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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Papel do Perispírito na gestação - II por Jaci Régis

continuando...

Papel do Perispírito na Gestação

Jaci Régis

(publicado no Caderno Cultural Espírita/outubro 2002)

                   O Espírito




                              Encontramos no Livro dos Espíritos informações vagas sobre a natureza do Espírito. Isso é perfeitamente compreensível porque não há forma gramatical ou explicação cientificamente compreensível sobre a complexa ou, quem sabe, simples constituição do ser.
                              A palavra "espírito" (com letra minúscula) é inicialmente empregada para designar o princípio inteligente do universo em contraposição ao princípio material. O Livro faz uma série de ponderações sobre a interação entre esses dois elementos, cabendo a Kardec dizer que "a matéria é o agente, o intermediário, com a ajuda da qual e sobre a qual o espírito atua".
                              Depois, a palavra "Espírito (com letra maiúscula) foi usada para designar "os seres inteligentes da Criação" ou seja, para a individualização do princípio inteligente.
                              Na tentativa de explicar a forma do Espírito, temos alguns itens de grande significação:
                              ... Os Espíritos são imateriais?
                              - Imaterial não é o termo apropriado, incorpóreo seria mais exato... É uma matéria quintessenciada... Tão eterizada, que nao pode ser percebida pelos vossos sentidos.
                              ... Os Espíritos têm uma forma determinada, limitada e constante?
                              - Eles são, se o quiserdes, uma flama, um clarão, uma centelha etérea.
                              Segundo a Doutrina, esse Espírito ao ser criado é um princípio espiritual, que se tornará um "Espírito" ao desenvolver a inteligência e a efetividade, capaz de perceber-se como um ser, numa espiral evolutiva.
                              Uma das mais significativas e inéditas contribuições do pensamento espírita refere-se a sua teoria da evolução do Espírito. De acordo com essa teoria, "o ser inteligente do universo é criado por Deus, como um princípio espiritual, "simples e ignorante". Isto é, um ser potencial, estruturalmente vazio. A potencialidade está contida na possibilidade de expansão e aquisição de experiências, movida por uma forma de energia oriunda de sua natureza permanente, imortal.
                              Essas informações nos levam a ponderar que, em si mesmo, o Espírito não possui organização, sendo um núcleo incorpóreo, potencialmente expansível, dispondo de uma energia intrínseca, propulsora e determinada, sintetizada no instinto de conservação e de uma capacidade potencial de apreensão e reelaboração de experiências.
                              Dentro desse enfoque, o estudo do ser deverá ser feito em dois momentos:
                              O período pré-humano, como tempo de estruturação básica da individualidade.
                              O período de sua inserção no nível humano, onde estrutura uma personalidade mutante.
                              O período pré-humano caracteriza-se, a partir do instinto de conservação ou agressividade natural, como o da aquisição de conteúdos de experiência. Nele, o princípio espiritual nao tem consciência de si mesmo e não possui nenhuma estrutura básica de percepção ou seleção. Na verdade, parece compreensível que a busca incessante de auto-preservação, como elemento básico de perpetuação, seja o desencadeante do processo evolutivo, pois dentro desse impulso inato do ser embrionário esboça  o esforço de construir condições de manter-se íntegro.
                              Em consequência, desencadeia também um complexo, amplo e infindável processo de relações com o meio ambiente e com semelhantes, estabelecendo as bases futuras da consciência.

O corpo mental

                              Já vimos que o princípio espiritual não possui estrutura, pelo menos inicialmente. Todavia, interagindo com os elementos orgânicos, ele vai desenvolvendo uma estrutura psíquica, que chamo, por analogia, de corpo energético e psíquico que o princípio espiritual vai estruturando um sistema mental flexível.
                              Como diz André Luiz, é nesse espaço que vão sendo inscritos "os princípios ontogenéticos" que a experiência repetitiva e incessante vai consolidando, no processo constante de nascer, viver, morrer e renascer. Aí ele estrutura a memória e seleciona as experiências vividas.
                              Ao longo do tempo, construindo, reconstruindo e armazenando as experiências, o princípio espiritual começa a adquirir consciência crescente de si mesmo. Torna-se um Espírito. O corpo mental é, então, seu instrumento de recriação constante nos processos vivenciais repetitivos de vida e morte física ampliando cada vez mais a conscientização de si mesmo e do usufruto dos resultados acumulados das experiências e vivências. E é no corpo mental que ele inscreve e consolida, refunde e recicla suas impressões e aprendizado.
                              Referindo-se ao corpo mental, assim afirma André Luiz "O corpo mental, assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil da mente". Estudando os efeitos do monoideísmo que leva `a perda do perispírito, André Luiz diz o seguinte: "cabendo-nos notar que essa forma (ovóide), segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, ao encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorização da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir (...)" (in Evolução em Dois Mundos, Capitulo II - Corpo Espiritual, pags. 25, 91, primeira edição, FEB, 1959).
                              Temos, pois uma descrição possível do corpo mental, como um corpo sutil, de forma ovóide em torno do Espírito, guardando os órgãos de exteriorização da alma. Nessa conjugação mente-espiritual reside a expressão da individualidade.
                              Embora enfatizando o perispírito como centro virtual da organização física, André Luiz, mostra-o, todavia, precário, transitório, dependendo do desempenho mental para manter-se íntegro após a morte, principalmente nos primórdios da evolução e, depois, devido a processos doentios de concentração emocional.
                              Eis o que ele diz: "Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha  da alma, as idéias-relâmpagos ou as idéias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos, inquirições, traduzindo desejos e idéias alentadas, substância íntima". Nesse processo evolutivo, informa ele, "vamos encontrar o homem infraprimitivo, na rusticidade da furna em, que se esconde, surpreendido no fenômeno da morte, ante a glória da vida, como criança tenra e deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender.
                              O pensamento constante ofereceu-lhe a precisa estabilidade para a metamorfose completa... Entretanto, o homem selvagem, que se reconhece dominador na hierarquia animal, cruel habitante da floresta, que apura a inteligência, através da força e da astúcia, na escravidão dos seres inferiores que se lhe avizinham da caverna, desperta fora do corpo denso, qual menino aterrado que, em se sentindo incapaz da separação para arrostar o desconhecido, permanece tímido, ao pé dos seus, em cuja  companhia passa a viver, noutras condições vibratórias, em processos multifários de simbiose, ansioso por retomar a vida física que lhe sugere a imaginação como sendo a única abordável à própria mente...
                              Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem desencarnado... Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados no fulcro de pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo. Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciado-se num corpo ovóide..." (in Evolução em Dois Mundos, pág. 76, 88 a 91, primeira edição, FEB, 1959).
                              Fizemos essa longa transcrição, para mostrar que o Espírito André Luiz, nos informa que o corpo mental é o único instrumento organizado aderido ao Espírito, como órgão executor e permanente. Daí ter uma forma ovóide, como sinal de concentração em torno do polo central da Inteligencia Espiritual.
                              Verificamos, por essas informações, que perdendo o perispírito por deficiência do interesse e dificuldade em permanecer consciente, o Espírito concentra-se no seu corpo mental, onde provavelmente se instala a mente ou projeção constitucional do Espírito, sede da memória permanente e reduto de todas as experiências de seu processo evolutivo.

Uma reflexão sobre este texto foi publicada no Jornal Abertura de novembro de 2019.

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Papel do Perispírito na Gestação de Jaci Régis

Papel do Perispírito na Gestação

Jaci Régis

 (publicado no Caderno Cultural Espírita/outubro 2002)

                              Uma das contribuições do Espiritismo na tentativa de compreender o complexo físico-espiritual, que é o ser humano, foi a descoberta do perispírito. Envoltório do Espírito, ele acrescenta ao ser humano uma nova dimensão, passando este ser formado de Espírito, perispírito e corpo.



                              As especulações sobre o objeto da existência terrena, levou a considerações teológicas sobre a encarnação do Espírito, considerada situação pelo menos constrangedora para o ser. Daí a considerar-se o organismo como obstáculo, um empecilho à sua livre manifestação.
                              Diante da inexistencia de um conhecimento mais amplo sobre a natureza do organismo e dos processos genéticos, aliado ao conceito da prevalência do elemento espiritual sobre o físico, houve a tendência tornar o corpo humano mera expressão do Espírito.
                              A existência do perispírito, ainda que sem maiores detalhes de sua constituição, criou a perspectiva de que ele tinha funções de modelagem e consistência das estruturas moleculares. Muitos teóricos espíritas viram nesse corpo energetico, a matriz biológica do organismo, considerando que o perispírito seria uma espécie de molde pré-existente, fruto da elaboração evolutiva e das necessidades afetivas do reencarnante, ao qual as células iriam aglutinar-se, de modo a compor um tipo específico, respeitados os princípios básico da herança dos pais.
                              Os avanços da genética tem descortinado outro horizonte. O próprio Livro dos Espíritos, embora enfatizando a prevalência do Espírito no conjunto, jamais menosprezou a importância do organismo. Chega a afirmar que o desenvolvimento do feto, no seio materno, independia da existência do Espírito. Indica, conforme a questão 356, que pode haver todo o processo procriativo sem que haja um Espírito em reencarnação, nascendo, todavia, o feto morto.
                              Vivemos um tempo em que as pesquisas e experiências do campo da genética vêm demonstrando um quadro de avanços e conhecimentos extraordinários, penetrando do imo do processo de procriação.
                              Nesse novo quadro, as especificações e atribuições dadas ao perispírito parecem não mais corresponder às expectativas teóricas.
                              Nosso propósito é discutir uma proposta sobre o papel do perispirito na gestação, da forma mais equilibrada e autêntica possível.
                              Trata-se, contudo, de uma discussão teórica, uma hipótese de trabalho, que embora alicerçada no momento da ciência sobre as funções da transmissão da herança genética, é ainda uma tentativa de compreender a inserção do elemento espiritual no processos naturais, uma vez que não é possível apresentar provas inconcussas e experimentais da nossa proposta.
                              Vamos apresentar idéias do que se sabe ou se presume serem aceitáveis sobre o Espírito, o corpo mental e o perispírito, com enfoque sobre a existencia deste último no processo gestatório.

O Perispírito

                              Allan Kardec ao afirmar a existência do perispírito, identico ao corpo fisico, definiu-o como o envoltório do Espírito.
                              Como não é possível imaginar o Espírito sem o corpo, seja encarnado ou desencarnado, é lógico supor que o perispírito é permanente. Ou seja, no nosso nível humano, o ser espiritual identifica-se, no espaço extrafísico, com um corpo idêntico ao que possuía enquanto encarnado, sucessivamente.
                              Isso, porém, não significa que seja sempre o mesmo perispírito. Ao contrário, sabemos que em cada encarnação há a desintegração e a reconstrução desse corpo energético, decorrente do processo de germinação e constituição do organismo físico.
                              Dada a impossibilidade, então presumida, da relação direta do Espírito e o corpo físico (Espírito e matéria) atribuiu-se ao perispírito o papel intermediário entre os dois e, ao mesmo tempo, como lugar da memória, inclusive estampada na morfologia corporal, devido à extrema plasticidade do corpo energético.
                              Pensou-se atribuir ao perispírito, além de modelo funcional do organismo fisico, mas também fonte e diretriz de sua morfologia e mesmo de seu funcionamento biológico.
                             Essa idéia tem sido repetida, sob variadas formas desde Delanne até hoje, inclusive André Luiz.

Contestações

                              Estudiosos mais liberais e ligados ao pensamento científico vigente têm procurado contestar as tradicionais informações sobre o papel do perispírito.
                              Os engenheiros Marcelo Coimbra Régis, em trabalho apresentado no IV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em 1995, e Reinaldo di Lucia, no VI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, apresentaram interessantes estudos sobre o perispírito.
                               Damos a seguir as principais idéias de Marcelo Coimbra Régis sobre o perispírito remetendo o leitor para a íntegra de seu trabalho publicado no Caderno e aqui no blog do ICKS.
                              "Corpo do Espírito, de estrutura material, composição e estado diferenciado do atualmente registrável e/ou conhecido. Ligação energética entre Espírito (pensante) e corpo (atuante). Ele seria a cópia do corpo humano, mudando a forma de planeta a planeta e de aparência a cada encarnação.
                               Matéria em estado desconhecido, porém sujeita a ação inteligente do Espírito e com capacidade de alterar seu estado natural de forma a tornar-se registrável aos nossos instrumentos (vide fenômenos físicos, ectoplasmia, raps etc).
                              No seu estado natural, responde a ação intencional do elemento inteligente (Espírito) que tal como imã aglutina e mantém sua estabilidade. Analogicamente, o Espírito seria como um foco de atração, tendo ao seu redor a aglutinação da matéria perispirítica, formando o complexo Espírito/perispírito e emanar radiações energéticas, conforme os estados emocionais o Espirito. Portanto o perispirit como o corpo, só existe ligado/aglutinado ao Espírito, não possuindo existência independente.
                               O perispírito tem atuação muito sutil na economia corporal, pois o corpo humano é autônomo em suas funções básicas. Como transmissor das sensações e vontade do Espírito, o perispírito atua principalmente através  do Sistema Nervoso Central, cabendo ao cérebro transformar esses impulsos energéticos em comandos reconhecíveis pelo resto do organismo. Sendo um corpo energético, ele também influencia o rosto do corpo, qual um campo de forças interagindo com as células e tecidos, porém sem comandar diretamente seus movimentos e ações."
                              Transcreveremos, agora, sinteticamente, as posições de Reinaldo di Lucia.
                              "A matéria que compõe o perispírito é perfeitamente integrada com a matéria densa, podendo assim interagir com partes dela. Da mesma forma, por ser muito mais sutil, é perfeitamente suscetível de ação direta pelo Espírito, que pode mudá-la segundo sua vontade.
                               O Espirito age como se fosse uma carga. Tal como uma carga elétrica cria em torno de si um campo eletromagnético, o Espírito cria em torno de si um campo, que, `a falta de nome melhor, poderia ser chamado de campo espiritual.
                              O perispírito nao seria, então, um corpo, um organismo propriamente falando, mas um aglomerado energético-material em constante interação com o Espírito.
                              Encarnado sob este novo modelo, o perispírito passa a ter propriedades e funções mais adequadas aos conceitos atualmente aceitos pela ciência, sem descaracterizar as funções principais que lhe foram atribuídas por Kardec.
                              Age como individualizador dos Espíritos desencarnados, dando-lhes uma forma que lhes permite, especialmente em estágios menos avançados do processo evolutivo, seguir aprendendo e atuando. Pode ser modificado segundo a vontade do Espírito.
                              Durante a encarnação, age permitindo que o Espírito, consiga uma união perfeita com a matéria mais densa que compõe o corpo físico. Poder-se-ia dizer que, de certa forma, é o intermediário entre o corpo fisico e o Espirito. A diferença é ser um intermediário estruturado como um continuum da própria matéria corporal, sob a forma energética, e não algo completamente diferente dela.
                              Não possui a função de transmissor de sensações do corpo para o Espírito ou de ordens no sentido inverso. Da mesma forma, nao tem nenhuma atuação sobre a memória ou inteligência. Não possui órgãos nem nenhuma constituição semelhante, que são exclusivas do corpo físico.
                              Modifica-se de acordo com as necessidades e capacidades do Espírito, mas não obrigatoriamente em mundos distintos (há de se verificar as questões da isotropia material do Universo)."

     Repensando as funções do perispírito

                              Analisando essas contribuições que se contrapõe ao entendimento tradicional sobre o papel e a formação do perispírito, que nas obras de André luiz ganha uma feição de organismo com órgãos e funções, em muitos casos semelhantes à do organismo fisico, faremos a reflexão que nos sugere ser compatível com este momento.
                              No nosso entendimento, realmente, o perispírito nao parece ter funções específicas na encarnação e restringe-se no espaço extrafísico ao papel de "capa energética" identificadora do Espírito desencarnado, com a dupla função de permitir a relação com os demais e servir de auto-identificação, uma vez que é na encarnação que o ser espiritual de nosso nível evolutivo encontra a própria imagem.
                              Assim, parece-nos perfeitamente aceitável que o perispírito, não sendo um organismo, não possua órgãos, o que elimina a suposição de que a mente, ou seja, a capacidade intelecto-afetiva do Espírito esteja nele sediada.
                              Isso é pouco provável uma vez que sendo o perispírito uma criação temporária, sucessivamente reconstruída pelo Espírito, nao teria condições de perpetuar a memória, que embora seja uma propriedade intrínseca do Espírito, é instrumentada de forma externa a ele.

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Uma reflexão sobre este texto foi publicada no Jornal Abertura de novembro de 2019.

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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crítica as ideias espíritas - por Reinaldo Di Lucia

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O Perispírito
Uma abordagem do século XX

Reinaldo Di Lucia


 Crítica as ideias espíritas


                         Muitas das ideias anteriormente expostas são passíveis de contestação e constituem, minimamente, uma desatualização em relação aos avanços do conhecimento humano. Faz-se, portanto, necessária uma análise crítica delas e o desenvolvimento de uma nova hipótese que seja mais adequada aos problemas e observações atuais.

                         A afirmação que o perispírito é um envoltório para o espírito é tirada diretamente da observação que os espíritos desencarnados tem de si mesmos. Kardec, ao querer informar-se sobre a vida no mundo espírita, pergunta se esses espíritos possuem um envoltório ou vivem "a descoberto" (O Livro dos Espíritos, perg. 93), ao que os espíritos respondem ter um envoltório. A denominação períspirito, como já dissemos anteriormente, é fruto de analogia que Kardec (e não os espíritos) fazem com elementos da ciência.

                         Também não causa dúvida a afirmação que o perispírito pertence ao elemento material do Universo. No dizer de Kardec, é composto da quintessência da matéria. Entretanto, o conceito de matéria sofreu modificações profundas desde a época em que o espiritismo veio ao mundo. É assentado nestas modificações que se propõe neste trabalho um novo modelo (ou, ao menos, um novo entendimento) do perispírito.

                         Também da experiência direta obtém-se a informação que o perispírito pode ser modificado em forma de acordo com a vontade do espírito. Muitos médiuns videntes têm relatado essas modificações, assim como pesquisadores em experimentos de materialização. Entretanto, esta observação leva uma conclusão interessante: a de que o espírito pode atuar sobre o elemento material diretamente. É preciso, então, rever a idéia, fortemente disseminada em todo o movimento espírita, de que o espírito e matéria não interagem por serem de essências distintas.

                         Esta última idéia leva um número grande de espíritas a interpretar o termo semimaterial, empregado por Kardec para referir-se ao perispírito, como sendo um terceiro elemento universal, que participaria de ambas naturezas (espírito e matéria) e, assim, permitiria a ligação entre ambas. Não há respaldo nenhum para essa interpretação. Kardec foi claro quando postulou um sistema dualista completivo para a filosofia espírita, isto é, formado de duas substâncias essenciais em mútua e incessante interação.

                         Nesta mesma linha de raciocínio, parece estranha a afirmação que o perispírito deve ser elo de ligação, ou laço que prende o espírito a matéria. Se assim fosse, porque os desencarnados, dotados de perispírito, nao conseguem mover objetos sem o concurso de um médium?

                         O problema está no modo de pensar da ciência do século XIX. Essa ciência é discreta, ou seja, pensa o Universo macroscopicamente, em elementos distintos e estanques, ligados entre si por algum tipo de meio físico. Assim, o perispírito seria um ente particular, perfeitamente definido em si mesmo, que serviria de meio entre dois elementos, o espírito inteligente e a matéria bruta.

                         A ciência do século XX quebrou esses dois conceitos: mostrou que, apesar de no ambito das partículas subatomicas as energias serem trocadas em quantidades determinadas, ou "pacotes" fechados, e existirem "saltos quânticos" que afetam drasticamente as partículas, no mundo macro há um desenvolvimento contínuo da matéria no que tange, p.e., as frequências envolvidas, nos níveis em que é possível a detecção pelos equipamentos disponíveis. E mostrou também que não são necessários quaisquer meios para transmissão de energia ou informações a distância no espaço-tempo (a luz, p.e., transmite-se no vácuo). Parece então mais lógico postular o perispírito como uma continuação energética da matéria, como sera descrito adiante.

                         Não é muito claro também o papel do perispírito nas comunicações mediúnicas. Claro que, estando indissoluvelmente ligado ao espírito e sendo responsável por dar-lhe uma forma, o perispírito atua nas manifestações físicas. Entretanto, se a comunicação mediúnica classificada como manifestação inteligente (a psicofonia ou a psicografia, p.e.) é uma transmissão mente a mente (equivale dizer, de espírito a espírito), que nao precisa de intermediários, essa função de perispírito precisa ser revista.
                         As três últimas idéias apresentadas pelos pensadores descritos parecem as mais problemáticas, ainda que se possa dar uma explicação viável do porque elas apareceram.

                         A primeira é a do perispírito como molde do corpo fisico. As principais tentativas neste sentido foram feitas para resolver um problema sério que a ciência já enfrentava desde a antiguidade, qual seja, o de como é possível a formação de um ser tão complexo, a partir, aparentemente, da união fortuita de elementos materiais, sem que existisse algum organizador para estes elementos.

                         Ocorre que a última metade do século XX trouxe significativos avanços no entendimento do modo como a matéria orgânica estrutura-se e transmite as informações necessárias para a manutenção. Os avanços da genética, iniciados com o descobrimento dos ácidos nucleicos e de sua estrutura, e que atingiram o auge com o Projeto Genoma (estudo de mapeamento dos genes humanos) forneceram e continuam fornecendo explicações cada vez mais precisas sobre a organização corporal. Criou-se uma nova disciplina, a Engenharia Genética, especializada em estudar técnicas de modificação destas caracteristicas, alterando as funções, propriedades e aparências de órgãos, vegetais, etc.

                         Ao mesmo tempo, estudos de biologia celular e aplicações médicas destes avanços, como no caso das intervenções diretas sobre órgãos doentes, através de terapias químicas o de transplantes, mostraram definitivamente que a própria matéria tem sim condições de auto gerenciamento, sem a necessidade de um organizador extrínseco a ela.

                         A questão dos estudos termodinâmicos da vida ainda nao está perfeitamente equacionada, mas uma série de grandes cientistas, e não só da área biologica, como o físico austríaco Erwin Schrodinger (Premio Nobel de Física de 1933) tem feito sérias restrições às dificuldades da vida em relação a entropia. Este é um campo ainda aberto, com muitas possibilidades a serem estudadas. 

                         Mais difícil ainda é sustentar o perispírito como sede de faculdades racionais ou emocionais, como a memória, as sensações ou a inteligência. Tais funções intelectivas são, consoante a filosofia espírita, de competência exclusiva do espírito, uma vez que só ele possui inteligência. Sendo o perispírito matéria, ele nao poderia participar destes processos.

                         A argumentação de Delanne, neste aspecto, perdeu muito da força quando se demonstrou que as células do cérebro não se modificam com o passar dos anos, sendo as únicas no organismo incapazes de regenerar -  uma vez destruídas, perdem-se para sempre.

                         Claro está que os estudos das relações hegemônicas no cérebro e da permanência das lembranças após o fim da vida corporal encontram-se longe de estarem completos. As relações entre o espírito e o cérebro é um dos temas mais fascinantes da ciência espírita, e um dos menos estudados.

                         Finalmente, a idéia da existência de órgãos no perispírito também parece estranha já que eles sao estruturas  organizadas que servem apenas para a manutenção da vida física. Provavelmente, esta idéia surgiu como suporte a função do perispírito de organizador biológico. Em não se admitindo esta, aquela deixa de ter importância.

          

    

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Perispírito Uma abordagem do século XX continuação - por Reinaldo Di Lucia

continuando....(https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8190435979242028935#editor/target=post;postID=5706797199672327633;onPublishedMenu=editor;onClosedMenu=editor;postNum=2;src=postname)

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O Perispírito
Uma abordagem do século XX

Reinaldo Di Lucia

 A POSIÇãO DO ESPIRITISMO

                         
                         Todas essas crenças de um envoltório, um corpo para a alma de alguma forma influenciaram Kardec quando da elaboração do Livro dos Espíritos, Kardec é informado que o espírito "tem a envolvê-lo uma substância, que é vaporosa para ti, mas bastante grosseira para nós."
                         Sendo um homem de espírito científico, Kardec foi buscar na ciência o nome para tal envoltório, chamando-o de perispírito, à semelhança do perisperma que envolve as sementes dos frutos.
                         As principais idéias desenvolvidas por Kardec sobre o perispírito nada falam sobre a constituição da energia de que é composto, mas atenta  principalmente para suas funções e propriedades. Resume-se no seguinte:
                         O perispírito é o liame que, no homem, liga o Espírito ao corpo físico. Tem por função agir como intermediário entre eles:
                         "O liame ou perispírito que une o corpo e Espírito é uma espécie de invólucro semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro, o Espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no seu estado normal, mas que ele pode tornar acidentalmente visível, e mesmo tangível, como se verifica nos fenomenos de aparição."
                         Tal envoltório é tomado do fluido universal de cada globo, não sendo assim o mesmo em todos os mundos. Quando os Espíritos de mundos superiores vão aos inferiores, revestem-se da matéria própria deste último. Torna qualquer forma, ao arbítrio do Espírito.
                         Vem de Kardec a conceituação de perispírito como um elo intermediário entre
o corpo físico e o espírito, indispensável tanto para fazer o espírito agir sobre o corpo quanto para que aquele receba as impressões experimentadas por este. Esta idéia tomou tal força em todo o movimento espírita brasileiro que, pode-se dizer, é o único motivo que os espíritas acham para a existência do perispírito.


  
                         Mas em nenhum ponto de suas obras Kardec refere-se ao períspirito como algo diferente da matéria. Deve-se lembrar que, para a teoria espírita, o Universo compõe-se única e dualmente de dois princípios básicos: o espírito, inteligente e responsável por todos os fenômenos intelectivos, e a matéria, inerte do ponto de vista da consciência e sujeita
a ação do espírito, responsável pelos fatos orgânicos, inclusive a vida:
                         Dentro deste esquema, o perispírito aparece diretamente ligado a matéria, como um produto da matéria básica, ou, no dizer de Kardec, uma modificação do fluído universal.
                         "Posto que invisível para nós em estado normal, o perispírito não deixa de ser matéria etérea."
                         "Jamais o espiritismo confundiu a alma com o perispírito, que não passa de um invólucro, como o corpo é um outro. Tivesse ela dez envoltórios, isto nada tiraria de sua essência imaterial. "
                         Ainda que matéria, o perispírito é, para Kardec, absolutamente penetrável, isto é, nenhuma matéria lhe oferece obstáculo; ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.
                         Uma segunda função primordial do perispírito, segundo Kardec, é de servir como evidência da manutenção da individualidade para o Espírito desencarnado:
                         "P - Como a alma constata a sua individualidade, se já não tem mais corpo material?
                         R - Tem um fluido que lhe é próprio, que tira da atmosfera do seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito."
                         Assim é que o espírito, mesmo não possuindo mais o corpo físico, e mesmo estando acostumado a ver-se como uma forma determinada, pode perceber-se existindo, a partir da evidência formal que lhe fornece seu perispírito.
                         Finalmente, uma última função básica do perispírito, conforme Kardec, é a de servir como meio`as manifestações mediúnicas, notadamente àquelas de ordem física, como as materializações, as aparições e os fenômenos de transporte. Isto se deve à propriedade que possui o perispírito de tornar-se tangível, no dizer dos espíritos por "condensação" , e também de somar-se aos fluídos (energias) caracteristicos dos encarnados, possibilitando a movimentação de objetos materiais inertes.
                         Depois de Kardec, muitos pensadores espíritas, desde seus continuadores mais diretos até alguns escritores do final do século XX (encarnados e desencarnados) acrescentaram mais algumas propriedades ao perispírito. Dentre esses, destacam-se, naquilo que interessa a esse estudo: Gabriel Delanne, Hermani Guimarães Andrade e André Luiz.



                         Dentre todos os continuadores do pensamento de Allan Kardec, Delanne é o que maior importância atribui ao perispírito. Provavelmente, isto se dá na medida em que é de grande dificuldade para qualquer pessoa adepta ao positivismo, aceitar que o Espírito, este ser imaterial e, para muitos, puramente abstrato, possa ser o princípio de todas as manifestações intelectivas do homem.
                         Assim, ele vai atribuir ao perispírito uma gama significativa de funções relativas à organização ou mesmo às capacidades inteligentes do ser humano. As principais funções cujas bases são por ele atribuídas ao perispírito são sumariamente descritas abaixo.
                         Primeiramente, temos a formação do corpo físico. Delanne depara-se com o problema de explicar como o corpo físico pode ser formado com tantos detalhes e reconstruído, com a mesma semelhança, sempre que certas partes são destruídas. Lança mão então da explicação perispiritual:
                         "A força vital por si só não bastaria para explicar a forma característica de todos os indivíduos, e tampouco justificaria a hierarquia sistematizada de todos os orgãos, sua sinergia em função de um esforço comum, visto serem eles, simultaneamente, autônomos e solidários. Neste ponto é que incide o ascendente da intervenção do perispírito, ou seja, de um órgão que possua as leis organogenéticas, mantenedoras da fixidez do organismo, através de constantes mutações moleculares. "
                         O perispírito é então, em sua opinião, o modelo fluídico, o molde que servirá para construir o corpo físico. Como veremos, esta também é a opinião de Hermani Guimarães, atualizando o raciocínio a partir de recentes descobertas científicas.

Gabriel Delanne



                         A grande preocupação desse pensador, para atribuir ao perispírito o papel  de molde do corpo está na explicação da forma. Enquanto que ele podia perfeitamente admitir uma força vital primária idêntica para todos os seres vivos, desde a planta até o homem, pressupunha que deveria existir uma outra força que diferenciasse as muitas espécies no que tange `a sua forma. Essa força seria o perispírito.
                         Em segundo lugar, Delanne dá ao perispírito um papel psicológico fundamental. Para ele, o perispírito é a base da memória do homem, a qual, por sua vez, é fundamental para a asseguração contínua de sua identidade.
                         Ele baseia esta opinião sobre a idéia que, mais que qualquer outra célula do corpo humano, as do cérebro são substituídas rapidamente, o que impossibilitaria a manutenção, neste órgão, da memória.
                         "O cérebro, porém, muda perpetuamente, as células dos seus tecidos são incessantemente agitadas, modificadas, destruídas por sensacoes vindas do interior e exterior. Mais do que as outras, essas células submetem-se a uma desagregação rápida e, num periodo assaz curto, sao integralmente substituidas."
                         Partindo do principio acima descrito, o eminente pensador espírita debita ao perispírito a função da memória, ja que esta nao poderia ser unicamente do corpo. Em sua tese, qualquer fato guardado pela memória é registrado no perispírito. Quando uma célula cerebral morre, é substituída por outra formada pelo mesmo perispírito, que lhe imprimirá, qual disco gravado por uma matriz, as mesmas impressões que ele próprio guarda. Fica assim resguardada a memoria.
                         Idéias semelhantes a essas são igualmente defendidas por Leon Denis e Gustave Geley, em vários dos seus livros, o que nos dá a impressão que eram bastante difundidas no meio espirita à época - apesar de nao terem sido defendidas por Kardec em sua obra.
                         A principal tese de Hermani Guimarães sobre o perispírito aproxima-se bastante de algumas daquelas defendidas pelos autores anteriormente citados - a de que este é uma espécie de molde do corpo físico. Entretanto, a base de sua teoria repousa (diferentemente de Delanne) não no problema da reconstrução do organismo, mas na aparente violação do Segundo Princípio da Termodinâmica pela origem e evolução da vida. 
                         O Segundo Princípio da Termodinâmica (ou Lei de Carnot-Clausius) prevê que num sistema termodinamicamente isolado, a quantidade de entropia (ou o grau de desordem do sistema) aumenta continuamente. Ou seja, nestes sistemas, se não houver nenhum tipo de ação organizadora, haverá uma homogeneização cada vez maior dos seus elementos, misturando-se e aumentando a desordem do sistema.
                         Ora, o processo de evolução da vida a partir de elementos nao vivos, aparentemente, é um processo neguentrópico, isto é, em que há diminuição da desordem - o sistema vai se organizando cada vez melhor, desde elementos mais simples (p.e. seres unicelulares) até organismos altamente complexos, como o homem.
                         A conclusão de Hermani Guimarães é que, para que a vida pudesse ter acontecido e continuasse a manter-se e evoluir, é necessária a presença de um elemento organizador. Hermani chama este elemento de MOB (Modelo Organizador Biologico) e postula que este papel seria do perispírito.
                         Assim, para este autor, o perispírito possui um papel de informador, i.e., é o elemento que prove o corpo da informação necessária para sua constituição e desenvolvimento. Assim é que, além de MOB, Hermani chama-o também de domínio informacional histórico, onde a informação provida é acumulada ao longo do tempo - entre muitas encarnações.
                         Pouco acrescentam os espíritos desencarnados sobre o tema. Tanto André Luiz quanto Emmanuel, os mais lidos dentre eles, admitem para o perispírito as mesmas funções de Kardec e Delanne. Emmanuel chega a afirmar que:
                         "O corpo espiritual não retém somente prerrogativa de constituir a fonte da misteriosa força plástica da vida, a qual opera a oxidação orgânica; é também ele a sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo, o santuário da memória, em que o ser encontra os elementos comprobatórios de sua identidade, através de todas as mutações e transformações da matéria."
                         André Luiz foca a importância do perispírito na origem do corpo físico, bem como na manutenção de sua saúde ou no desenvolvimento de algumas doenças. Para ele, o perispírito, ou corpo espiritual, ou ainda psicossoma, possui células e órgãos que darão origem ao corpo físico:
                         "Todos os órgãos do corpo espiritual, e, consequentemente, do corpo fisico, foram, portanto, construídos com lentidão, atendendo-se à necessidade do campo mental em seu condicionamento e exteriorização no meio terrestre."
                         "Com o transcurso dos evos, surpreendemos as células como princípios inteligentes de feição rudimentar, a serviço do princípio inteligente em estágios mais nobre nos animais superiores e nas criaturas humanas, renovando-se continuamente no corpo fisico e no corpo espiritual, em modulações vibratórias diversas, conforme a situação da inteligência que as senhoreia, depois do berço ou depois do túmulo."
                         Em resumo, as principais ideias sobre o perispírito expostas por estes eminentes pensadores, e ainda hoje bastante difundidas no movimento espírita sao:
  • O perispírito é um envoltório do espírito, que o acompanha desde sua criação, e, portanto, preexistente ao nascimento e sobrevive a morte do corpo fisico.
  • É composto de matéria, porém, em nível diferente daquela a que os encarnados estão acostumados. Kardec afirma ser uma matéria quintessenciada, obtida por modificação, direta do fluido cósmico (que é a matéria primordial), contendo ainda elementos do princípio vital e mesmo de componentes fisicos e electromagneticos.
  • Sua composição energética e tanto mais densa, ou menos sutil, quanto menos evoluído (do ponto de vista intelectual e moral) for o espirito. Com a evolução deste, vai-se tornando mais sutil, ainda que não se saiba ao certo o que isto significa fisicamente, mas sempre acompanha o espírito.
  • É totalmente sujeito `a vontade do espírito, que pode plasmá-lo a seu gosto e dar-lhe a forma que desejar.
  • Serve como elemento de ligação entre o espírito e o corpo fisico, uma vez que um e outro não podem interagir diretamente devido `a diferença estrutural entre ambos.
  • É o elemento que possibilita a manutenção de uma forma para o espírito desencarnado e, assim permite que este possa identificar-se como uma individualidade.
  • É o princípio fundamental das manifestações mediúnicas, em especial daquelas caracterizadas como efeitos físicos.
  • É o molde do corpo fisico, uma forma que conteria os elementos informacionais que permitiriam sua formação e manutenção. Esta função também é a única forma de adequar o surgimento da vida à Segunda Lei da Termodinâmica.
  • É a sede dos sentimentos e das faculdades, notadamente da memória. Por vezes, é apontado como sede da inteligência.
  • Possui órgãos e células, como o corpo físico. Este, aliás, é uma cópia daquele.


     
       


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O PERISPIRITO

UMA ABORDAGEM DO SECULO XX

Reinaldo Di Lucia

                       
                         O propósito deste trabalho é, a partir de um histórico sobre as idéias que levaram ao desenvolvimento do conceito perispírito e da avaliação da evolução do pensamento científico desde  o início do século XX, analisar criticamente os postulados de diversos autores espíritas sobre o tema (encarnados ou desencarnados)e propor um novo modelo teórico, a título de hipótese, para a natureza, formação, propriedades e funções do perispírito.
                         A intenção mais ampla é que uma melhor compreensão sobre este assunto possa clarear alguns outros temas polemicos da doutrina espírita, tais como as emissões energéticas, as curas espirituais e paranormais, as relações entre espíritos encarnados e desencarnados, o problema da obsessão e os diversos generos de comunicações mediúnicas. Propõe-se que inicie-se um debate em todos os setores da comunidadeespírita sobre o tema, visando o fortalecimento dos novos conceitos.
                         O conceito de perispírito foi introduzido por Allan Kardec ao formular a filosofia espírita a partir da observação experimental (fenomenos físicos tais como a materialização) e da afirmação dos espíritos que possuíam um corpo, que lhe permitia identificarem-se como seres individuais que sobreviveram à morte do corpo físico.
                         Essa idéia foi rapidamente assimilada pelos pensadores da época, principalmente por aqueles que assumiram a doutrina espírita, uma vez que respondiam a inúmeras questões que a própria ciência ainda deixava em aberto. Em função disso, muitas funções que deveriam ser atribuídas ao espírito, por serem referentes à inteligencia do ser, o foram ao perispírito.
                         Isto acabou criando um movimento espírita um conjunto de idéias a respeito do tema que, com o avanço do conhecimento científico em campos como os da física, da biologia e da genética, apresentam-se hoje ultrapassados. Ao mesmo tempo, tal conjunto de idéias é usado como suporte para a manutenção de conceitos errôneos sobre as bases filosóficas do espiritismo.

Novos Conceitos da física 

                         É de fundamental importancia que conceitos do campo da física, alguns deles trazidos à luz pela chamada física moderna (desenvolvida após a morte de Kardec) sejam, ainda que superficialmente, compreendidos. Isto porque, de acordo com a teoria que se pretende apresentar neste trabalho, algumas das idéias de Kardec sobre o perispírito podem sofrer sensíveis modificações a partir do desenvolvimento destes conceitos.

                         O primeiro deles é o de energia. No século XX, tornou-se muito difícil prover uma única definição de energia, que seja abrangente e independa do campo de estudo. A definição tradicional, de energia como a capacidade de realizar trabalho, é restrita à parte da física conhecida como Mecânica. Como diz o prof. Alberto Ricardo Präss, "usando apenas a experiência do nosso cotidiano, poderíamos conceituar energia como algo que é capaz de originar mudanças no mundo".

                         Esse conceito é de importância capital para este estudo do perispírito. É importante frisar que, desde que Einstein popularizou a célebre fórmula da inter-relação entre matéria e energia (E = m.c2), o termo energia tornou-se cada vez mais conhecido e empregado, muitas vezes sem a devida atenção à idéia que é expressa por essa palavra.

                         No movimento espírita, o termo energia muitas vezes é empregado para designar uma quantidade qualquer de força que pode, de algum modo, atuar sobre o corpo, o perispírito ou o espírito, para a cura de doenças e outros fenômenos semelhantes.

                         É bastante comum o uso da expressão energias espirituais, que deve ser acompanhado de um grande cuidado: lembrar-se que energia é matéria. Se com essa expressão se quiser denominar um grupo de energias distintas daquelas que são características da matéria mais densa (como, p.ex., o corpo físico), seu uso é possível. Mas, apesar destas energias serem acionadas pela vontade do espírito, que as pode manipular a seu critério, elas não são parte do espírito, não participam de sua essência; enfim, são partes constituintes do princípio material.

                         Para efeito deste trabalho, adotar-se-à a definição descrita acima: energia é alguma coisa capaz de provocar transformações no mundo, seja este o mundo corpóreo ou incorpóreo.

                         Outro conceito físico importante é o de campo. Campo pode ser definido como uma área ao redor do objeto, na qual uma interação eletromagnética ou gravitacional é exercida sobre outros objetos; é o que se poderia chamar de um lugar geométrico. Apesar de o conceito de campo ter sido usado pela primeira vez por Isaac Newton em sua teoria da Gravitação Universal, e já ser empregado por Faraday em meados do século XIX para explicar forças eletromagnéticas, foi com Maxwell, um físico escocês do mesmo século, que o conceito de campo tornou-se fundamental na teoria eletromagnética (com o lançamento do Tratado sobre a eletricidade e o magnetismo, em 1873), tendo sido empregado de modo amplo na física moderna do século XX.

                         A força de um campo, ou seja, a quantidade física medida no espaço ao redor do objeto que lhe dá origem depende fundamentalmente de dois parametros: o valor da quantidade física do objeto e a sua distancia do ponto de medição. No caso de um campo eletromagnético, p.ex., o objeto que origina o campo é uma carga eletromagnética pontual, e a força é tanto maior quanto maior for o valor da carga e tanto menor quanto maior for a distancia dela.



                        Com a comprovação experimental da teoria dos campos, a física percebeu que o termo força, até então usado para definir a ação exercida por um corpo sobre outro era inadequada, uma vez que dá a idéia de um objeto agente (ou seja, aquele que efetivamente exerce a ação, ativo) e um que, inerte, limitar-se-ia a receber esta influencia. O que ocorre na verdade é uma ação recíproca de um corpo sobre o outro. O termo mais empregado hodiernamente é interação, que exprime melhor o conceito físico.

                         Importantes, também, são os conceitos ligados à mecânica ondulatória Um dos modelos pelos quais a energia e a informação são transmitidas de um dado ponto a outro no Universo são as ondas, as quais podem ser representadas no quadro Figura A.


     Figura A


                         O ponto mais alto de uma onda chamada-se crista, e o mais baixo, vale. A distância entre duas cristas consecutivas é chamada de comprimento de onda (Figura 1), e é uma das caracteristicas fundamentais a ondulatória.

                         Juntamente com a frequência, ou seja, o número de cristas por unidade de tempo, e a amplitude, a distância entre uma crista e um vale consecutivos, caracterizam qualquer onda.
                         Matematicamente, a relação entre a frequencia e o comprimento de onda é inversamente proporcional.



                         Os conceitos de frequencia, comprimento de onda e amplitude, aliados aos de energia e campo, serão fundamentais para o entendimento do perispírito em bases científicas atuais.

Histórico de um envoltório da alma

   
                         A crença em uma alma imortal é tão antiga quanto as civilizações humanas. Talvez porque o homem via seus mortos em sonhos, ou porque aparições destes mesmos mortos, mesmo em vigília, acontecessem. O fato é que as idéias absolutamente materialistas da morte como fim de toda a individualidade são bastante recentes, tendo-se firmado apenas na Idade Contemporânea.

                          Este fato é corroborado pelas pesquisas arqueológicas que mostram que, desde o período megalítico (a chamada Idade da Pedra Polida), o homem tinha o costume de sepultar seus mortos com armas e pertences. Posteriormente, as civilizações que deixaram algo escrito confirmam, todas elas, esta conclusão.

                         Tão antiga quanto a crença na alma imortal é a crença na alma imortal é a crença de que esta possui um envoltório, um tipo de "segundo corpo" que, de alguma forma, acompanha-a em sua permanência no além. Em muitas civilizações antigas esta idéia permanece. Entretanto, em algumas delas, este conceito difere frontalmente daquilo que entendemos hoje, por um mero envoltório.

                         Na India, p.ex., o bramanismo fala de um "corpo sutil" chamado suksmasarira. Este corpo, porém, não é um mero envoltório, como se fosse uma "roupa" que seria usada por uma alma. Nesta filosofia, o verdadeiro Eu, que constitui a individualidade, a essência de tudo o que somos ou sabemos, chama-se  atman ou brahma. Este Eu fica envolto pelo corpo sutil (suksmasarira) que é composto pelos elementos pertencentes à esfera mutável da psique,ou seja, os pensamentos, emoções, sentimentos e percepções. Finalmente, há o corpo denso - "nervos e órgãos tangíveis que são os receptáculos e veículos do processo vital manifestado".

                         Como se pode perceber, o conceito de corpo sutil do bramanismo difere essencialmente daquele de perispírito adotado tradicionalmente pela doutrina espírita. Tais conceitos orientais são, via de regra, de muito difícil compreensão pelas mentes ocidentais, razão pela qual, são normalmente deturpados.

                         Também no Egito há registros desse envoltório: O corpo, dizia o egipcio, era habitado por um duplo de nome Ka, e também por uma alma que pousava no corpo como um passarinho na árvore. Todos três - corpo, Ka e alma - sobreviviam à morte, enquanto o cadáver não desaparecesse na dissolução".

                         Segundo Dellane, tais crenças num envoltório da alma permeiam todo o mundo antigo. Na China antiga, Confúcio dizia que "(...) a essência dos Koûci-Chin (espíritos diversos) não pode deixar de manifestar-se sob uma forma qualquer". O Zoroastrismo persa fala dos ferúers que sem serem propriamente um envoltório, posto que possuíam uma certa inteligência independente, estavam, cada um, destinados a um ser humano. A cabala judaica chama de Nephesh o corpo fluídico do princípio pensante. 

                         Na Grécia também disseminava-se a idíea de um envoltório da alma: "O claro gênio dos gregos percebeu a necessidade de um intermediário entre a alma e o corpo. Para explicar a união da alma imaterial com do corpo terrestre, os filósofos da Hélade reconheceram a existencia de uma substância mista, denominada Ochema, que lhe servia de envoltório e que os orácuos denominavam o veículo leve, o corpo luminoso, o carro sutil. Falando daquilo que move a matéria, diz Hipócrates que o movimento é devido a uma força imortal, ignis, a que dá o nome de enormon, ou corpo fluídico".

                         Na mais conhecida Tradição do misticismo que se disseminou no Ocidente, a Teosofia, o homem possui sete corpos: o físico, o astral, o mental, o búdico, o nirvanico, o paranirvânico, e a mahaparanirvânico, cada um com suas atribuições específicas. Alguns ainda descrevem um corpo etérico, que seria o campo vital associado ao corpo físico, e que poderia ser visto pelos clarividentes como uma espécie de aura.
continua.......