quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O controle da opinião pública e o livre-arbítrio - por Roberto Rufo e Silva

 

O controle da opinião pública e o livre-arbítrio.

 

"A justiça só pode ser obtida por meio de confrontos violentos". (Benito Mussolini).

 

"O conceito de marxismo pertence à história da religião organizada. É um tipo de adoração de um indivíduo que não faz sentido". (Noam Chomsky - Roda Viva 1996).

 

 

Há dois livros interessantes na praça que merecem ser lidos pois na verdade nos alertam contra alguns perigos dos dias atuais, pois almejam o controle da opinião pública. Um deles do escritor italiano Giuliano da Empoli de nome "Os Engenheiros do Caos" que alerta como as fake News, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. O outro livro de nome "Fascismo - Um Alerta" da ex-Secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright. No livro ela nos avisa do perigo do retorno ao confronto entre democracia e fascismo, uma luta que criou incertezas sobre a sobrevivência da liberdade e que levou à morte milhões de pessoas.

 

E agora como denunciou muito bem o documentário O Dilema das Redes temos a busca incessante por lucros dos gigantes da tecnologia e que acabou transformando ferramentas capazes de aproximar pessoas em uma ameaça em várias frentes, da sanidade mental dos jovens à democracia.

 

Por trás de tudo isso está um sonho antigo de religiões e ideologias de massa, que é controlar a opinião pública através da hegemonia cultural.

 

O homem tem o livre-arbítrio dos seus atos interroga Kardec aos espíritos na questão 843 do Livro dos Espíritos. "Visto que ele tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem livre-arbítrio o homem seria uma máquina" respondem os espíritos. Premissa: liberdade de pensar. Esse é o dilema atual, quando a minha liberdade de pensar está ameaçada pelos algoritmos ou por alucinados produzindo fake news nas redes sociais.

 

Na eleição de 2016 entre Donald Trump e Hillary Clinton, correligionários do bufão Trump colocaram nas redes sociais que a candidata Hillary era pedófila e arregimentava crianças numa pizzaria de Washington. Até ela solicitar à justiça a retirada da infâmia das redes sociais milhões já tinham lido a fake news, sendo que um senhor indignado, munido de um fuzil, desferiu vários tiros contra a pizzaria. 

 

Na pergunta 837 Kardec pergunta qual o resultado dos entraves postos à liberdade de consciência. "Constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso".

 

Premissas: civilização e progresso.

 

Leandro Karnal escreve que o mundo do século XXI é o das redes sociais e que controlar a opinião pública já era importante na Roma Republicana. Hoje é central em qualquer projeto político. A luta insana entre esquerda e direita sob os mais variados motivos é uma luta pelo controle político e mental das pessoas. A democracia liberal pouco vale para ambos os lados. O que interessa é a obtenção da hegemonia cultural. Para o Espiritismo a democracia liberal é condição imprescindível para o desenvolvimento do livre arbítrio. Confiemos que segundo a doutrina espírita não há arrastamento irresistível.

                                                                                                                                                         

Roberto Rufo é bacharel em Filosofia e reside em Santos, artigo publicado no Jornal Abertura de outubro de 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Enfim as vacinas - por Alexandre Cardia Machado

 

Enfim as vacinas

Não há como negar a esperança que todos temos na chegada rápida das vacinas ante Covid-19, existem diversas vacinas em fases avançadas, sendo testadas no mundo todo.

Passamos neste momento por aquilo que Allan Kardec denominou de flagelo, está nas questões 737 a 741 do Livro dos Espíritos, as apresento aqui adaptadas para melhor encadeamento com o tema proposto.

Os espíritos e as notas de Kardec nos orientam no seguinte sentido:

·         Os transtornos que estes flagelos nos causam frequentemente são necessários para nos fazer alcançar uma ordem melhor de coisas - causa ou consequência, de fato é o que ocorre, vacinas, antibióticos são e foram desenvolvidos para combater alguns destes males.

·         Os espíritos são anteriores e serão posteriores e sobreviverão a isto tudo – claro que isso não reduz a dor pelas perdas, mas ao menos temos a consciência de que somos espíritos imortais.

·         Kardec nos recorda que “se pudéssemos nos elevar, pelo pensamento, de maneira a dominar a humanidade e  abrange-la inteiramente, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais que tempestades passageiras no destino do mundo – estamos no meio do furação e não conseguimos e nem nos conformamos em pensar assim, mas a humanidade superará mais esta pandemia.

·         “os flagelos são provas que fornecem ao homem ocasião de exercitar suas inteligências ...” – esta talvez a contribuição mais importante, não queremos aqui discutir se a palavra “prova” seria ainda adequada para o mundo do século XXI, mas certamente sairemos com novas estratégias de combate a pandemias virais – serão investidos mais recursos em pesquisas, hábitos mudarão pois, vivemos num mundo de alta contaminação.

·         Kardec comenta que: “Mas o homem não encontrou na ciência, ..., no estudo das condições de higiênicas, os meios de neutralizar, ou pelo menos atenuar, os desastres?” – é o que estamos presenciando, milhares de pesquisadores buscando uma vacina, testando antivirais capazes de mitigar o problema.

O que de fato se está fazendo para vacinar o planeta contra o COVID-19?

Mesmo com um vírus como este, o financiamento é limitado, em parte porque os humanos têm a memória fraca e reagimos apenas a estímulos urgentes, segundo o Dr. Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina do Hospital Monte Sinai, em Nova York.   A última pandemia H1N1 surgiu em 2009 e acabou sendo muito menos patogênica do que se esperava. Assim boa parte dos jovens cientistas que investigaram aquele vírus não tinha nem nascido quando aconteceu a pandemia anterior, em 1968. E só houve duas outras grandes pandemias de gripe no século XX: a de 1957, que matou um milhão de pessoas, e a gripe Espanhola que matou 50 milhões em 1918, logo após a primeira grande guerra.

Ou seja, um dos pontos que Allan Kardec nos chamou a atenção acaba por esbarrar na dificuldade de recursos, não à toa que os governos estão investindo, na correria, muito dinheiro para que instalações de pesquisa possam desenvolver estas vacinas.

Até agora sabíamos da existência de cinco tipos de corona vírus humanos. Se você se infectar, desenvolve anticorpos neutralizantes. A imunidade não dura a vida toda, mas, se você se infectar de novo, os sintomas serão muito mais leves ou inclusive não os terá. Em 2003 apareceu um novo corona vírus muito mais letal que os anteriores, o da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês). Dele sabemos que os infectados desenvolveram anticorpos e que estes duraram bastante tempo, até 13 anos.  

Novamente em 2013, no Oriente Médio, um novo surto, associado ao morcego e aos camelos, causou uma epidemia, que matou cerca de 2000 pessoas na Arábia Saudita, foi parcialmente contido até reaparecer na Coreia do Sul em 2005, onde o governo local implantou uma forte quarentena e conseguiu contê-lo novamente.

O Covid-19 é bem parecido, o que nos permite pensar que algumas pessoas que não estão pegando o vírus, possam ter tido contato com algum dos cinco vírus anteriormente citados e, portanto, sendo capazes de combatê-los através dos linfócitos T.

Mas o risco levantado pela comunidade médica em 2005 não resultou no desenvolvimento de vacinas. No artigo que encontrei em casa, publicado na revista mexicana Muy Interesante, de 2015, reportava uma vacina que estaria sendo projetada na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, na Alemanha, fui atrás e encontrei o seguinte:

O candidato vacinal MVA-SARS-S

Em 2014, junto com DZIF, a universidade começou desenvolver uma vacina contra o corona vírus de SARS à vista das manifestações maiores do vírus. A vacina é baseada em um vírus atenuado (MVA: vírus alterado Ancara da varíola bovina), que tinha sido usado previamente em uma campanha da vacinação da erradicação da varíola e tem sido alterado agora para conter componentes de proteína do Corona vírus de SARS. Esta vacina vector-baseada de recombinação, assim chamada, denominada cientificamente MVA-SARS-S para breve, deve impulsionar a imunidade contra corona vírus de SARS.

Já o prof. Gerd Sutter da Universidade de Ludwig-Maximilians de Munique desenvolveu esta vacina em colaboração com a universidade de Philipps de Marburg e do centro médico Rotterdam do Erasmus. O vector de MVA serve agora como base para desenvolver uma vacina contra SARS-CoV-2 (COVID-19), o novo corona vírus.

Como o impacto deste novo corona vírus foi muito maior que os anteriores, agora, finalmente sairá do laboratório.

Como podemos ver a restrição de recursos, muitas vezes nos impede de desenvolver soluções mais rápidas, guerras, ou pandemias permitem alavancar este avanço. Não sem um imenso custo em vidas humanas, infelizmente. “Os transtornos que estes flagelos nos causam frequentemente são necessários para nos fazer alcançar uma ordem melhor de coisas” – que ao menos isto consigamos fazer desta vez.

Temos no Brasil, vacinas chinesas, inglesas e americanas em teste, os russos comunicam que já em outubro poderão começar a vacinar a sua população. Vamos sair desta situação ruim em que nos encontramos, contamos que os órgãos de saúde internacional fiquem mais alertas daqui para a frente e que os recursos não venham a faltar.

Testar estas vacinas não é motivo de orgulho e sim a constatação de que Brasil, México e Estados Unidos, que são os países que estão sendo alvos dos testes simplesmente pelo fato de que o vírus estar amplamente disseminado entre nós.

Alexandre Cardia Machado, editorial Abertura agosto 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A doença do racismo persiste, mas não é incurável! - por Roberto Rufo e Silva

 

                                      A doença do racismo persiste, mas não é incurável!

“Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”  (Nelson Mandela)

Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um Advogado(reconhecido pela OAB em 2015), orador, jornalista, escritor brasileiro e considerado o Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Em 21 de Junho de 2020 fez 190 anos do seu nascimento em Salvador na Bahia. Faleceu em 1882 na cidade de São Paulo aos 52 anos de idade.Recomendo uma leitura atenta da biografia desse admirável brasileiro e de sua luta pelos direitos dos negros no nosso país.

Num de seus poemas Luiz Gama escreve "em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade".

Esse poema é um manifesto que revela a inquietude e a sua luta contra o racismo. Luiz Gama sem dúvida é um dos maiores abolicionistas da história brasileira. Lembrei-me de sua história e circunstâncias ao assistir ao em pleno século XXI a cena deplorável do senhor George Floyd sendo barbaramente assassinado por um policial branco nos EUA.

 Num artigo muito interessante escrito na revista Carta Capital o psicólogo, educador e um dos idealizadores do movimento de espíritas pelos direitos humanos Franklin Félix reafirma algo que deveríamos saber e praticar cotidianamente. Diz ele que "nós espíritas temos a obrigação moral de lutar contra todas as formas de opressão, em especial aquelas oriundas de raça e cor". O nome que ele dá ao seu artigo é na verdade uma convocação a todos aqueles que têm voz no movimento espírita, e que de alguma forma poderiam se fazer representar nos meios de comunicação. 

Nome do artigo : " O Espiritismo precisa se afirmar antirracista".

No Livro dos Espíritos em sua questão 803 Kardec indaga se todos os seres humanos são iguais perante Deus? Respondem os espíritos: "sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Dizeis frequentemente que o sol brilha para todos e com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais". Dessa frase deveria advir para todos nós uma postura antirracista, condenando veementemente qualquer tipo de preconceito, a começar reprimindo aquelas brincadeirinhas ou piadas idiotas envolvendo o povo negro. O Brasil foi o país que mais demorou para abolir a escravidão. Foram 350 anos de infâmia. O mínimo que nós brancos devemos ao povo negro é um pedido de desculpas.

Voltemo ao Livro dos Espíritos agora na pergunta 636 - São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal? "A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade. 

Em resumo, nunca houve época na história da humanidade que a escravidão pudesse ser considerada "normal", ou  "aceita" socialmente. Nem tampouco admitirmos que conceitos pseudo-científicos sejam incorporados ao corpo teórico espírita ou utilizados como ferramentas de análise da vida em sociedade.

O articulista Franklin Félix relembra o triste episódio do racismo localizado de Allan Kardec que deve nos prevenir contra quaisquer ideias que não trazem a inclusão das pessoas com todas as suas peculiaridades. Ele se refere a um artigo publicado na Revista Espírita em 1862 "Frenologia Espírita e a perfectibilidade da raça negra" e outro texto constante em Obras Póstumas denominado "Teoria da beleza". Em ambos Kardec pisou na bola.

São equívocos que a meu ver não transformam Kardec num ser humano racista, mesmo porque a questão da igualdade na teoria espírita foi plenamente abordada por Kardec e de uma forma bem avançada para a época. O Espiritismo é uma doutrina isenta de preconceitos em seus conceitos principais. Mas todo cuidado é pouco. Por isso,repito,  a postura antirracista deve ser uma norma de conduta. Segundo Franklin Félix, numa frase muito interessante de se refletir, Kardec não era racista, mas Kardec foi racista!

Vejo no mundo de hoje com muita felicidade a participação de um grande número de jovens envolvidos e comprometidos em várias causas sociais, seja em defesa do meio ambiente ou pleiteando acertadamente uma revisão de muitos contextos históricos que possuem uma dimensão nitidamente antissocial. Inclusive com a derrubada de estátuas homenageando títeres da história. Fiquei particularmente feliz com a queda da estátua do pusilânime Rei Leopoldo II da Bélgica, se espatifando no chão. Esse genocida participou da colonização do Congo Belga, e foi diretamente responsável por milhares de assassinatos. E ainda diziam que ele estava levando a civilização à África.

Jaci Regis sempre dizia que o espiritismo tinha como guia moral Jesus de Nazaré e não o Jesus Cristo que foi sequestrado pelos templos, igrejas e muitos centros espíritas. Jesus de Nazaré concebido de uma relação sexual normal, nascido de parto natural, um espírito evoluído que ensinou sempre o amor ao próximo e a igualdade de direitos entre os seres humanos como razão para se viver em sociedade e evoluir.

Publicado no Jornal Abertura - junho de 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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