segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Blog do ICKS atinge 100 mil acessos

 

Blog do ICKS atinge 100 mil acessos

 

Atingimos a marca de 100 mil acessos no dia 27 de dezembro de 2021 e também chegamos a 500 postagens. O blog foi criado em 30 de julho de 2010 por Jaci Régis, mesmo ano em que Régis acabou por desencarnar no mês dezembro. O ICKS deu continuidade ao projeto e finalmente chegamos a neste nível de acessos.


Obrigado a todos que nos visitam, continuaremos este trabalho!


Atualizando - em abril de 2024 o Blog do ICKS está com 129.900 acessos.

As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo - por Roberto Rufo e Silva

 

As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo

 

“Temos que defender a autodeterminação dos povos. Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?” (Ex-Presidente Lula omitindo de forma proposital que a chanceler alemã nunca mandou prender os opositores no mês das eleições).

 

"Se o Braga Neto (Ministro da Defesa) autorizar, eu boto a farda e vou à luta". (Presidente Bolsonaro defendendo alterações na lei do excludente de ilicitude). 

 

 

                                 Por que deveria o espírita preocupar-se com política no mundo se há um planejamento maior que colocará todas as coisas no seu devido lugar no seu devido tempo? Para uns esse planejamento maior está escrito pelos desígnios divinos; para outros a força da história nos levará para o destino da redenção.

Como a esquerda tem sido incompetente há muito tempo, a direita no mundo se viu no papel de redentora do universo trazendo de volta em várias partes do planeta o "amor pela pátria”, o Brasil acima de tudo, America first again, como virtude maior acompanhada de uma nova teocracia, ou seja, Deus acima de todos.  

                        Acreditou-se um dia que o socialismo acabaria com a barbárie, pois a esquerda parece amar mais a humanidade, preocupada com o ser humano sofrido. Na prática, quando se transformam em partidos políticos adquirem uma sede de poder gigantesca. Mas o pensamento um pouco ingênuo da esquerda humanitária permanece, mesmo tendo em vista a história do socialismo no mundo com seus regimes totalitários e gulags. A "lógica" humanitária se mantém porque o capitalismo é realmente muito violento e a maioria das pessoas se dá mal no conjunto da obra.

                      O cientista político Christian Lohbauer se coloca numa posição que seria a minha também como espírita, ou seja, a de um conservadorismo de linha inglesa onde o progresso constitucional é fruto de processos evolutivos que não se traduzem em rupturas, enfim não são processos revolucionários. É uma ideia que me agrada. Acredito na continuidade do processo social. Ou como Allan Kardec que acreditava no progresso da legislação humana sem derramamento de sangue.  Em 1688 e 1689 a Inglaterra viveu a Revolução Gloriosa, também chamada de revolução sem sangue, 100 anos antes da França com todo seu escândalo da revolução francesa que resultou em Napoleão Bonaparte se sagrando imperador, a pretexto de defender a pureza da revolução francesa. O que ele menos respeitou foram a igualdade, fraternidade e liberdade. Foi um período de terror. As rupturas apaixonam, mas são inúteis. Contudo a era moderna tem-se desdobrado na sombra dos ideais da Revolução Francesa. 

O sonho revolucionário passou então a dominar o mundo. No entanto, foi a revolução gloriosa inglesa a primeira a conquistar o fim do absolutismo, o aumento do poder do parlamento e a estabilidade política e econômica.

                         No livro terceiro do Livro dos Espíritos, capítulo XII - Perfeição Moral - é abordada a questão das virtudes e vícios. Os espíritos logo advertem que há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências. Mas lançam um desafio muito difícil: "o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção". Algo impensável no mundo político.

Todos possuem ocultas intenções.  A filósofa Hannah Arendt escreveu que a política é a nossa última garantia de sanidade mental. Millôr Fernandes por sua vez dizia que "em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe". Houve época que acreditava piamente na primeira frase. Hoje me rendi à segunda frase. Em 2022 pelo que se acompanha haverá uma polarização na eleição presidencial brasileira. Eu antecipo que num joge do pôquer com Bolsonaro e Lula, eu só entro se for com o meu baralho.

 

Em resposta à pergunta 917 - qual é o meio de se destruir o egoísmo, os espíritos não aliviam e falam que de todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo, porque ele se prende à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não consegue se libertar e essa influência atinge a criação de leis, a organização social e a educação. 

                       

Por último concluo com as palavras dos espíritos na resposta à pergunta 918, quando afirmam que o Espírito prova sua elevação quando todos os atos de sua vida corporal são a prática da lei de Deus e quando compreende, por antecipação, a vida espiritual.  Substituam a palavra espírito por político e concluiremos que estamos a anos luz desse sonho. Salvo as exceções de praxe. E bota exceção nisso. A democracia nunca esteve tão perto de sucumbir desde o movimento das Diretas Já.

 

Meus míseros leitores, quero tranquilizá-los que enquanto persistir o meu niilismo político abandonarei esse tema até que o meu ser seja invadido por um otimismo nas instituições e nas pessoas que nos governam.

 

Jesus de Nazaré passará a ocupar um lugar de destaque nos meus futuros artigos.  

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

POR QUE JULGAMOS TANTO? por Cláudia Régis Machado

 

POR QUE JULGAMOS TANTO?

 

É da natureza humana fazer um julgamento, uma avaliação do mundo de acordo com suas crenças.

Não estou restringindo aqui ao aspecto moral do que é certo ou errado, mas um olhar que abrange vários itens da vida humana onde está contido também a perspectiva ética que compõem nossas crenças, a nossa percepção de mundo.

 



Cada pessoa é um mundo, que passa por situações e vivencias com as com as quais sofreu e aprendeu, que só ela conhece e compreende. 

 

Na maioria das vezes acreditamos que a nossa visão é a única válida, e isto atrapalha de ir, de ver mais além, e compreender outras perspectivas diferentes.

Precisamos ter uma abertura para saber que cada pessoa observa o mundo, o cotidiano sob seu próprio prisma, com lentes pessoais assim como nós.

Não existe problemas no processo de julgar, isto só passa a existir quando executamos de forma precipitada e imediatista. Não tomando cuidado de analisar o quanto sabemos daquela situação, daquela pessoa e o quanto não nos familiarizamos com o contexto que está inserido. Todos têm direito de expressar sua opinião, emitir seu ponto de vista e ser respeitado. Julgar não significa justificar os atos dos outros.

“Eu tenho a minha verdade e você tem a sua. Respeito é eu validar sua verdade, ainda que eu não a compreenda ou discorde de você”.

Não somos juízes, não estamos fazendo justiça, mas dando um parecer, uma opinião.

O que condenamos sempre, são os preconceitos tidos como crimes e as falsas informações com a intenção de difamar e prejudicar o outro.

Expressar e compartilhar pontos de vista não quer dizer convencer o outro nem que sua opinião deva prevalecer sobre a outra. Mas nem por isso devemos deixar de falar porque existimos a partir das nossas verdades, que não são imutáveis.

Troca de opiniões, através do diálogo é ouvir e transmitir com serenidade.

As diferenças não são negativas pois ajuda a abrir a mente diante de diversas situações e a liberdade para se repensar ou não, nossa visão de mundo.

Os julgamentos que realizamos são permeados por valores e preconceitos que carregamos dentro de nós. Revelam muito a respeito de nosso caráter, nossa personalidade e até como anda a nossa vida e quando nos desconhecemos, apesar de ser uma análise simplista, somos muito mais complexos tendemos como mecanismo de defesa projetar no outro, atribuir aos outros, nossos defeitos, sentimentos e desejos; que em psicanálise é uma forma do indivíduo defender-se dos próprios desejos imputando-os a outro sujeito.  

“A alma sempre tende a julgar os outros segundo o que pensa de si mesma”

– Giacomo Leopardi –

 

Uma atitude positiva e fundamental é o autojulgamento para trazer autoconhecimento, que facilita o olhar para si e para o outro. Traz uma flexibilidade para ouvir o pensamento do outro, e de se colocar no lugar do outro para conseguir uma postura de empatia.

Infelizmente executamos o ato de julgar com mais facilidade em relação ao outro do que a nossa própria avaliação. A postura muda quando somos julgados, sentindo-nos sensibilizados e incomodados.

Por isso quando o foco do julgamento é o comportamento do outro devemos sempre ter em mente: o que pretendemos realmente? É fazer com que os outros vejam nossa visão de mundo? Devemos ter a consciência que nosso padrão, nosso modo de ver o mundo não é o único.

Devemos ter cuidado para que nossos julgamentos não sejam uma especulação da vida alheia e que o uso não seja indiscriminado e virem fofoca pois geralmente se propagam rapidamente.

Abra sua mente e permita-se descobrir novas perspectivas para ampliar a sua visão de mundo. Faça do exercício de autoconhecimento um hábito, tornando-se assim mais gentis e tolerantes em suas análises.

Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Abertura de novembro de 2021, interessado em ver o jornal? 

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/20-jornal-abertura-2021?download=127:jornal-abertura-novembro-de-2021


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terça-feira, 23 de novembro de 2021

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE por Ricardo Nunes

 

ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE


Ricardo de Moraes Nunes 

“O prazer é a meta natural na vida. O sofrimento é transitório, eventual. Temos que construir uma consciência feliz, que ame, que busque o prazer de viver “Jaci Régis

Será que o espiritismo combina com a ideia de prazer e felicidade? Não estaria o espiritismo ligado apenas a ideia da morte, de fantasmas do outro mundo, de resignação ante o sofrimento? Não busca o espírita apenas a libertação do Espírito com vistas a uma entrada feliz no outro mundo?

Certamente a felicidade absoluta é impossível neste mundo. Como poderíamos ser absolutamente felizes em um planeta no qual existem tantos problemas. Aqui na Terra temos insegurança alimentar, doenças, violência, desemprego, famílias sem teto, crianças desamparadas, destruição ecológica, ditaduras políticas e tantos outros problemas. Neste sentido, falarmos em felicidade absoluta seria um verdadeiro egoísmo, pois estaríamos alimentando uma postura indiferente, alienada dos graves problemas que vivemos na faixa da existência terrestre.

 Mas podemos perguntar ainda. É possível pelo menos uma felicidade relativa neste mundo? É possível uma felicidade pessoal geradora de prazer interior, porém não alienada, não desconhecedora dos problemas terrenos?

O espiritismo nos traz uma ideia de felicidade e prazer possíveis de serem alcançados na Terra. O espiritismo bem compreendido nos traz alguns princípios filosóficos importantes para que compreendamos a vida física de forma positiva.

A primeira ideia a ser destacada que nos oferece a filosofia espírita é que a defende que a vida terrena é oportunidade de aprendizado, de crescimento, amadurecimento, realização e conquista da sabedoria. O espiritismo nos convida a olharmos nossas existências terrestres como oportunidades de construção de nós mesmos e do mundo ao qual pertencemos. Portanto, nos ensina a valorizarmos e amarmos a vida, a Terra, o mundo.

Em relação ao sofrimento o espiritismo nos ensina a distinguir entre o bem e o mal sofrer. O mal sofrer é o que causa a revolta, o desânimo, que nos faz desistir. Já o bem sofrer é aquele que nos faz resistir corajosamente aos desafios e dificuldades da vida com vistas a nos tornarmos mais firmes, mais sábios, mais experientes perante nossas dores e sofrimentos, com vistas a superação.

Sem dúvida que existirão as lutas que não venceremos e que a aceitação madura perante o incontornável será necessária. Segundo Léon Denis: “É um dever lutar contra a adversidade. Abandonar-nos, deixar-nos levar pela preguiça, sofrer sem reagir aos males da vida seria uma covardia. Mas, quando os nossos esforços se tornam supérfluos, quando tudo é inevitável, chega então o momento de apelarmos à resignação”.

Não há dúvida, no entanto, que mesmo as batalhas perdidas podem trazer ensinamentos ao Espírito imortal que somos e podem se traduzir em amadurecimento pessoal, espiritual, se soubermos enfrentar com sabedoria esses momentos de perda.

É necessário dizer também que o espiritismo não condena a alegria, os momentos de festa. Não nos diz para sermos sisudos e aparentarmos uma seriedade que muitas vezes não temos. O exemplo Jesus de Nazaré tem relevância para os espíritas nesse sentido. Da mesma maneira que brindava o casamento de alguns amigos, chorava por Lázaro e expulsava os vendilhões do templo.  Jesus de Nazaré possuía uma conduta natural, não artificial, não farisaica, fingindo hipocritamente ser melhor do que os outros. Agia em conformidade com cada ocasião.

Provavelmente, Jaci Regis foi o pensador espírita que melhor compreendeu a importância teórica de se ressaltar o prazer de viver como tema relevante no âmbito filosofia espírita e como práxis existencial espírita. Jaci compreendeu extraordinariamente a importância de se construir uma vida produtiva e útil no bem e de nos afastarmos do culto ao sofrimento tão presente na proposta cristã e espírita cristã.

 Não que Jaci negasse a existência do sofrimento, apenas enfatizava a necessidade de nos dedicarmos a sua superação, sem ficarmos perdendo tempo em cogitações hipotéticas, de caráter reencarnacionista, frequentemente indemonstráveis empiricamente, sobre eventuais causas anteriores do sofrimento. Não desconhecia, é claro, a lei natural das vidas sucessivas, apenas criticava esse procedimento especulativo inútil banalizado em nosso movimento espírita.

A vida é para ser vivida agora com alegria e confiança. Não precisamos esperar o além para sermos felizes. Aqui e agora realizaremos o céu e o inferno dentro de nós. No momento presente, nesse instante, nessa fração de segundos entre o passado e o futuro, é que se encontra a vida. Portanto, segundo o melhor entendimento da filosofia espírita, é o agora que importa. O além obviamente existe, mas nosso estado futuro será determinado pelo que somos agora.

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo por Jaci Régis

 

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo - Jaci Régis

  

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã.

Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros, compatíveis com o modelo cristão.

 

Jaci Régis aos 40 anos

 1. O mundo é de provas e expiações,

 2. Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas,

3. Deus se manifestou em três grandes momentos, para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos.

 

São as três revelações da Lei de Deus. Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual.

 

A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião. Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.

Todavia, aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã.

 

Isso levou à afirmação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra. Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade.

 

Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

 

O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o rei governando o mundo.

Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim.

Desenvolver a ideia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente tornou o Espiritismo prisioneiro da promessa da vinda do reino de Deus.  Kardec então elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

 

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a  sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se. O que seria, disse, o suicídio da doutrina.

 É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais.

 

A definição do Espiritismo

 

O século XXI desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste da ciências duras, coadjuvadas pelas ciências humanas.

Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século vinte e um?

Neste século, o Espiritismo terá pelo menos duas expressões.

         1. O Espiritismo cristão

Com duas versões:

 - Religião Espírita

Atualmente, de modo geral e majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para  o contexto em que foram ditas.

Os espíritas cristãos são basicamente católicos mediúnicos.

 -Espiritismo laico cristão.

Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2 - Espiritismo pós-cristão

A única saída para que o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão.

Esse Espiritismo pós-cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana. A Ciência da alma.

 

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma   revelação divina,  para ombrear-se, de forma muito especial,  com o esforço  das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.

 

Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas.

O objetivo maior será introduzir na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo.

Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente.

 

Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

 

Muitos podem questionar se um Espiritismo pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no início e do tempo decorrente.

 

O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado.

Assimilará as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais   ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

 

Jaci Régis, escritor espírita, psicólogo e economista - desencarnado em 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias - por Alexandre Cardia Machado

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias

Trabalho apresentado no XXIII Congresso Espírita Panamericano



Apresentação congresso - clique aqui

Vá diretamente no link de YouTube a assista ao evento, são 30' incluida a apresentação e perguntas e respostas. 

Um pequeno resumo da apresentação ou dos aspectos que me levaram a concluir pela serenidade:

Tivemos a oportunidade de fazer parte deste evento mundial e poder apresentar uma reflexão mais positiva a respeito do gênero humano. Procuramos demonstrar que não há nada na história recente da humanidade que nos desanime e que não nos permita pensar que estamos evoluindo como espíritos. Como em tudo na vida a evolução não se dá em linha reta, precisamos entender os nossos ciclos.

Nosso trabalho demonstra que no momento em que surge o Espiritismo o ambiente era bastante conturbado na Europa e principalmente na França, no entanto para alguém que se ponha a estudar as obras básicas não encontrará nenhuma palavra de desespero.

Notamos, mesmo entre os espíritas um comportamento muito próximo das pessoas não espíritas, o fato de sabermos que somos imortais não parece arrefecer o impulso a ações mais ríspidas, ou mesmo exageradas.

O Espiritismo nos ensina o caminho do meio, a moderação o controle de nosso impulsos a temperança.

Buscamos trazer aqui trechos de artigos publicados por diversos autores nas páginas do Jornal Abertura palavras que nos animem e que nos ajudem a manter a serenidade.

Nas palavras de Jaci Régis:

“O Novo modelo (Doutrina Kardecista) identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”[1]

 Finalmente concluiremos que uma das missões do espiritismo é demonstrar na prática que este comportamento sereno é possível, que se pode criticar e com isto aprender a melhorar, mas não podemos perder a tranquilidade porque a imortalidade dinâmica nos ensina que esta caminhada é longa e tem percalços, mas por isto mesmo é bonita.

O momento em que o Espiritismo surge – ambiente

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida: 

(ver o vídeo)

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Este quadro histórico demonstra, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto claro não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipé na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 21 anos de século XXI, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, de mortes inúteis nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita.


Evidências de que Kardec se manteve sereno

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos[1] Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo. (Alexandre Cardia Machado – A tranquilidade Espírita -março 2020 -Jornal Abertura)

 

O momento em que vivemos hoje – A Parábola da calçada (assista o vídeo no Youtube)

Esta foto da calçada da Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de passar A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar. Santos é uma cidade que possui seis quilômetros de praia, na área urbana, na sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos apenas com a calçada.

 

Andar por este caminho é exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.

 

O que isto tem a ver com a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.

 

Neste espaço estreito da calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos a fim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas balanço de pagamentos internacional, guerras, pandemias ou preços das comodites. O que vemos é que 5 anos depois a calçada está mais larga e mais resistente, assim como nós deveríamos ficar no convívio com o processo democrático.

 

 

Este fenômeno de mudanças mais ou menos radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a vontade popular é que a democracia sobreviva.

 

Allan Kardec, chamado por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuía o bom senso ao avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia (Machado, Alexandre - O difícil caminho da democracia - editorial jornal Abertura de novembro de 2016).

 

 

Serenidade

Sobre como enfrentar a realidade e o Estado de Bem Estar Social - O Pensador francês Luc Ferry muitas vezes citado neste periódico, em seu livro “ A Revolução do Amor” de 2010 nos apresenta um texto, contido no capítulo  - Três fortes objeções contra uma “política do amor” -  que gostaria de reproduzir aqui alguns trechos, como contribuição ao debate que nos assola nos dias de hoje e convidar os leitores a revisar este livro.

 

Alguns pensam que com a crise “vamos retornar a um pouco mais de generosidade, a um pouco menos de egoísmo” porque eles não compreenderam nada de economia nem da humanidade. Retornar (retrotopia)? ... Vocês acreditam que a sociedade do século XIX era mais generosa e menos egoísta que a nossa? Releiam Balzac e Zola!” – André Comte-Sponville – O gosto de viver”.

 

Não se poderia dizer melhor. Concordo que se deva apelar para o ideal para criticar o real. Mas, nessas condições, a menor das exigências consiste em indicar de que real se fala, e que ideal se exige. Ora, apesar de todos os defeitos que se queira encontrar, o real dos Estados de bem-estar social europeus é simplesmente o mais suave que já se conheceu na história humana.

 

Quanto ao ideal em nome do qual ele é criticado, o mínimo é que ele exiba claramente os motivos que nos permitam ter a menor esperança de que ele fará melhor, e não, como de costume, infinitamente pior. Vocês me permitirão duvidar ainda e sempre, mais do que nunca, de que o marxismo-leninismo enfeitado com um pouco de maoísmo e de trotskismo, doutrinas que sempre produziram as piores catástrofes humanas por toda parte onde foram impostas aos povos, esteja hoje pronto para fazer melhor do que esse misto admirável de liberdade e bem-estar que, bem ou mal, conseguiram garantir nossas repúblicas democráticas.”

 

Luc Ferry expressa claramente o porquê da rejeição aos partidos socialistas que vem ocorrendo repetitivamente mundo afora, eles não apresentam históricos convincentes de sucesso. Onde atingiram algum sucesso, foi à custa de muitas vidas e pela supressão da liberdade. A guinada ao centro que estamos presenciando é uma aposta da sociedade na busca deste estado de bem-estar social. Que é social-democrata, que é capitalista, mas com viés social, que não é estatizante e que valoriza a produtividade.

 

A Tão Complexa Lei do Progresso

 

Gostaríamos de discutir um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento natural no orgulho e o egoísmo.

 

Da Questão 793 do Livro dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da resposta abaixo:

 

“793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?

“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral...”

 

Enfim fica aqui o convite à reflexão de nossos leitores.






[1] Kardec, Allan – O livro dos Espíritos -Ed FEB - Introdução



[1] Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista – Jaci Régis – editora ICKS



Alexandre Cardia Machado é o Presidente do ICKS e redator do Jornal Abertura.

 

 


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Quer ler o jornal Abertura online?

 

Comunicado aos assinantes do Jornal ABERTURA

O nosso Abertura, colorido, online já é totalmente grátis, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer parte do mundo.

Você já pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no Blog do ICKS à direita, conforme mostra o círculo, na foto abaixo, logo ao entrar na página. Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos. Vá ao nosso Blog: https://icksantos.blogspot.com/

 Se alguém quiser antecipar o recebimento do jornal via e-mail ou whats app no formato pdf no ano de 2021 é fácil, é só entrar em contato pelo e-mail -ickardecista1@terra.com.br. E nós faremos isto por você ou se preferir faça você mesmo acessando no site, conforme as instruções apresentadas acima.

Ou se preferir, basta clicar diretamente no link abaixo e acessar o site da CEPA – Associação Espírita Internacional e ler o Abertura.

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/20-jornal-abertura-2021 

Qualquer pessoa pode baixar o Abertura.

 

 

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA - por Ricardo de Morais Nunes

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA

TEXTO DE RICARDO NUNES APRESENTADO NA MESA REDONDA “ESPIRITISMO E PANDEMIA” NO XXIII CONGRESSO DA CEPA EM 08 DE OUTUBRO DE 2021

É interessante observar que em uma época de individualismo exacerbado promovido por concepções neoliberais de economia, política e sociedade, um vírus, um simples e invisível vírus, denominado COVID 19, acentuou ainda mais a separação entre as pessoas.

  Na verdade, muitos de nós já vivíamos sob a perspectiva do isolamento introjetando os valores da sociabilidade capitalista, os quais apontam para o ter e não para o ser, para o egoísmo e não para o altruísmo. Infelizmente, temos frequentemente esquecido que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo e que os laços sociais são uma espécie de oxigênio da vida.

Durante a pandemia do vírus não pudemos mais nos abraçar, não pudemos nos beijar, não pudemos nos aproximar. Ficamos reclusos em nossas casas tentando organizar os espaços de fora, e nos deparando muitas vezes com os vazios de dentro. O velho ditado “tempo é dinheiro” perdeu o sentido. Aquela sensação de ocupação e pressa nos abandonou por esses longos meses.

Tivemos que exercitar a paciência, a espera, e os dias passaram devagar. Passamos a trabalhar em casa misturando nossos materiais de trabalho com o ambiente doméstico e com os brinquedos de nossos filhos, renunciamos aos lazeres e passeios, nos afastamos de familiares e amigos. Muitos de nós perdemos entes queridos. Familiares e amigos partiram para o mundo maior, para o mundo dos Espíritos, enchendo-nos o coração de dor e saudade, sendo a filosofia espírita o mais forte apoio aos nossos pensamentos e emoções nestes graves momentos.

O vírus certamente trará grandes lições. Sairemos melhores desta crise? Aprenderemos alguma coisa? É difícil dizer.

 E o espiritismo, enquanto filosofia espiritualista, o que tem a dizer em um momento tão difícil para a humanidade? A filosofia espírita descortina a todos novos horizontes existenciais. Nos ensina que tudo passa, se transforma e evolui.

 Segundo o espiritismo, das sociedades agrárias às sociedades pós-industriais, estamos submetidos a um complexo processo evolutivo, não uniforme, sem dúvida sujeito a avanços e retrocessos no terreno da história, porém rumo a patamares superiores de civilização, sendo que tal processo evolutivo se dá pelas leis psicofísicas da reencarnação.

O espiritismo ensina que a vida, em si mesma, é imperecível e transcendente. Que acima de tudo somos e que continuaremos a ser mesmo após a morte.   Ensina a confiança na razão, na ciência, na capacidade do ser humano em resolver os seus problemas.   Lembra que a dor e o prazer, a vida e a morte, a tristeza e a felicidade, são fatores inerentes às leis naturais do planeta em que vivemos, sem desconsiderar, é claro, os excessos e equívocos humanos na produção de sofrimentos.

 Nos conscientiza que somos os protagonistas do nosso destino, sem desprezar os determinismos de variada natureza que incidem sobre nossas vidas.  Esclarece a importância do amor e da solidariedade na construção de um ser humano e de um mundo melhor.

Que possamos, a partir das lições deste difícil período, ter clareza da importância de nossa existência terrestre em nosso desenvolvimento individual e coletivo. Que aprendamos a cultivar uma nova sociabilidade não mais centrada apenas no “eu”, mas que considere o “nós”. Que compreendamos a terra como nossa casa comum a ser preservada e que nos conscientizemos da rede invisível que nos entrelaça a todos, em uma trama de ações e reações sob a perspectiva dialética indivíduo-sociedade.

Uma das grandes lições do vírus é a de que ele não é democrático, pois atingiu preferencialmente os pobres e despossuídos, os quais ficaram mais expostos e vulneráveis por viverem em habitações precárias que não permitem os devidos cuidados de afastamento social, e também por terem tido que sair às ruas, em meio à maior crise de saúde pública de nosso século, na busca do pão de cada dia.

 Apesar disso, constatamos, que o aristocrata, o milionário, e o trabalhador são iguais em fragilidade física. Ficou claro para aqueles que tem “olhos de ver” que o dilema economia X saúde é um falso dilema. Sem trabalhadores saudáveis não há possibilidade de se construir uma sociedade economicamente forte.

 A prioridade em qualquer sociedade civilizada deve ser a vida e não o capital, mesmo porque todos sabemos que o problema do mundo não é falta de dinheiro, mas sim a concentração da riqueza nas mãos de minorias privilegiadas.

Outra lição fundamental deste período, foi a que nos ensinou que o risco de morte repentina é uma realidade mais próxima do que imaginávamos, o que nos fez compreender que o amanhã na Terra é apenas uma possibilidade. Compreendemos, efetivamente, a importância do agora.

Esta crise da pandemia também abriu algumas poucas janelas de oportunidade. Parece-me que a maior delas se deu no campo das comunicações. Este congresso virtual da CEPA, reunindo espíritas das Américas e da Europa, sem saírem de suas casas, é um bom exemplo desse novo tempo que se inicia.

Finalmente, gostaria de fazer alguns agradecimentos:

Em primeiro lugar, aos profissionais de saúde, em especial aos médicos e enfermeiros que ficaram na linha de frente no combate ao COVID 19.

Aos cientistas que trabalharam intensamente com vistas a descobrir as vacinas necessárias ao enfrentamento desta doença. Sonho com o dia em que as conquistas da ciência beneficiarão toda a humanidade.

A todos os trabalhadores dos supermercados, farmácias e comércios em geral que mantiveram a economia básica funcionando, com vistas a evitar a escassez de alimentos e produtos fundamentais.

A todos os professores que mantiveram sua tarefa de ensinar mesmo à distância, sem poder contar com a presença física e a alegria de seus alunos.

A todos os governos que promoveram a valorização da ciência e compreenderam a necessidade das estratégias de afastamento social e, por isso, cumpriram com seu dever de cuidado perante seus cidadãos.

A todos os Estados que possuem um sistema de saúde público, universal e gratuíto. Ficou absolutamente claro que os países que tinham sistemas públicos de saúde estavam mais aparelhados para enfrentar essa tremenda crise.

 Em relação ao Brasil, meu país, deixo minha especial homenagem ao SUS (Sistema Único de Saúde), sistema que luta para sobreviver ante a carência de verbas de financiamento, mas que possui em seus quadros verdadeiros heróis na luta contra a pandemia e contra as doenças em geral. Os profissionais e militantes dos SUS têm nos ensinado que medicina e saúde não devem ser compreendidas como mercadorias.

A todos os cidadãos do mundo que não deixaram de acreditar na ciência em tempos de negacionismo científico. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.