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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Um texto sem nome - Ciro Pirondi


Um texto sem nome

Ciro Pirondi


foto: Palmyra Régis, Regina Celi, Ciro Pirondi, Reinaldo de Lucia, Cláudia Régis e Alexandre Machado no CEAK - Santos

Quando compreendemos a complexidade – simples do Espiritismo, e a dimensão real da itinerância das existências, sentimos que o mundo nos basta. E o presente, a eternidade que nos satisfaz.

Não corremos atrás de um Deus, mesmo que ele exista. Não sofremos pela salvação, mesmo porque, ela não é necessária.

Como sopra o espírito dos evangelhos, não nos inquietamos com o dia seguinte, pois o amanhã se inquietará consigo mesmo. Basta a cada dia seu próprio penar.

No cotidiano percebemos a razão de André Sponville ser a generosidade uma força e vitória, porque ficamos mais leves, simples e gentis. Menos tolerantes com as injustiças, principalmente as coletivas e sociais, como a de Paraisópolis.

Libertando-nos dos anseios de eternidade e nos satisfazendo com o presente, nos tornamos mais humanos, mais fortes e doces. Talvez mais eternos.

Não se trata de dar lição a ninguém, mas ajudar a cada um a ser seu próprio mestre e seu único juiz.
Aceitar a distância entre o que sabemos e não sabemos, e termos a sabedoria de nossa ignorância é a condição básica para aprendizagem. Os que sabem já não necessitam aprender e os que dizem nada saber negam suas memórias, suas vidas.

Este breve texto sem nome, fala um pouco dessas minhas inquietudes. Animei-me a escrevê-lo quando li sobre os Cadernos de Cultura que Jaci e eu inventamos. Talvez pense em editar um outro, sem título ou tema, apenas convidando amigos a escreverem sobre suas reflexões.

Afinal aqui estamos neste belo mundo, em um país temporariamente na escuridão, onde nenhuma pessoa com bom senso pode se sentir confortável. Talvez só nos reste resistir, intuir algo novo, acreditarmos na beleza, na leveza e nos poetas, “antenas da raça”.

Ciro Pirondi é arquiteto e reside em Mogi das Cruzes

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 24 de junho de 2019

42 Anos da Lei do Divórcio e o que mudou na sociedade brasileira - por Roberto Rufo


42 Anos da Lei do Divórcio e o que mudou na sociedade brasileira

"Há pessoas que se casam em comunhão de male ". Luís Fernando Veríssimo.

      Situação atual

Um em cada três casamentos no Brasil termina em separação, revela o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são um reflexo das facilidades de dissolução desse tipo de sociedade trazidas pela Lei do Divórcio (nº 6.515/77), que completará 42 anos no país em dezembro de 2019.
As últimas Estatísticas do Registro Civil do IBGE mostram que o Brasil registrou 1.095.535 casamentos civis em 2016. No mesmo período, foram registrados 344.526 divórcios em 1ª instância ou por escrituras extrajudiciais, um aumento de 4,7% em relação a 2015. 
Na comparação com os dados de 1984, quando houve 93.384 pedidos de divórcio, o crescimento do número de separações nesta modalidade é de mais de 30%.
Os dados apontam uma grande mudança em quatro décadas. "Antes da Lei do Divórcio, o casamento era pautado pelo vínculo indissolúvel. As pessoas casavam e ficavam atadas até o fim da vida a essa relação", relata o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família em São Paulo (IBDFAM-SP), João Aguirre, professor e especialista em Direito Processual Civil.
 Aguirre lembra que antes a lei fechava os olhos para a realidade social. "Tem casamento que não chega até o fim da vida, mas a lei só permitia o desquite. A pessoa não podia se casar de novo. O divórcio foi uma luta de muitos anos no Brasil", conta o professor.
Uma análise espírita em 1958
Evolução em Dois Mundos é um livro espírita, psicografado pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, com autoria atribuída ao espírito André Luiz. Publicado pela Federação Espírita Brasileira no ano de 1958.   
Abaixo um texto do citado livro tratando da questão do matrimônio e o divórcio.
  "Quanto ao divórcio, segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual, somos de parecer não deva ser facilitado ou estimulado entre os homens, porque não  existem na Terra uniões conjugais, legalizadas ou  não, sem vínculos graves no  principio da responsabilidade assumida em comum. Mal saídos do regime poligâmico, os homens e as mulheres sofrem­ ainda as sugestões animalizantes e, por isso mesmo, nas primeiras dificuldades da tarefa a que foram chamados, costumam desertar dos postos de serviço em que a vida os situa, alegando imaginárias incompatibilidades e supostos embaraços, quase sempre simplesmente atribuíveis ao desregrado narcisismo de que são portadores. E com isso  exercem viciosa tirania sobre o sistema psíquico do  companheiro ou da companheira mutilados ou doentes, necessitados ou ignorantes, após explorar-­lhes o  mundo emotivo, quando não se internam pelas aventuras do homicídio ou  do  suicídio espetaculares, com a fuga voluntária de obrigações preciosas. É imperioso, assim, que a sociedade humana estabeleça regulamentos severos a benefício dos nossos irmãos contumazes na infidelidade aos compromissos assumidos consigo próprios, a benefício deles, para que se não agreguem a maior  desgoverno, e a benefício de si mesma, a fim de que não regresse à promiscuidade aviltante das tabas obscuras, em que o princípio e a dignidade da família ainda são  plenamente desconhecidos. Entretanto, é imprescindível que o sentimento de humanidade interfira nos casos especiais, em que o divórcio é o mal menor que possa surgir entre os grandes males pendentes sobre a fronte do casal, sabendo­-se, porém, que os devedores de hoje voltarão amanhã ao acerto das próprias contas" .
O norte teórico da doutrina espírita
No capítulo XXII do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo de nome "Não separeis o que Deus juntou"  há um subtítulo dedicado ao divórcio, Allan Kardec é categórico ao afirmar que o divórcio é uma lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado.
O escritor israelense Amós Oz, recentemente falecido, dizia que o problema maior não são especificamente os livros sagrados, mas os imterpretadores dos livros sagrados. No caso do Espiritismo isso ocorreu, ainda mais com a forte influência católica dos seus "profetas" maiores, dentre eles Chico Xavier.
Kardec tinha muito apreço pelo progresso da legislação humana, e afirma que a lei civil tem por fim regular as relações sociais e os interesses das famílias de acordo com as exigências das civilizações.
Portanto companheiros espíritas, fiquem tranquilos, se necessário podem se divorciar pois não serão devedores que voltarão amanhã ao acerto das próprias contas. Esse pensamento de "devedor/culpa", no caso do divórcio é mais um ato da perseguição religiosa às mulheres. A infeliz teria que prestar contas futuras unindo-se novamente com o chatíssimo marido da encarnação anterior. Ninguém merece.
Roberto Rufo.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos maio de 2019. Ficou interessado nesta edição? baixe aqui!

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=217:jornal-abertura-maio-de-2019


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segunda-feira, 17 de junho de 2019

Admirável Mundo Novo! por Alexandre Cardia Machado


Admirável Mundo Novo!

As vezes precisamos olhar para trás e ver o quanto a humanidade mudou, no livro Homo Deus – Uma Breve História do Amanhã  -Yuval Noah Harari - inicia o livro fazendo uma reflexão quanto os problemas que nosso planeta enfrentou nos últimos 20 mil anos, poderíamos reduzí-los a três aspectos: fome, pestes e guerras.

Como morte por fome é bem mais difícil de documentar, vou me concentrar nestes dois aspectos: guerra e pestes, não precisaremos recorrer à idade média e a peste bubônica, fiquemos apenas com o que ocorreu no século  20 e 21.

Século 20 - Guerras:
1ª Guerra Mundial – 9 milhões de mortes;
Revolução Russa  – estima-se em 40 milhões de mortes;
2ª Guerra Mundial – 26 milhões de mortes;
Genocídio Nazista -  20 milhões de mortes;
Revolução Chinesa – estima-se em 65 milhões de mortes;
Guerra da Coreia – cerca de 2 milhões de pessoas mortas;
Guerra do Vietnan – cerca de 1,2 milhões de mortos;
Guerra Irã – Iraque – cerca de 1 milhão de pessoas mortas;
Guerra dos Balcãs – cerca de 600 mil mortos entre combatentes e extermínios racias.

Século 21 – Guerras
Principalmente a chamada Primavera Árabe – estima-se algo entre 100 e  200 mil mortos nos diversos países onde ocorreram.
No século 20 – 50 milhões de pessoas morreram de Gripe Espanhol, ao redor do mundo logo após a 1ª Guerra Mundial. Os mesmos navios que levavam comida e munição a Europa voltavam trazendo, para todos os portos a gripe.

O século 21 está no começo e a humanidade tem a capacidade de se auto-destruir graças as centenas de armas nucleares que criamos, mas nada indica que isto venha a ocorrer. Apesar de seguirmos atirando uns nos outros, morrem mais pessoas de “acidentes” de trânsito ou de sobrepeso, do que por bala ou por fome, ainda que em pontos isolados do planeta possamos ter situações fora da curva média. Os surtos de gripe asiática, Ébola e outros foram rapidamente controlados. A diferença entre hoje e 100 anos atrás é a existência de tecnologia e investimentos em investigação e uma rede de sustentação mundial, capaz de deter qualquer ameaça.

O que mudou tudo isso? No meu entender o avanço do conhecimento, da telecomunicação, dos organizações internacionais, a ONU, a globalização. Com isto, apesar dos problemas que causamos no meio ambiente, formamos uma rede de interdependência que nos une e torna mais difícil o aparecimento de conflitos entre nações, temos uma grande rede de amortecimento.

Vejam o caso da Venezuela, há 30 anos atrás já estaríamos todos em guerra. Hoje cada cidadão no mundo tem uma câmera fotográfica na mão, que pode enviar imagens imediatamente para o mundo todo. Isso existe há pouco mais de 10 anos e está mudando a nossa maneira de viver. Tecnologia que sempre terá um lado bom, tem também um lado mal, que veremos a seguir é a capacidade de proporcionar um excesso de controle.

Hoje se há um crime, no mundo todo as polícias vão atrás de imagens e programas de identificação de face  ajudam a resolver casos, claro não estamos no mundo ideal, pois o ideal seria não haver crimes. Ou que todos os crimes fossem resolvidos. Mas hoje está muito difícil esconder uma mentira. Tem gente que não se deu conta ainda, ok, vai parar atrás das grades, mais cedo ou mais tarde.
Pela primeira vez, existe uma matriz de informação nas nuvens, nos algorítmos e isto causará mudanças a velocidades impressionantes. Allan Kardec nos falava da aristocracia Intelecto-moral, e que eleas levariam o mundo a um estágio melhor, não me parece que isto ocorrerá por imposição dela, mas em consequência da maneira que nos portamos. Hoje não somos apenas uma pessoa com RG e CPF, somos pessoas com RG, CPF e perfil. Sim, perfil, os bancos, as lojas os algorítmos sabem do que gostamos, onde vamos e com quem nos relacionamos. E damos todas estas informações de graça.

Gostamos da facilidade da tecnologia, mas como já dizia Ulisses Guimarães, não existe jantar de graça, quando uso o waze, que é muito bom, pois não me deixa ficar perdido, no mesmo momento que me diz onde estou, alimenta o algorítmo, eu forneço uma séria de informações para o aplicativo, que serão transformadas em dinheiro. Poderemos explicar em mais detalhes como eles ganham dinheiro em outro artigo.
Voltando à questão da aristocracia intelecto-moral, ouso dizer que teremos a aristocracia tecnologica-moral, andaremos fazendo o certo porque senão o “big brother” vai nos pegar! É mais ou menos como a velha propaganda de biscoitos Tostines– por que eles são sempre crocantes? Porque são sempre novinhos. Por que são sempre novinhos? Porque alguém está sempre comprando e assim por diante.

Acredito portanto que em mais alguns anos estaremos todos vivendo numa grande Singapura, onde hoje ninguém deixa cair um papel no chão, pois há câmaras em todos os lados, reconhecimento facial e multa via internet, assim, logo todos ficam bons cidadãos.
Pode demorar uns 10 ou 15 anos mais esta onda vem. Aristocracia tecnologica-moral, seremos todos mais parecidos, auto controlados e controlados pelo sistema.

Pense nisso.

Editorial Jornal Abertura - Maio 2019

Ficou interessado? O Jornal está disponível no link abaixo:




quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A evolução do espírito e da matéria - por Jaci Régis

A evolução do espírito e da matéria


Na revelação cristã é filosoficamente fundamental, básico, o conceito de uma queda original do homem no começo da sua história, e também o conceito de um Messias, um reparador, um redentor. Conceitos indispensáveis para explicar o problema do mal, racionalmente premente e racionalmente insolúvel. A solução integral do problema do mal viria unicamente do mistério da redenção pela cruz - necessário complemento do mistério do pecado original.

Jaci Régis



As palavras acima, retiradas de um site católico, mostram claramente a diferença entre o cristianismo e o Espiritismo.

Como a Doutrina Kardecista pode analisar esse fato?

Se considerarmos a Teoria Evolutiva do Espiritismo, que contempla a criação do ser espiritual “simples e ignorante”, compreenderemos que o planejamento da evolução do ser espiritual, possui a mesma coerência que pode ser constatada na análise do processo evolutivo geral.  Ou seja, existe uma total coerência nos processos de evolução dos elementos materiais e espirituais.

É o que nos ensina O Livro dos Espíritos, sobre a Lei Natural ou divina.  “a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida”.

A Teoria Evolutiva do Espiritismo, torna o ser espiritual parte do mesmo processo que dinamiza e constitui o universo material. Esse dualismo conceitual parece ser inevitável no encaminhamento intrínseco entre todos os fatores da vida universal, entrosando matéria e espírito, embora cada um determinando um caráter e um perfil que conjugado possibilita a vida.

No processo de evolução do universo, encontramos a inevitável seqüência de nascer, viver, morrer e renascer, aplicada tanto ao ser espiritual quanto aos elementos materiais. Em ambos os casos, temos uma “imortalidade”, isto é, como disse Lavoisier, nada se perde, nada se cria, considerando a reciclagem dinâmica dos fatores.

Dada a natureza diferenciada do elemento espiritual, a imortalidade do espírito, contudo, conteria um elemento singular, consistente, que determina uma individualidade permanente, isto é, embora intrinsecamente ligado ao elemento material não se perde na dissolução eventual dos elementos, nem na dissipação da energia produzida por eles. Na verdade como elemento da natureza o princípio espiritual guarda a qualidade de ser, de constituir uma individualidade que deteria a essência do movimento vivo, agregador, e dissipador dos elementos.

Conforme se auto desenvolve esse elemento individual e espiritual, ganha a capacidade de pensar, criar e recriar, submetendo elementos esparsos ao vetor diretor de sua vontade.

Nesse sentido, assim como os elementos materiais são conjugados, reciclados ao sabor da inteligência motriz, natural, o Espírito também precisa de tempo e espaço para alongar-se, desenvolver-se.

No ciclo vida, morte, renascimento, o elemento espiritual possui o ritmo acelerador da reencarnação, uma vez que está mais que evidente que, nessa simbiose espírito-matéria que é a base do universo, a inteligência ou essência motriz do ser espiritual organiza organismos para manifestar-se. É o princípio da encarnação, entendida como elemento de aglutinação, ajuste e processual do desenvolvimento das potencialidades do Espírito.

Na verdade podemos afirmar que a lei natural não é moral.

Se acompanharmos a evolução do princípio espiritual, por exemplo, no nível animal, verificaremos que ai o elemento moral inexiste. Ou seja, um pedrador ao atacar sua vitima não expede um julgamento moral, uma incerteza do certo ou do errado. Ao destruir sua presa satisfazendo sua necessidade ele não sente culpa.

Essa culpa será desenvolvida no nível hominal. Na transição de elemento espiritual para Espírito, o ser agora dispõe de capacidade de analisar, comparar e decidir. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta que se inicia propriamente o senso moral.

É nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, dentro de parâmetro que a organização social estabelece.

Ao iniciar a organização social houve a necessidade de nomear os que, por eleição divina passaram a estabelecer as regras de comportamento, o bem e o mal.de modo a permitir vida comum.

Por isso no estágio de desenvolvimento das civilizações primordiais que povoaram a Terra o princípio da causalidade, ou seja, a análise dos fatores a partir da realidade sensorial, a busca da razão e do porquê das coisas e dos eventos, teria que centrar-se não apenas num criador poderosos, mas num criador capaz de punir, reagir, zangar-se. Ou seja, um criador humanizado, como Jeová dos judeus e os deuses de todos os povos e dos gregos, porque há, não obstante, uma certa similitude entre todas as concepções sobre Deus nas civilizações que se sucederam.

Afirmamos isso porque partindo do aqui e do agora, o comportamento das pessoas teria que ser comparado a parâmetros definidos como sendo a lei de Deus e, por isso, sujeitos a julgamento, condenação, punição e absolvição.

A visão científico-materialista sobre o homem decorre da análise sensorial e das experiências genético-cerebrais, todavia inconclusivas.

Falta-lhe o sentido espiritual como o Espiritismo propõe, isto é, sem conteúdo moral.

O conteúdo moral, como vimos foi estabelecido diante dos fatos concretos do nascimento, da morte. Ele, portanto, é uma criação social, uma forma de conter ou explicar o mal.

Mas o mal, segundo o Espiritismo, não é fundamento do ser, mas conseqüência do conflito existencial, ao longo do processo.

Então, todo o quadro moral, punitivo e todo o julgamento divino que as organizações sociais controladoras do comportamento e agenciadoras do consolo perante e a morte criaram não pertence à lei natural.

Não é crível que a lei naturall ou divina estabeleça qualquer forma de punição que é um estágio temporário e localizado na vida da pessoa, nas suas relações e no convívio social.

Jaci Régis - 2006

NR: Texto publicado no Jornal ABERTURA de agosto de 2015



quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Problemas da Puberdade - por Jaci Régis

PROBLEMAS DA PUBERDADE

Jaci Regis

O episodio das pulseirinhas coloridas que as adolescentes usam  como indicação visual de seus desejos  de relacionamento sexual chamou a atenção para o que todos sabemos:a extrema vulnerabilidade dos púberes, adolescentes.

A aceleração das mudanças do comportamento social que ocorreram a partir principalmente da segunda metade do século vinte deveria ser a principal preocupação da sociedade.

As novas premissas e os desmantelamento dos velhos padrões e a dilatação dos limites da liberdade de agir, criaram rotas de colisão a que a maioria adere levadas pelo vendaval de mudanças que serve, sobretudo, para atender os desejos das pessoas.

A sexualidade reprimida pelo cristianismo explode agora sem uma ponderação. Destruídas as bases da repressão cristã, o materialismo surge como resposta natural, porque motiva a busca do prazer como única resposta capaz de dar algum sentido à vida corpórea.

Todavia, a estrutura psicológica da pessoa baseia-se em valores que foram estabelecidos ao longo da evolução social e, mais precisamente, na construção de uma individualidade espiritual que, na atualidade, continua precária no seu equilíbrio e no discernimento das razões da vida corpórea.

Não se trata, como muitos supõem,  de restabelecer as crenças antigas, de resto impossível. Mas de encontrar alguma base para o porquê da vida em termos de satisfação de modo que o prazer se espraie como força criativa, sem dilacerar, como tem acontecido,  a própria pessoa.

Porque nosso equilíbrio emotivo, nosso universo intimo, baseado, sobretudo,  na emoção responde de formas auto agressivas, penalizando a alma, destruindo a esperança e criando doenças de fundo espiritual ou psicológico, que trazem a infelicidade e, muitas vezes, precipitam a pessoa no abismo da insanidade moral e mental.

A noção evolutiva das vidas sucessivas

Na visão pós-cristã as vidas sucessivas, são entendidas como um instrumento da evolução. Mostra-nos que os mecanismos da vida corpórea foram desenvolvidos para proporcionar o aprendizado indispensável para a estruturação de uma individualidade equilibrada e, ao fim, feliz.
Isso nos permite definir a vida corpórea como um hiato evolutivo da vida da alma, do Espírito, atemporal e imortal.

O fato de ser considerada um hiato, não diminui, nem subestima o valor da vida corpórea...

Ao contrário, sendo esse hiato fundamental para o desencadeamento das potencialidades intrínsecas do Espírito, seu valor deve ser colocado no devido lugar.

Em conseqüência podemos afirmar:

·                     A encarnação é um fato natural,  cada encarnação é como se fosse a primeira;

O processo reencarnatório produz em cada encarnação um novo ser. Todo o mecanismo da produção de uma nova experiência corpórea conduz à criação de uma experiência traumática para o Espírito, de modo que ele entre na vida basicamente “nu”, como é o bebe.. Ou seja, despido de perispirito, personalidade, lembranças, como uma página em branco do livro da existência.

·                     Esquecimento do passado;
·                      
Sendo atemporal, o Espírito, traz em si a permanente atualidade de seus méritos e deméritos. Inseridos na estrutura dinâmica de seu desenvolvimento ético e intelectual. O processo de desestruturação ocorrido durante a gestação produz um estado de latência da memória e desfaz a personalidade atual.
·                     Reestruturando a si mesmo;
·                      
Vencido o período inicial, bem ou mal conduzido, o Espírito entra no período de reestruturação ou, seja, criar uma personalidade adequada ao momento em que vive, de modo a poder relacionar-se com o mundo exterior como alguém que chega pela primeira vez. Tentando situar-se no mundo.

Terá vivido pelo menos sete anos.

Ai começará a reconstruir  seu caráter forjado pelos valores da família e pela auto-herança que traz como individualidade permanente...

Enfim, preparando-se para a grande virada - a puberdade.

·                     Puberdade
                      
Aos antigos limites da puberdade foram corrompidos pela precipitação moderna ao despertar das paixões.

Quando entra na puberdade, a criança se defronta com desafios que não esperava.

Saindo da infância agora ele é desafiado a definir seu destino mais próximo.

A sexualidade é um desafio presente na explosão natural da emotividade e das realidades biológica.

É época de afirmação pessoal, de encontrar parceiro, de ser aceito no grupo em que se situa. E atualmente o relacionamento sexual está na base desse relacionamento grupal, com todos os problemas que, muitas vezes, desencadeia.

A sexualidade não se manifesta como uma linha reta, mas  muitas vezes, tortuosa. E a realidade sensível se conturba em muitos adolescentes, pressionados pelas dúvidas e questões internas e o ambiente externo. O que preocupa é a prematura adesão ao jogo sexual, sem um mínimo de maturidade física e psicológica.

A sexualidade natural  em jovens saudáveis e relativamente equilibrados, na idade certa parece ser o menor perigo.

O perigo está na gravidez precoce. Nas doenças sexualmente transmissíveis. No desvão da sexualidade compulsiva e nos conluios desviantes das emoções.

Talvez a maior parte dos jovens passe a puberdade e chegue à idade da juventude mais equilibrada, mais ou menos bem, ou seja, sem traumas maiores, mas nem por isso sem seqüelas emocionais.

Outro caminho dificil é o apelo ao álcool e às drogas ilícitas. Na verdade esse caminho não raro é sem volta.

Procura-se as causas da adesão tão grande de adolescentes ao uso de drogas, isso em todas as camadas sociais. Ousaríamos pensar que decorre do vazio intrínseco, depositado na alma imortal, que não foi suficientemente superado na infância, devido a falhas de relação com os pais ou pela rebeldia em aceitar qualquer disciplina ou limites, fomentados nas mentes  em viez de pseudo independência próprios de almas imaturas que pretendem superar os complexos pela ousadia ou pelo enfrentamento das regras sociais.

Outro desafio que o adolescente enfrenta é o futuro econômico. Aí precisa ter animo e estimulo para estudar e criar uma profissão.

Um fator moderno é a ligação compulsiva ou de fuga com o computador. Em famílias sem bases autenticas de relacionamento e disciplina, jovens se ligam aos programas da Internet como fuga da realidade, vivendo num mundo virtual, onde exercitam suas emoções sexuais e seus desvios sensíveis, ligados e isolados em seus quartos ou lugares isolados.Também entram nesse rol, as necessidades ou não do trabalho precoce, desviando do estudo e limitando o futuro profissional a níveis inferiores, marcando a vida e as relações do futuro.

NR: Artigo Publicado no Jornal Abertura de outubro de 2015


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A vida - como ela é bela - por Ricardo Nunes

 A VIDA

Como é bela e misteriosa a vida, caminhos e descaminhos, erros e acertos, encontros e desencontros. Amor, solidão, amizade, angustia, prazer, dor e felicidade, quantos sentimentos, quantas experiências...

Quantos se foram para nunca mais, quantos lábios queridos se calaram no silêncio da morte. Lábios que um dia estiveram presentes e que hoje estão ausentes. Quantos amigos que trilharam conosco a mesma estrada ombro a ombro, vivendo os mesmos ideais e sonhos e que nos deixaram.

Quantos projetos abandonados pelo caminho. Que tremenda luta entre os ideais, o desejo e a realidade!

Porém, a vida continua, e o dia seguinte sempre surgirá. É necessário estarmos prontos para recomeçar, aconteça o que acontecer. Devemos nos levantar e seguir em frente, sempre em frente. É necessário prosseguirmos demonstrando confiança e força interior. Sempre é tempo de sonhar um novo sonho, de viver um novo amor, de realizar um  novo projeto.

Talvez, o que realmente seja importante na vida não é o que alcançamos, mas sim os caminhos que percorremos. Na verdade, é muito melhor chorarmos por nossos fracassos, do que morrermos lentamente de apatia,  sem ousadia, sem força e coragem para viver.

Recordamos que um mestre do passado disse que seu reino não era deste mundo, afinal o que é este mundo, o que é esta vida, o que são os problemas ante o infinito do universo? O que significam os pequenos contratempos cotidianos ante a beleza da lua a clarear com seu brilho e luminosidade o caminho dos homens? O que é esta vida corpórea de um instante ante as múltiplas dimensões extrafísicas do espírito?

  Quando lembramos que este planeta é menos de um grão de areia no universo, não podemos deixar de pensar na pequenez de nossos problemas e angustias. Ficamos a imaginar, em um doce sonho, que para além desta terra devem existir outros mundos, outras galáxias, repletas de vida, inteligência e  amor.


No espiritismo, aprendemos que somos, em essência, imortais e que prosseguimos além da morte. Aprendemos, também, que há um sentido maior para a realidade e que a vida não é uma aventura vã.

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura de Maio de 2016

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A Revolução do Amor - por Roberto Rufo e Silva

A REVOLUÇÃO DO AMOR. 

“O amor sempre foi para mim o maior dos negócios, ou melhor,o único”. ( Stendhal ) ;

“Doar-se é a atitude-chave para qualquer programa de vida, que pretenda desenvolver os potenciais do Espírito”( Jaci Regis ).


Sob o sugestivo título de “A Revolução do Amor - Por uma espiritualidade laica”, o filósofo Luc Ferry escreveu um livro muito interessante de ser lido e com uma conclusão ou constatação que merece ser analisada. Indo contra a maré pessimista oriunda desde a  segunda metade do século XX, Luc Ferry visualiza o surgimento de uma nova humanidade. Pelo menos no mundo Ocidental. Seria como Jaci Regis escreveu no seu estupendo livro”Comportamento Espírita”um novo personagem em transição.

Partindo da história da evolução da família, com destaque à conquista do casamento por amor, por escolha (algo recente na vida dos casais), Luc Ferry vê desde aí o embrião de uma nova dimensão do humano, o que ele chama de espiritualidade laica. Muito pouca gente hoje, e concordo com ele, quer arriscar a vida para defender um deus, uma pátria ou um ideal revolucionário. Mas vale a pena se arriscar para defender aqueles que amamos ou respeitamos, não importa em que local do planeta. Diz ele então que estamos vivendo a revolução do amor, e essa seria a melhor notícia do novo milênio.

Se não fala em espiritualidade laica, mesmo porque acreditava numa inteligência primeira com um grande projeto consubstanciado na Lei Natural, Jaci Regis em 1981 (há exatos 35 anos) no seu livro citado acima afirma que”considerando que a grande maioria dos Espíritos que vivem no Planeta Terra aqui vêm evolucionando há muito, formando uma humanidade mais ou menos permanente, compreende-se, pela História, que atingimos uma etapa do processo de crescimento individual e coletivo, em que os valores deverão definir-se”.

 Para Luc Ferry esses valores são chegados pois uma nova espiritualidade laica nasce da sacralização do ser humano por meio do amor. É o amor que dá sentido a nossa existência. Luc Ferry aponta que “no passado, princípios bem diferentes ditaram a ética de nossos ancestrais  : o Cosmos dos gregos, o Deus judaico-cristão, a Razão do humanismo moderno e o Ideal Revolucionário”. Ele aponta que ainda bem que os motivos tradicionais do sacrifício coletivo estão sendo literalmente eliminados pela grande destruição dos valores e das autoridades tradicionais que tanto marcou o século XX até Maio de 1968. Realmente, vamos parar para pensar e imaginemos os milhões de seres humanos assassinados em nome de Deus, do nacionalismo fanático e dos ideais revolucionários comunistas/socialistas.

No entanto esse lento, porém invencível processo de secularização dos valores, requer como nos ensina Jaci Regis que “agora,é necessário que o homem assuma sua natureza espiritual e desenvolva, no plano da vida terrena,novas formas de relacionamento e revolucione seu projeto de vida, a partir das premissas espirituais dinâmicas".

Luc Ferry explica que essa nova”espiritualidade laica”, significa uma concepção de filosofia que atribui ao homem uma tarefa essencial de refletir sobre o que seria uma via boa sem passar por um deus  ou pela fé, mas com os meios disponíveis, os de um ser humano que se sabe mortal, entregue a si mesmo e às exigências de sua lucidez. Há de surgir um novo humanismo. O Espiritismo pode ajudar e muito nesse novo humanismo, pois é da natureza da Doutrina Espírita motivar o indivíduo a transformações morais, nas sábias palavras de Jaci Regis.

Roberto Rufo.  

NR: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016, seja nosso assinante, valor da assinatura anual R$ 55,00 - mande um email para ickardecista1@terra.com.br e ajude-nos a manter viva a ideia de um Espiritismo Moderno e Livre-pensador.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sobre a Morte e o Morrer - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a Morte e o Morrer

Durante muitos anos o ICKS, através de Jaci Régis, promoveu seminários com este tema, sempre muito concorridos. A principal razão disto é que mesmo sendo a morte uma certeza, temos todos medo da mesma.

Como espíritas, não deveríamos temer a morte e filosoficamente não tememos. Mas no dia a dia é que a coisa pega.

Os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e socorristas são treinados para enfrentar o inevitável, fazem tudo o que é possível para evitar, mas ao mesmo tempo, precisam estar preparados para o pior.

Veja que ao nos referirmos à morte, falamos em pior, certeza, preparação. Como reencarnacionistas, sabemos que a vida física é apenas uma metade de nossa existência, sabemos que sobrevivemos à morte física e seguimos vivendo como espíritos imortais que somos.

Pela intensidade da vida cotidiana, muitas vezes nos esquecemos disto e pensamos igual aos não espíritas. Pode ser que seja pelo instinto, ou por amarmos muito a vida e os que aqui estão conosco, mas deveríamos nos esforçar para viver bem, considerando que a morte sempre é uma possibilidade presente. Valorizar o presente sem descuidar do preparo espiritual, sempre focados no fazer o bem, amar e ajudar nossos filhos e amigos.

Jaci Régis sempre repetia uma frase que incorporou em sua bagagem, durante sua proveitosa vida, “o que se leva desta vida é a vida que a gente leva”. Jaci nos deixou de forma inesperada, sem preparação... tudo em que trabalhava intensamente, de um dia para o outro, ficou órfão. Acredito que Jaci não ficou muito preocupado, pois sempre dizia que enquanto estivesse vivo, faria o máximo esforço para levar suas ideias e projetos em frente.

Todos os projetos seguiram em frente, outros ocuparam o seu lugar. Ninguém é insubstituível, por melhor que sejamos. O que for importante seguirá, se o mestre for bom, os alunos saberão o que fazer.

Jaci, sabemos hoje, está integrado em várias atividades no mundo dos espíritos. Os sucessores aqui estão no ICKS, na Lar Veneranda, já antes de sua desencarnação. O CEAK, onde foi presidente por muitos anos,  seguia seu caminho sem precisar dele.  Me refiro a Jaci por ser um exemplo à todos em nosso grupo livre pensador, de alguma forma ao citá-lo todos nós de certa forma nos sentiremos tocado. Mas muitos outros passaram por aqui e deixaram também as suas marcas. Esta é a lei da vida, é o projeto Divino, através da lei de progresso, da reencarnação e da evolução infinita.
Não precisamos morrer antes do tempo, com excessivos cuidados, não tomando vento, não comendo isto, não bebendo aquilo. Vivamos com equilíbrio encarando sempre novos desafios, esta é a melhor maneira de um dia morrer e reacordar no lado de lá,  percebendo que a encarnação valeu muito e foi gratificante.


Chorar, bem esta é a primeira coisa que fazemos ao reencarnar, nosso primeiro respiro vem acompanhado de choro.  Portanto vamos sim chorar os mortos, mas não vamos morrer antes da hora, pois a vida é infinitamente bela!

NR: Publicado originalmente no jornal ABERTURA em junho de 2016

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Espiritismo em Sociedade - Reinaldo di Lucia

Espiritismo em sociedade

A crise que enfrentamos no Brasil – ética, econômica e política – tem minado a esperança do brasileiro em dias melhores. Ao conversarmos com as pessoas, notamos que, de maneira geral, já não se acredita mais no futuro. A frase “o Brasil não tem mais jeito” é muito comum, e tem sido mais e mais dita por gente de todas as idades e classes sociais.

O efeito mais evidente deste sentimento é a observação de que, a cada dia que passa, temos mais jovens mostrando um grande desejo de deixar o país. Quando perguntados o porquê disso, esse grupo aponta a falta de perspectiva de trabalho, a descrença absoluta na classe política e em sua capacidade (e vontade) de mudar a situação e, principalmente, a certeza de que o brasileiro é assim mesmo e a situação não vai mudar jamais.

Como nós, como povo, deixamos a coisa chegar neste ponto? Há inúmeras explicações históricas que demonstram o impacto que a colonização portuguesa, a cultura autoritária e, mais recentemente, a ditadura militar tiveram para este resultado – todas, a meu ver, absolutamente corretas, mas de pouca ação prática. O problema é que, com a situação posta do jeito que está, o que teremos em breve é um país no qual o aprofundamento das desigualdades sociais tornará o Brasil mais parecido com o Haiti que com a Noruega.

Precisamos pensar em soluções diretas e urgentes. Mas o que vemos, institucionalmente, é uma paralisação global: a classe política não tem interesse em modificar este estado de coisas, a justiça se perde em tecnicalidades, a escola foca o currículo sem se preocupar com sua aplicação e as instituições religiosas, possivelmente as mais conservadoras, prometem, no máximo, a abundância material e a salvação eterna, desde que o fiel seja submisso aos seus desígnios.

E nós, espíritas, o que estamos fazendo? Como doutrina humanista e  livre-pensadora, temos a obrigação de contribuir para que as pessoas tenham mais acesso a discussões que levem a uma ação efetiva na construção de um futuro melhor. Se ficarmos na dependência do poder público, nada acontecerá, ao menos no médio prazo. Penso que é necessário que nossa visão de mundo, profundamente libertadora, seja cada vez mais difundida, porém com um viés prático. Precisamos deixar de lado as discussões inócuas e superficiais, bem como as acusações “alimentares” (coxinhas x mortadelas) e mostrar causas e consequências do que aí existe, debatendo o modelo de sociedade e de país que queremos e como podemos chegar a ele.

Não, não podemos mais esperar que seja feita uma reforma política, uma reforma do ensino ou o que quer que seja. Precisamos agir diretamente, com os recursos – ainda que parcos – que temos. Não faz sentido, numa situação cada vez mais crítica, dissociarmos a teoria espirita da discussão social, prática; especular sobre o mundo dos espíritos e deixar para depois nossa realidade física. É vital travarmos este debate nas casas espíritas, de forma respeitosa quanto às diferenças e tendo em mente que o objetivo é o mesmo: uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais nobre.

NR: Originalmente publicado no Jornal Abertura em outubro de 2016

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”. por Reinaldo di Lucia

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”.

Das diversas crises que o Brasil enfrenta, há uma, algo silenciosa, que se agrava gradativamente ao longo dos anos, vem tomando proporções alarmantes e que não tem previsão nem a curto nem a longo prazo de solucionar-se: é a crise educacional.

A educação no Brasil já teve seus bons momentos, nos quais podíamos, mesmo no ensino público, apresentar alguma qualidade. Não escrevo aqui como especialista em história da educação, o que não sou, mas apenas como alguém que recebeu, nos anos 70, uma educação que me permitiu formar uma base conceptual suficiente para que o prosseguimento dos estudos se desse sem grandes percalços. Mas nunca foi algo que pudesse ser uma referência mundial em qualidade de ensino. Principalmente porque, numa época em que vivíamos um regime de exceção, não era objetivo formar pensadores, mas técnicos que pudessem contribuir para o "milagre brasileiro".

Entretanto, ao longo desses últimos 40 anos, a educação básica no Brasil, em linhas gerais, só piora. Talvez pelo desestímulo dos professores, cujo salário é um acinte, talvez pela falta de estrutura escolar e, certamente, pelo interesse da classe política em evitar transformar nossas crianças em cidadãos donos de seu próprio destino, o fato é que a qualidade do ensino básico é das piores do mundo.

Como se não bastasse essa verdadeira catástrofe, vem agora uma organização propor, com o apoio de uma parcela do Congresso Nacional, mais uma excrescência: a "Escola sem Partido". Com o suposto objetivo de impedir uma mítica ideologização nas escolas, na verdade evita a única forma de proporcionar o crescimento intelectual, que é a contraposição de ideias que permitirá o surgimento de jovens livre pensadores, sem amarras e preconceito, prontos a tornarem-se conscientemente responsáveis por suas escolhas e aptos a construir seu futuro
Há que se discutir que finalidades escusas se ocultam nesta proposta. Não sou daqueles que veem em tudo a mão maquiavélica da elite dominante tentando massacrar a plebe ignara. Mas não se pode bancar a Poliana e achar que o mundo é rosa. Há, sim, o claro interesse de uma certa classe de manter a população o mais intelectualmente despreparada possível, pois é obviamente muito mais fácil o domínio sobre os ignorantes. É pensar pode ser muito perigoso...
Como espíritas, temos o dever de desaprovar qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de pensamento, de crença, de expressão. 
O Espiritismo surgiu a partir de um amplo debate realizado entre encarnados (principalmente Kardec) e desencarnados, no qual questões muito profundas e polêmicas foram analisadas e discutidas. Assim, em consonância com nossa visão laica, livre-pensadora, humanista e progressista, qualquer tentativa de bloquear o debate livre, desde que imparcial, deve ser amplamente rechaçado.


Se algo não for feito para frear este tipo de proposta, a consequência será a formação de um contingente de jovens que delegará a outros seu direito inalienável de pensamento e escolha, pois será facilmente manipulável. Como professor universitário, percebo a cada ano que passa o quanto aqueles que ingressam no ensino superior estão cada vez menos preparados, não conseguindo realizar tarefas básicas, como leitura e interpretação de textos simples, compreensão das relações causais e entendimento das vertentes históricas que formam a realidade atual. E afirmo, sem medo de errar: não ha ação que tire o país do buraco que não passe pelo investimento maciço em educação. O que, com os políticos que temos, está longe de acontecer.

domingo, 9 de outubro de 2016

Força Estranha, paródia espírita - por Alexandre Cardia Machado

Outro dia conversando com um amigo e assinante de nosso jornal, ele me comentava “nossa, como o Abertura ficou político, depois que você assumiu a redação do jornal!” bem, rebati que esta sempre havia sido a conduta do Abertura e que Jaci Régis não deixava passar questões de política que afetassem a todos os brasileiros. Ele sempre buscava dar um enfoque espírita aos fatos, o que normalmente recaía na questão moral.

Meu interlocutor não se deu por satisfeito e reafirmou, “Não. Está mais acalorado!” no que lhe respondi, é que a discussão política está mesmo mais acalorada, em todos os círculos de relacionamento, mas que nosso jornal abre espaço para todos que tratem do assunto, sob a ótica espírita, está no DNA do jornal que, como já afirmamos antes, nasceu na onda da “abertura política” no período final da ditadura militar.

Resolvi, pesquisar e tomei como base as últimas 12 edições do jornal e comparei com as últimas 12 publicações feitas por Régis. O placar foi 18 x 10, ou seja, realmente estamos dando mais importância às questões políticas seis anos depois, contra fatos não há argumentos. Mas qual o porquê disto é que importa? 

Creio que a resposta passa pela mudança que o país sofreu nestes 5 a 6 anos, saímos da “marolinha” e entramos num “tsunami”  econômico, evidentemente que num ambiente deste questões econômicas, políticas e eleitorais ficaram mais acirradas. Nestes seis anos passamos pelo julgamento do mensalão e mais recentemente atingiu a todos a Lava Jato, como exemplo de uma série de operações em andamento pela Polícia Federal. Culminou com a conclusão do Impeachment da Presidente Dilma Rousseff às 13:35 horas do dia 31 de agosto.

Esta é a função de um jornal, interagir com a sociedade, mantendo-se afastado do partidarismo, como deve ser um jornal independente, buscamos ter credibilidade naquilo que é editoriado no jornal, claro que um redator tem pensamento próprio, mas tem o dever de moderá-lo abrindo o espaço ao diálogo, como deve ser a característica do “Homem de Bem” como bem nos ensinaram Kardec e os espíritos que lhe responderam para a elaboração do Livro dos Espíritos.

Kardec, ao tratar das perfeições morais acrescenta uma importante contribuição que cabe bem ao momento, que de certa forma explica a luta pelo quê cada um acredita, e que muitas vezes não paramos para pensar no que realmente nos motiva:

 “ O homem deseja ser feliz e natural é o sentimento que dá orígem a esse desejo. Por isso é que trabalha incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que cada momento o magoam, a que perturba todas as relações socias, provoca dissensões, aniqulia a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidadee, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança.”

No período mais calmo que vivíamos há 6 anos, contávamos com a presença física de Jaci Régis que produzía combativos editoriais contra os desvios do movimento espírita religioso. Nosso grupo de articulistas não tem buscado esta confrontação, pois se foca mais no rumo que tomamos enquanto sociedade e como espíritas livre-pensadores. É nossa função discutir aspectos da vida social que a tantos afeta.

Por isso uma força nos leva a escrever, por isso uma força nos leva a tratar mais de política, por isso uma força estranha nos mobiliza, por isso é que escrevemos, mas é também por isso que, mesmo tratando disso, deste tereno árido, buscamos manter a harmonia, pois todos nós pensamos de maneira diferente,  como articulistas temos posições distintas. Por isso é que mostramos várias abordagens.
Por isso que completo este artigo publicando a letra da música de Caetano Veloso, que certamente não tem a mesma visão de mundo que eu, mas que busca pelo caminho da poesia atingir o coração de todos nós, por isso é que todos nós buscamos o Sol sobre a estrada.

  • ·         Eu vi um menino correndo /Eu vi o tempo brincando ao redor /Do caminho daquele menino /
  • ·         Eu pus os meus pés no riacho /E acho que nunca os tirei /O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei
  • ·         Eu vi a mulher preparando outra pessoa / O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga / A vida é amiga da arte / É a parte que o sol me ensinou /O sol que atravessa essa estrada que nunca passou
  • ·         Por isso uma força me leva a cantar /Por isso essa força estranha /Por isso é que eu canto, não posso parar /Por isso essa voz tamanha
  • ·         Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista / O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece /Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são / É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão
  • ·         Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos / Estive no fundo de cada vontade encoberta /E a coisa mais certa de todas as coisas /Não vale um caminho sob o sol / E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol


É isso, e por isso que escrevemos.