é na verdade uma convocação a todos aqueles que têm voz no movimento espírita, e que de alguma forma poderiam se fazer representar nos meios de comunicação. 

Nome do artigo : " O Espiritismo precisa se afirmar antirracista".

No Livro dos Espíritos em sua questão 803 Kardec indaga se todos os seres humanos são iguais perante Deus? Respondem os espíritos: "sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Dizeis frequentemente que o sol brilha para todos e com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais". Dessa frase deveria advir para todos nós uma postura antirracista, condenando veementemente qualquer tipo de preconceito, a começar reprimindo aquelas brincadeirinhas ou piadas idiotas envolvendo o povo negro. O Brasil foi o país que mais demorou para abolir a escravidão. Foram 350 anos de infâmia. O mínimo que nós brancos devemos ao povo negro é um pedido de desculpas.

Voltemo ao Livro dos Espíritos agora na pergunta 636 - São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal? "A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade. 

Em resumo, nunca houve época na história da humanidade que a escravidão pudesse ser considerada "normal", ou  "aceita" socialmente. Nem tampouco admitirmos que conceitos pseudo-científicos sejam incorporados ao corpo teórico espírita ou utilizados como ferramentas de análise da vida em sociedade.

O articulista Franklin Félix relembra o triste episódio do racismo localizado de Allan Kardec que deve nos prevenir contra quaisquer ideias que não trazem a inclusão das pessoas com todas as suas peculiaridades. Ele se refere a um artigo publicado na Revista Espírita em 1862 "Frenologia Espírita e a perfectibilidade da raça negra" e outro texto constante em Obras Póstumas denominado "Teoria da beleza". Em ambos Kardec pisou na bola.

São equívocos que a meu ver não transformam Kardec num ser humano racista, mesmo porque a questão da igualdade na teoria espírita foi plenamente abordada por Kardec e de uma forma bem avançada para a época. O Espiritismo é uma doutrina isenta de preconceitos em seus conceitos principais. Mas todo cuidado é pouco. Por isso,repito,  a postura antirracista deve ser uma norma de conduta. Segundo Franklin Félix, numa frase muito interessante de se refletir, Kardec não era racista, mas Kardec foi racista!

Vejo no mundo de hoje com muita felicidade a participação de um grande número de jovens envolvidos e comprometidos em várias causas sociais, seja em defesa do meio ambiente ou pleiteando acertadamente uma revisão de muitos contextos históricos que possuem uma dimensão nitidamente antissocial. Inclusive com a derrubada de estátuas homenageando títeres da história. Fiquei particularmente feliz com a queda da estátua do pusilânime Rei Leopoldo II da Bélgica, se espatifando no chão. Esse genocida participou da colonização do Congo Belga, e foi diretamente responsável por milhares de assassinatos. E ainda diziam que ele estava levando a civilização à África.

Jaci Regis sempre dizia que o espiritismo tinha como guia moral Jesus de Nazaré e não o Jesus Cristo que foi sequestrado pelos templos, igrejas e muitos centros espíritas. Jesus de Nazaré concebido de uma relação sexual normal, nascido de parto natural, um espírito evoluído que ensinou sempre o amor ao próximo e a igualdade de direitos entre os seres humanos como razão para se viver em sociedade e evoluir.

Publicado no Jornal Abertura - junho de 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional

                                                                                                             

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Black Lives Matter - por Alexandre Cardia Machado

 

Black Lives Matter

 

 

Caros companheiros espíritas, eu, Alexandre Cardia Machado, não falo muito de onde trabalho, mas me juntei há 19 anos à General Electric, uma empresa multinacional que constantemente é escolhida pela revista Exame como uma das 10 melhores empresas para trabalhar no Brasil. A GE conta com várias políticas de apoio efetiva à diversidade. Solicitei autorização do autor para publicar esta mensagem que foi enviada a todos os empregados da América Latina. Outros depoimentos semelhantes foram feitos mundo afora por outros líderes da empresa. Cito nosso exemplo, porque mais e mais empresas estão mostrando a sua cara e se posicionando fortemente contra a desigualdade. A GE, criada em 15 de abril de 1892 é líder mundial nisto.

 

“Quando iniciamos os trabalhos para a criação do AAF – AfroAmericanForum na América Latina e aceitei o desafio de me tornar o sponsor (Gestor que apoia o programa) do grupo muitos questionamentos vieram à minha cabeça. Comecei a pensar em como um executivo branco como eu, com voz ativa e certa influência na companhia e sociedade, poderia fazer um bom trabalho para promover não apenas a extinção do racismo, mas a reconciliação entre as diferenças. Até dias atrás, se fosse falar sobre este tema, contaria como fiz para me envolver com todas as lutas e causas e como vinha percebendo avanços em diferentes frentes. Só que depois dessa semana nada disso importa mais.

 

Jamais me calarei diante de qualquer injustiça. Jamais compactuarei com qualquer quebra de integridade. Jamais permitirei, por tudo que sou e acredito, nenhuma forma de discriminação. E mesmo desejando que fosse assim para todos, infelizmente não é. Ficamos todos horrorizados com casos nos Estados Unidos e na América Latina. E nenhum de nós deveria se calar.

 

O racismo é uma questão que a nossa sociedade precisa resolver. Tirar a vida de uma pessoa simplesmente por conta da cor da sua pele é quase inclassificável. A GE se posicionou em diversos lugares do mundo, por meio de seus principais líderes. O que vale no mundo também vale na América Latina e por aqui as desigualdades também geram incontáveis episódios que ferem brutalmente o que entendemos por integridade.

 

Infelizmente temos registros de casos semelhantes no Brasil e América Latina. Sabemos os nomes dos que foram injustiçados e conhecemos seus rostos. Nosso erro, enquanto sociedade, foi não ter agido antes para criar um ambiente onde negros, brancos, homossexuais, qualquer pessoa, possa viver sem medo de ser o que é.

 

Por mais que eu pratique o exercício de me colocar no lugar do próximo, não sei o que é sentir na pele o racismo. Não sei o que um negro experimenta em qualquer lugar do mundo. Mas sei o que senti quando me coloquei no lugar daquele homem indefeso no momento em que pedia apenas para respirar.

 

Tenho um pedido. Quase um apelo para cada um de vocês. A mudança depende de nós. Precisamos agir com humildade, para então assim praticar a escuta empática, de forma ativa e consciente. Aprender, entender, apoiar e se posicionar diante de tudo que está acontecendo é o nosso dever. Envolva-se, converse, busque soluções para os problemas que incomodam as pessoas. O despertar da nossa consciência é o que fará com que mais essa triste morte não seja em vão. Chegou a hora de fazermos mais. E fazermos direito. Faça a sua parte.

 

Dentro da nossa empresa, a Integridade é nossa lei e está permeada na nossa cultura. Toda e qualquer forma de discriminação é intolerável e seu dever enquanto funcionário é garantir que isso se mantenha como verdade absoluta. Caso testemunhe qualquer tipo comportamento em nossa empresa que considere contrário ao nosso compromisso com a diversidade e a inclusão, não se cale. Fale com seu RH, seu líder ou se preferir use o Portal da Intergridade para levantar um concern (observação negativa)”.

  

Luiz Verzegnassi

President & CEO GE Healthcare Services Global

Mensagem enviada originalmente para os funcionários da GE na América Latina em 5 de junho e compartilhada com autorização do autor.

publicado no Abertura de Junho 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

ABORTO – Um Olhar Humanizado - por Jacira Jacinto da Silva e por Saulo de Meira Albach

 

ABORTO – um olhar humanizado

 

“Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas! “ Mario Quintana

 

Para iniciar esta difícil discussão, buscaremos responder à seguinte questão: A quem cabe a decisão de interromper uma gravidez? À gestante, ou ao Estado?

Enquanto o país aguarda o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da arguição de descumprimento de preceito fundamental ADPF - 442/DF, com parecer da Procuradoria Geral da República, pela criminalização do aborto, é tempo de espíritas discutirem o assunto.

Antes de tudo, alguns esclarecimentos iniciais.

 

ADPF é uma das ações que fazem parte do controle concentrado de constitucionalidade, cujo julgamento cabe ao STF. Sua inspiração vem da Corte Constitucional da Colômbia, que forjou a técnica de decisão do Estado de Coisas Inconstitucional (ECI).( ref 1) A função desta ação é evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público (ref 2).

 

E o que seria preceito fundamental? Refere-se a normas e princípios imprescindíveis e de relevância especial da Constituição. A ação serve tanto para evitar lesões como também reparar as lesões já causadas pela violação dos preceitos fundamentais.

 

Em 6/03/2017, o PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE – PSOL apresentou ao STF a ADPF 442, visando à não recepção parcial dos artigos. 124 e 126 do Código Penal, indicando como preceitos fundamentais violados, os princípios da dignidade da pessoa humana, da cidadania e da não discriminação, bem como os direitos fundamentais à inviolabilidade da vida, à liberdade, à igualdade, à proibição de tortura ou tratamento desumano ou degradante, à saúde e ao planejamento familiar, previstos nos artigos. 1º, I e II, 3º, IV, 5º, caput e I e III, 6º, caput, 196 e 226, § 7º, da Constituição Federal.

 

Em 3/08/2018 – o STF realizou audiência pública. Foram recebidos mais de 180 pedidos de habilitação de expositor na audiência, abrangendo pessoas físicas com potencial de autoridade e representatividade, organizações não governamentais, sociedades civis e institutos específicos.

Em maio de 2020 sobreveio o parecer do Ministério Público: “opina o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA pelo indeferimento da medida cautelar e, no mérito, pela improcedência da arguição de descumprimento de preceito fundamental”. Em síntese, opinou pela criminalização.

 

Falta apenas o julgamento em plenário no STF.

 

E nós, espíritas, como interpretamos a situação? A mulher que pratica aborto com menos de 12 semanas de gravidez, como discute a ADPF, deve ser criminalizada, ou não?

 

O direito à vida é inquestionável, sendo o primeiro e o maior de todos os bens tutelados pela legislação. É com esse fundamento que religiosos, dentre eles grande parte dos espíritas, advogam a condenação da pessoa que pratica o aborto. Vejamos o que dispõe o Espiritismo.

 

A pergunta n. 880 de O Livro dos Espíritos está assim redigida: Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? Resposta: “O de viver. Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem o de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.

 

A complexa questão do aborto, entretanto, passa pela análise de outros fatores.

Ainda analisando O Livro dos Espíritos:

 

Q. 136.a — Pode o corpo existir sem a alma? R: “Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo”.

Q. 344. Em que momento a alma se une ao corpo? R: “A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz”.

Q. 346. Que faz o Espírito, se o corpo que ele escolheu morre antes de se verificar o nascimento? R: “Escolhe outro”.

Q. 357. Que consequências tem para o Espírito o aborto? R: “É uma existência nulificada que ele terá de recomeçar”.

 

Q. 358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

R: Há crime sempre que transgredis a lei de Deus

Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por impedir uma alma de passar pelas provas a que lhe serviria o corpo.

 

Q. 359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? R: “Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.”

 

E o que diz o Código Penal sobre aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento.

 

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de um a três anos. (…)

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (terceiro)

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: (Aborto necessário)

I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante

II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Pesquisa Jurisprudencial revela que:

 

 

Criminaliza

Não criminaliza

STF (ref 3)

 

Primeiro trimestre

STF

 

Anencéfalo

STF

Terceiro provocador/ex. médico

 

STJ (ref 4)

 

Terapêutico

STJ (ref 5)

Provocado pela gestante

 

STJ (ref 6)

Sem consentimento da gestante

 

TJSP (ref 7)

6 meses gestação

 

TJSP (ref 8)

Provocado pela gestante

 

TJSP (ref 9)

 

Anencéfalo

O espiritismo nos ensina a viver sob a égide do livre arbítrio com responsabilidade. Do mesmo modo, não cogita a aplicação de penas e castigos. Cada ser é condutor do seu destino; constrói situações aflitivas ou felizes e a lei da reencarnação indica as infinitas oportunidades que os espíritos terão para progredir.

 

            Voltemos à questão inicial: A quem cabe a decisão de interromper uma gravidez?

 

De acordo com o nosso entendimento, esta decisão é da gestante.

 

Particularmente, não somos favoráveis ao aborto, e fazemos questão de ressaltar isso, mas nos sentimos muito à vontade para dizer que não podemos impor a nossa convicção a ninguém, tampouco nos sentimos no direito de condenar a mulher que, por razões desconhecidas, decidiu abortar. Estamos bastante convictos de que todos teremos novas oportunidades para aprender e crescer.

 

Com base nos conceitos fundamentais do espiritismo e no desenvolvimento dos valores da sociedade, sobretudo do respeito aos direitos de todos os seres humanos, propomos a seguinte abordagem para o tema:

 

- somos contrários ao aborto, pois valorizamos demais a vida;

- propomos que a mulher, na medida de suas forças, embora reconhecendo que é dela o direito de decisão e – de regra - a carga advinda da gravidez, busque assimilar a gravidez acidental;

- incentivamos o uso dos métodos anticonceptivos quando a gravidez não é desejada;

- apoiamos mulheres que desejam ter seus filhos (é necessário dar condições);

- consideramos fundamental promover a educação sexual.

Acima de tudo, propomos respeito ao livre arbítrio, cabendo à mulher decidir o que fazer no caso de gravidez indesejada; defendemos a admissão do aborto terapêutico e que em nenhum caso a mulher seja criminalizada.

 

            Os crentes de todas as religiões condenam todo tipo de aborto e condenam até mesmo a pílula do dia seguinte, sob o pretexto de que já teria havido a fecundação e, portanto, já existiria vida. Defendem a criminalização de condutas que a própria lei não pune, como os diversos anticonceptivos e o aborto se a gravidez resultou de estupro.

 

            Pensamos a filosofia kardecista como uma contribuição libertadora e não como instrumento de julgamentos e condenações. Ao invés de intimidar e condenar, exigindo a imputação de crime à gestante que abortou, devemos orientar as mulheres sobre o papel da maternidade e a importância da vida; ajudar na educação; auxiliar a formar uma geração de jovens responsáveis; amparar as jovens mães desprotegidas.

 

            Antes de afirmar que somos favoráveis à criminalização da gestante que pratica qualquer tipo de aborto, deveríamos analisar as consequências da manutenção obrigatória de uma gravidez indesejada, ou decorrente do estupro, por exemplo.  Melhor seria se os representantes dos mais diversos segmentos religiosos saíssem em campanhas públicas, usando a mídia nacional como fazem para condenar o aborto, apresentando propostas concretas de apoio, amparo, proteção e encaminhamento de todas as grávidas de filhos indesejados. Muito melhor seria se esses representantes religiosos tivessem o mesmo olhar implacável contra o abandono e a miséria que ceifam a vida real de crianças marginalizadas e condenadas a condições indignas e degradantes.

Em sua obra ABORTO E CONTRACEPÇÃO, Celso Cezar Papaleo, após discutir a impossibilidade de separar o tema do aborto da irrealização plena do bem comum (justiça social), conclui:

“Sociedades injustas afugentam o amor entre os homens e problematizam a própria autoestima humana, desviando-nos de nossas naturais finalidades, cuja objetivação impossibilita para grande número. A ética individual periclita quando falecem valores na vida social”. (ref 10)

É estranhamente paradoxal que as religiões defendam tanto uma célula recém fecundada, que absolutamente não pode ser denominada feto ou criança, posicionando-se até mesmo contra a pílula do dia seguinte, sob o argumento de que poderia ter ocorrido a fecundação e, por consequência, existiria uma célula ovo com algumas horas em formação, mas não se incomodem  em ver tantas pessoas, incluindo uma imensidão de crianças perambulando pelo mundo, à mercê da própria sorte, sedentas por um olhar religioso em socorro de suas vidas; estas sim, reais, e bem reais. Sejamos a favor da vida, literalmente!

 

Ao tempo em que este artigo estava sendo finalizado um caso chamou a atenção do país: o da menina de dez anos de idade que reside no Espírito Santo, vítima de violência sexual por um familiar. O sigilo que deveria vigorar tendo em vista a idade da menina foi quebrado pela ativista da extrema-direita, Sara Winter. A interrupção da gravidez foi autorizada pelo Poder Judiciário. Esta possibilidade está prevista no ordenamento jurídico brasileiro desde 1940.

 

O que causou espanto, além da divulgação do fato – o que, por si só, já caracteriza crime – foi a movimentação criada contra a decisão judicial e até contra o médico. Cabe avaliar se a intenção dos fundamentalistas é sobrepor preceito religioso a preceito legal, o que é vedado pelo caráter laico do estado brasileiro. Frise-se: a interrupção da gravidez em caso de estupro é autorizada em nossa legislação desde a edição do Código Penal de 1940. Portanto, a decisão judicial aplicou a lei e atendeu recomendação médica – dupla motivação legal, portanto. Neste caso, a integridade da mãe (criança) deve ser preservada. Como já propunha O Livro dos Espíritos, na questão 359, no ano de 1857, Século XIX.

 

A discussão, se considerarmos a idade da mãe – 10 anos – e o fato de que a gravidez resultou de estupro praticado durante vários anos, parece surreal, mas no meio do caminho, além de correntes evangélicas, manifestaram-se contra o aborto o presidente da CNBB e a Associação Médico Espírita do Brasil. Ao que parece tais entidades conseguem ver na criança uma assassina. Como disse Caetano Veloso, “O padre na televisão diz que é contra a legalização do aborto e a favor da pena de morte; Eu disse – Não, que pensamento torto" (ref 11).

 

Autores:

Jacira Jacinto da Silva - Advogada, e Presidenta da CEPA.

Saulo de Meira Albach - Procurador do Município de Curitiba-PR e membro co-fundador do grupo musical Alma Sonora.

 

Referências no texto:

Ref 1 - Em novembro de 1997, foi julgado caso envolvendo 45 professores que tiveram direitos previdenciários suprimidos pelas autoridades municipais de Maria La Baja e Zambrano. Naquela ocasião, a CCC constatou que os motivos determinantes do desrespeito aos direitos dos autores eram decorrentes de falhas estruturais do Estado colombiano, uma vez que não podiam ser imputados a um único órgão, mas sim às diversas esferas integrantes do Poder Público, pois resultavam da execução desordenada e irracional de políticas públicas educacionais. A partir desse diagnóstico, a CCC concedeu o direito pleiteado pelos professores autores da demanda judicial.

Cursino. Bruno Barca. O transplante do Estado de Coisas Inconstitucional para o sistema jurídico brasileiro via ADPF. Boletim Científico ESMPU, Brasília, a. 16 – n. 50, p. 89-121 – jul./dez. 2017.  https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/boletim-cientifico/edicoes-do-boletim/boletim-cientifico-n-50-julho-dezembro-2017/o-transplante-do-estado-de-coisas-inconstitucional-para-o-sistema-juridico-brasileiro-via-adpf/at_download/file capturado em 04/08/2020, às 22h.

 Ref 2 - Art. 1º da Lei 9.882/99.

 Ref 3 -  STF – Supremo Tribunal Federal

 Ref 4 - STJ – Superior Tribunal de Justiça

 Ref 5 - C 516437 / SP – STJ HABEAS CORPUS 2019/0175083-7

 Ref 6 - Inq 323-PE, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 19/3/2003.

 Ref 7 -TJSP – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

 Ref 8 - 2188906-47.2017.8.26.0000 

 

Ref 9 - 1000337-79.2016.8.26.0076 

Ref 10 - Rio de Janeiro; Ed. Renovar, 1993, p. 87.

Ref 11 - Letra da canção “Vamo Comer”.


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Desigualdade é um desafio persistente - por Roberto Rufo

 

                                             Desigualdade é um desafio persistente.

 

"O amor da democracia é o da igualdade" (Montesquieu).

 

"O mal da igualdade é que nós só a queremos ter em relação aos nossos superiores" (Henri Becque).

 

 

Nesses 130 anos da Proclamação da República no Brasil vários líderes e intelectuais apontaram os principais problemas para consolidar o espírito republicano.  A promoção da democracia e o combate à desigualdade são os valores mais citados por esses líderes e intelectuais.

 

Vamos comparar algumas citações com o que nos ensina a Doutrina Espírita.

  

Segundo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso "a produção, que se faz crescentemente por meios tecnológicos, não dá emprego e concentra renda. A ideia que parecia absurda - a renda universal - eu não sei mais se é absurda ". 

 

Explicando: Renda Básica de Cidadania (Brasil)  ou Rendimento de Cidadania (em Portugal), ou ainda Renda Básica Universal, é uma quantia paga em dinheiro a cada cidadão pertencente a uma nação ou região, com o objetivo de propiciar a todos a garantia de satisfação de suas necessidades básicas.

 

Em comentário à pergunta 805 do Livro dos Espíritos Kardec fala que "a diversidade das aptidões do homem não resulta da natureza íntima da criação, mas do grau de aperfeiçoamento ao qual chegaram os Espíritos nele encarnados. Deus, portanto, não criou desigualdades de faculdades, mas permitiu que os diferentes graus de desenvolvimento estivessem em contato, a fim de que os mais adiantados pudessem ajudar o progresso dos mais atrasados e, também, a fim de que os homens, tendo necessidade uns dos outros, cumprissem a lei de caridade que os deve unir ". Portanto de acordo com o espiritismo todos os seres humanos devem ter garantido o usufruto das necessidades mais elementares para uma vida digna. A compaixão é uma notável herança do cristianismo.

 

O economista Armínio Fraga fala que "a democracia  e a liberdade exigem um complemento  de natureza solidária, que espelhe a importância de lacunas que ainda temos. Igualdade de oportunidades e uma rede de proteção solidária são cruciais ". Os números indicam que as desigualdades sociais e de renda têm aumentado a nível mundial. 

 

Dessa forma a igualdade de oportunidades e as redes de proteção atuais têm se demonstrado insuficientes.  

 

Quando aborda a questão da igualdade de oportunidades o espiritismo fala que atingida esta só restará a desigualdade de mérito. Mas é bom reforçar como assevera o economista Delfim Netto que "essa tal meritocracia só vale se todos saírem do mesmo lugar. Se consigo partir de um ponto  muito avançado, porque meus pais são ricos e tive oportunidades que outros não tiveram, que meritocracia é essa?"

Por último o espiritismo concorda com o filósofo Renato Janine Ribeiro, que "atacar a desigualdade é também combater o privilégio. A sociedade deve ter claro que o objetivo de vivermos em conjunto é ter por meta o bem comum. Isso significa que vantagens pessoais, individuais, devem estar na esfera do direito e jamais do privilégio. Um regime republicano não pode ser um regime do privilégio".

 

Aí se trata de uma mudança mental do mundo, partindo é claro da evolução individual, e que como nos falam os espíritos na resposta à pergunta 806 "a desigualdade não é obra de Deus, e sim dos homens". Remédio: altas doses de humildade e simplicidade para combatermos o orgulho e o egoísmo que trazemos dentro de nós.

 

Infelizmente existe razão no pensamento do Sr.José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares quando fala que "a República de todos se transformou na República de poucos e que o estado democrático do direito vem se apresentando como estado antidemocrático do direito".

 

Convenhamos é uma tarefa gigantesca o atingimento dessa meta de entendimento entre os homens que na pratica há de se traduzir na aplicação da lei de justiça. Todavia, acredito que chegaremos lá com certeza. 

 

 

Roberto Rufo


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


segunda-feira, 19 de maio de 2014

RACISMO X RACISMO - da redação




                  RACISMO X RACISMO


              “O racismo é a tendência do pensamento ou o modo de pensar, em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo não é uma teoria cientifica, mas um conjunto de opiniões preconcebidas que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, atribuindo superioridade a alguns de acordo com a matriz racial.

              A crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a escravidão , o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram durante toda a historia da humanidade e ao complexo de inferioridade, se sentindo, muitos povos, como inferiores aos europeus (wikipedia).”

              Cristovam Buarque, senador ( PDT) argumenta que "o Brasil é um país dividido, que abriga a maior concentração de renda do mundo e um modelo de apartheid: o apartheid social brasileiro." Ele diz que que em vez de "um espectro de desigualdade", há agora "uma ruptura entre os incluídos e os excluídos."  Argumenta ainda que a sociedade está ameaçada por "um hiato entre ricos e pobres tão grande que em todo o país haverá um crescimento separado, nos moldes da Africa do Sul, sob o apartheid" e que enquanto isso está acontecendo no mundo, "O Brasil é o seu melhor exemplo."

             Kardec ressalta que "na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade"

             Digo eu que, os atos racistas somente cessarão quando se perceber que a quantidade de melanina não torna as pessoas superiores nem inferiores, somente traz variações dentro da mesma espécie - a Homo sapiens.


E você leitor, o que pensa do racismo? Deixe sua opinião