A
voz do coração
Se
perguntarmos para as pessoas o que é ouvir a voz do coração, suponho que a maioria
responderia que é ouvir os sentimentos, as emoções que estão no interior de
cada ser humano.
A
resposta estaria certa.
Mas
só temos a voz do coração? Seria incompleto, muito simplificado acreditar que
sim, pois somos um espírito complexo composto por emoções, sentimentos e razão,
que caminham juntos na dinâmica vivencial.
Antes
de discorrermos sobre o assunto devemos colocar que emoção é diferente de
sentimento, embora muitas vezes usemos no mesmo sentido. É uma simplificação.
Emoção
é uma reação corporal, motora que advém do nosso cérebro que faz parecer em resposta
a alguma situação. É inato. Reação emocional que compartilha toda a espécie humana.
Para
o neurologista português Antônio Damásio “o sentimento é a forma como a mente
vai interpretar essas reações corporais, os movimentos emocionais do corpo”.
Os
sentimentos têm forte componente cognitivo. Você pensa através dele, você
constrói uma percepção afetiva ou a desconstrói.
No
seu livro Uma Nova Visão do Homem e do Mundo Jaci Régis coloca que: “na
sua evolução o espírito assumindo as qualidades de discernimento e de escolha,
característica do nível racional, começa uma nova fase quando o elemento
afetivo quase todo impulso puro começa a submeter-se aos limites que a relação
com o outro impõe. Estes componentes vão sendo refinados e melhorados através
de milhares de anos, o que ocorre no processo reencarnátorio, onde aprende na
vivência, muitas vezes de maneira forçada, as condições que tornam a vida
possível tanto na sobrevivência animal quanto nas relações afetivas do homem”.
Não
é possível dividir o indivíduo, olhando-o somente por um aspecto quer seja
emocional ou racional. Podemos em
situações ter uma atuação mais racional e outra mais emocional. Mas no
inconsciente e no consciente há toda uma elaboração, mesmo que rapidamente, dos
dois modos de agir.
O
estudo sobre a estrutura do cérebro avançou muito e segundo, Damásio “é preciso que o cérebro seja capaz de representar aquilo
que se passa no corpo e fora dele de uma forma muito detalhada”. Coloca ainda
que: “as decisões mais impulsivas e emocionas são originadas na região
do cérebro chamada amigdala. Já aquelas decisões mais racionais vêm do
hipotálamo até chegar ao neocortéx. Este trajeto entre hipotálamo e o neocortex
é mais longo e segundo o estudioso, talvez por isso temos mais tempo para
pensar”.
Muitos
separam dizendo: - seu coração é duro, você não tem coração, és um insensível
ou você é só razão! Isto é uma observação incompleta, pois esses não são
processos excludentes. Nas diversas formas de nos expressar demonstramos esses
dois aspectos de forma misturada, mesclada e unitária.
Usar
a inteligência, a razão, identificar as emoções primárias e depois aprender a
nomear os sentimentos, reconhecê-los em si mesmos e vive-los de forma harmônica
é decorrência de muitos fatores, dois deles: a educação e os condicionamentos
socioculturais.
A
emoção pode moldar o raciocínio. O raciocínio
pode alterar nossas emoções. Conciliar bem a emotividade com a racionalidade demonstra
equilíbrio e maturidade espiritual. A medida em que as sociedades evoluem
caminhamos para uma maior harmonia entre o lado emocional e o lado racional. Ainda
nem sempre é visível essa harmonia, é um trabalho a se avançar.
O
estado de desequilíbrio muitas vezes ocorre e para uma melhora é importante
primeiramente autoanalisar-se, refletir e verificar com grande pormenor quais
as situações que nos trouxeram a este estado e encontrar soluções, sozinho ou
com ajuda, para aperfeiçoar a maneira de reagir a estas e ter uma mudança de
postura.
A
racionalidade e os aspectos afetivos que estão presentes no nosso dia a dia.
Quando pensamos em progresso do espírito pensamos sempre no equilíbrio, no meio
termo do uso destes elementos. Aprender a administrar, autogerenciar estes itens
e vivenciarmos estes aprendizados irão proporcionar um desempenho harmonioso,
criativo, produtivo e revelarão compreensão e o entendimento da vida.
Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos -é Vice-Presidente do ICKS.
Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura de setembro de 2021, quer ler o jornal todo?
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