A Política, uma arte em
decadência
" A
política é nossa última garantia de sanidade mental " ( Hannah Arendt )
" O
marxismo é totalmente religião, no sentido mais impuro da palavra.Antes de
tudo, compartilha com todas as formas inferiores da vida religiosa o fato de
ter sido continuamente usado, segundo a observação tão precisa de Marx, como um
ópio para o povo ". ( Simone Weil )
Em
seu excelente livro " Reflexões sobre um século esquecido 1901-2000 ",
o escritor inglês Tony Judt, falecido em Agosto de 2010, faz uma série de
perguntas muito intrigantes no capítulo XXII ( O silêncio dos inocentes: sobre
a estranha morte da América Liberal ). Eis duas delas: por que os liberais
norte-americanos aceitaram a incompetente política externa do ex-presidente
Bush, especialmente em relação à catastrófica invasão do Iraque em 2003,
resultando na morte de milhares de civis? Por que a seguida ofensiva contra as
liberdades civis e a lei internacional, ainda no governo Bush, causaram tão
pouca oposição e revolta entre as pessoas que costumavam se importar tanto com
essas questões?
Tony Judt
alerta que nem sempre foi assim, e lembra que em Outubro/1.988 o New York Times
publicou um anúncio de página inteira com propaganda do liberalismo onde
pensadores liberais atacavam abertamente o presidente Reagan.
Hoje o
liberalismo é atacado tanto pelos extremistas da esquerda quanto pelos
extremistas da direita. Já vai tarde os tempos dos intelectuais formados pela
liberal education do professor Mortimer Adler.
Citemos
alguns exemplos de como as coisas hoje mudam de lado rapidamente, ocasionando o
triste fenômeno da pobreza política dos dias atuais: a globalização que já foi
a besta-fera da esquerda, hoje é atacada pela plataforma populista de direita
do candidato Donald Trump. Ontem Vladimir Putin era um ícone da esquerda pelo
simples fato de ser contra os EUA. Hoje ele é elogiado pelos direitistas Trump
e Marine Le Pen.
Com tudo
isso a matéria " ética na política" passou a conhecer um período de
vale tudo, em nome da governabilidade, onde as ilusões perdidas da geração de
1960, foram substituídas pela dedicação integral à acumulação material e de
poder a qualquer custo.
A obra
" Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da
sociedade " do pensador espírita Aylton Paiva representa segundo
ele " mais um esforço para conscientizar o leitor espírita quanto à real
oportunidade de influência da Doutrina Espírita sobre a ordem social ".
Ele tem razão, pois sob o aspecto filosófico o Espiritismo tem muito a ver com
a Política, sendo esta " a arte de administrar a sociedade de forma
justa ".
No Brasil,
tivemos agora em Agosto/2016 o impeachment da Sra. Dilma Roussef. O atual
presidente Temer inspira pouquíssima confiança para tirar o Brasil do grave
atoleiro econômico. Nas últimas semanas foi aberta uma nova frente de
investigação policial: os fundos de pensão. De novo milhões de reais desviados,
agora desses fundos de pensão aparelhados pelo governo que caiu. E lá
estavam eles, os partidos de sustentação do governo anterior, claramente
envolvidos também na maracutaia. Afinal a base de sustentação tem que colaborar.
Por
sua vez em uma das fases da Operação Lava Jato aparece o nome do Sr. Aécio
Neves, ex-candidato a Presidente da República, que ontem era oposição e
hoje é situação. Depois essa divulgação passou a ter uma postura bem mais
reservada, quietinho para não despertar maiores suspeitas.
Como membro
da sociedade o espírita deve participar ativamente da política, até mesmo de
forma partidária, para de alguma forma levar a mensagem poderosa da evolução
espiritual, se organizando e trabalhando com o pensamento alicerçado na
verdade, na justiça e no amor ao próximo. Conheci pessoalmente o senador
espírita José de Freitas Nobre, sempre exemplificando na política, a
honestidade e retidão de caráter.
Voltando
infelizmente aos tristes fatos da política nacional: calcula-se que o cartel
dos trens do Metrô e da CPTM em São Paulo tenham causado milhões de reais de
prejuízos aos cofres públicos. Dos R$ 2,5 bilhões que o BNDES
emprestou ao Grupo JBS, este repassou 18,5% da grana em doações partidárias
para o governo da época.
O que não
se fez em nome da tal governabilidade; falcatruas sempre tramadas a partir da
Casa Civil, a nível federal e estadual . E é com essa mediocridade de políticos
que se pretende fazer a transição até 2018. Oremos!
Como muito
bem disse o Teólogo Roberto Miguel, mestre em Ciência da Religião pela PUC, se
Jesus resistiu às três tentações, o movimento messiânico do governo anterior e
os políticos de todos os matizes sucumbiram a todas elas. Como escreveu
sarcasticamente o escritor e humorista Millôr Fernandes " VIVA O
BRASIL, ONDE O ANO INTEIRO É PRIMEIRO DE ABRIL "
Nos EUA, a
trajetória de Donald Trump nos mostra lá como cá, que ampliou-se a aventura
política. Os mágicos de sempre aparecem prometendo soluções fáceis para
problemas difíceis.
Uns à
direita falam em construção de muros. Outros à esquerda, fingindo-se agora de
vítimas, prometem a multiplicação dos pães mesmo que se destrua noções
elementares da ciência econômica. Até hoje não entendi porque se escolheu
como ministro da economia o neoliberal ( afinal o neo liberalismo era a medusa
dos tempos modernos ) Joaquim Levy, se como diziam, as coisas
estavam indo muito bem. Obviamente não estavam. Mentiu-se descaradamente. O
Brasil foi enganado por uma falsa renovação ética.
É claro que
sempre existirão os crentes, não sei se ingenuamente ou não, acreditando
na tese de que a ex-presidente Dilma e o atual presidente Temer e seu novo
séquito habitam mundos distintos. Não, todos vivem no mesmo mundo da
dissimulação, do conluio, dos acordos espúrios. Apequenaram a política. E como
dizia um antigo narrador esportivo Fiori Gigliotti quando um time tomava um gol,
" agora não adianta chorar ". Moral é que nem virgindade,
perdeu está perdida, diz outra frase espetacular do Millôr.
Espíritas,
cidadãos de bem, eu sei que a decepção com a política no Brasil e no mundo é
grande, mas é oportuno, neste momento, recordarmos a afirmação de Allan Kardec,
item 25, de A Gênese, obra editada em 1.868: " O Espiritismo não cria a
renovação social; a maturidade da humanidade é que fará dessa renovação uma
necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas,
pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o
Espiritismo é mais apto do que qualquer doutrina, a secundar o movimento de
regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento ". Que texto
maravilhoso e útil para o mundo de hoje.
Roberto Rufo.
NR - Publicado no jornal Abertura outubro 2016
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