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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Depois da tempestade teria chegado o dia do Espiritismo Racional se implantar? por Roberto Rufo

 

 Depois da tempestade teria chegado o dia do Espiritismo Racional se implantar?

 

"A crise consiste praticamente no fato de que o velho está morrendo e o novo não pode nascer : nesse interregno surgem os sintomas mórbidos mais variados" ( Antonio Gramsci).

 

"O Espiritismo é acima de tudo, o processo libertador das consciências, a fim de que a visão do homem alcance horizontes mais altos". ( Chico Xavier ).

 


Vivemos um tempo de insegurança onde fica muito difícil para o senso comum entender o mundo. As variáveis de sempre, religião, marxismo, capitalismo já não respondem ou são mesmo incompetentes para nos oferecer um porto seguro que possamos habitar. 

A destruição da natureza e o domínio cada dia mais crescente do crime organizado nas esferas públicas minam esperanças num mundo onde o equilíbrio proporcione uma evolução espiritual consistente. O que fazer? Como agir nestas condições? O desalento parece ser geral. Daí a se atirar em caminhos das trevas é um passo em busca de um falso conforto, pois a capacidade da mente humana de relacionar todos os seus conteúdos parece uma empreitada impossível. 

 Isso é constatado pela elevação ao poder de um grande número de lunáticos como Donald Trump, Boris Johnson, Benjamin Netanyahu, Vladimir Putin e Jair Messias Bolsonaro. A negação da racionalidade e da ciência é um traço comum, além das teorias conspiratórias sem nenhum fundamento. O culto da personalidade ressurgiu. Os "Mitos" deram sua graça.

O professor Ricardo Abramovay, titular sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP em recente palestra expressou o seguinte pensamento:


1º) - "A valorização da ciência é um dos mais importantes pilares da convivência democrática. Isso se deve a duas razões básicas. A primeira é instrumental. É a ciência que abre caminho a inovações tecnológicas que permitem melhorar a qualidade de vida, que se trate da eletricidade, dos antibióticos, das vacinas, da mobilidade, da alimentação, do conhecimento do sistema climático, das interações entre os diferentes componentes da natureza ou dos estudos populacionais.

Mas, independentemente de sua utilidade social, a ciência é decisiva para a democracia por estimular a curiosidade, por contestar verdades estabelecidas e por se apoiar naquilo que as diferentes formas de fanatismo fundamentalista sempre combateram: a dúvida e a crítica".

2º) - "Mas, além da dúvida e da crítica, a ciência, sobretudo a partir do início do século XX, é marcada por um terceiro elemento: a humildade. Até meados do século XIX a atividade científica (sobretudo a física newtoniana) estava imersa na convicção triunfante em uma espécie de capacidade infinita de conhecer o mundo". 

3º) - "O avanço do conhecimento científico derrubou essa soberba . E vem de Benjamin Labatut, um jovem escritor chileno, no livro - Quando deixamos de entender o mundo[1] - em que a ciência mergulha, ao início do século XX, não apenas na incerteza (“esmigalhando a esperança de todos aqueles que tinham acreditado no universo de relojoaria que a física de Newton prometia”), mas também na evidência de que seus resultados poderiam estar na raiz dos piores ataques à vida".

4º) - "O segundo alerta é, de certa forma, aquele que o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) dirigiu aos jovens que o ouviam em Munique, em 1919, na célebre conferência A ciência como vocação. Por mais importante que seja a ciência, ela é incapaz de nos dar qualquer pista sobre as questões mais decisivas de nossa existência, como o sentido da vida, o sentido da morte e a orientação sobre como devemos agir".

As velhas histórias que deram sentido ao mundo estão entrando em colapso; creio que uma nova grande história surgirá, num processo que será traumático, pois os poderes políticos ,econômicos  e ideológicos querem a nossa submissão como se restassem tão somente duas opções: o capitalismo selvagem ou o socialismo hipócrita. E as grandes empresas seguem na sua ambição de nos espionar com seu arcabouço de algoritmos. 

Quem sabe o Espiritismo não ocupe agora o seu devido e merecido lugar na sociologia humana: realizar a transformação moral da criatura humana, para conduzir o homem à prática do bem. Essa é afinal a missão essencial do Espiritismo.

Lembremos sempre desse pensamento sublime : "Reconhece-se  o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más". Para isso giramos em torno da constante evolução espiritual do ser humano. Finalizamos com Allan Kardec : "fé inabalável só é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade".  A doutrina espírita tem condições plenas de suportar essa tarefa em prol da humanidade. Como fazer chegar às esferas de poder  sua influência é o trabalho de cada um de nós e dos seus órgãos representativos.

 Artigo publicado no jornal ABERTURA de dezembro de 2023 - gostaria de ler o jornal completo em pdf?

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[1] Quando deixamos de entender o mundo  - leiam, pois, é muito interessante e instigador - Protagonizado não somente por cientistas famosos como Einstein e Schrödinger, mas também por figuras menos conhecidas e igualmente fascinantes, o livro é uma investigação literária sobre homens cientistas que atingiram o “ponto de não retorno” do pensamento e nos revelaram em alguma medida o “núcleo escuro no centro das coisas”.

Equação de Schrödinger. Na mecânica quântica, a equação de Schrödinger é uma equação diferencial parcial linear que descreve como o estado quântico de um sistema físico muda com o tempo. Foi formulada no final de 1925, e publicada em 1926, por este físico austríaco

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A cultura do bom exemplo por Cláudia Régis Machado

 

A cultura do bom exemplo

O título “A cultura do bom exemplo” veio do editorial da revista Vida Simples que o abordou focando o ambiente profissional e me motivou a escrever e não poderia trocá-lo tal a abrangência que ele contém e a possibilidade de explorá-lo também na Doutrina Espírita.

O exemplo tem um papel de grande importância para a estruturação psicológica, comportamental e espiritual do ser humano. Tanto o bom como para o mau exemplo, pois o início dos nossos comportamentos veem da imitação que fazemos das figuras parentais e do ambiente que nos cerca.

"Pense sempre além do imediato"


Nossas primeiras figuras tem um apelo muito forte no qual queremos fazer igual ou semelhante. É a bagagem familiar, aprendemos a agir vendo alguém  agir, observando casos reais.

Daí enquanto pais, avós, tios ou pessoas comuns é de grande valia nos preocuparmos com nossas atitudes, pensamentos e comportamentos nos círculos que vivemos e atuamos com responsabilidade daquilo que estamos transmitindo àqueles que convivem com a gente, seja no campo familiar, profissional  ou social. Quando escrevemos também somos alvos de todas as colocações que fizermos.

A cultura do exemplo é uma força capaz de moldar muitas vezes a identidade pessoal e social de um indivíduo assim como fortalecê-la. Pois o exemplo é a imagem viva que inspira aqueles  que estão em processo de aperfeiçoamento, tornando a ideia possível, se o outro pode conseguir porque eu não.

Na formação moral, o exemplo serve como inspiração, é guia, força, uma luz que incentiva a seguir o bom caminho porque a estruturação moral não é uma tarefa fácil, é um exercício diário contra as vicissitudes e adversidades da vida e isto traz fortaleza interior.

As figuras que são um exemplo devem ser exaltadas na sociedade porque são provas viva de que homens podem  alcançar sua melhora e evolução com um estado de espírito forte, com esforço e dedicação. Necessitamos dessas figuras que são modelos a serem seguidos, Jesus por exemplo, suas obras, mensagens e a sua maneira de ver o mundo foram deixadas para que ajamos melhor e com maior equilíbrio.

O exemplo faz parte da vivência terrena e representa um papel de muita importância na construção do sujeito ético.

Podemos aqui falar da ética espírita que é construída a partir dos preceitos espíritas que vem naturalmente da sua filosofia que bem assimilada gera comportamentos mais harmônicos e um bom proceder. Fundamental que o espírita  incorpore em suas atitudes o saber de que somos espíritos imortais, em evolução contínua e dinâmica necessitando reformulações, adequações e novos aprendizados para o desenvolvimento de potencialidades.

A busca de valores espirituais: respeito, gentiliza, bem-estar, integridade, humanidade, alguns entre outros valores que fazem parte da nossa natureza espiritual; valores que devem levar ao amadurecimento dos espíritos quando impressa em todas as nossas ações e nossos pensamentos .

Algo significante e valioso é agirmos de acordo com o nosso discurso  o que não nos faz santos, mas nos torna verdadeiros.

Falamos em cultura porque tem poder abrangente, tem energia e intensidade para abarcar e multiplicar ações principalmente no caso dos bons exemplos. Cultivá-la faz com que  se transborde do nosso cotidiano para todos os espaços e situações, criando uma rede de atuações quando compartilhamos com os entes queridos, incentivando hábitos saudáveis, com a capacidade de moldar a atmosfera pessoal  e o lugar em que vivemos.

Qualquer um pode escolher aperfeiçoar-se moralmente a exigência mínima é o querer.

Dentro da Espiritismo o exemplo é bastante exaltado no campo moral. Atua no campo interno quanto a mudanças de critérios e objetivos, mas também na ação direta, o que cada um pode fazer com os exemplos observados.

Os exemplos são fatores externos que provocam repercussão, que nos mobilizam para de reestruturarmos nossos níveis mentais e motivacionais. E com isto só teremos benefícios concretos pois produzimos ambiente agradável para viver, enriquecendo nossas vidas bem como nossas relações ficam mais leves e equilibradas. Saber que servimos de exemplo também nos traz muita satisfação.

Portanto o exemplo é uma força que repercute. Nossas atitudes inspiram atitudes, quer seja do bem como do mal.

“Pedra jogada em um lago criam ondas que reverberam muito além do ponto de origem”.

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quarta-feira, 20 de abril de 2022

O ser humano é bom ou ruim por natureza ? por Marco Videira

 

O ser humano é bom ou ruim por natureza ?

Na parede do salão abobadado da ONU há uma tapeçaria com dois versos escritos pelo poeta persa Saadi – século XIII:

·         Os seres humanos são partes de um todo

·         Na criação de uma só alma e essência.

Plagiando o historiador Leandro Karnal digo: querida leitora e estimado leitor, caso esteja iniciando a leitura deste texto na intenção de encontrar uma resposta para a pergunta do enunciado, não perca o seu tempo, pois só tenho elocubrações....

Pensadores ao longo dos tempos se debruçaram sobre esta questão a respeito do comportamento dual do homem: bom x ruim (no Brasil de hoje, a discussão é se o homem é fascista ou comunista).

·         A seguir, algumas posições de pessoas que alegam que o homem possui, por natureza, um comportamento ruim:

Segundo o psicólogo francês Gustave leBom (1841-1931), durante uma época de crises, o homem desce vários degraus da escada da civilização; porém isso não foi confirmado por ocasião do bombardeio em Londres, provocado pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial. A população apesar do todo sofrimento continuou a vida normalmente. Numa das lojas destruídas pelos bombardeios havia um cartaz: estamos mais abertos do que o normal e num bar havia outro: nossas janelas foram destruídas, mas nossas bebidas continuam ótimas.

As ideias do biólogo holandês Frans de Waal (1948) vão ao encontro do que pensava le Bon, pois ele diz: a civilização não passa de uma fina camada de verniz que pode descascar ante qualquer provocação.

Desde a origem, o cristianismo também foi permeado por uma visão negativa acerca da natureza humana. Agostinho (354 – 430), o Pai da Igreja, ajudou a popularizar a ideia de que os humanos nasceram em pecado: “ninguém está livre do pecado e nem mesmo uma criança, cujo ciclo de vida na Terra é de um único dia”. Bastou nascer para você estar...danado.

Não foi só Agostinho que difundiu o lado mal da humanidade. João Calvino (1509-1564), que rompeu com o Catolicismo, disse: “nossa natureza não só é destituída e vazia de bem, mas também tão fértil e frutífera para todo o mal”.

O filósofo Thomas Hobbes (1558 – 1679) defendia que os seres humanos são motivados pelo medo, o que geraria uma situação de anarquia (guerra de todos contra todos), mas tal situação poderia ser aplacada se nos entregarmos, de corpo e alma, às mãos de um único soberano (cubanos e venezuelanos podem nos falar se isso é verdade...).

Temos que considerar que a visão de Hobbes a respeito da humanidade estava “contaminada” pelos fatos que ele vivenciou (peste em 1628 e a guerra civil de 1640).

 

·         A seguir, algumas posições de pessoas que defendem uma visão positiva a respeito do comportamento humano:

Para o filósofoJean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)o homem é naturalmente bom e que só com o advento da civilização que teve início a nossa ruína. Ele considera que, a partir do momento em que o homem cercou um pedaço de terra e declarou, “isto é meu”, tudo se desmoronou.

Em 2007 a psicóloga KileyHamlin desenvolveu uma pesquisa com bebês de 6 a 10 meses no Centro de Cognição Infantil (Baby Lab) do Canadá, utilizando um espetáculo com duas marionetes. Um boneco apresentava comportamento de forma prestativa e o outro comportamentos maus. Após o espetáculo, os pesquisadores ofereciam aos bebês os dois bonecos e aquele que era bom, praticamente todos os bebês tentavam pegar.

Segundo o sociólogo e educador francês Pierre Bourdieu (1930 – 2002) o indivíduo é moldado desde o seu nascimento, passando por todas as etapas de escolarização, convivência familiar e comunitária. Cada pessoa forma inconscientemente o seu próprio capital cultural, aprendendo e incorporando o que viu, traduzindo tudo isso para a sua vida na forma de ações práticas. Ninguém pode dar aquilo que não tem.

·         O que o espiritismo no diz a respeito da natureza do homem ?

Para nós, espíritas, além de toda essa formação na vida presente, temos que considerar a “carga energética” trazida de vidas passadas. Em suma, o ser humano é algo extremamente complexo e às vezes, fazer o “simples” (agir em prol do próximo) se torna difícil.

Vejamos abaixo três passagens do Livro dos Espíritos que tangenciam o tema em pauta:

Questão 365 diz: “O espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade”.

Na questão 768 (adendo) Kardec diz: “Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso, é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados”.

A questão 779 vai ao encontro da questão 768, pois diz: “dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social”.

Dentro da linha sustentada pelo Espiritismo, o egoísmo, juntamente com o orgulho, são os grandes males da humanidade e, somente quando nos despojarmos do egoísmo, viveremos como irmãos, nos auxiliando reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida matéria.

 

 

·         Considerações gerais

O lado positivo da pandemia Covid, se assim podemos falar em algo positivo, foram as inúmeras campanhas para arrecadação de alimentos e o engajamento de milhares de pessoas, incluindo aí os empresários, pois são membros da sociedade civil e não podem ser generalizados como exploradores dos pobres, como costuma ser o discurso da esquerda.

Aqui em Santos, durante o inverno do ano passado, participei como voluntário num programa social conduzido pela prefeitura local, que distribuía roupas para os moradores em situação de rua (não são moradores de rua, pois não nasceram na rua) e pude ver a quantidade de doações de roupas feitas pelos santistas, que carregam no brasão da cidade o lema: À Pátria ensinei a caridade e a liberdade.

Quando somos crianças estamos despojados de todos os preconceitos formados pela nossa convivência. Percebemos isso com clareza na resposta de uma criança para sua mãe, quando esta lhe pergunta se na sua classe havia alguém diferente, já sabendo que havia uma criança com síndrome de Down: “tem sim mamãepois se todas fossem iguais, os pais não saberiam achar os seus filhos na hora de buscá-los”.

Após a 2ª Guerra Mundial, a Marinha dos Estados Unidos para conquistar a boa vontade dos moradores do minúsculo atol chamado Ifallik no Oceano Pacífico, exibiu alguns filmes de Hollywood e tais filmes continham cenas de violência, o que provocou um estresse na população local, levando alguns nativos a ficar vários dias doentes. Anos depois, quando uma antropóloga chegou a Ifalik para um trabalho de campo, os nativos perguntaram se era verdade que nos USA havia pessoas que matavam outras pessoas...

A empresa de pesquisas World ValueSurvey realiza anualmente um levantamentoa respeito do nível de confiança das pessoas e faz aos cidadãos a seguinte pergunta: “em média, você acredita que as pessoas são confiáveis”? Na última pesquisa, o Brasil teve o percentual de 5%, contra 70% na Noruega, ou seja, considerando esse baixo percentual é possível entender o descrédito, principalmente, em relação à classe política. Nem tudo está perdido, pois a pandemia mostrou que as pessoas aderiram à campanha de vacinação e ao uso de máscaras, apesar de que alguns ignorantes (aquele que ignora) acharem que era uma gripezinha...

Mudar sua visão sobre a natureza humana, olhar para os humanos de uma forma radicalmente nova, implicará consequências para sua própria vida.

No início do texto disse que não tinha respostas para o enunciado, mas ao encerrar o mesmo, cheguei à mesma conclusão da Anne Frank, uma adolescente judia,  que escreveu um diário, enquanto conseguiu sobreviver escondida dos alemães na Holanda:

“É espantoso que eu não tenha abandonado todos os meus ideais, que parecem tão absurdos e impraticáveis. Mas eu me apego a eles porque ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são realmente boas de coração” - Anne Frank (1929-1945).

Obs.: o texto acima foi calcado no livro Humanidade – uma história otimista do homem – Rutger Bregman, e, em alguns momentos, cópias literais foram utilizadas. No livro, o autor relata uma série de experimentos que queriam provar a “natureza má” do homem; porém ao longo da história, o autor vai em busca de vários desses experimentos e ao revisitá-los encontra muitas falhas. Infelizmente, até hoje prevalece os dados iniciais dos experimentos, que continuam a alimentar uma visão negativa a respeito do homem. O autor relata as dificuldades encontradas para publicar a sua obra e “demonstrar” a natureza boa do homem.

 

Marco Videira é administrador, Presidente do Conselho da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e reside em Santos

Artigo publicado no Jornal Abertura de abril de 2022 - quer acessar o jornal completo:

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022?download=147:jornal-abertura-abril-de-2022


sexta-feira, 25 de junho de 2021

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO - por Ricardo de Morais Nunes

 

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO

“Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça” –Livro dos Espíritos 812a


Ricardo de Morais Nunes


Ante as controvérsias políticas e sociais dos últimos tempos, no Brasil e no mundo, um amigo questionou nas redes sociais se haveria um conjunto de princípios básicos ou ideias, de índole política, que constituam um pensamento social espírita contemporâneo com vistas a nortear a práxis dos espíritas no mundo. Trata-se, a meu ver, de um questionamento muito pertinente para os espíritas da atualidade. Nas linhas abaixo, descrevo aquelas ideias que, segundo penso, são fundamentais, imprescindíveis, para a formação um pensamento social espírita neste início do século XXI. Um pensamento social espírita compatível com as generosas propostas humanistas contidas na filosofia espírita. O pressuposto da presente reflexão é a crença na possibilidade de construção de uma nova arquitetura social, a partir das lições da história, das ciências sociais e da política, sem desprezar a contribuição do espiritualismo espírita a esta tarefa:

1-       Defesa da democracia. Entenda-se democracia não apenas em um sentido formal, de igualdade de todos perante a lei, mas em sentido material, como possibilidade de todos os cidadãos acessarem aos bens materiais, educacionais, culturais e serviços sociais fundamentais à vida. E também na forma da mais ampla participação popular possível nas decisões da coletividade. Nesse sentido, a expressão “aristocracia intelecto –moral” contida em “Obras póstumas” de Allan Kardec deve ser superada. Tal expressão, apesar de indicar corretamente a necessidade dos governantes serem dotados de aptidão intelectual e ética para lidar com os assuntos de Estado e governo, na contemporaneidade, época em que se valoriza a participação popular, apresenta-se com um caráter elitista incompatível com os nossos tempos que aspiram à mais ampla democracia.

2-       Desenvolvimento de um pensamento crítico em relação ao capitalismo.  O capitalismo, enquanto sistema econômico, se por um lado teve aspectos revolucionários em relação ao mundo feudal no sentido do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico, por outro, tem falhado em diminuir os abismos econômicos entre pessoas e classes sociais, favorecendo, dessa forma, uma enorme concentração de riqueza nas mãos de uns poucos eleitos do grupo social em detrimento da grande maioria da população. Essa crítica deve ser realizada sem meias palavras pelos espíritas, uma vez que essa desigualdade econômica e social profunda coloca em risco o exercício da política e a própria ideia de democracia. Neste tema é necessário não ignorar o que muitos teóricos das ciências sociais, de Marx a Piketty, entre tantos outros, do passado e do presente, já reconheceram na análise do referido sistema econômico.

3-       Compreensão que o mundo não é algo dado definitivamente, pronto e acabado. O mundo, indivíduo e sociedade, está em transformação permanente. Nesse sentido, é imprescindível não abandonarmos a utopia da possibilidade da transformação do mundo para melhor. Sempre acreditando que o futuro poderá ser melhor que o passado e que a construção desse futuro está em nossas mãos a cada dia do presente. Em nossa história, já passamos pelo escravismo na antiguidade e também na modernidade, pelo feudalismo na Idade Média, pelo capitalismo na modernidade e contemporaneidade e por tentativas socialistas no século XX e nada indica que chegamos ao “fim da história”. Aliás, a filosofia espírita nos ensina que a humanidade está submetida a uma lei de progresso. Como será nomeada essa nova etapa da humanidade? Quais as formas econômicas e institucionais que constituirão essa nova fase da humanidade? Nesse momento histórico não sabemos, o que importa agora é a esperança e a possibilidade de um novo tempo.

4-      Defesa da liberdade de crença, opinião e manifestação. Repudio a qualquer forma de silenciamento. Nesse sentido, faz se necessário defender a ampliação ao máximo dos meios de comunicação para que as diversas classes sociais possam se manifestar, com especial atenção, no entanto, para as classes menos favorecidas no grupo social, pois são as que mais sofrem as agruras de uma sociedade injusta e precisam ter sua voz assegurada.

5-      Defesa da bandeira ecológica reconhecendo que as ações individuais de preservação do meio ambiente são necessárias, porém insuficientes caso não se mude o modelo de exploração atual da natureza de feitio predatório. Tendo claro que a questão ecológica é uma das questões mais urgentes no mundo contemporâneo, pois corremos o risco real de desequilibramos o ecossistema do planeta, prejudicando, portanto, a vida em sua globalidade.

6-      Defesa dos valores da espiritualidade no sentido de valorização da vida terrena, sem perder de vista a perspectiva imortalista e reencarnacionista ensinada pela filosofia espírita, que ensina que o ser humano transcende a morte biológica em um processo infinito de aperfeiçoamento intelecto-moral que inclui o retorno ao planeta terra várias vezes, ocasião em que encontrará em seu retorno tudo aquilo que plantou em existências anteriores tanto no aspecto positivo quanto negativo.

7-       Defesa do princípio da fraternidade como orientador supremo da vida social, compreendendo que os princípios da liberdade e da igualdade só se realizarão efetivamente dentro de uma ideia maior de fraternidade entre os homens. A defesa do princípio da fraternidade não significa ignorar ou fechar os olhos para a dinâmica sociológica da luta de classes e para a violência estrutural do sistema econômico capitalista em relação as classes sociais não detentoras dos meios de produção, violência que se reflete em vários níveis de exploração social. Essa defesa do princípio da fraternidade significa uma aposta na possibilidade do diálogo entre as classes sociais. Não se desconhecendo, de forma ingênua, porém, as enormes barreiras ideológicas e de interesses que impedem frequentemente esse necessário diálogo.

8-      Enaltecimento por parte dos espiritas dos ideais de liberdade e igualdade. Enquanto por um lado os ideais de liberdade favorecem à construção de sociedades mais livres, que não menosprezem a importância dos deveres sociais de cada um. Por outro lado, os ideais da igualdade devem favorecer a compreensão que igualdade não é nivelação, massificação, de todos os seres humanos desconhecendo as diferenças individuais. Porém, sempre dentro do princípio que as diferenças individuais nunca deverão chegar ao nível que haja seres humanos que não tenham o fundamental para a existência material, educacional e cultural.

 

9 - Reconhecimento da dialética indivíduo-sociedade a partir da compreensão que o indivíduo influencia a sociedade, mas a sociedade e suas instituições também influenciam o indivíduo. Nesse sentido, é necessário rompermos com concepções individualistas, idealistas, verdadeiramente metafísicas, que imaginam o indivíduo distante de influências ideológicas heterônomas, como se os homens e mulheres no mundo estivessem em uma bolha de proteção em pleno exercício de autonomia, sem a influência consciente ou inconsciente de fatores externos na formação de sua subjetividade. Portanto, devemos superar a falsa ideia de que ideologia se escolhe. Na verdade, desde o nascimento bebemos os valores ideológicos predominantes em uma determinada sociedade e é necessário muito pensamento crítico para escapar dessa influência. Nesse sentido, os espíritas devem refletir sobre as possibilidades da autonomia sem desprezar o problema da ideologia. E sem ignorar que, a ideologia predominante formadora das mentalidades no mundo contemporâneo, a que possui uma infinidade de aparelhos ideológicos a disseminar por todos os meios seus valores, é a ideologia capitalista, que aponta para a valorização do ter em detrimento do ser, para a concorrência individualista ao invés da solidariedade. Na atualidade, mesmo a ideologia religiosa tem sido cada vez mais colocada a serviço dos valores do capitalismo. O paraíso no céu tem sido cada vez mais substituído pela busca do paraíso na terra. Deus passou a intervir no sucesso material das pessoas.

10 - Defesa de uma educação emancipadora, humanista, que vise ao bem geral da humanidade, não apenas instrumentalizada para servir aos interesses do mercado de trabalho. Nós, adeptos da filosofia espírita, somos discípulos de um educador humanista. A educação é um dos caminhos para a construção de um novo ser humano e de um novo mundo. Neste tema mais importante do que o ensino religioso nas escolas, é a reflexão sobre os valores universais da espiritualidade que apontam para o respeito à vida, às diferenças, para compaixão, altruísmo, desprendimento dos bens materiais, respeito a natureza, etc. E que favorecem a ideia de que o ser humano é um ser cósmico dotado de dignidade intrínseca.

11 - Abandono da ideia de neutralidade em questões políticas e sociais. Se por um lado não devemos descer ao nível da criação de um “partido espírita” ou da indicação de candidatos ou partidos dentro dos centros espíritas, por outro, não devemos esquecer jamais que somos seres sociais e que a política, em seu melhor sentido, quer queiramos ou não, se entrelaça em nossa vida individual e, portanto, nos interessa e constitui. Sempre levando em conta que o espiritismo, enquanto filosofia, se desdobra na possibilidade de um pensamento sociológico, uma sociologia, como queria o pensador espírita argentino Manuel Porteiro.

12 - Compreender que se o espiritismo possui uma dimensão política, humanista, sociológica, no entanto, também é, em específico, uma filosofia espiritualista que aponta para a dimensão metafisica do ser humano, sendo seu principal objetivo, conforme seu fundador, o combate ao materialismo. Nesse sentido, política e metafisica são duas dimensões do espiritismo. O espiritismo não é um espiritualismo alienante como os do passado que prometiam o céu a partir da renúncia da terra, no entanto, os espíritas não devem ser absorvidos apenas pelas questões políticas, sendo necessário alcançar um equilíbrio neste tema.

13- No que diz respeito a atuação política, à práxis do espírita no mundo, é necessário lembrar que o compromisso do espiritismo com a ética universal de Jesus aponta para os princípios da não violência. Esta postura de não violência deve ser encarada sem ilusões. Os exemplos de Gandhi, Martin Luther King, Dom Hélder e tantos outros, conhecidos e não conhecidos, nos mostram que, mesmo os não violentos, quando tratam de assuntos políticos, acabam por se expor à possibilidade de algum tipo de violência física ou moral.

14 - Defesa do Estado laico. Os espíritas, desde o auto de fé de Barcelona, compreendem que Estado e Religião não devem se misturar. Nesse sentido, as guerras e perseguições religiosas que fizeram tantas vítimas na história serão sempre lembradas pelos espíritas, sendo o Estado laico, portanto, uma conquista civilizatória da modernidade que deve ser defendido.

 

15 - Defesa das atividades e conquistas da ciência. O espiritismo, filho tardio do iluminismo, valoriza a ciência que é uma das expressões da razão. Defender a ciência em tempos de “terra plana” e de negacionismos de variada natureza é um verdadeiro ato político que deve ser realizado com coragem pelos espíritas. Obviamente que esta postura de defesa das atividades científicas não significa ignorar os grandes problemas éticos que o desenvolvimento desta atividade enfrenta na contemporaneidade.

16 - Criação, nas instituições espíritas, de cursos de política e cidadania. Obviamente que uma sociedade espírita tem compromisso principal com os cursos introdutórios e avançados de espiritismo e com os cursos de teoria e prática mediúnica, sendo o estudo e divulgação do espiritismo a tarefa fundamental dos centros espíritas. Se uma sociedade espírita apenas tiver esses cursos já estará cumprindo seus objetivos, pois essa tarefa só pode ser realizada pelos espíritas. Porém, nos centros espíritas existem atividades complementares que também podem ser realizadas, como as de assistência e solidariedade social ou atividades de caráter cultural. No campo das atividades de caráter cultural, podem ter lugar cursos de política e cidadania. Justifica-se esse tipo de curso porque, nós, espíritas, devemos estar conscientes dos problemas políticos e sociais. Desnecessário repetir que tais cursos devem ser realizados de forma não partidária, com vistas a conhecer, do ponto de vista da história, da sociologia, da filosofia e do espiritismo o que é a sociedade, suas dinâmicas e conflitos dialéticos, visando, por fim, refletir sobre as possibilidades de melhoria da mesma. Esta medida favorecerá a formação de espíritas conscientes dos problemas do mundo, preparando-os para uma atuação humanista e critica na vida social. Esta ideia não é nova, Manuel Porteiro já havia imaginado nas instituições espíritas o que ele chamou de “cátedras de sociologia”. Normalmente, os adversários desta ideia referem-se à interdição de Kardec no artigo primeiro do regulamento da sociedade parisiense. Porém, é inegável que os temas políticos e sociais, de um ponto de vista filosófico e humanista, são tratados ao longo de toda a obra de Allan Kardec, o que enseja o desenvolvimento de um verdadeiro pensamento social espírita. Geralmente o espírita apressa-se a fazer juízos morais sobre a política e a história. É necessário, porém, conhecer e reconhecer a complexidade dos problemas sociais e políticos antes de julgar de maneira simplista ou maniqueísta. Há muito o que aprender com a história das ideias políticas. De Platão a Noam Chomsky há uma reflexão política e social profunda, a qual os espíritas kardecistas não podem e não devem ignorar, sob pena de não participarem do debate do mundo contemporâneo, o que os colocaria à margem dos processos de evolução social.

 Ricardo de Morais Nunes - artigo publicado nos Jornais Abertura de maio e junho de 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Em qual escala de espíritos nos encaixamos? por Roberto Rufo e Silva

 

Em qual escala de espíritos nos encaixamos?   

 "O homem que sabe reconhecer os limites da sua própria inteligência está mais perto da perfeição". (Johann Goethe).

"O príncipe que pensa poder fazer o que quiser é um louco" (Maquiavel).

 

 Vivemos momentos de decisão em tempos conturbados e as nossas opções refletirão qual o grau de evolução que representa a nossa situação atual de desenvolvimento. No Livro Segundo do Livro dos Espíritos chamado "Mundo Espírita ou dos Espíritos” Capítulo"Dos Espíritos” existe um subtítulo de nome Escala Espírita.

 

Inicia-se essa escala pela Terceira Ordem - Espíritos Imperfeitos que possuem por caracteres gerais a predominância da matéria sobre o espírito. Uma determinada propensão ao mal, à ignorância e o seu caráter se revela pela sua linguagem com sentimentos mais ou menos inferiores. Creio que qualquer um de nós elencaria diversos nomes nacionais e estrangeiros que se encaixam perfeitamente nessa definição. A política oferece um oceano de opções. Não podemos nos esquecer que eles ocupam seus cargos por deliberação nossa. Estaríamos, portanto, nessa escala também?

 

Na Segunda Ordem - Bons Espíritos estão aqueles que possuem por caracteres gerais a predominância do espírito sobre a matéria. Possuem uma propensão para o bem. Segundo os espíritos, uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais avançados reúnem o saber às qualidades morais. Acredito que teríamos dificuldades em elencar muitos nomes que fazem a intersecção do saber às qualidades morais. A política também oferece, não sejamos injustos, um leque de opções a preencherem esses requisitos. Sem dúvida muitos de nós já fizemos escolhas com essa qualidade, e que, no entanto, por motivos vários às vezes regredimos a espíritos da terceira ordem em nossas escolhas. Cabe a cada um fazer uma reflexão, uma autocrítica. Como foi possível recuar na capacidade de escolha?

 

E por último na Primeira Ordem - Espíritos Puros situam-se aqueles que por caracteres gerais atestam que não sofrem influência da matéria. Como adendo possuem uma superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos espíritos das outras ordens. Está escrito no Livro dos Espíritos que são os mensageiros e ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia universal. Tenho certeza que já os vimos umas poucas vezes ou ouvimos falar da sua presença no planeta terra. São raros. Os que surgem na minha mente nunca ocuparam ou se interessaram por cargos políticos. Sua liderança sempre se fez notar pelas palavras, exemplos e isenção de preconceitos. Ainda não tivemos espíritos dessa ordem na urna eletrônica para nossa escolha. Sonho com esse dia nas próximas encarnações. Por hora reflito se eles teriam recusado a política como um campo de trabalho de suas vidas?

 

Não me parece que a aversão pela política seja o seu argumento, pois tenho certeza que eles concordam que o exercício da escolha tem a missão de aperfeiçoar o nosso processo de condução e com isso contribuir para a progressão dos espíritos. 


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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