terça-feira, 16 de julho de 2024

Eugenio Lara nos deixa em junho de 2024 - da redação

 

Eugenio Lara nos deixa em junho de 2024

   Foto - Eugenio Lara

Desencarna Eugenio Lara aos 61 anos.

    Difícil perder um companheiro tão inteligente, um pesquisador de primeira linha, tão cedo, com apenas 61 anos. Eugenio faz parte deste jornal Abertura, desde o primeiro número.

 


Cláudia e eu fomos ao velório, conversei com o seu irmão Vicente Lara, Eugenio teve problemas relacionados com o fígado seguido de anemia muito forte. Aos poucos foi complicando resultando em falência múltipla dos órgãos. Alguns dias antes da desencarnação ele falou ao irmão, já com alguma confusão mental que estava sendo tratado pelos irmãos espirituais. Temos certeza de que sim e ele também tinha.

    Eugenio tem uma relação profunda com o ICKS, este relacionamento é bem anterior à própria criação de nosso instituto. Eugenio era responsável pela diagramação dos jornais Espiritismo e Unificação em seus últimos anos e do sucessor Jornal de Cultura Espírita – Abertura. Onde militou por cerca de 10 anos.



Jornal Abertura-maio de 1998 – Eugenio Lara estava no Conselho de Redação e Diagramação e Composição Gráfica

Transcrevo aqui o que entre tantos outros que o homenagearam no WhatsApp da  CEPABrasil, o que escreveu Ademar Chioro:

” Estou triste e muito mexido com a notícia. Eugenio Lara é um querido amigo, com quem convivi intensamente desde a juventude. Foi um líder desde o movimento de mocidades espíritas. Um intelectual espírita, laico, livre-pensador, humanista (seu livro é uma pérola), progressista Arquiteto de formação, jornalista e designer gráfico por gosto e por competência. Produziu muito, e acho o site PENSE, em coautoria com José  Rodrigues, uma das suas mais importantes contribuições.

FOTO - Eugenio e Ademar participando de um painel no SBPE

Escrevia muito. Polemista. Irônico e provocador. Eu o chamava carinhosamente de o “Massaranduba” do espiritismo.

Parte muito precocemente. Vai fazer uma falta imensa. Na primeira fila será recepcionado por Jaci Regis e José Rodrigues. Parte um apaixonado pelo espiritismo. Um autêntico livre-pensador espírita.

Parte o primeiro dos fundadores e um dos mais ativos membros do CPDoc, ainda que andasse meio sumido nos últimos tempos.

Meu abraço amoroso, Eugenio. Até breve!!”

SBPEs

Eugenio participou de todas as edições do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, ele as vezes nem se inscrevia, mas aparecia por lá, adorava uma resenha, ficar próximo ao cafezinho discutindo o espiritismo.

Foto - Eugenio, Ivon Régis, Nazareth e Antonio Ventura em frente à sede do ICKS

Apresentou muitos trabalhos que terminavam em livros publicados ou em formato de ebook.

O ICKS está buscando textos publicados no Abertura e disponibilizando no blog do ICKS - https://icksantos.blogspot.com/; para consultar basta ir a MARCADORES e selecionar Artigos de Eugenio Lara.

Veja abaixo:



Numa das últimas vezes que conversamos pessoalmente, Eugenio disse que sentia falta dos artigos de folego, ou seja, aqueles artigos de duas páginas, as centrais, ainda no tempo do Abertura em papel jornal e formato tradicional.

Bem, esta despedida ocupa duas páginas, uma homenagem a ele, pela sua dedicação ao estudo e pesquisa do espiritismo. Ele era extremamente Kardecista. Vamos sentir muita falta deste nosso amigo.

Alexandre Cardia Machado


Artigo publicado no Jornal ABERTURA de julho de 2024.
Quer ler o jornal completo:



 

 

quarta-feira, 10 de julho de 2024

A AUTONOMIA FRENTE AS DETERMINAÇÕES - por Ricardo de Morais Nunes

 

A AUTONOMIA FRENTE AS DETERMINAÇÕES

A questão da autonomia e da heteronomia, muito discutida no movimento espírita da atualidade, deve ser colocada em justos termos, sob pena de incidirmos em análises simplistas do tema. É certo que Kardec afirma que “sem o livre-arbítrio o homem seria máquina”, porém esse homem livre não é tão livre como parece.

O ser humano está submetido a inúmeros condicionamentos de caráter social, biológico, econômico, ideológico, geográfico, cultural, familiar, enfim a inúmeros fatores que pressionam sua subjetividade, constituindo- lhe o eu, sem que na maioria das vezes tenha percepção desse fato, pois tais fatores, em geral, incidem em nível inconsciente. Se levarmos em conta, ainda, que nossa individualidade espiritual reveste inúmeras personalidades históricas, no tempo e no espaço, tal situação  se agrava.

Porém, é possível que o ser humano adquira consciência das determinações, as constate e as supere, claro que sempre em certa medida, pois há determinações, em tese, insuperáveis.

 Nesse sentido, negar que há uma esfera de liberdade frente as determinações certamente é um exagero que deve ser evitado, pois diferentemente dos animais o ser humano produz cultura e é dotado de perfectibilidade. E na perfectibilidade está a possibilidade do novo, da criação, do inédito.

O espiritismo, portanto, acerta quando afirma a perfectibilidade do espírito humano e o livre-arbítrio. O ser humano não está preso à natureza como os animais irracionais que repetem ao infinito os mesmos padrões de comportamento. Não é o caso de entrar aqui, para as finalidades desse artigo, na tese aceita por muitos estudiosos espíritas, de que um dia o princípio espiritual dos animais também entrará na esfera da liberdade e da consciência.

 Segundo o espiritismo, na medida em que desenvolvermos nossa perfectibilidade, enquanto seres humanos, através das reencarnações sucessivas, iremos ampliando nosso grau de liberdade ante os determinismos mesmo que esse aperfeiçoamento demore eternidades.

 O ser humano, para o espiritismo, portanto, é perfectível. Pode, através do pensamento crítico e do autoexame de si mesmo ir, em certa medida, além das determinações que o fazem pensar e ser de uma determinada maneira. Nesse procedimento reside a real autonomia, como capacidade de governar-se por si mesmo.

 Nas sociedades de todos os tempos a heteronomia, como norma exterior a induzir o comportamento humano, sempre foi muito presente. Desde as sociedades religiosas do passado às sociedades capitalistas de nosso tempo, sempre há aqueles que nos dizem o que pensar, o que fazer, como viver, como agir.

O ser humano autônomo é aquele que consegue dizer um não consciente às influências externas indo ao encontro de si mesmo. É fácil? Claro que não. Primeiro, porque é muito difícil constatarmos os condicionamentos que nos aprisionam muitas vezes de forma inconsciente. Segundo, porque nadar contra a maré das ideias e comportamentos padronizados já produziu o afogamento existencial de muitos. Mas, não há outro jeito, a autonomia é também um fator de libertação e de felicidade pessoal.

Claro que a autonomia pressupõe a responsabilidade pessoal perante o outro, o ser si mesmo autônomo leva em conta essa responsabilidade. Autonomia não é arbitrariedade, não é individualismo, nem egocentrismo, não é fazer o que se quer sem levar em conta os efeitos da ação praticada sobre o outro.

Como disse no início desse artigo o tema autonomia é muito discutido hoje no movimento espírita, o que é muito positivo. Precisamos, porém, ter cuidado para termos uma abordagem madura sobre o tema, sem menosprezarmos a força poderosa das inúmeras determinações que nos fazem agir, frequentemente, conforme o padrão aceito pela maioria.

Na verdade, o comportamento heterônomo da massa é a regra, sendo a autonomia a exceção. A autonomia relativa neste mundo é uma conquista, talvez seja a mais difícil empreitada a ser realizada pelo ser humano.

Ricardo Nunes


 E a autonomia verdadeira se reveste de um caráter prático, que diz respeito à ação no mundo, o que dificulta ainda mais a sua realização. Em geral, o mundo não aceita muito bem as personalidades que afirmam sua autonomia de pensar e agir.

 Este artigo foi publicado no Jornal Abertura de março de 2024, queres ler o jornal Completo?

Baixe aqui: 

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/42-jornal-abertura-2024?download=293:jornal-abertura-marco-de-2024

O artigo foi publicado no jornal Catalão - FLAMA ESPIRITA 193 em Julho de 2024.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

70 anos do Lar Veneranda - por redação

 

70 anos do Lar Veneranda

O ICKS, desde sua criação em 1999 até 2022 esteve ligado umbilicalmente com a Comunidade Espírita Lar Veneranda, que nesta data de 3 de outubro de 1999, transferiu a LICESP ao recém-criado Instituto Cultural Kardecista de Santos. Durante este período a instancia maior do ICKS era o Conselho de Administração do Lar Veneranda.

Como o Lar Veneranda decidiu agilizar a sua gestão, extinguindo o Conselho de Administração, tivemos, o ICKS que emancipar-nos totalmente. Mas temos uma gratidão e uma ligação espiritual com esta casa, que nos abriga. Mantemos uma sala no Lar Veneranda.

Nossa homenagem ao Lar, como podemos dizer é, portanto, de coração e alma.

Não há melhor exemplo de compartilhamento do que o existente entre a CAELV e o ICKS.

Um pouco da história desta instituição importante Espírita da Baixada Santista



sábado, 15 de junho de 2024

Problemas humanos - Liu Xiaobo - Prêmio Nobel da Paz de outubro de 2010 - por Jaci Régis

 

Problemas humanos - Liu Xiaobo

O parlamento norueguês decidiu atribuir ao chinês Liu Xiaobo  o Premio Nobel da Paz. A decisão causou revolta do governo chinês que mantém o ativista e dissidente preso por “crime de consciência”, quando o condenado é punido por ter idéias contrárias ao poder.





Liu Xiaobo ativista, autor de manifesto pedindo reformas democráticas na China, cumpre pena de prisão por  “incitar subversão”.

Governos totalitários odeiam dissensões e opiniões contrárias. Totalitarismo baseado em ideologia, como o chinês, comunista e ou teológico, como o Irã, detestam a liberdade de modo geral, da imprensa em particular.

Todos esses governos, como os de todas as ditaduras, são signatários da Declaração dos Direitos Humanos, da ONU.

Mas com medo de perder o controle rígido do poder, avançam, contra a liberdade de consciência

O regime chinês é repressor e ditatorial. Conseguiu, depois da Revolução Vermelha de Mão Tse Tung, tornar-se uma das mais importantes potencias econômicas da atualidade, com crescimento surpreendente da econômica. Isso foi conseguido pela abertura, ainda que parcial, às empresas particulares locais e internacionais.

O Espiritismo, temos repetido, é contra toda e qualquer idéia totalitária, as ditaduras e regimes teológicos, que cerceiam a liberdade.

Na América Latina houve um avanço de governos que se afirmam “socialista”, mas que atacam a liberdade de imprensa e criam situações conflitivas. No Brasil, o atual governo, em cujos quadros existe um grande contingente marxista ou pró-marxista, tenta criar empecilhos à liberdade de imprensa e não tem o menos pudor em abraçar ditadores e ditaduras.

Na Lei de Liberdade, inserta em O Livro dos Espíritos, temos a orientação básica.

 “No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como por lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo.”

““. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso.”

O parlamento dinamarquês ao consagrar o esforço e até a bravura do dissidente chinês, mostrou independência diante das ameaças do governo chinês, que tenta apresentar uma imagem positiva. O homenageado está em prisão e não poderá recebe o prêmio, nem provavelmente, terá sua pena revista. Isso feriria o orgulho do governo comunista chinês. Como todo regime totalitário quer que a China, apareça como um paraíso, mesmo sob o sangue de torturas, prisões e cerceamento da liberdade.

Texto originalmente publicado no Jornal Abertura de outubro de 2010, página 4.

Este foi o último artigo escrito e publicado no Abertura por Jaci Régis, não tem a sua assinatura, mas a Coluna  Problemas sociais e Políticos eram sempre escritas por ele. Jaci desencarnou em novembro de 2010.

 

 

O PAPEL DO ESPIRITISMO NO PROGRESSO- por Jaci Régis

 

O PAPEL DO ESPIRITISMO NO PROGRESSO

Na primeira parte de A Gênese, após dedicar  grande espaço para explicar os vários significados para a palavra revelação,  ele caracteriza o Espiritismo como uma  revelação cientifica, talvez porque insista que a doutrina baseia-se na observação dos fatos como fazem “as ciências positivas”.

Apesar disso, o Espiritismo é uma verdade revelada, tem inspiração divina “pois provem dos Espíritos”  como porta vozes de :Deus.



Em conseqüência, estabelece  o Espiritismo como a 3ª revelação, sucessora e reformadora do cristianismo, do evangelho, o Consolador Prometido, no sentido profético dado à missão de Jesus de Nazaré, dentro dos padrões criados pelo catolicismo.

Entretanto, na última parte do livro, tratando das mutações sociais que seriam promovidas no futuro, ele coloca  o Espiritismo como coadjuvante do processo evolutivo, no que, aliás, estava muito certo.  

“O Espiritismo não cria a renovação social”, afirma. Porque nenhuma instituição, movimento, ou pessoa, por si só, cria a renovação social. Ela se realiza em velocidades diferenciadas, acelerada, e forma desigual nas várias partes e civilizações, a partir da ruptura de algumas idéias cristalizadas, resultado complexo de ansiedades, decepções, sofrimentos e desilusões. Pois  são esses  fatores que mobilizam as mudanças, a busca de um novo sentido, um novo paradigma para a vida, nem sempre encontrado imediata ou mediatamente, demandando tempo de correção, reajuste e sofrendo o império de forças obscuras, desequilibradas, que se apresentam como escoadouro de frustrações apelando para a liberação sensual e  egoísta das pessoas.

 Quando, por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os temos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita.” afirma Kardec..

É difícil, na atualidade, caracterizar essa “humanidade”,  pois as diferenças entre os povos, religiões e regiões, descompassadas, desniveladas, não estabelece uma unidade para o amadurecimento indicado. O que temos são etapas desiguais na apreensão e necessidade do progresso, embora a globalização dos meios de comunicação, a tecnologia  e as interelações entre povos tenda a acelerar, ao longo do tempo, uma mistura de  aspirações a caminho de uma certa nivelação do progresso

Tudo isso nos leva a revisar os conceitos revelados atribuindo a decisão divina para as  etapas do progresso e fazendo-as acontecer através de mecanismos extraordinários ou formas puramente externas que promoveriam, talvez pelo medo, a renovação das coisas..

Na realidade geralmente o progresso se faz e as coisas vão mudando sem o aparato espetacular que se propagava. Processa-se a evolução natural, etapas por etapas, com mutações progressivas. As mutações são feitas numa lenta engrenagem que demanda paciência e apresenta surpresas, a despeito das contradições e resistências..

. No jogo de xadrez da evolução, a partir da premissa de que há um planejamento em longo prazo para a evolução da humanidade, os mentores cristãos e, possivelmente o próprio Jesus, sabiam que ressuscitar a igreja era impossível porque a transição que viria no século vinte abriria outras portas para o entendimento humano, com o surgimento da verdade investigada, libertando do jugo da verdade revelada como única via da verdade.

Nesse jogo,  o Espiritismo tem seu papel. O que se reservava, sobretudo, ao Espiritismo era o uso da mediunidade, a exploração do fenômeno mediúnico para a prova da imortalidade. “Iniciando a humanidade no mundo invisível, (o Espiritismo) mostra-lhe o seu verdadeiro papel espiritual, como no estado corporal. O homem já não caminha às cegas: sabe de onde vem, para onde vai e por que está na Terra. O futuro se lhe revela em sua realidade despojado dos prejuízos da ignorância e da superstição” afirma o fundador do Espiritismo.

Entretanto,  a análise que o Espiritismo faz desses fenômenos  têm  critérios diferenciados do cristianismo e outras denominações religiosas, como o islamismo,, budismo, hinduismo, todas comprometidas com a visão mística e contraditória, sobre o ser humano, a divindade e o objetivo da existência.

A visão espírita é específica e contrária, na essência, aos conceitos dessas religiões que dominam o cenário mundial, formatando a mente de milhões de pessoas, ao  longo de milênios.. Espiritismo poderia ter desempenhando esse novo papel,  mas o próprio Kardec teve dificuldades em definir uma linha independente ao pensamento católico na análise das realidades psicológicas e, evolutivas das pessoas.

Seguiu a regra de que a vontade e a determinação tudo resolvem e que as verdades estavam a disposição de todos e que a humanidade não seguiu porque as pessoas eram desobedientes, preguiçosas e más.

Na sociedade  atual, há um espaço cada vez maior para a fenomenologia mediúnica, dramatizada e estilizada em filmes, séries de tv e livros, com o surgimento de gurus, seitas e  movimentos pessoais, fora dos limites doutrinário do Espiritismo e se afirma como uma atividade cada vez mais urgente, isto é, a definição da dimensão extra corpórea do ser humano.

Infelizmente, esses fatos  têm sido analisados dentro da visão da verdade revelada das igrejas, religiões, de cunho cristão ou não. Então, usa-se o fenômeno para ressuscitar o velho paradigma do catolicismo  do bem e do mal, do demônio e dos anjos, da culpa e do castigo, da impotência do ser humano, da ascendência irracional do divino sobre a pessoa e a aplicação de forças ocultas determinando o destino de cada um.

Essa é uma etapa que ainda deverá ser vencida para que a compreensão mais clara do porquê da vida, da intervenção divina, nos permita vislumbrar o prazer e a felicidade a ser construída, sem apelos à regeneração, á salvação, mas como afirma Kardec que o ser humano reconheça que “do que ele é hoje, qual se fez a si mesmo, poderá deduzir o que virá a ser um dia

 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Fato Espíria - Inteligência e Simplicidade por Eugenio Lara

Fato Espíria - Inteligência e Simplicidade

Eugenio Lara

NR: uma homenagem a Eugenio Lara

Há pessoas que são espíritas sem que tenham consciência disso. Pensam, sentem e vivenciam ideias e valores que muitos militantes espíritas “velhos de guerra” nem imaginam como fazê-lo, mergulhados que estão em seu próprio egoísmo. Normalmente, esse fenômeno acontece e mostra-se com mais evidência em pessoas que não tiveram, na atual existência, a oportunidade de se instruir, de aprimorar a inteligência através do estudo.



No processo evolutivo, o homem humilde, mas de bom coração, que não teve acesso ao estudo nessa vida, pode estar bem mais perto da perfeição relativa do que o sujeito extremamente intelectualizado, com um quociente de inteligência (Q.I.) altíssimo, mas que se mostra insensível e fechado em si mesmo, quando se trata de abrir seu coração para o outro.

Realmente, o Espiritismo é bem esclarecedor nesse aspecto. Afirmam os espíritos que “o homem simples, mas sincero, está mais adiantado no caminho de Deus do que aquele que aparenta o que não é.” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, q. 828-a). A arrogância, o despeito e a vaidade tomam conta de suas atitudes, de seu comportamento que, visto sob o ponto de vista moral, mostra-se ridículo e patético. É o que Deolindo Amorim (1906-1984) chama de falsa cultura: “é exibicionista, mas a verdadeira cultura é temperada pela humildade, sem exagero, sem atitudes impressionantes.” (Evangelho e Cultura, em Ideias e Reminiscências Espíritas, Ed. Inst. Maria)

Todas as pompas e trejeitos sofisticados não fazem do homem culto e intelectualizado um verdadeiro homem de bem. Isso não significa, contudo, que devido a esse fato, tenhamos de valorizar a ignorância em detrimento do desenvolvimento intelectual. Como diz Deolindo Amorim no mesmo artigo citado: “ao invés de provocar o orgulho ou a empáfia, como tantas e tantas vezes se diz, a verdadeira cultura cria condições íntimas para a humildade, mas a humildade raciocinada e não a humildade convencional, que encobre a presunção recalcada”.

O Espiritismo nos ensina que o progresso intelectual é incessante, permanente e antecede ao progresso moral. É que o desenvolvimento da inteligência, da razão, abre portas para o desenvolvimento moral. Através do livre-arbítrio o ser humano delibera, exercita seu intelecto e cria situações, dilemas, promove conflitos que exigem decisões, definindo assim caminhos e escolhas morais.

Sem inteligência não há razão. E sem raciocínio não há livre-arbítrio. Não dá para pensar em ética, moral e valores sem a existência do livre-arbítrio. Não há o bem, nem o mal. Haveria apenas um ser que age sem consciência moral, ou o que é pior, age imaginando que está agindo com consciência, mas que, na prática, age como um animal, ainda mergulhado no estado natural.

Na verdade, os maiores obstáculos ao pleno desenvolvimento intelecto-moral são o egoísmo e a vaidade. Enquanto o sujeito permanecer bem no alto do pedestal de sua arrogância, não perceberá o quanto ainda tem que aprender. A sensação de superioridade intelectual ofusca a necessidade interna de progresso. É o sabe-tudo, o metido a sabichão, que não percebe o quanto ainda terá de caminhar para ser considerado um homem sábio.

A propósito, o exemplo do grande filósofo grego Sócrates (469 a.C. - 399 a.C) vem bem a calhar. Quando seu amigo Querefonte disse-lhe que para o Oráculo de Delfos, ele era o homem mais sábio de Atenas, mostrou-se surpreso: “Como posso ser o homem mais sábio de Atenas quando sei tão pouco?” Ao invés de se sentir o “special man”, o “number one” e tirar proveito disso, apenas dizia: “só sei que nada sei”. Essa atitude de humildade, oriunda do autoconhecimento, levou o grande filósofo a um permanente questionamento, à incessante busca da verdade, a se colocar sempre à disposição para debater suas ideias.

Deolindo Amorim tem, portanto, toda a razão quando afirma que “quanto mais culta é a criatura humana, mais humilde ela se torna, porque sabe, e não é mais necessário que alguém lhe diga, que o legítimo conhecimento só tem proveito para o espírito quando não se deixa influenciar pela vaidade, pela arrogância, pelo egoísmo”.

 

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico e autor do livro Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita.

Artigo publicado em setembro de 2013 no Jornal Abertura

domingo, 9 de junho de 2024

Jornal ABERTURA de junho 2024 online

 Jornal ABERTURA de junho 2024 online



                                                Jornal ABERTURA de junho 2024 online

Esta edição com 11 páginas, cobre três pontos importantes: 24° Congresso da CEPA em Porto Rico, os 70 anos da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e a tragédia no Rio Grande do Sul. E um jornal que está muito bonito!

Baixe aqui: https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/42-jornal-abertura-2024?download=306:jornal-abertura-junho-de-2024


sexta-feira, 7 de junho de 2024

Encanto, Desencanto e Inquietude - por Eugenio Lara

                             Encanto, Desencanto e Inquietude

 

Eugenio Lara

Nota da redação: Eugenio volta ao mundo dos Espíritos neste 7 de junho de 2024

 



De vez em quando surge em mim, de modo insidioso, um certo sentimento de desinteresse pelo Espiritismo, dentre outras coisas da vida. E sempre fico a me perguntar se é algo passageiro ou permanente, ainda que, no caso, tal sentimento carregue consigo uma razoável dose de desencanto.

Sim, desencanto, talvez seja essa a palavra mais exata, no momento, para definir o que há muito tempo sinto em relação ao Espiritismo. Não chega a ser decepção. Mas, do desencantamento à desilusão, à decepção é um pulo, um mero suspiro.

Todavia, a decepção pode permear os sentidos, o pensamento. Fico então a me perguntar, de modo metafórico: eu falhei com o Espiritismo ou foi o Espiritismo que falhou comigo?

Falsa questão, mas que, em termos poéticos, simbólicos, traduz um certo sentido.

Afinal, que é o Espiritismo senão um movimento social formado por pessoas, por seres humanos encarnados e desencarnados que te inserem numa situação natural de (con)vivência e vicissitude moral, interpessoal?

Por melhor que seja, nenhum ideário jamais será o suficiente para se moldar um laço duradouro, um elo, unir determinado grupo apenas pela comunhão de princípios e objetivos. Há fatores emocionais envolvidos que sempre devem ser considerados. Boas ideias com pessoas sem boa vontade, ambiciosas e de mau caráter não dão certo, não florescem, ainda que estas pessoas sejam aparentemente eficientes no que fazem. É a tal da figueira estéril da parábola evangélica.

Por conta disso, a decepção pode estar sempre presente, como a Espada de Dâmocles sobre nossa cabeça. Porém, há algo que se sobrepõe a tal circunstância: a ternura e a convicção.

Minha inserção no Espiritismo não perdura por fatores interpessoais, mas, sobretudo, por uma forte convicção filosófica, firmada em um tempo de estudo, experiência e leitura, difícil de se mensurar. Não foi da noite pro dia. Isso não significa que não possa sofrer turbulências e abalos sísmicos. Enquanto que a ternura pelo Espiritismo ainda é a mesma, desde o início, como aquele amor à primeira vista, sincero e inocente, que nunca será esquecido, mas que um dia pode acabar, como a paixão fugaz, passageira.

O desencanto é passageiro, fugidio, tanto quanto o próprio encanto, que se não for controlado, trabalhado pode redundar no fanatismo, em posturas fundamentalistas, dogmáticas e sectárias. O encanto desmedido, quando desmorona e se desvanece, quase sempre vira desilusão.

Porque o que sobra mesmo é o senso de dever, o profundo sentir, a paixão permanente, mesmo que adormecida. Pelas ideias. Por um ideal. Por uma forma de ser e estar no mundo que seja ao mesmo tempo livre e sensata, na busca da plenitude inalcançável, ainda que possível, porque o Espiritismo é também uma utopia.

“Lógica, razão e bom senso”, o pálio trinário de Allan Kardec, era sua bússola, a Pedra de Toque. Como os povos celtas, ele gostava do número três: “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” também foi seu lema. Sob o ponto de vista intelectual e ético, a referência kardequiana ainda é o melhor antídoto contra qualquer tipo de desencanto, desânimo, de distorção doutrinária ou traição aos princípios nucleares da Filosofia Espírita.

Raramente escrevo em primeira pessoa, no entanto, creio que o momento exige, por isso compartilho com os leitores deste Opinião minha relação aparentemente conflitante e angustiada com a filosofia espírita. A angústia aí é aquele sentimento de algo inacabado, não conhecido. Não se trata daquela ansiedade pueril, incômoda e desagradável, mas, antes de tudo, de uma sinistra inquietude, que o Espiritismo provoca em nós de modo permanente, na medida em que nele adentramos.

Essa inquietude pode e deve ser o motor de propulsão, o estímulo permanente no manejo da ideia espírita, nem sempre tratada pelos próprios espíritas com o devido respeito, seriedade e profundidade que ela exige e merece.

Olho: O que sobra mesmo é o senso de dever, o profundo sentir, a paixão permanente, mesmo que adormecida. Pelas ideias. Por um ideal. Por uma forma de ser e estar no mundo. O Espiritismo é também uma utopia.

 

Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, é membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) e autor, dentre outros livros, de Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita - este artigo foi enviado em 2018 aoRedator do jornal Opiniãodo CCEPA e não foi publicado. Milton Medran disonibilizou nesta data 7/06/2024.
Milton Medran, esclarece as razões de não publicar, pois sendo o jornal Opinião um órgão de divulgação da Doutrina Espírita este "desabafo" que poderia ser temporário, não devia ser publicado naquele momento. " Mas acho que a refexão é totalmente apropriada para ser inseriada neste grupo de Whatssap, de pensadores maduros". 
NR: Como nosso blog só é acessado por pessoas que tem maturidade acreditamos que esta"despedida" deveria ser publicada.






segunda-feira, 3 de junho de 2024

18° Fórum Espírita Livre Pensar da Baixada Santista - abril 2024

 

18° Fórum Espírita Livre Pensar da Baixada Santista

Ocorreu com bastante participação das casas espíritas ligada à CEPA a décima oitava edição, no sábado 20 de abril, com o tema: Reflexões Sobre a Paz. Nossos Fóruns sempre são realizados próximo do dia 18 de abril. Este ano estamos comemorando 167 anos do lançamento da primeira edição do Livro dos Espíritos, que ocorreu em Paris no dia 18 de abril de 1857.


Assista em video um resumo:


                                         https://youtu.be/AVYWhfozIyE?si=oLObyaVkpzJi7rhA 



Nos reunimos nas dependências do CEBAP – Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado. Estiveram presentes mais de 80 pessoas.

O evento constou de uma abertura feita pelo presidente do CEBAP Jaílson Mendonça e também coordenador do evento que convidou a nos brindar com algumas palavras a Presidente da CEPA – Associação Espírita Internacional – Jacira Jacinto da Silva e também o Presidente da CEPABrasil Ricardo de Moraes Nunes.


                            Ricardo Nunes, Jaílson Mendonça, Jacira Jacinto da Silva e Mauro Spinola

 A seguir tivemos a apresentação da Camerata Violões Manzione.


                                                        Camerata Violões Manzione

Inicialmente os participantes foram divididos em grupos, em oficinas, para refletir sobre a paz sobre a ótica espírita, quatro grupos receberam duas pergunta em comum e uma distintas. Foram 30 minutos de discussão, seguido das apresentações no auditório.

Na segunda parte, tivemos a presença de um convidado, Eduardo Valério que veio especialmente de São Paulo para conversar e refletir conosco sobre este tema.


                                                                        Eduardo Valério

Ao término foi oferecido um lanche a todos, com muita confraternização entre os presentes. Em paralelo havia duas bancadas, uma para venda de artesanato pelo CEBAP e outra para venda de livros espíritas pelo ICKS.


                                                            Cláudia Régis Machado

 Este artigo foi publicado no Jornal Abertura de maio de 2024.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/42-jornal-abertura-2024?download=302:jornal-abertura-maio-de-2024