A escola sem partido, ou “isso não pode
ser discutido”.
Das diversas crises que o
Brasil enfrenta, há uma, algo silenciosa, que se agrava gradativamente ao longo
dos anos, vem tomando proporções alarmantes e que não tem previsão nem a curto
nem a longo prazo de solucionar-se: é a crise educacional.
A educação no Brasil já teve
seus bons momentos, nos quais podíamos, mesmo no ensino público, apresentar
alguma qualidade. Não escrevo aqui como especialista em história da educação, o
que não sou, mas apenas como alguém que recebeu, nos anos 70, uma educação que
me permitiu formar uma base conceptual suficiente para que o prosseguimento dos
estudos se desse sem grandes percalços. Mas nunca foi algo que pudesse ser uma
referência mundial em qualidade de ensino. Principalmente porque, numa época em
que vivíamos um regime de exceção, não era objetivo formar pensadores, mas
técnicos que pudessem contribuir para o "milagre brasileiro".
Entretanto, ao longo desses
últimos 40 anos, a educação básica no Brasil, em linhas gerais, só piora.
Talvez pelo desestímulo dos professores, cujo salário é um acinte, talvez pela
falta de estrutura escolar e, certamente, pelo interesse da classe política em
evitar transformar nossas crianças em cidadãos donos de seu próprio destino, o
fato é que a qualidade do ensino básico é das piores do mundo.
Como se não bastasse essa
verdadeira catástrofe, vem agora uma organização propor, com o apoio de uma
parcela do Congresso Nacional, mais uma excrescência: a "Escola sem
Partido". Com o suposto objetivo de impedir uma mítica ideologização nas
escolas, na verdade evita a única forma de proporcionar o crescimento
intelectual, que é a contraposição de ideias que permitirá o surgimento de
jovens livre pensadores, sem amarras e preconceito, prontos a tornarem-se
conscientemente responsáveis por suas escolhas e aptos a construir seu futuro
Há que se discutir que
finalidades escusas se ocultam nesta proposta. Não sou daqueles que veem em
tudo a mão maquiavélica da elite dominante tentando massacrar a plebe ignara.
Mas não se pode bancar a Poliana e achar que o mundo é rosa. Há, sim, o claro
interesse de uma certa classe de manter a população o mais intelectualmente
despreparada possível, pois é obviamente muito mais fácil o domínio sobre os
ignorantes. É pensar pode ser muito perigoso...
Como espíritas, temos o dever
de desaprovar qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de pensamento, de
crença, de expressão.
O Espiritismo surgiu a partir de um amplo debate realizado entre encarnados (principalmente Kardec) e desencarnados, no qual questões muito profundas e polêmicas foram analisadas e discutidas. Assim, em consonância com nossa visão laica, livre-pensadora, humanista e progressista, qualquer tentativa de bloquear o debate livre, desde que imparcial, deve ser amplamente rechaçado.
O Espiritismo surgiu a partir de um amplo debate realizado entre encarnados (principalmente Kardec) e desencarnados, no qual questões muito profundas e polêmicas foram analisadas e discutidas. Assim, em consonância com nossa visão laica, livre-pensadora, humanista e progressista, qualquer tentativa de bloquear o debate livre, desde que imparcial, deve ser amplamente rechaçado.
Se algo não for feito para
frear este tipo de proposta, a consequência será a formação de um contingente
de jovens que delegará a outros seu direito inalienável de pensamento e
escolha, pois será facilmente manipulável. Como professor universitário,
percebo a cada ano que passa o quanto aqueles que ingressam no ensino superior
estão cada vez menos preparados, não conseguindo realizar tarefas básicas, como
leitura e interpretação de textos simples, compreensão das relações causais e
entendimento das vertentes históricas que formam a realidade atual. E afirmo,
sem medo de errar: não ha ação que tire o país do buraco que não passe pelo
investimento maciço em educação. O que, com os políticos que temos, está longe
de acontecer.
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