domingo, 3 de outubro de 2021

A voz do coração - por Cláudia Régis Machado

 

A voz do coração

Se perguntarmos para as pessoas o que é ouvir a voz do coração, suponho que a maioria responderia que é ouvir os sentimentos, as emoções que estão no interior de cada ser humano.



A resposta estaria certa.

Mas só temos a voz do coração? Seria incompleto, muito simplificado acreditar que sim, pois somos um espírito complexo composto por emoções, sentimentos e razão, que caminham juntos na dinâmica vivencial.

Antes de discorrermos sobre o assunto devemos colocar que emoção é diferente de sentimento, embora muitas vezes usemos no mesmo sentido. É uma simplificação.

Emoção é uma reação corporal, motora que advém do nosso cérebro que faz parecer em resposta a alguma situação. É inato. Reação emocional que compartilha toda a espécie humana.

Para o neurologista português Antônio Damásio “o sentimento é a forma como a mente vai interpretar essas reações corporais, os movimentos emocionais do corpo”.

Os sentimentos têm forte componente cognitivo. Você pensa através dele, você constrói uma percepção afetiva ou a desconstrói.

No seu livro Uma Nova Visão do Homem e do Mundo Jaci Régis coloca que: “na sua evolução o espírito assumindo as qualidades de discernimento e de escolha, característica do nível racional, começa uma nova fase quando o elemento afetivo quase todo impulso puro começa a submeter-se aos limites que a relação com o outro impõe. Estes componentes vão sendo refinados e melhorados através de milhares de anos, o que ocorre no processo reencarnátorio, onde aprende na vivência, muitas vezes de maneira forçada, as condições que tornam a vida possível tanto na sobrevivência animal quanto nas relações afetivas do homem”.

Não é possível dividir o indivíduo, olhando-o somente por um aspecto quer seja emocional ou racional.  Podemos em situações ter uma atuação mais racional e outra mais emocional. Mas no inconsciente e no consciente há toda uma elaboração, mesmo que rapidamente, dos dois modos de agir.

O estudo sobre a estrutura do cérebro avançou muito e segundo, Damásio “é preciso que o cérebro seja capaz de representar aquilo que se passa no corpo e fora dele de uma forma muito detalhada”. Coloca ainda que: “as decisões mais impulsivas e emocionas são originadas na região do cérebro chamada amigdala. Já aquelas decisões mais racionais vêm do hipotálamo até chegar ao neocortéx. Este trajeto entre hipotálamo e o neocortex é mais longo e segundo o estudioso, talvez por isso temos mais tempo para pensar”.

Muitos separam dizendo: - seu coração é duro, você não tem coração, és um insensível ou você é só razão! Isto é uma observação incompleta, pois esses não são processos excludentes. Nas diversas formas de nos expressar demonstramos esses dois aspectos de forma misturada, mesclada e unitária.

Usar a inteligência, a razão, identificar as emoções primárias e depois aprender a nomear os sentimentos, reconhecê-los em si mesmos e vive-los de forma harmônica é decorrência de muitos fatores, dois deles: a educação e os condicionamentos socioculturais.

A emoção pode moldar o raciocínio.  O raciocínio pode alterar nossas emoções. Conciliar bem a emotividade com a racionalidade demonstra equilíbrio e maturidade espiritual. A medida em que as sociedades evoluem caminhamos para uma maior harmonia entre o lado emocional e o lado racional. Ainda nem sempre é visível essa harmonia, é um trabalho a se avançar.

O estado de desequilíbrio muitas vezes ocorre e para uma melhora é importante primeiramente autoanalisar-se, refletir e verificar com grande pormenor quais as situações que nos trouxeram a este estado e encontrar soluções, sozinho ou com ajuda, para aperfeiçoar a maneira de reagir a estas e ter uma mudança de postura.

A racionalidade e os aspectos afetivos que estão presentes no nosso dia a dia. Quando pensamos em progresso do espírito pensamos sempre no equilíbrio, no meio termo do uso destes elementos. Aprender a administrar, autogerenciar estes itens e vivenciarmos estes aprendizados irão proporcionar um desempenho harmonioso, criativo, produtivo e revelarão compreensão e o entendimento da vida.

Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos -é Vice-Presidente do ICKS.

Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura de setembro de 2021, quer ler o jornal todo?

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