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sexta-feira, 8 de março de 2024

Para Manter o Ideal por Jaci Régis


 

Este texto compõe o livro – Caminhos da Liberdade – caso você tenha gostado e queira ler o livro todo – entre em contato com o ICKS pelo e-mail – ickardcista1@terra.com.br.

 

Uma pergunta que cada um se faz, senão sempre, mas vez por outra, quando está engajado numa doutrina, ideal, movimento que vise o aperfeiçoamento social, a ecologia, um mundo melhor, é se vale a pena fazer o que está fazendo.

Se a pessoa está ligada a esse movimento ou ideia, com um mínimo de pureza de sentimentos, ver-se-á constantemente envolvida por questões menores e maiores que, por fim, colocam em dúvida a validade de seu esforço, de seu idealismo.

Principalmente quando, a seu ver, existe incompreensão, encontra desilusão pelo comportamento contrário do que esperava por parte dos demais.

A questão não é irrelevante.

Todo e qualquer dispêndio de energias espirituais deve ser constantemente avaliado. Por isso, a primeira coisa a fazer é perguntar a si mesmo da validade do conteúdo da proposta que defende, de modo crítico e realístico e o quanto de satisfação lhe traz o envolvimento no trabalho.

Se o resultado desse questionamento concluir que houve engano e aquilo não é bem o que se quer, então nada mais se tem a fazer senão deixá-lo de lado.

Mas se a conclusão mostrar que estamos fazendo o que queremos, que continuamos com a convicção que é melhor para nós, para a comunidade, para o mundo, então nada nos deterá ou não deveria nos deter, na continuidade de nossos esforços.

Se estivermos ligados a uma causa aceita apenas por uma minoria e, portanto, compelidos a lutar para que não morra, mas avance, então é também necessário compreender que a adesão a esse tipo de ideal requer mais do que simples participação, simpatia ou aplauso.

Requer a integração da própria vida, porque não se trata de ganhar mais uma batalha, mas romper bloqueios, revolucionar posições, e começar por nós mesmos.

E uma mudança radical no interior da pessoa, principalmente em relação a conceitos fundamentais em que repousava a própria consciência dos valores, não é fácil, nem isenta de ansiedade.

Publicamos este artigo no jornal Abertura de abril de 2024

baixe aqui

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/42-jornal-abertura-2024?download=300:jornal-abertura-abril-de-2024

Cada um organiza, estrutura sua mente de acordo com princípios, valores e crenças que se acumulam em estreita correlação com a cultura, com o grupo, com a família, com a comunidade a que se filia.

Quando uma renovação conceitual implica em romper com toda essa estruturação, sobram dúvidas internas e pressões externas.

Essa transição é sempre dolorosa por importar num hiato solitário em que a pessoa necessita tomar decisões isoladamente. Esse caminho pode afastá-lo de pessoas, grupos a quem está ligado emocionalmente. Certas amizades poderão esfriar, certos relacionamentos se desfazem.

É preciso ter em mente que quando se pretende inovar, mudar, transformar um sistema, este tudo fará, armar-se-á poderosamente para evitar qualquer mudança.

Um sistema de ideias ou social é como um organismo. Sentindo-se atacado, reage, reúne suas defesas e, se necessário, mata.

Veja-se o exemplo da ação dos grupos religiosos na defesa de suas crenças. Ainda que adorem o mesmo deus e sigam o mesmo livro santo e o mesmo messias, basta que uma linha concorrente, um outro grupo de crentes surja, para que o antagonismo cresça e, por vezes, se converta em conflito e mesmo estabeleça uma irreparável divisão.

Por isso, é preciso atingir o nível de incerteza que exige continuada reflexão e constante repensar. Isso é absolutamente indispensável se quiser que tome corpo uma consistente estrutura interna, capaz de flexionar-se sem perder sua base, de aceitar rupturas e manter sua integridade. Resistir ao cansaço e prosseguir.

Quando se alcança esse nível – e não confundir com fanatismo, pois a reflexão só é válida dentro de um equilibrado senso crítico – não importa o que se diga, o que se sofra.

A força interior desencadeada é um fluxo que não pode mais ser represado. Continuar já é, então, parte do próprio ser.

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Eu e a Bruna no século XXI – Jaci Régis

 

Eu e a Bruna no século XXI – Jaci Régis

Texto publicado no jornal Abertura em fevereiro de 1989.

Após a publicação do e-mail de Jaci Régis a Bruna quando de seus 15 anos de idade, isto no ano de 2003, no jornal Abertura de junho de 2022, muita gente perguntou sobre o referido artigo - Eu e a Bruna no século XXI – desta forma Cláudia e eu fizemos um mergulho no tempo, não tínhamos certeza de quando havia sido publicado, revisamos os jornais Abertura que temos encadernados e finalmente o encontramos. Bruna estava com apenas 7 meses de vida, nesta encarnação. Hoje tem 33 anos e no próximo mês dará à luz a Helena, sua primeira filha.

Bruna com 6 meses em 1989


Interessante é que Jaci diz que: quem sabe ele não reencarnaria como seu neto no fim do século XXI, claro que é uma previsão poética, mas quem saberá a verdade?

Fiquem com Jaci Régis:

“Este fim de século e de milênio apresenta-se com todos os sinais característicos de fim de ciclo e transição para nova era. Usos e costumes sociais apresentam-se contundentes, no seu existencialismo sufocante, onde objeto e o fim da existência são resumidos no gozo, no prazer e no bem-estar dos sentidos. Uma constância materialista invade os domínios das religiões neutralizando seus esforços no sentido de impor os seus ensinos morais. (...) Até onde chegará esta imensa chaga que alcança todas as coletividades, essa imoralidade crescente envolvendo as próprias crianças e adolescentes como protagonistas e vítimas?”

 Lia essas linhas tão pessimistas e preparatórias para dizer, afinal, que “somente uma doutrina abrangente e generosa como a Doutrina dos Espíritos revivendo o Cristianismo (...) será capaz de dar ao homem sofredor, renovado pela esperança, a visão de um mundo novo de justiça e equidade, de amor e compreensão ...” com minha neta Bruna, de apenas 6 meses, brincando no meu colo, rasgando papeis. Ela viverá plenamente no século vinte e um. Ela é o futuro.

Recordei a peça “Cerimônia do Adeus” que havia assistido na véspera. Trata-se do jogo entre o radicalismo teórico do existencialismo sartreano, bebidos nos livros de Jean Paul Sartre e sua companheira Simone de Beauvoir, vividos na fantasia de um jovem leitor e as colocações de um espírita, radicalmente centrada no além, na fé nos Espíritos.

A personagem não é caricata, mas a lídima impressão da maioria dos espíritas, as voltas com operações espirituais, pensando que fora Cleópatra ou tentando enquadrar-se num passado qualquer. Era a imagem do espírita comum, que acredita que Victor Hugo tivesse se comunicado em seu centro e que estivesse arrependido. Mesmo quando o personagem Simone de Beauvoir cita tudo o que ele fez e realizou no campo político, literário etc., a espírita afirma que para “Deus isso não vale nada”. O que parece ser aceito por quase a totalidade dos adeptos que não se admiram quando um grande escritor, poeta, inventor, se apresenta como um pobre diabo, sem talento, ditando coisas medíocres, como a dizer que “no lado de lá” se perde o entusiasmo, a criatividade. As intervenções do personagem espírita, faziam a plateia rir muito.

Esse tipo de espírita vai mudar o quê?

Ainda há quem procure sinais no céu. Tenho pensado que Deus é muito mais inteligente do que seus pretensos porta-vozes querem fazer nos crer. O século vinte e um vai acontecer como os demais vinte séculos atrás e todos os que vieram antes deles. Sem maiores traumas do que os traumas da vida.

O tão malsinado materialismo, foi a única saída honrosa para o pensamento humano, preso ao catecismo católico, sufocado pelo evangelismo protestante que estavam a pretexto de salvar o homem, conduzindo-o para o abismo. O malsinado materialismo foi a libertação.

Agora esse materialismo está apto a se “espiritualizar” sem submeter-se, todavia, aos modismos de um Espiritismo medíocre, igrejeiro, sem vibração timbre para ser ouvido. Se quisermos que ele seja ouvido, tenha vez, antes de ser sepultado por outras correntes mais abrangentes e ousadas, tem que libertar-se desses enfadonhos discursos sobre catástrofes, vingança divina. Precisa encarar a evolução como fruto do conflito, do gozo, do prazer, da sublimação, da reparação e continuidade.

O Espiritismo já poderia sim, se não tivesse sido abortado, ter exercido uma influência muito grande, porque abre uma compreensão maior da natureza humana. Talvez ainda reste uma esperança de fazê-lo. Não, porém, enquanto entre nós houver quem se considere entre os “observadores perplexos”, do momento que vivemos. Porque jovens e crianças, envolvidos nessa transição libertadora, são Espíritos que precisam superar lutas tremendas, parte inclusive por culpa dessa mentalidade medieval, que julga que o homem precisa ser salvo, que necessita de um Salvador e de Anjos, para guiá-los.

Minha neta, olhos castanhos muito vivos, sorri para mim. E eu para ela. Eu partirei deste mundo e ela ficará. Vivenciará seus anseios e temores e terá que optar num mundo cheio de percalços, por uma via de vida. Como eu enfrentei, quando vim para cá, há 56 anos atrás, nas vésperas da II Guerra Mundial e submetido ao explodir da parafernália eletrônica, ao desvendamento do cosmos, aos horrores do nazismo, das ditaduras de direita e da esquerda, ao surgimento dos hippies, o repúdio ao racismo, a personalidades como Hitler e Gorbatchev.

Se fosse diferente, eu teria o direito de pedir contas a Deus, porque com o seu poder de dizer “faça-se a luz” e a luz se fez, porque não coíbe “tanta insensibilidade, movida pelo egoísmo humano exacerbado” que na ótica do autor das linhas que lia, move o fim de século, que ele talvez espere cheio de morte e sangue.

Minha neta é um Espírito que volta ao mundo num momento privilegiado. Será informada e talvez formada em princípios espíritas. Eu espero que descubra a si mesma e que caminhe, entre lágrimas e sorrisos, construindo seu destino, eficiente e satisfatoriamente. E quem sabe, me afague no seu regaço, como um neto que volta, na continuidade da vida, lá pelo fim do século vinte e um.

Texto publicado no jornal Abertura de julho de 2022. veja o jornal na sua integra no link abaixo.

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022?download=189:jornal-abertura-julho-de-2022.



quarta-feira, 20 de julho de 2022

Espiritismo: Segunda opção - por Jaci Régis

 

Espiritismo: Segunda opção

Jaci Regis 

 

"É possível que a existência humana, tão complexa e rica, se dissolva quando o coração para?" é a pergunta que a reportagem especial da revista Veja faz. E conclui: "Com uma resposta prática para essa questão crucial e a promessa de comunicação com os mortos, o Espiritismo tornou-se a religião – ou, pelo menos, a segunda opção religiosa – de 40 milhões de brasileiros".

 

Há nisso um sincretismo religioso tipicamente brasileiro. De acordo com o IBGE, 74% dos brasileiros declaram-se católicos e a doutrina da Igreja Católica não concebe a comunicação direta entre mortos e vivos. Na prática, boa parte desse contingente católico também dirige sua fé ou sofre influência de outro credo sem expressão no exterior e que só cresce no Brasil: o Espiritismo.

 

"Segundo a Federação Espírita Brasileira", diz a reportagem, mais de 40 milhões de pessoas seguem a doutrina de Allan Kardec no Brasil. Apenas 2% dos brasileiros se dizem Espíritas, nos censos oficiais. A imensa maioria simplesmente acrescenta, sem dramas de consciência, os ensinamentos de Kardec, aos das religiões que professam oficialmente".



 

O QUE BUSCAM OS CATÓLICOS NO ESPIRITISMO?

Certamente é hipotético afirmar que quarenta milhões "seguem" a doutrina de Allan Kardec, no Brasil. O que acontece é que milhões de católicos, pois é pouco provável que protestantes o façam, frequentam algumas vezes ou seguidamente os centros espíritas em busca de serviços que eles oferecem à população, seja no campo da assistência social, seja no consolo espiritual, através de consultas e passes.

 

Essa multidão seria bem menor se os centros espíritas ensinassem efetivamente a doutrina de Allan Kardec, mas não uma adaptação religiosa e personalista dos princípios espíritas. Com isso a comunicação dos Espíritos e a reencarnação, não teriam o caráter folclórico que assumem, como se vê na reportagem.

Em muitos dos que se chamam de "centro espírita", lamentavelmente extremamente distantes do Espiritismo, esses católicos ficarão muito à vontade, porque neles se faz uma imitação medíocre do catolicismo, inclusive com preces católicas como ave-maria e outras. E, quando ali se discursa, os discursos não diferem do catolicismo, a não ser no que tange à comunicação com os Espíritos e uma tênue referência à reencarnação, moldada, contudo, no viés da punição e da purificação, bem ao gosto da doutrina católica.

Essa é a tal de multidão que acredita na reencarnação e na comunicação com os mortos. Para eles, não se trata apropriadamente de assumir o Espiritismo como uma segunda religião, como uma opção mais folclórica, mais ansiosa e supersticiosa sem qualquer reflexão filosófica ou prova científica.

 O que se pode dizer também de muitos que se dizem oficialmente espíritas.

 O QUE DEVERIA SER DADO AOS CATÓLICOS QUE BUSCAM O ESPIRITISMO


A transformação do Espiritismo numa religião formal, cada vez mais formal, acaba numa deformação do conteúdo doutrinário e numa traição aos projetos e finalidades dadas por Kardec à sua doutrina.

A reportagem de Veja, traduz que os católicos que procuram o Espiritismo querem informações concretas e objetivas sobre a reencarnação, a imortalidade e a comunicação com os mortos, onde eles vivem e como vivem.

Entretanto, não é isso que encontram nos centros espíritas. Estes, quase sempre, se formam com "principal finalidade será o estudo e a divulgação do evangelho de Jesus".

 O que marca a existência do Espiritismo é o seu conteúdo filosófico, seu esforço por provar cientificamente a existência e a evolução do Espírito, na qual a reencarnação se insere. Para isso utiliza a mediunidade como instrumento de prova da Imortalidade, da sobrevivência e comunicabilidade entre vivos e mortos. A partir dessa compreensão que o Espiritismo trará sua contribuição à humanidade. Ora, o "estudo do evangelho", é feito nas igrejas católicas e protestantes, diariamente. O que o Espiritismo brasileiro acrescenta ao fixar-se nesse estudo evangélico? Explicações sobre fatos ali narrados e acompanha, insensatamente, a sacralização feita pela Igreja da figura de Jesus Nazareno.

 A reportagem diz que "O que o Espiritismo tem de próprio, ainda que não seja um monopólio seu, é o fato de acenar com a certeza de que, no futuro, haverá outras vidas, quantas forem necessárias para tirar as manchas da alma".

 Aí entra a deformação básica do instituto da reencarnação, pois a transformação religiosa do pensamento espírita fixou-se, como era de esperar, na questão das penas e gozos futuros, de acordo com o viés judaico-católico, que se assenta na concepção do pecado original, na necessidade de purificação.

Mas a reencarnação no Espiritismo não é instrumento de resgate, de pagamento de dívidas de "outras vidas". Na essência, o processo evolutivo guarda a relação do Espírito consigo mesmo, na relação com os outros, sem estar ligado a erros pontuais ou severos de "outras vidas", como se cada capítulo do processo evolutivo, ficasse estanque e restrito, desconhecendo que o ser espiritual é uma individualidade permanente e que seu projeto é evoluir para compreender a si mesmo e sua inserção na vida.

 Fora dessa visão, tudo gira em torno de explicar de forma diferente as crenças, os castigos, as dores, os pecados.

 Na verdade, o próprio Kardec, devido às premências do seu tempo, utilizou-se de explicações para coonestar tradições judaico-cristãs.

Por exemplo, os anjos da guarda seriam Espíritos protetores. Os demônios, Espíritos obsessores. Os Anjos, Espíritos puros.

Foi um erro. Porque na verdade para o Espiritismo não existem anjos da guarda, demônio ou anjos, céu ou inferno. Nada disso tem qualquer respaldo na teoria espírita. Simplesmente não existem.

Tentar dar versão espírita a essas tradições só prejudica a separação necessária de nossos conceitos com o judaico-cristianismo, promovendo confusões e permitindo interligações conflitantes.

Então, o que poderíamos fazer e alguns estão fazendo, é limpar essa linguagem, caminhar para a pesquisa e para produção de uma filosofia capaz de suplantar o obscurantismo católico e protestante e afirmar o Espiritismo não como uma segunda opção, mas como a opção clara, despida de crendices e confusões.

Para isso é preciso um novo posicionamento.

 Kardec admitiu que o Espiritismo poderia ser uma auxiliar das religiões. Para isso, naturalmente, é preciso manter sua identidade, sua diferença e fazê-lo promíscuo com elas.

 Auxiliar é uma coisa, é dar subsídios, explicações para as religiões e não tornar-se satélite delas.

 Talvez para os dirigentes da Federação Brasileira e outros, ser a segunda opção da Igreja Católica, seja a gloria.

 

ARTIGO publicado originalmente no Jornal Abertura de junho de 2005 

Jaci Régis - Desencarnado em dezembro de 2010.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Allan Kardec e o Código Da Vinci - por Jaci Régis

 

Allan Kardec e o Código Da Vinci

 

“Este artigo de Jaci Régis, originalmente publicado em abril de 2010 neste jornal (Jornal Abertura republicado em Janeiro 2022), volta a ser publicado pela importância de refletirmos sobre o Jesus real, desta forma, poderemos tê-lo de forma digital, permitindo que muito mais pessoas possam tomar conhecimento desta análise e reflexão.”

 Fiquem com Jaci Régis:


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Em 2003, Dan Brown, escritor norte americano, publicou o livro O Código de Da Vinci, que obteve retumbante sucesso, com milhões de cópias vendidas em vários idiomas ao redor do mundo.

A repercussão foi grande porque ele postulava – pois é um romance não histórico – que Jesus de Nazaré era um homem comum, teria casado com Maria Madalena, recuperada de sua história de prostituta e ali elevada à discípula mais inteligente e coordenadora após a morte de Jesus.

No rastro desse livro polêmico, surgiram controvérsias, denuncias e pesquisas que mostraram que a história do cristianismo foi forjada pela Igreja.

Hoje se sabe que dezenas de evangelhos circularam nos primeiros anos do cristianismo, entre eles o de Felipe que escreveu que Jesus beijava Maria Madalena na boca, mostrando não apenas intimidade, mas provavelmente uma relação matrimonial.

Tanto a Igreja Católica, quanto as protestantes e pentecostais negaram a teses e mantém a mesma história sobre o Nazareno.

Como tudo começou

Ao contrário do que se diz e escreve, os primeiros anos do cristianismo foram marcados por controvérsias e formação de seitas que defendiam pontos de vistas diferentes. Cada uma se apoiava na interpretação da natureza de Jesus: uns acreditavam que ele era um homem, outros que era Deus.

Os que acreditavam que era homem formavam o arianismo, derivado do presbítero Ario. Os Católicos, da Igreja de Roma, ao contrário, afirmavam que ele era Deus e criaram a figura da Santíssima Trindade para adequar as várias correntes.

No Concílio de Nicéia a pendência foi solucionada com a vitória dos católicos e banimento de Ário e do arianismo, como heresia.

No artigo que abaixo nos referiremos, escrito em Obras Póstumas, Kardec diz sobre as conclusões do Concílio de Nicéia: “Se o Símbolo de Nicéia se tornou o fundamento da fé católico (...) A que se deve a sua adoção? À pressão do Imperador Constantino que fez dele uma questão mais política do que religiosa. Sem a sua ordem não se teria realizado o Concílio e sem sua intimidação é mais que provável que o arianismo tivesse triunfado. Dependeu, pois, da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja que reconheceu mais tarde o erro que cometera e que procurou inutilmente voltar atrás conciliando os partidos, não sermos hoje arianos em vez de católicos e não ser hoje o arianismo a ortodoxia e o catolicismo a heresia”.

Esse fato histórico mostra a artificialidade com que se conduziu em relação à natureza de Jesus de Nazaré. Com a vitória em Nicéia, o catolicismo impôs suas ideias e durante milênios elas foram consideradas como provindas de Deus.

Para Kardec Jesus não era divino

Allan Kardec sempre foi muito cauteloso no confronto com os dogmas católicos. Quando publicou o Evangelho Segundo o Espiritismo, a primeira pergunta que dirigiu aos Espíritos foi sobre “Qual a repercussão do clero?”.

Em setembro de 1867, ele publicou na Revista Espírita, um longo artigo intitulado “Caráter da Revelação Espírita”, depois usado como o Capítulo I do livro A Gênese.

Na revista, ele adicionou um comentário ao item 44, sobre a natureza do Cristo, que eliminou no livro. Nesse comentário ele se mantém muito prudente, preferindo calar, mas diz que “quando o momento for propício levaremos para a balança, não a nossa opinião, que não tem nenhum peso nem pode fazer lei, mas fatos até este momento inobservados e então cada um poderá julgar com conhecimento de causa”.

Esse “momento” surgiu com a publicação em Obras Póstumas de um artigo de 31 páginas, o” Estudo sobre a natureza do Cristo”.

Como sabemos, Kardec estabeleceu claramente a estratégia[MA(GP1]  do Espiritismo afirmando que o milagre não existe. Por isso diz ele “convém riscar os milagres do rol das provas que pretendem basear a divindade do Cristo”. E afirma “Visto produzirem-se aos nossos olhos, quer espontaneamente, quer provocados, não há nada de anormal no fato de Jesus ter possuído faculdades idênticas as de nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc.”

Pode-se dizer que todo o esforço de Kardec ao se ocupar das parábolas, milagres do Evangelho foi justamente pra provar que Jesus era um homem. Teria Kardec diminuído Jesus? Como se diria hoje “tirar Jesus do Espiritismo”?

De maneira alguma. Em “Caráter da Revelação Espírita”, ele coloca Jesus como patrono da segunda revelação e o Espiritismo como caudário de seus ensinos.

No artigo de Obras Póstumas ele afirma “Jesus era um messias divino pela dupla razão de ter recebido de Deus a sua missão e de estar, pela sua perfeição em relação direta com Deus”. Que é uma opinião pessoal, dentro do horizonte em que se colocou ao filiar o Espiritismo o cristianismo.

Dan Brown mexeu no vespeiro que continua existindo nas religiões cristãs, quanto à natureza de Jesus de Nazaré. Os mitos, as histórias que a Igreja criou são milenares.

Pode-se afirmar, por mera aproximação, que muito antes de Brown, Kardec afirmou a humanidade de Jesus. Muitas de suas palavras decorreram da prudência que sempre teve em lidar com a Igreja.

Mas ele escreve “sobre essa questão, como sobre de todos os dogmas em geral, o acordo entre os Santos Padres e outros escritores não poderia ser tomado como argumento preponderante, nem como prova irrefutável a favor de sua opinião, considerando-se que nenhum deles foi capaz de citar um único fato fora do Evangelho, referente a Jesus, nenhum deles descobriu documentos novos, desconhecidos de seus predecessores. (...) O acordo dos Santos Padres, portanto, nada tem de contundente, visto constitui uma unanimidade selecionada”.

 

A divindade do Cristo foi restabelecida no Brasil

 O Espiritismo no brasil enfrentou, desde logo a disputa e a vitória dos místicos. No rio de janeira, oriundos da Igreja Católica, místicos, cristolatras e mariolatras. Como Bezerra, Sayão, Bittencourt Sampaio, para citar alguns, moldaram a doutrina às suas idiossincrasias. A mensagem atribuída a um “anjo” bem diz do nível místico dos primeiros líderes.

Esse Espírito, provavelmente um ex-prelado da Igreja, determinou que a tarefa do Espiritismo seria “pregar o evangelho” e estabeleceu o dístico fundamental “Deus, Cristo e Caridade”.

Nos primórdios havia um sentimento anticatólico. Caibar Schutel, na minúscula Matão, no interior de São Paulo, constitui-se num foco de equilíbrio e serenidade na divulgação do Espiritismo criando em 1905 a Revista Internacional do Espiritismo, escrevendo livros e entrando em polêmicas com padres.

Mas a partir de Francisco Cândido Xavier e de seu “guia” o padre Manuel da Nóbrega, com o pseudônimo de Emmanuel, definiu-se o Espiritismo como uma religião cristã e Jesus voltou a ser o divino Mestre, o governador e fundador do mundo Terra, possuidor de toda a verdade.

A Igreja tinha vencido. Os docetistas de antanho ressurgiram com Roustaing e o corpo fluido de Jesus, tese que afirmava que ele sendo Deus não podia se encarnar.

Hoje, qualquer argumento contra essa divindade é rejeitado. Como nos velhos tempos da Igreja, se expulsa, se condena quem se insurge contra o dogma.

 

Entretanto ...

 

O Valor da missão de Jesus de Nazaré está em suas lições insubstituíveis. Incorporar ao Espiritismo a estrutura de fé e de princípios do cristianismo é manter-se preso ao passado, quando a Igreja e todas as igrejas penam para sobreviver, apoiadas na tradição e o medo ou impossibilidade de seus crentes de mudar.

O Espiritismo pós-cristão de modo algum despreza Jesus de Nazaré. Mas certamente não aceita o cristo divino, porque temos aprendido que a atuação de Deus no mundo se faz sem a pirotecnia das dramatizações, mas na competente construção de caminhos que o ser humano vem trabalhando e trilhará.

Jesus de Nazaré, homem, casado, brilhante, superior é um dos grandes líderes da humanidade. Para nós o maior.

Jaci Régis – Desencarnado em dezembro de 2010 – é o fundador do Jornal Abertura.

 

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·         O que é Arianismo:

Arianismo, originalmente, era um pensamento filosófico que não considerava Jesus Cristo e Deus como uma só pessoa.

Esta ideia surgiu nos primeiros séculos do cristianismo, afirmando que só poderia existir um único Deus e Jesus era apenas o seu filho. Mesmo sendo considerado um ser superior ao homem, Jesus não era um deus para os seguidores do arianismo.

Etimologicamente, a palavra arianismo teria surgido a partir do nome Ário, um padre cristão de Alexandria que teria criado esta nova doutrina.

Fonte: significados.com.br

 

·         Quem foi o Padre Manuel da Nóbrega?

Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) foi um missionário jesuíta português, chefe da primeira missão jesuíta mandada para a América. Deixou valiosas notícias históricas sobre o Brasil Colonial, nas cartas que enviava para a Companhia de Jesus em Portugal.

Fonte: www.ebiografia.com

·         O que significa docetismo?

Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é uma doutrina cristã do século II, considerada herética pela Igreja primitiva. Antecedente do gnosticismo, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente.

Fonte: Https: // pt.wikipedia.org

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo por Jaci Régis

 

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo - Jaci Régis

  

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã.

Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros, compatíveis com o modelo cristão.

 

Jaci Régis aos 40 anos

 1. O mundo é de provas e expiações,

 2. Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas,

3. Deus se manifestou em três grandes momentos, para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos.

 

São as três revelações da Lei de Deus. Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual.

 

A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião. Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.

Todavia, aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã.

 

Isso levou à afirmação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra. Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade.

 

Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

 

O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o rei governando o mundo.

Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim.

Desenvolver a ideia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente tornou o Espiritismo prisioneiro da promessa da vinda do reino de Deus.  Kardec então elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

 

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a  sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se. O que seria, disse, o suicídio da doutrina.

 É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais.

 

A definição do Espiritismo

 

O século XXI desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste da ciências duras, coadjuvadas pelas ciências humanas.

Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século vinte e um?

Neste século, o Espiritismo terá pelo menos duas expressões.

         1. O Espiritismo cristão

Com duas versões:

 - Religião Espírita

Atualmente, de modo geral e majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para  o contexto em que foram ditas.

Os espíritas cristãos são basicamente católicos mediúnicos.

 -Espiritismo laico cristão.

Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2 - Espiritismo pós-cristão

A única saída para que o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão.

Esse Espiritismo pós-cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana. A Ciência da alma.

 

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma   revelação divina,  para ombrear-se, de forma muito especial,  com o esforço  das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.

 

Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas.

O objetivo maior será introduzir na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo.

Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente.

 

Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

 

Muitos podem questionar se um Espiritismo pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no início e do tempo decorrente.

 

O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado.

Assimilará as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais   ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

 

Jaci Régis, escritor espírita, psicólogo e economista - desencarnado em 2010

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Texto original de inauguração do Blog - ainda atual - chamado à discussão no Movimento Espírita


Texto inaugural do blog do ICKS – 14 de abril de 2009
A PERPLEXIDADE DIANTE DOS FATOS


Republicamos este texto, dez anos depois de sua primeira publicação. Jaci Regis inaugurou o blog do ICKS chamando esta discussão. Bem hoje blogs não são tão dinâmicos assim, outras mídias são mais vigorosas. Mas vale a releitura, para que tenhamos a perspectiva histórica, veremos que não mudamos tanto.

Fiquem com Jaci Régis:

“O panorama social do mundo neste século vinte e um é extremamente confuso, dinâmico, rico e pobre, violento e promissor.

Entretanto, é impossível ficar passivo diante da sucessão dos fatos.

Fatos que se modificam constantemente, que mudam cenários de um dia para a outro.

Isso tem provocado profunda preocupação nos religiosos em geral.

Um espírita escreveu que não fosse a reencarnação, deixaria praticamente de acreditar em Deus, tal a impressão de abandono e passividade da divindade diante dos fatos.

Para ele, encontrar a culpa nas pessoas, relativamente ao passado, alivia a passividade divina.

O exame é falho porque a reencarnação não é um instrumento de punição moral, nem o Universo se assenta na perspectiva do pecado e do castigo.

Vemos o papa católico, vestido à moda da Idade Média falando a multidões e à mídia, com ideia da Idade Média, sem que suas palavras causem efeito.

Da mesma forma os evangélicos, principalmente os pentecostais, arregimentam multidões, em shows de fé e arrecadação, mobilizando recursos da mídia eletrônica, sem que se veja qualquer atitude positiva na mudança das coisas, na modificação do ambiente.

Na verdade quem tumultua e muda é o materialismo que é genericamente apontado como o culpado de tudo.

É preciso, porém, definir esse materialismo.

Não se trata de um esquema filosófico, nem uma opção consistente.
Esse materialismo representa a insatisfação generalizada, a subversão comportamental relativamente aos parâmetros que se instituíram na sociedade cristã. Talvez seja mais apropriado chamá-lo de comportamento oportunista. Como ocorre com certas doenças que afloram devido à queda das defesas do organismo.

Essa insatisfação reflete a falta de perspectiva real, imortal da sociedade nominalmente espiritualista, mas que se envolve deliberadamente no sexualismo, no consumismo e na falta de perspectiva.

Esse materialismo solapou a religião, destruiu a estrutura familiar antiga e precipita a sociedade no jogo perigoso do desejo e do prazer.

Essa análise é mais ou menos unânime nos textos e discursos religiosos. Neles as religiões se escusam de qualquer culpa, pois se mantém como sempre foram.


É mesma coisa que pais que dão péssimos exemplos e quando os filhos se transviam alegam que a culpa é deles, das más companhias, do consumismo, enfim, nada com eles mesmos.

Como compreender a sucessão dos fatos que derrubam antigas ordenações morais?

Por que o materialismo é tão sedutor?

Por que a porta da perdição é larga?

Na atual crise econômica o que menos se fala é em ética. Mas fundamentalmente ela decorre da ganância, da esperteza, da deliquencia de colarinho branco que corrompe as estruturas sociais.
Todavia poucas vozes se levantam para apontar essa falha básica, que não apenas do capitalismo, mas de todos os regimes e ideologias.

Tenta-se remendar com trilhões de dólares. A questão ética fica de lado até na crista da crise, quando nos Estados Unidos, foram pagos bônus milionários a executivos, mesmo tendo o dinheiro origem pública.

Seria demais apontar o fracasso das religiões como causa básica do avanço do materialismo?

O que pede a sociedade moderna?

A sociedade moderna olha para o que diz a ciência. A ciência se define como materialista, no sentido de restringir seu campo de atuação, no caso do ser humano, ao corpo.

Aqui, no corpo, estaria a base de tudo. A neurologia pretende responder a todas as perguntas sobre o comportamento através de complicadas explicações das funções cerebrais descartando qualquer natureza espiritual do ser humano.

Então, as religiões – católica, evangélica ou espírita - fazem de conta que nada mudou, que seus fundamentos continuam intactos, que o comportamento humano derivados das necessidades, desejo, desvios, seja do que for, está errado e que o único caminho é retornar aos roteiros por elas estabelecidos.

Todas essas religiões são cristãs. Isto é, estão baseadas no modelo criado pela Igreja nos primórdios da era cristã e que, estão comprovadamente falhos, incapazes de entender a natureza do ser humano e de dar uma diretriz objetiva para sua vida.

Vivem de rituais, de discursos repetitivos.

A verdade é que as religiões em toda a história são movimentos organizados para exercer o poder.
Promovem a fé, mas não a espiritualidade.

Desprovidas do poder real patinam em doutrinações que não questionam a natureza das emoções, medos e insatisfações do ser humano.”

Espero que tenham gostado do texto. Jaci Régis.

Republicamos este texto no Jornal Abertura de dezembro de 2019. Você pode ler este exemplar no link abaixo:



Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Livro Introdução à Doutrina Kardecista - Jaci Régis


Introdução à Doutrina Kardecista
Livro publicado pela LICESPE em 1997, escrito por Jaci Régis continua importante e deveria ser amplamente divulgado.



Afim de familiarizar os leitores com esta obra, publicamos aqui o primeiro capítulo, chamado Abertura onde o autor deixa claro os objetivos do livro.

 O texto não estará entre aspas por ser intencional a sua publicação neste jornal sem deixar campo a dúvidas de que o texto é do autor.



Abertura

Para que tenhamos informações consistentes do trabalho básico de formulação do Espiritismo, torna-se necessário conhecermos a personalidade de Allan Kardec e o tempo em que ele viveu.

Herdeiro imediato da Revolução Francesa, agitado pela insurgência do movimento socialista e comunista, o tempo de Kardec foi também o do surgimento das ciências, do positivismo, do racionalismo, da irradiação da revolução industrial.

O quadro político, social, religioso, científico da Europa, onde afinal aconteciam as coisas, era caótico. O mundo europeu deixava de ser apenas agrícola, rural. A explosão urbana, propiciada pela industrialização, inaugurava os tempos modernos, iconoclasta por natureza.

Como hoje, desmoronavam os suportes de uma sociedade mantida pela opressão, pela apropriação do trabalho, pela separação das classes sociais. A Revolução Francesa enfraqueceu o poder da Igreja. Na verdade, o clero, aliado a aristocracias, era o símbolo da tirania. Contra o poder que ainda lhe restava e contra o seu conluio com os segmentos opressores e apropriadores das energias sociais que a sociedade nova se levantava. Iniciava-se o fim do domínio mental e moral sobre as populações.

A Filosofia, com sua grande asa, abrigando quase todas as ramificações do conhecimento, via esvaziarem-se seus domínios, conforme as ciências adquiriam autonomia e caminhava a despeito dos dogmas e das tradições. Por sua vez, dominada pelo gênio de Descartes, balançava entre o materialismo e o espiritualismo.

Não tem sido analisado, com isenção, o fato de o Manifesto do partido Comunista e os fenômenos de Hydesville terem ocorrido no ano de 18848. Uma visão maniqueísta diria que os fenômenos eram uma “resposta” espiritual ao materialismo histórico que surgia. Uma visão holística, sistêmica, verá nessa aparente coincidência, a indicação da polaridade em busca da síntese, do que se convencionou chamar de “espiritual” e “material”.

É possível apontar a metade do século XIX como o ponto de partida para uma futura e agora contemporânea valorização do homem. Como disse Marx, no Manifesto do Partido comunista, “tudo que é sólido se desmancha no ar”, significando que daí para frente as coisas entrariam num processo acelerado de reconstrução, que exige, antecipadamente, um surto de aparente destruição.

No espaço de 10 anos, de 1848 a 1958, o mundo foi abalado pelas propostas marxistas, pela intervenção darwinista e pela instalação do kardecismo.

Se Darwin punha por terra ancestrais conceitos religiosos sobre a criação e a posição do homem no quadro biológico, Marx propunha novos tipos de relacionamentos sociais e, por fim Kardec apresentava a natureza espiritual da criatura humana.

Essa extraordinária reconsideração sobre a natureza bio-sócio-espiritual do homem é a marca de uma era que se iniciava e que terá seguimento e contínua consolidação.

As mutações deste século XX mostram que, realmente, o que se supunha sólido escoou como areia pelos dedos da história.

Este é Jaci Régis que não fugia de nenhum tema e estava sempre nos provocando e nos obrigando a refletir.

Se você se interessou e quiser saber o final desta reflexão poderá ler o trabalho completo. Para adquirir o livro diretamente com o ICKS., compre aqui mesmo, basta enviar um e-mail para ickardecista1@terra.com.br com os seus dados que entraremos em contato. Você poderá depositar R$ 12,00 na conta do Instituto . O ICKS se encarregará do frete.

Esta matéria foi veiculada no Jornal Abertura de outubro de 2019 - se quiser ler o jornal completo:


quinta-feira, 18 de julho de 2019

Livro - Novo Pensar Sobre Deus, Homem e Mundo: Livro de Jaci Régis


Livro - Novo Pensar Sobre  Deus, Homem e Mundo:

Em 2009 no 11° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, Jaci Régis apresentou e lançou, aquele que seria seu último livro.



Em 2013 o grupo de estudos do ICKS que desenvolveu um trabalho chamado: Exposição – SBPE 26 anos abrindo espaço para novas idieas - sobre o impacto do SBPE no Movimento Espirita. Neste evento escrevemos em nosso trabalho o seguinte: “ Como reconhecimento especial e também como uma homenagem, destacamos os trabalhos de Jaci Régis o criador do SBPE, pelo brilhantismo, inovação das ideias e pela incansável persistência no trabalho de renovação e grande amor ao Espiritismo”. Jaci Régis teve a sua desencarnação no dia13 de Dezembro de 2010.

Novo Pensar Sobre  Deus, Homem e Mundo:

Este livro que trata de pontos tão sensíveis aos seres humanos, nas palavras do autor extraída do primeiro capítulo assim discorre: “  Um novo pensar sobre Deus começará por deixar de lado o Deus Jeová, as afirmativas bíblicas e, de modo geral, as teorias  que fazem dele uma pessoa.
As palavras do louco de Nietzsche sobre a morte de Deus não devem ser tomadas como blasfêmia mas como a exclamação maior da decepção com o amor de Deus.

Este livro também está disponível em pdf, grátis:


O Deus que Nietzsche matou é esse criado à semelhança das pessoas e cultuado, imposto pelas teologias de todos os tempos.

Isso não significa  a completa e satisfatória resolução da questão divina. Nem elimina a crença em Deus.

O que colocar em nossa mente a respeito de Deus. em substituição ao modelo rejeitado? É difícil fugir da realidade sensorial. Quando pensamos criamos imagens. Atendendo a essa necessidade do ser humano, todas as crenças criaram imagens concretas dos entes invisíveis.

Pensamos em Deus como “alguém”. Mas um “alguém” transcendendo o  delineamento corporal que nos dá o sentido das coisas. Deus continua invisível. O silêncio é a resposta das preces e imprecações. Há até um ditado “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Daí a dificuldade de pensar num Deus sem face, sem corpo, sem imagem.

Mas Deus é o que é, não o que queremos que seja.

Isso nos autoriza a pensar em Deus sem imagem, limitações e sem ser uma pessoa.
O que seria então?

Não temos como saber, atualmente.

Todavia, a sua presença se faz na visão macro da vida, no encaminhamento através do tempo, que resulta invariavelmente no benefício da pessoa. Tudo começa no nível microscópico  num desenrolar dinâmico, atemporal dos elementos envolvidos para surgir, depois, um corpo, um animal, um primata, um homem, como conseqüência da seleção das espécies, da sobrevivência dos modelos mais resistentes transmitindo DNA que cria a cadeia genética.

O novo pensar vê nesse extraordinário poder de  desenvolvimento seqüencial dos seres a presença da inteligência divina. Na semente, como no embrião, existem códigos perfeitos que no ambiente adequado produzem a árvore e os frutos, o feto, a criança, a pessoa humana.

Assim como a ciência não sabe como esses fatores começaram a interagir, assim também não sabemos como a inteligência divina intervém para  dotar a natureza de princípios básicos, genéticos, que redundaram no panorama atual da Terra.

Entretanto, o novo pensar sobre Deus refaz o entendimento da relação divina com o ser humano.
Liberta-nos das cadeias de pecado, punição, morte e castigo que definem o Deus Jeová travestido no Deus cristão de amor, misericórdia e justiça.

O crente pergunta, onde está o Deus onipotente que não atua para eliminar o mal, punir os que praticam crimes e não salva e cura livrando-nos da morte?

A decepção provém do que se fala e diz sobre o amor de Deus.

A natureza não é lírica, mas objetiva, eficiente. Todavia não é perfeita. Esse paradoxo  precisa ser entendido:  a imperfeição dentro da perfeição.

Ou seja,  a perfeição absoluta atribuída à divindade comporta a imperfeição dinâmica dos processos evolutivos.

Um novo pensar sobre Deus nos conduz à compreensão de que a dinâmica da vida, em qualquer dos setores em que se manifesta, prima pela criação de  ambientes de oportunidade, seleção e superação.
Podemos questionar porque as coisas são assim. Todavia elas são assim.

O novo pensar sobre Deus pensa que o objetivo da vida é a felicidade.

A inteligência divina proporciona meios para isso, no tempo, através da lei da evolução.

A singularidade individual se envolve no processo para adquirir a sua própria identidade como ser único, imortal, progressivo, atemporal. O novo pensar sobre Deus tenta harmonizar a presença divina com  as necessidades do ser humano, oferecendo um conjunto de leis e sistemas vivenciais que abrem oportunidade de resolução dos problemas.

Dar atributos morais a Deus e sua transformação numa pessoa é fruto da criação da divindade à nossa imagem. Neste modelo não existe espaço para a personalização do Ser Supremo, nem cabe o estabelecimento de atributos, que o humanizariam, porque o paradigma disponível para pensar as virtudes é o humano.

O novo pensar começará por estabelecer que o universo não é estruturado, mas delineado. Seria, metaforicamente talvez, uma projeção da intenção divina, inteligência suprema e causa primária, centro ordenador e controlador, manifestado através da Lei Natural. Porque onde há Lei existe necessariamente controle.

A Lei Divina ou Natural está na base do universo, regulando a vida. Ela exprime a sabedoria divina na condução da humanidade, só apreciada ao longo do tempo.

A Lei divina ou natural, não cogita de julgar, condenar. Ou seja, Lei Natural não é uma lei moral. Ela controla a vida universal estabelecendo uma diretriz positiva que sobrevive e se impõe no aparente caos e nos limites do livre arbítrio.

E a Lei Natural está inscrita no Espírito através do processo evolutivo.

A existência da Lei Natural como centro irradiador do pensamento divino, é fundamental para compreender como o universo pode ser simultaneamente controlador e caótico. Para argumentar sobre essa polarização, poderíamos  aplicar a definição do elétron que pode ser substância e onda, sem alterar a estabilidade universal.

A Lei Natural exprime a sabedoria divina, com mecanismos extremamente competentes, estabelecendo o ritmo e a sucessão dos fatores com o fim de equacionar, no universo energético, tanto quanto no universo inteligente, o princípio do equilíbrio. Atuando através da lei de causa e efeito ou ação e reação, ferramenta de busca do equilíbrio, pela reciprocidade dos fatores.

Reside no campo moral, no campo das inteligências menores que somos nós, nos nossos anseios e esperanças, medos e expectativas, o principal problema.

Quem somos e porque somos. Eis a questão.


Se você se interessou e quiser saber o final desta reflexão poderá ler o trabalho completo. O nosso estoque está acabando, temos somente  15 unidades do livro  NOVO PENSAR SOBRE DEUS, H0MEM E O MUNDO de Jaci Régis. Para adquirir o livro diretamente com o ICKS., compre aqui mesmo, basta enviar um email para ickardecista1@terra.com.br com os os seus dados que entreremos em contato. Você poderá depositar R$ 20,00 na conta do Instituto. O ICKS se encarregará do frete.