terça-feira, 31 de janeiro de 2023

METAFÍSICA NUNCA MAIS por Roberto Rufo

 

METAFÍSICA NUNCA MAIS

 

"O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá" (Desconhecido).

 

"Quando quem fala e quem ouve, nenhum deles entende o que se entende, isso é metafísico". (Voltaire).

                                                             

 David Hume (1711/1776) foi um, historiador e ensaísta britânico nascido na cidade de Edimburgo (Escócia) que se tornou célebre por seu empirismo radical e o seu ceticismo filosófico. Por ceticismo entende-se a doutrina filosófica segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real.

 

A obra de David Hume "Investigações sobre o Entendimento Humano" trata essencialmente, da teoria do conhecimento, que é aquele ramo da filosofia que busca responder questões sobre a origem e a validade de tudo que podemos conhecer. A este respeito, Hume era empirista, ou seja, acreditava que todo conhecimento provém da experiência.  Hume dizia que todo conhecimento só é possível através das percepções da experiência; percepções que podem ser "impressões", dados diretos dos sentidos ou da consciência interna, ou "ideias", que resultam da combinação de impressões. 

 

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724/1804) amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna operou uma síntese entre o racionalismo continental e a tradição empírica inglesa. Ao ler o livro "Investigações sobre o Entendimento Humano" (1748) de David Hume , Kant diz que despertou do seu sono dogmático, ou seja, aquela ideia racionalista de que conseguimos justificar ou provar só pelo pensamento o nosso conhecimento de aspectos substanciais da realidade física. 

 

Nos Prolegômenos do Livro dos Espíritos, os espíritos que assessoraram Allan Kardec, além de afirmarem que existam fenômenos que escapam das leis da Ciência vulgar, que revelam a ação de uma vontade livre e inteligente, afirma que as comunicações entre o mundo espírita e o mundo corporal estão na natureza das coisas e não constituem nenhum fato sobrenatural. Nada de metafísico. Kardec partiu de um fenômeno, estudou esse fenômeno aplicando o chamado método científico para só obter conceitos após várias tentativas experimentais. O único conceito metafísico que poderíamos dizer que ainda persiste no Espiritismo seria a afirmação da existência de Deus, por ser imune a experiências. Mesmo assim na pergunta 4 do Livro dos Espíritos (Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?) a resposta dos espíritos e o comentário de Kardec , estão carregados de explicações baseadas nas coisas da natureza. Não se trata de um simples acreditar por crer cegamente. Voltando aos prolegômenos, os espíritos afirmam  a Kardec que a doutrina irá se propagar e ser compreendida. Isso a meu ver, por ser livre de dogmas e misticismos.

 

O Espiritismo não pode cair no erro das metafísicas tradicionais de tentar teorizar sobre coisas que estão além de qualquer experiência possível. Kant dizia que as questões sobre Deus, a imortalidade da alma ou o livre-arbítrio não podem ser resolvidas pela razão humana, pois estariam fora do alcance do conhecimento empírico. 

 

Na verdade, nos dias atuais, somente Deus permaneceria nessa observação kantiana , mesmo assim com as ressalvas que fiz acima. A prova da imortalidade da alma possui muitos estudos sérios, espíritas ou não, sobre a sua real possibilidade. O mesmo pode-se dizer sobre o livre-arbítrio, havendo até estudos de alguns neurocientistas negando a sua possibilidade de existência. Estudos baseados em várias experimentações. Outros estudos, também eivados de provas experimentais, afirmam o contrário. 

 

A metafísica ficou restrita às religiões ortodoxas, onde o ingresso das ideias fica cerceado pelo axioma inicial irremovível, os chamados artigos de fé. As ideologias também estão repletas de conceitos metafísicos, os quais são utilizados para explicar qualquer movimento econômico ou social em qualquer época da humanidade. Um exemplo de valor ideológico metafísico é o da revolução permanente, pois como escreveu Simone Weil a revolução é pensada  não como uma maneira de solucionar os problemas colocados pela humanidade ao longo da história, mas como um milagre que nos dispensa de resolver problemas. É a metafísica na solução dos problemas sociais. Se a realidade desmente a teoria, altere-se a realidade . Como escreveu Millôr Fernandes, o marxismo é uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente. 

                                                            

Finalizo com os Prolegômenos quando os espíritos assessores dizem que os bons espíritos assistem aqueles que servem a humanidade e não aqueles que apenas buscam um degrau para as coisas da Terra.  A metafísica passa longe como ferramenta na solução dos problemas sociais.

Este artigo foi publicado  no Jornal Abertura de dezembro de 2022 - se quiseres ler vá:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=207:jornal-abertura-dezembro-de-2022


 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Abrindo a Mente - O Misticismo e Charlatanismo no Espiritismo - Por Alexandre Cardia Machado

 Abrindo a Mente

O Misticismo e Charlatanismo no Espiritismo

Recentemente fomos convidados a falar sobre este tema em um centro Espírita de Santos, isto me fez refletir sobre os mecanismos que estão por trás de ações fraudulentas associadas a mediunidade. Esta preocupação não é recente, o mestre Kardec já tratava disto.

Allan Kardec no Livro dos Médiuns já nos advertia em relação aos perigos da mediunidade e dos médiuns, a história está repleta de charlatães e não perderemos tempo aqui relembrando cada caso destes, mas sim tentando alertar os amigos leitores.

No Livro dos Médiuns encontramos referência ao Charlatanismo em 3 lugares: Primeira Parte, no Capítulo 4° - Dos sistemas – Exame dos diferentes modos que o Espiritismo é encarado ... do Charlatanismo; na Segunda Parte, capítulos 27° e 28°, Das contradições e das mistificações e do charlatanismo e do embuste. Além destes capítulos o mestre faz referência à palavra Charlatanismo 28 vezes nesta obra.

No século XIX eram extremamente comuns shows teatrais com a presença de médiuns e embusteiros, misturava-se claramente a mediunidade real, no caso em especial de efeitos físicos com truques de ilusionismo. Este tipo de show diminuiu muito, mas não significa que tenha terminado.

Didaticamente vamos apresentar o conceito dos termos misticismo e charlatanismo, no sentido em que são empregados na obra de Kardec.

Mistificação (farsa): Ação intencional do Médium em enganar as pessoas quanto a origem de uma comunicação ou efeito físico, não confundir com animismo (real).


                                                   Filme - Fé de mais não cheira bem.

Charlatanismo: é uma ação intencional do Médium em enganar as pessoas com objetivos exercer poder quer econômico ou social (caracteriza-se por recebimento por algo que não é verdade).

O charlatanismo sempre existiu na sociedade, não apenas no campo do Espiritismo, por que isto corre? Pela falta de caráter de alguns espíritos encarnados, de baixa elevação espiritual.

Mecanismo usado:

Poderíamos dividir em dois tipos de mecanismos que de alguma maneira podem ser usados juntos ou separados:

Efeitos Físicos: basicamente se utilizam de técnicas de ilusionismos, semelhantes aos mágicos de circo. É o chamado predigitadores. Ou seja, necessita aprimorada técnica, mas o objetivo é enganar os frequentadores, buscando vantagem financeira.

Efeitos inteligentes: Este é o mais difícil de detectar pois qualquer processo mediúnico é propenso a engano, comunicação imperfeita e animismo, no entanto o nosso enfoque está relacionado a situações em que haja movimentação financeira, grande foco do charlatão.

O que observar para não ser enganado:

Não precisamos ir muito longe para sabermos de médiuns que correm o Brasil, fazendo palestras, recebendo cartas de Espíritos e vendendo livros com grande divulgação. O que há de ruim nisso? Tudo ou nada. Nada se forem honestos e tudo se forem charlatães.

Nos dias de hoje é muito fácil obter informações de uma pessoa que ficou viúva, que perdeu um filho ou de um marido que perdeu sua esposa, as informações estão nas redes sociais.

Quando estes médiuns famosos participam de eventos públicos, nestas visitas em cidades, quase sempre os grupos que as organizam de forma sincera, para receber algum médium famoso, criam grupos de WhatsApp, fazem propagandas pelo Fecebook. Logo, algumas pessoas comentam que gostariam de ir e receber uma carta de seu ente querido, dizem algo como: Vou sim, perdi meu filho e não me conformo, dizem o nome do filho, e está aberta a porta para o “médium charlatão”.

Outra forma muito comum é aquela onde as pessoas que vão participar da “sessão” devem chegar com antecipação, com isto em um local cheio, as pessoas circulam, conversam, contam seus problemas. Isto cria a oportunidade, pessoas que fazem parte da trama se misturam e capturam os casos e principalmente os detalhes, que fazem com que rapidamente se possa criar uma comunicação forjada.

Hoje existe o ponto eletrônico que pode facilmente ser escondido e as informações então passadas ao suposto médium.

Recado final, fiquem atentos, vejam se existe alguma forma de venda de livros, remédios ou qualquer outra atividade econômica associada.

Se forem procurar ajuda espiritual chequem na internet se existem reclamações e principalmente não falem com ninguém, sobre o seu problema. Esperem que os espíritos amigos se manifestem, peçam apenas mentalmente por ajuda.

Para abrir mais a sua mente: assistam ao filme de 1992 com Steve Martin – título em português: Fé de mais não cheira bem.

Artigo publicado no jornal Abertura de agosto de 2022.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=194:jornal-abertura-agosto-de-2022