DOUTRINA
KARDECISTA - Parte I
Em Março de 2008, portanto há oito anos, Jaci Regis lançava uma cartilha de nome "Doutrina Kardecista - ( Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita). Passado esse tempo já é possível uma discussão desapaixonada sobre o material e as suas pretensões. Abordarei em vários artigos o conteúdo dessa cartilha e suas consequências. Logo na sua explicação o autor Jaci Regis fala que esse modelo conceitual surgiu a partir de uma análise crítica e da releitura da obra de Allan kardec. Obviamente toda releitura está sujeita a contraposições de quem já está acostumado a afirmar conceitos fincados no subconsciente há muito tempo.
Apesar se sabermos que as ideias básicas continuam válidas, alguns fatores impulsionam a necessidade dessa releitura. São: o aspecto evolutivo do Espiritismo, que permite segundo Jaci a adaptação aos progressos da sociedade em geral e a sua transformação em religião, que fraudaria seus conceitos evolutivos. A meu ver o maior problema seria a diversidade de atuação de cada Casa Espírita, mesmo adesas à CEPA, em se tratando da forma como abordam os conceitos espíritas.
O principal deles é o papel de Jesus de Nazaré, que via de regra, é visto como o Cristo das igrejas. Não é visto como um homem simplesmente, um espírito com uma evolução muito grande. O Mestre como falava Allan Kardec.
Criar uma linguagem nas casas espíritas, desvinculada do cristianismo, é o maior desafio dos espíritas livre-pensadores da CEPA. Como fazer isso sem correr o risco de perder adeptos? Se continuarmos simplesmente a respeitar as características de cada região em busca apenas de alguns pontos comuns não alcançaremos o progresso das ideias.
Nas Diretrizes Estratégicas da CEPA 2016/2020, existe no seu Plano de Trabalho, uma proposta de regionalização muito interessante, onde deve-se incentivar a organização a partir de semelhanças, incentivando encontros que favoreçam essa regionalização. O problema maior está na pouca mão de obra para essa execução, bem como a forma de abordagem para se atingir as mudanças que se pretendam na linguagem e no comportamento.
Por exemplo, quantos estariam dispostos a renunciar na consideração do Espiritismo como a terceira revelação da Lei de Deus? Como a CEPA apresentaria um elenco de ideias desvinculadas do cristianismo? Nos artigos seguintes veremos como Jaci Regis pretende fazer com que as pessoas se abram ao novo, sem no entanto perder as raízes do pensamento de Allan Kardec.
Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual
Parte II
“Não afirmo que conspirações nunca acontecem.
Ao contrário, elas são fenômenos sociais comuns. Mas tornam-se
importantes, por exemplo, quando pessoas que acreditam em teorias
conspiratórias chegam ao poder e se engajam contra inexistentes conspirações.
Por que precisam explicar seu fracasso em produzir o prometido paraíso".
( Karl Popper - A Sociedade Aberta e seus Inimigos).
“Com efeito o Espiritismo estabelece como
princípio que antes de crer é preciso compreender” (Allan Kardec).
O pensador espírita Mauro
Spínola, em seu excelente artigo’O Sorriso de Diegues’(Abertura de Julho/2016),
nos recorda das eleições da USE em 1986 onde um grupo de pessoas vibrantes e
sonhando com uma proposta inovadora decidiu montar a chapa Unificação hoje! Para os novos tempos uma nova USE. A chapa
concorrente “Tríplice Aspecto” colocava-se claramente como o antídoto contra a
destruição da religião espírita. Lembro bem, criou-se uma teoria conspiratória
por parte dessa chapa de que a outra na disputa queria tirar Jesus Cristo do
Espiritismo.
Foi o golpe de
misericórdia. Derrota por 63 votos a 13. A religião e Jesus Cristo estavam
salvos dos conspiradores.
Em seu trabalho Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual -
reescrevendo o modelo espírita, Jaci Regis em seu capítulo I - Modelos
Conceituais, expõe claramente que o modelo espírita se deturpou e perdeu o eixo
de sua originalidade, devido às influências das ideias cristãs. A chapa
vencedora fracassou em produzir o prometido paraíso para o Espiritismo, ao se
deixar aliciar “pela absorção total do sentido e da linguagem do evangelho
cristão” nas palavras de Jaci Regis. Me pergunto se na sua proposta
modernizadora, o grupo perdedor das eleições da USE em 1986 já conseguiu, após
30 anos, fazer com que suas casas espíritas adesas à CEPA possuam uma linguagem
limpa, não mais viciada em teses como considerar o Espiritismo a terceira
revelação da Lei de Deus, dentro da cultura cristã. Que tal um questionário aos
dirigentes e frequentadores dessas instituições adesas á CEPA se já abandonaram
essa linguagem inadequada. Ou uma lista com terminologias corretas, mais
adequadas ao modelo que se quer do Espiritismo exprimindo sua visão de homem e
de mundo.
Jaci Regis, com este trabalho,
pretendeu a recuperação da identidade da obra de Allan Kardec. Para tanto ele
indicou que a revisão da linguagem e a atualização de conceitos é indispensável
para essa finalidade.
Caso isso não ocorra,
perderemos o lugar na história do pensamento humano em se tratando de
espiritualidade para as ciências, que exercem hoje o papel de principal
opositora ao modelo cristão. O que não concordamos com as ciências em geral é o
seu modelo limitador a uma visão totalmente orgânica.
Jaci Regis não viveu para ver
o nascimento do Estado Islâmico, com seu fanatismo muçulmano, mas escreveu que
“some-se a isso a abrangência da geopolítica mundial, a influência das
religiões orientais e do Islamismo e veremos que todos os modelos religiosos,
com suas nuances específicas, são incapazes de dar uma direção, ajudar a criar
uma forma de respeito recíproco e da fraternidade básica entre as pessoas”.
Roberto Rufo.
NR: Este artigo foi publicado no Jornal Abertura, nos meses de julho e setembro de 2016.
você pode conseguir um exemplar do Modelo Conceitual no email: ickardecista1@terra.com.br ou se preferir poderá baixar em Portugês ou Espanhol no site da CEPA
Baixe aqui:
Português
Espanhol
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