quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias - por Alexandre Cardia Machado

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias

Trabalho apresentado no XXIII Congresso Espírita Panamericano



Apresentação congresso - clique aqui

Vá diretamente no link de YouTube a assista ao evento, são 30' incluida a apresentação e perguntas e respostas. 

Um pequeno resumo da apresentação ou dos aspectos que me levaram a concluir pela serenidade:

Tivemos a oportunidade de fazer parte deste evento mundial e poder apresentar uma reflexão mais positiva a respeito do gênero humano. Procuramos demonstrar que não há nada na história recente da humanidade que nos desanime e que não nos permita pensar que estamos evoluindo como espíritos. Como em tudo na vida a evolução não se dá em linha reta, precisamos entender os nossos ciclos.

Nosso trabalho demonstra que no momento em que surge o Espiritismo o ambiente era bastante conturbado na Europa e principalmente na França, no entanto para alguém que se ponha a estudar as obras básicas não encontrará nenhuma palavra de desespero.

Notamos, mesmo entre os espíritas um comportamento muito próximo das pessoas não espíritas, o fato de sabermos que somos imortais não parece arrefecer o impulso a ações mais ríspidas, ou mesmo exageradas.

O Espiritismo nos ensina o caminho do meio, a moderação o controle de nosso impulsos a temperança.

Buscamos trazer aqui trechos de artigos publicados por diversos autores nas páginas do Jornal Abertura palavras que nos animem e que nos ajudem a manter a serenidade.

Nas palavras de Jaci Régis:

“O Novo modelo (Doutrina Kardecista) identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”[1]

 Finalmente concluiremos que uma das missões do espiritismo é demonstrar na prática que este comportamento sereno é possível, que se pode criticar e com isto aprender a melhorar, mas não podemos perder a tranquilidade porque a imortalidade dinâmica nos ensina que esta caminhada é longa e tem percalços, mas por isto mesmo é bonita.

O momento em que o Espiritismo surge – ambiente

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida: 

(ver o vídeo)

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Este quadro histórico demonstra, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto claro não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipé na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 21 anos de século XXI, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, de mortes inúteis nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita.


Evidências de que Kardec se manteve sereno

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos[1] Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo. (Alexandre Cardia Machado – A tranquilidade Espírita -março 2020 -Jornal Abertura)

 

O momento em que vivemos hoje – A Parábola da calçada (assista o vídeo no Youtube)

Esta foto da calçada da Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de passar A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar. Santos é uma cidade que possui seis quilômetros de praia, na área urbana, na sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos apenas com a calçada.

 

Andar por este caminho é exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.

 

O que isto tem a ver com a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.

 

Neste espaço estreito da calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos a fim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas balanço de pagamentos internacional, guerras, pandemias ou preços das comodites. O que vemos é que 5 anos depois a calçada está mais larga e mais resistente, assim como nós deveríamos ficar no convívio com o processo democrático.

 

 

Este fenômeno de mudanças mais ou menos radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a vontade popular é que a democracia sobreviva.

 

Allan Kardec, chamado por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuía o bom senso ao avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia (Machado, Alexandre - O difícil caminho da democracia - editorial jornal Abertura de novembro de 2016).

 

 

Serenidade

Sobre como enfrentar a realidade e o Estado de Bem Estar Social - O Pensador francês Luc Ferry muitas vezes citado neste periódico, em seu livro “ A Revolução do Amor” de 2010 nos apresenta um texto, contido no capítulo  - Três fortes objeções contra uma “política do amor” -  que gostaria de reproduzir aqui alguns trechos, como contribuição ao debate que nos assola nos dias de hoje e convidar os leitores a revisar este livro.

 

Alguns pensam que com a crise “vamos retornar a um pouco mais de generosidade, a um pouco menos de egoísmo” porque eles não compreenderam nada de economia nem da humanidade. Retornar (retrotopia)? ... Vocês acreditam que a sociedade do século XIX era mais generosa e menos egoísta que a nossa? Releiam Balzac e Zola!” – André Comte-Sponville – O gosto de viver”.

 

Não se poderia dizer melhor. Concordo que se deva apelar para o ideal para criticar o real. Mas, nessas condições, a menor das exigências consiste em indicar de que real se fala, e que ideal se exige. Ora, apesar de todos os defeitos que se queira encontrar, o real dos Estados de bem-estar social europeus é simplesmente o mais suave que já se conheceu na história humana.

 

Quanto ao ideal em nome do qual ele é criticado, o mínimo é que ele exiba claramente os motivos que nos permitam ter a menor esperança de que ele fará melhor, e não, como de costume, infinitamente pior. Vocês me permitirão duvidar ainda e sempre, mais do que nunca, de que o marxismo-leninismo enfeitado com um pouco de maoísmo e de trotskismo, doutrinas que sempre produziram as piores catástrofes humanas por toda parte onde foram impostas aos povos, esteja hoje pronto para fazer melhor do que esse misto admirável de liberdade e bem-estar que, bem ou mal, conseguiram garantir nossas repúblicas democráticas.”

 

Luc Ferry expressa claramente o porquê da rejeição aos partidos socialistas que vem ocorrendo repetitivamente mundo afora, eles não apresentam históricos convincentes de sucesso. Onde atingiram algum sucesso, foi à custa de muitas vidas e pela supressão da liberdade. A guinada ao centro que estamos presenciando é uma aposta da sociedade na busca deste estado de bem-estar social. Que é social-democrata, que é capitalista, mas com viés social, que não é estatizante e que valoriza a produtividade.

 

A Tão Complexa Lei do Progresso

 

Gostaríamos de discutir um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento natural no orgulho e o egoísmo.

 

Da Questão 793 do Livro dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da resposta abaixo:

 

“793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?

“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral...”

 

Enfim fica aqui o convite à reflexão de nossos leitores.






[1] Kardec, Allan – O livro dos Espíritos -Ed FEB - Introdução



[1] Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista – Jaci Régis – editora ICKS



Alexandre Cardia Machado é o Presidente do ICKS e redator do Jornal Abertura.

 

 


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