Uma série de grupor espíritas progressistas publica um manifesto denunciando o massacre em Gaza.
quarta-feira, 30 de julho de 2025
segunda-feira, 28 de julho de 2025
MEMES DE FRANCISCO E MUJICA - por Milton Medran Moreira
MEMES DE FRANCISCO E MUJICA - coluna Opinião em Tópicos
-Milton Medran Moreira
As
mortes do Papa Francisco e de Pepe Mujica, acontecidas no espaço de uma semana,
deram origem a muitos “memes” nas redes sociais. Alguns deles retratam a
presença dos dois, na dimensão espiritual, compartilhando, descontraidamente, o
mate, bebida típica da região onde nasceram.
Se
a gente for raciocinar a partir da doutrina do primeiro, esse encontro seria
impossível. A fé cristã sustenta que somente serão salvos aqueles que creem. E
a crença fundamental tem por objeto a divindade, que se apresenta em três
pessoas, uma das quais seria o único salvador.
Na tradição
cristã, o ateísmo é o mais grave dos pecados, e a história da Igreja está
repleta de episódios de condenação à morte impingida aos ateus.
Mujica
não cria em Deus - pelo menos no deus de configuração cristã, e sua morte,
assim, não poderia fazê-lo encontrar-se com Francisco.
PEPE
E A RELIGIÃO
O
ex-presidente do Uruguai, por outro lado, ao que se saiba, também nunca
demonstrou qualquer convicção acerca da sobrevivência após a morte. Um lugar
paradisíaco, extensão da chácara onde tinha sua morada terrena, igualmente,
pois, seria inimaginável para ele.
Apesar disso tudo, Mujica deu-se muito bem com
Bergoglio, platino como ele, durante a vida terrena. Até podem ter tomado
alguns mates juntos, mas, suponho, nenhum deles imaginou viessem a fazê-lo após
a morte.
Diferentemente
da ideia fundamental da religião, a de que estamos num “vale de lágrimas”, por
força do pecado original, e que a felicidade estaria reservada, pela “graça”,
apenas a alguns, após a morte, Pepe lutou a vida toda para que o bem-estar
social e a justiça, intrínsecos à felicidade, atingissem a todos, num clima de
igualdade e fraternidade, por aqui mesmo. Para ele, a religião não
levaria a isso, eis ser “uma forma de consolo e não de transformação”.
FRANCISCO
E A JUSTIÇA SOCIAL
O
cardeal argentino que comandou a Igreja de Roma por 12 anos passou todo o seu
papado tentando conciliar a fé cristã com a justiça social.
Essa
sua visão encontra óbices difíceis de transpor, por força, mesmo, daqueles
fundamentos doutrinários a que antes me referi. Com base neles, o cristão deve
suportar resignadamente as injustiças sociais, transformando-as em crédito para
a salvação: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus”.
Querer fazer da sua Igreja um instrumento de transformação
social é postura vista por segmentos conservadores, nela expressivamente
existentes, como desvio de seus fins. É coisa de “comunista”, expressão com a
qual muitos tacharam Bergoglio.
HUMANISMO – O TRAÇO DE UNIÃO.
As contradições entre Francisco e Pepe, ou entre a fé e a
justiça social, só podem ser superadas por uma visão mais otimista acerca do
ser humano. Nessa perspectiva, estão superlativamente presentes o que a
Modernidade definiu como direitos inalienáveis e fundamentais do ser humano.
O humanismo, ou seja, o reconhecimento de que o ser humano
nasce livre, sujeito de direito ao bem-estar, sob a garantia do Estado
Democrático de Direito, é o único caminho a conciliar ateus ou agnósticos com
aqueles outros que vislumbram no homem/espírito uma origem e um destino
transcendentais.
Para nós, espíritas, não deve existir nenhuma contradição
entre justiça social e espiritualidade. Uma é parte integrante da
outra, e a luta na busca da felicidade deve se dar, progressivamente, por todos
os estágios da caminhada do espírito.
Um humanismo capaz de transcender à matéria plasma, assim, o
cenário ideal a unir espíritos da qualidade de Francisco e Mujica. E permite –
por que não? - imaginá-los mateando juntos, em alguma aprazível chácara deste
universo infinito.
Nota da Redação: Este artigo chamou muita
atenção e levou a manifestações positivas e negativas, parece que é sempre
difícil conviver com o oposto.
quer saber mais leia o Jornal Abertura de junho página 4) e
julho (página 5).
Abertura junho 2025:
Abertura julho 2025:
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Há 80 anos, o horror atendia pelo nome de Auschwitz por Roberto Rufo
Há 80 anos, o horror atendia pelo nome de Auschwitz - Roberto Rufo
"O que aconteceu não pode ser desfeito, mas podemos impedir que volte a acontecer" (Anne Frank).
"Se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas numa mesa". (Desconhecido).
No dia 27 de janeiro de 1945, soldados do Exército Vermelho, da União Soviética, entraram no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, e testemunharam os horrores perpetrados pelo regime nazista. Eles salvaram cerca de 7 mil prisioneiros com a saúde precária, que tinham sido deixados para trás pelos soldados alemães em fuga. A libertação, que completou 80 anos no dia 27 de janeiro de 2025, escancarou os crimes para o mundo todo. Dos 6 milhões de judeus que foram assassinados no holocausto, mais de 1 milhão morreu em Auschwitz, o maior centro de extermínio administrado pelos nazistas.
Mas neste artigo eu quero falar de uma moça muito especial de nome Sophie Scholl que no dia 22 de fevereiro de 1943 aos 21 anos de idade foi executada na guilhotina em Munique, uma grande cidade da Alemanha. Acusada de espalhar mensagens contra o governo nazista, Sophie Scholl que fazia parte do movimento Rosa Branca, um grupo de resistência que se opunha ao regime de Hitler. Quem teria coragem aos 21 anos de se opor abertamente contra o câncer que tomava a Alemanha? Afirmo que aos 70 anos eu não teria essa coragem.
Eram tempos tenebrosos na história da humanidade. Repito, era preciso ter muita coragem para bater de frente com o regime nazista,
Mas, Sophie Scholl, a princípio simpatizante da juventude nazista, logo enxergou o imenso perigo representado pelo regime delinquente e racista de Adolf Hitler. E passou a combatê-lo. Pagou com a vida por essa atitude corajosa. Hoje existe um busto na Alemanha em homenagem a Sophie Scholl. Nenhum em homenagem a Hitler. Infelizmente esse regime delinquente e racista ainda encontra muitos simpatizantes pelo mundo afora. Inclusive dentro da Alemanha com risco de retorno da extrema-direita de viés nazista ao poder através do partido AFD (Alternativa para a Alemanha); por falar nisso quando esteve na Alemanha o super Elon Musk fez questão de dar o seu apoio pessoal.
E por falar em big tech entendo que a internet e suas redes sociais acabaram prestando um "serviço" a todos nós: desnudaram aquilo que sempre existiu: a maldade, o ódio e a bestialidade. Sempre existiram as Shopie Scholls e sempre foram sacrificadas e quantas vierem serão eliminadas. Até quando isso vai durar só Deus sabe. Pretendo explorar isso num próximo artigo sobre evolução espiritual em seus vários formatos espiritualistas.
Enquanto isso eu da direita limpinha estou ao lado de Sophie Scholl. Aliás, eu não gostaria de estar do outro lado.
Com certeza o Espiritismo, uma doutrina humanista e isenta de preconceitos, sempre estará ao lado de pessoas como Sophie Scholl.
Este artigo foi publicado no Jornal Abertura de março de 2025, quer ler o jornal completo, baixe aqui:
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
POLARIZAÇÃO POLÍTICA por Milton Medran Moreira
OPINIÃO EM TÓPICOS
Milton Medran Moreira
POLARIZAÇÃO
POLÍTICA
Não
sei onde vai parar essa polarização político-ideológica que tomou conta do
Brasil.
Sei,
sim, que, no campo das ideias políticas e sociais, há duas forças que, para
todo sempre, hão de se digladiar.
Elas são tese
e antítese que alimentam o fluir do processo político. Estão presentes na
política porque, igualmente, movem o processo individual de crescimento do
espírito humano.
Uma busca
preservar os valores conquistados. A outra estimula mudanças mediante a
superação do que ontem era um valor e hoje pode ser descartado porque
incompatível com os novos tempos.
Allan Kardec
expressou esses dois movimentos mediante o que denominou Lei de Conservação e
Lei de Destruição.
DIALÉTICA
Entretanto, é
justamente desse embate dialético que deve resultar uma síntese, capaz de
harmonizar as duas tendências humanas e sociais. Novamente, Kardec! Ele
compreendeu as forças componentes desse processo e nominou como Lei do
Progresso o estágio capaz de harmonizar e sintetizar os movimentos
conservadores e destruidores.
Democracia,
tolerância, fraternidade, diálogo são, contudo, elementos que o humanismo
introduziu para tornar suportável e eficiente essa luta natural entre a tese e
a antítese, abrindo espaço à síntese.
Não é, pois,
uma luta entre o bem e o mal. Contudo, o que desvirtuou nosso processo político
foi, justamente, a ideia de que quem está de um dos dois lados está com o bem,
enquanto o mal caracteriza definitiva e irremediavelmente os do lado oposto.
IDEOLOGIAS
Maus
políticos, interesseiros e populistas, valendo-se, mesmo da religião – e esta,
sim, calca-se numa base doutrinária fundamentalmente dualista e maniqueísta – é
que conferiram às ideologias esses pretensos rótulos de boas e más.
Ideologias são
visões de mundo que diferentes grupos sociais têm, buscando proteger seus
interesses coletivos. Em princípio, não são boas ou más. São expressas por meio
de ideias que formam a base doutrinária de partidos políticos. Partidos são
partes de um todo. Protegem interesses coletivos que, necessariamente, não
contemplam os anseios de uma nação inteira.
Evidentemente,
há ideologias mais generosas que outras e há agrupamentos políticos que
oferecem instrumentos mais voltados à igualdade de direito e à justiça social.
A eles se tem denominado de progressistas, em contraposição ao conservadorismo
de outros. Isso, no entanto, não lhes garante a supremacia e a posse exclusiva
do bem e da verdade. Até porque nenhum agrupamento humano, por melhor que sejam
as ideias por ele teoricamente defendidas, está infenso, na prática, à
manipulação de pessoas inescrupulosas, interesseiras, hipócritas e
aproveitadoras.
EM SÍNTESE
Por isso tudo,
e em meio, mesmo, aos extremismos dessa polarização a que fomos levados pelo
discurso de ódio de maus homens públicos, tenho buscado não medir ninguém
exclusivamente pela régua política.
Rejeito a
ideia de que quem está ou esteve, em determinado momento, ao lado do político A
ou B, seja, necessariamente, igual a ele. Mesmo que eu jamais venha a apoiar
quem abrace ideias com as quais, por princípios filosóficos, eu nunca
concordaria, procuro não julgar o outro exclusivamente por suas preferências
eleitorais.
Posições
políticas sempre são precárias. Meras ferramentas na construção do progresso.
Atendem interesses coletivos ou individuais válidos para aquele momento
histórico. Não convém tomar líderes políticos como mitos, nem ideologias como
salvadoras do mundo. Cidadão que assim procede pode estar tendo uma visão muito
distorcida da exequibilidade das próprias ideias que defende. Ou, pragmático,
esteja vendo seu candidato apenas como o meio capaz de derrubar o ídolo do
outro, a seu juízo, pior que o dele.
A vida e o
relacionamento plural me ensinaram que quem está do outro lado pode ser um
sonhador, um ingênuo, um ludibriado, mas, nem por isso, um mal-intencionado. E
frequentemente é nosso próprio pai, um irmão, um amigo querido. É um bom chefe
de família, profissional responsável, bom colega, vizinho solícito, bem
diferente do candidato que cultua ou do agrupamento político no qual detectamos
tanto atraso e, às vezes, muita hipocrisia.
Artigo publicado no Jornal Abertura de outubro de 2024, gostaria de ler o jornal completo?
Baixe aqui:
sábado, 31 de agosto de 2024
DEMOCRACIA: UMA UTOPIA AINDA A SER ALCANÇADA! por Ricardo de Morais Nunes
DEMOCRACIA: UMA UTOPIA AINDA A SER ALCANÇADA! por Ricardo de Morais Nunes
Temos
defendido ao longo dos últimos tempos a importância dos espíritas pensarem as
questões da política, da economia e da sociedade com vistas a poderem formar
uma consciência mais ampla destas questões, de um ponto de vista filosófico,
não partidário, como é obviamente o caso quando tratamos desses temas no âmbito
do movimento espírita.
Acreditamos
mesmo que tais reflexões podem propiciar aos espíritas um melhor
desenvolvimento de seu pensar político
e social , de um ponto de vista crítico,
tendo em vista a uma melhor participação cidadã, de natureza humanista, nas
diversas sociedades do mundo em que vivem.
Nesse
campo temático se há uma discussão que realmente causa muita divergência, mesmo
entre os espíritas estudiosos, é sobre o conceito de democracia. O que é afinal
democracia? Conceito fundamental que precisa ser aprofundado, pois não basta
dizer que somos a favor da democracia ou que somos contra as ditaduras. É
necessário explicar o que entendemos por democracia.
É
necessário iniciar a nossa reflexão lembrando que o conceito de democracia
remonta à Grécia antiga. A pólis ateniense é o primeiro exemplo de democracia
direta no mundo. Desde esse momento passou a ser comum remontarmos a essa
origem, cantarmos em verso e prosa a democracia que surge em Atenas.
Porém, é necessário irmos além e perguntarmos
como funcionava essa democracia, era realmente democrática a pólis ateniense?
Sabemos que não. Em Atenas apenas o cidadão da pólis tinha direito a se
manifestar na Ágora. A maioria da população era de escravos, mulheres e
estrangeiros que estavam excluídos da participação nos negócios da
cidade-Estado.
A
democracia grega, quando olhamos bem de perto, quando observamos a sua
estrutura, não era tão perfeita assim. Claro que esses defeitos, olhando em
retrospecto, não são suficientes para rejeitamos o grande avanço da proposta
democrática grega.
De
lá para cá muita coisa mudou. Muita água correu debaixo da ponte.
Tivemos
o fim das cidades-Estado na Grécia sucedidas pelas várias dominações imperiais
da antiguidade, o domínio teológico e político da Igreja católica, o poder dos
monarcas, as revoluções políticas contra o poder dos monarcas, o poder dos burgueses,
as revoluções contra o poder dos burgueses. Passamos pelos regimes político-econômicos do
tipo escravocrata, feudal, escravista colonial, capitalista e socialista.
Passamos pela revolução agrícola, industrial e hoje digital.
No
século XX, tivemos, ainda, ditaduras de direita, de esquerda, repúblicas
teocráticas, Estados e legislações de segregação racial, imperialismo moderno, colonialismo,
guerras de intervenção estrangeira, guerras civis, golpes militares e
revoluções.
Como
se não bastasse os fatos acima mencionados, em algumas nações, nas últimas
décadas, infelizmente, tem ocorrido uma relação promíscua entre as instituições
de Estado e a criminalidade comum, o que, sem dúvida, acentua os problemas políticos e sociais,
dificultando, ainda mais, a busca pela concretização dos princípios
democráticos.
Na grande maioria das nações do mundo, hoje,
vivemos no sistema que podemos chamar de democracias liberais, representativas,
de perfil econômico capitalista. Há alguns países que ainda ostentam, com maior
ou menor intensidade, alguns princípios de seu período socialista, mas é
possível contar esses países nos dedos após a dissolução da União Soviética e a
queda do muro de Berlim.
O
comunismo e o socialismo, em nosso tempo, nessas duas primeiras décadas do
século XXI, não são mais ameaças ao sistema capitalista e às democracias
liberais como insistem os ultradireitistas desse nosso momento histórico, que
se utilizam do absurdo e falso argumento da “ameaça comunista” para solapar qualquer
possibilidade de crítica ao capitalismo e a essas democracias.
Enfim,
o que podemos verificar, hoje, é que as democracias liberais ainda são
extremamente incompletas e que não realizam todo o potencial do ideal democrático.
O grande modelo, para muitos, dessa democracia moderna, liberal, são os Estados
Unidos da América.
Porém, se olharmos para a realidade social
destas democracias liberais com “olhos de ver” observaremos que essa democracia
mínima tem sido tão sintonizada com os interesses do capital que muitas vezes
ela se torna uma verdadeira antidemocracia nos países nos quais ela foi
adotada.
E, ainda pior, em nossos dias, mesmo essa
democracia mínima, está sendo atacada com vistas a retrocessos inaceitáveis que
seguem em direção a concepções neofascistas de sociedade que andam de mãos dadas
com teorias e práticas econômicas neoliberais, as quais destroem qualquer ideia
de justiça social ou bem-estar social.
Frequentemente,
a política contemporânea, em seu melhor sentido, como representativa dos
direitos dos cidadãos, tem sucumbido aos interesses do dinheiro, da acumulação
e da riqueza de alguns poucos. Há necessidade, hoje, de realizarmos uma
profunda crítica às sociedades que giram em torno do capital e esquecem o ser
humano.
Devemos, portanto, dizer, em alto e bom som, que,
de um ponto de vista espírita, portanto, humanista, que privilegia o ser ao
invés do ter, os interesses do “mercado”, do capital, das minorias
privilegiadas em termos econômicos, não devem prevalecer sobre os interesses da
sociedade como um todo.
É
necessário, sob esse horizonte alargado de sociedade, voltarmos a acreditar que
os homens e mulheres de nosso tempo, coletivamente, podem construir um destino
político diferente, sendo imprescindível, em nosso entendimento, começarmos a construir
um novo ideal democrático tendo em vista o futuro da humanidade.
Para
esse objetivo é urgente nos descartarmos da ideia, muito útil aos que mandam no
mundo e que estão confortáveis nas situações de injustiça e exclusão dos outros,
de que não há outro mundo possível.
Nesta
linha de raciocínio, devemos ter como premissa fundamental, que a democracia ainda é a grande utopia a ser alcançada.
Nesse sentido, é necessário elevar o nosso conceito de democracia, não nos
contentando, apenas, com as chamadas liberdades formais, aquelas dos direitos e
garantias do indivíduo perante as possíveis arbitrariedades do Estado.
2ª
parte
Não
há que se falar em democracia real sem considerarmos também as necessidades
materiais dos cidadãos. Não é possível falar em democracia em um mundo de
milhões de marginalizados no sentido do acesso aos bens fundamentais ao
desenvolvimento da vida.
É
necessário lembrar que, atentar contra a dignidade material das pessoas no
nível fundamental da sobrevivência digna, é também atentar contra os direitos humanos.
Há países que se dizem “livres” e “defensores da liberdade”, mas que atentam
contra os direitos humanos no sentido do absoluto desamparo às condições
materiais de vida de seus cidadãos. Liberdade para morrer de fome não é
liberdade.
Pensamos
que esta maneira de compreender os problemas políticos e sociais de nosso tempo
corresponde plenamente aos generosos princípios que podemos encontrar em toda a
obra de Allan Kardec, a qual nos convida à permanente transformação individual
e coletiva.
Entendemos que nós, espíritas, podemos
auxiliar o processo de transformação dessa ordem de coisas, em primeiro lugar
denunciando as sociedades que permitem a acumulação de riqueza nas mãos de uns
poucos enquanto milhões, em nossos países e no mundo, se encontram privados do
básico para uma vida digna e decente.
Dessa forma, estaremos dando um primeiro passo
fundamental no enfrentamento dessas situações que é o da conscientização do
maior número de pessoas sobre esse grave problema de nosso tempo. O movimento espírita,
com seus centros e instituições, pode colaborar muito nesse processo, sendo claro que se não o fizer estará
colaborando também, só que em um sentido contrário, favorecendo a alienação,
portanto, o status quo, a exploração.
E,
em segundo lugar, nós espíritas, podemos auxiliar o movimento geral de
transformação social com a nossa participação, sempre pacífica em conformidade
com os princípios de não violência ensinados pelo espiritismo, em todas as instâncias
da palavra, da ação e da manifestação, que nos forem acessíveis no campo das
lutas sociais.
Para
isso, é necessário nos livrarmos dos conceitos superficiais e ingênuos de
democracia e ditadura. É certo que todo espírita minimamente informado dirá,
como um mantra religioso ou como uma verdade metafísica quase que vinda do
alto, que é favorável à liberdade e à justiça social. Claro, não poderia ser
diferente do ponto de vista filosófico-espírita. Isso é de uma evidência
cristalina, mesmo em uma baixa compreensão da filosofia espírita.
Mas
o que devemos ter em mente é que a conquista destes fatores, liberdade e
justiça social, em sociedade, não ocorrerá simplesmente por gratuidade de Deus
ou benevolência dos poderosos. Liberdade e justiça social devem ser
conquistadas através das lutas sociais.
É necessário levar em conta os interesses
materiais em jogo, em uma palavra: a luta de classes. Mesmo que essa luta de
classes, em nosso tempo, tenha adquirido características e peculiaridades
distintas da época em que foi concebida teoricamente.
Sem
uma compreensão dialética da vida social, dos conflitos de interesses em jogo,
das resistências e pressões no campo prático da vida social, não avançaremos um
milímetro nem mesmo na compreensão do que efetivamente acontece em nossas
sociedades contemporâneas. E sem compreender, não conseguiremos contribuir.
É necessário termos claro que as nossas
sociedades capitalistas contemporâneas não estão em conformidade com a ideia de
justiça natural que encontramos nas propostas espíritas. E que só poderemos
realmente ter um conceito mais amplo de democracia quando extinguirmos,
socialmente, economicamente, e politicamente, os abismos materiais entre as pessoas,
que as fazem tão diferentes em suas condições de vida, apesar da mesma
humanidade.
Não se trata de um objetivo fácil, é um
horizonte a ser perseguido por todos que amam a justiça. Os espíritas entre
eles.
Essa
condição de maior igualdade, dará mais amplo sentido, até mesmo, ao processo da
reencarnação dos indivíduos, porque poderíamos perguntar: de que adianta ao
Espírito reencarnar em condições tão desfavoráveis que, muitas vezes, o fazem
sucumbir em relação ao próprio objetivo da reencarnação, que é seu
autodesenvolvimento intelecto-moral em sociedade?
Na atualidade, há estudiosos que afirmam que
vivemos a época do capitalismo pós-fordista, que privilegia a financeirização
da economia ao invés da produção, deixando, portanto, nessa nova fase do
capitalismo mundial, milhões de pessoas no mundo sem ter condições de acesso a
um trabalho ou tendo como perspectiva apenas trabalhos precarizados.
Última
parte
Em O Livro dos Espíritos, publicado em
meados do século XIX, época em que ainda não tínhamos no mundo um capitalismo
tão desenvolvido, encontramos uma interessantíssima antecipação crítica às
subjetividades que giram apenas em torno do capital, da acumulação, do ter.
Tais subjetividades, ao longo do tempo,
acabaram por criar, em uma união de interesses, um sistema, uma estrutura
econômica-social-política, altamente favorecedora do egoísmo pessoal. Assim
respondiam os Espíritos às perguntas de Kardec à época:
Questão 711- O uso dos bens da terra é um
direito de todos os homens? R: Esse
direito é a consequência da necessidade de viver.
Questão 717- Que pensar dos que
açambarcam os bens da terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos
que não têm sequer o necessário? R:
Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que ocasionarem.
Em um livro lançado do inicio da década de noventa
do século XX, um teórico político norte-americano, Francis Fukuyama, ao
verificar a queda do muro de Berlim e a decadência da União Soviética, propôs
que a democracia liberal, de perfil capitalista, representava uma espécie de
estágio máximo alcançado pela humanidade, uma espécie de “fim da história” quanto
aos modelos políticos e econômicos que disputaram o século XX.
Várias décadas depois do lançamento da famosa obra,
verificamos que nossas democracias liberais, ao invés de patrocinarem maior
inclusão das pessoas aos seus benefícios, acabaram por acentuar, ainda mais, as
contradições materiais no mundo.
A carência alimentar, o desamparo, a falta de acesso
à saúde, à educação, ao saneamento básico, ao teto, as guerras e intervenções estrangeiras
na soberania dos países e a destruição perversa do meio ambiente por razões econômicas
ainda são uma realidade vivida na pele por milhões em nosso mundo, os quais são
os “perdedores” desse sistema capitalista e dessa democracia liberal que quer
nos convencer que todos seremos “vencedores”.
Acreditamos, portanto, que a história não acabou e
que ainda nos cabe construir modelos políticos, sociais e econômicos,
efetivamente democráticos, que realizem, concretamente, na vida social, os
princípios da liberdade e da igualdade enaltecidos pela filosofia espírita e
por todos os humanistas do mundo. Tememos que se não alcançarmos maiores
patamares de democracia real, estaremos nos encaminhando para a barbárie.
Nota
da Redação: Este artigo será publicado em três partes no Jornal Abertura de setembro, outubro e novembro de 2024.
sábado, 15 de junho de 2024
Problemas humanos - Liu Xiaobo - Prêmio Nobel da Paz de outubro de 2010 - por Jaci Régis
Problemas humanos - Liu Xiaobo
O parlamento norueguês decidiu
atribuir ao chinês Liu Xiaobo o Premio
Nobel da Paz. A decisão causou revolta do governo chinês que mantém o ativista e
dissidente preso por “crime de consciência”, quando o condenado é punido por
ter idéias contrárias ao poder.
Liu Xiaobo ativista, autor de
manifesto pedindo reformas democráticas na China, cumpre pena de prisão por “incitar subversão”.
Governos
totalitários odeiam dissensões e opiniões contrárias. Totalitarismo baseado em
ideologia, como o chinês, comunista e ou teológico, como o Irã, detestam a
liberdade de modo geral, da imprensa em particular.
Todos esses
governos, como os de todas as ditaduras, são signatários da Declaração dos Direitos
Humanos, da ONU.
Mas com medo
de perder o controle rígido do poder, avançam, contra a liberdade de
consciência
O regime
chinês é repressor e ditatorial. Conseguiu, depois da Revolução Vermelha de Mão
Tse Tung, tornar-se uma das mais importantes potencias econômicas da atualidade,
com crescimento surpreendente da econômica. Isso foi conseguido pela abertura,
ainda que parcial, às empresas particulares locais e internacionais.
O
Espiritismo, temos repetido, é contra toda e qualquer idéia totalitária, as
ditaduras e regimes teológicos, que cerceiam a liberdade.
Na América
Latina houve um avanço de governos que se afirmam “socialista”, mas que atacam
a liberdade de imprensa e criam situações conflitivas. No Brasil, o atual
governo, em cujos quadros existe um grande contingente marxista ou
pró-marxista, tenta criar empecilhos à liberdade de imprensa e não tem o menos
pudor em abraçar ditadores e ditaduras.
Na Lei de Liberdade, inserta
“No pensamento
goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como por lhe peias.
Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo.”
““. A
liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do
progresso.”
O parlamento dinamarquês
ao consagrar o esforço e até a bravura do dissidente chinês, mostrou
independência diante das ameaças do governo chinês, que tenta apresentar uma
imagem positiva. O homenageado está em prisão e não poderá recebe o prêmio, nem
provavelmente, terá sua pena revista. Isso feriria o orgulho do governo
comunista chinês. Como todo regime totalitário quer que a China, apareça como
um paraíso, mesmo sob o sangue de torturas, prisões e cerceamento da liberdade.
Texto originalmente publicado no Jornal Abertura de outubro de 2010, página 4.
Este foi o último artigo escrito e publicado no Abertura por Jaci Régis, não tem a sua assinatura, mas a Coluna Problemas sociais e Políticos eram sempre escritas por ele. Jaci desencarnou em novembro de 2010.
sábado, 4 de maio de 2024
OS ESPÍRITAS E O ESTADO LAICO por Ricardo Nunes
OS
ESPÍRITAS E O ESTADO LAICO por Ricardo de Morais Nunes
Uma
das maiores conquistas do mundo ocidental foi o surgimento do Estado laico.
Após um histórico de guerras religiosas sangrentas, as instituições políticas
ocidentais se formataram segundo o princípio ético-jurídico da neutralidade do Estado
em questões religiosas.
No
passado ocorreram uma quantidade enorme de guerras religiosas. Para não me
estender em demasia destaco aqui as cruzadas que colocaram em conflito cristãos
e muçulmanos, e as guerras religiosas no ocidente que colocaram em conflito
católicos e protestantes. O tristemente célebre massacre da noite de São
Bartolomeu, em 1572, na França, manchou a história religiosa do mundo cristão.
Hoje
em dia a ideia de “guerra santa” ainda persiste, misturando política,
nacionalismo e religião em um caldo de cultura verdadeiramente explosivo. No
mundo contemporâneo existem Estados teocráticos, nos quais o livro religioso e
a palavra do chefe religioso se sobrepõem às leis civis do Estado nacional.
É
fácil perceber que um Estado que se declara religioso acaba por tomar partido
entre os seus cidadãos e, como consequência, trata com menor interesse, para
dizer o mínimo, aqueles que não aderem ao credo oficial. Do ponto de vista das
liberdades democráticas traz para a arena política uma visão absolutista e dogmática
restringindo o espaço para o debate alteritário.
No
Brasil dos últimos anos, houve um crescimento da influência dos religiosos no
Estado. Fala-se, hoje, inclusive, em uma “bancada da bíblia” no legislativo
federal. Já foi falado por um presidente do passado recente sobre a necessidade
de ser nomeado, à instância máxima do
judiciário brasileiro, um ministro “terrivelmente evangélico”.
No
Brasil, ante o quadro político dos últimos anos, corremos o grave risco de
misturar, irremediavelmente, religião e Estado, o que seria realmente um risco
às liberdades democráticas de crença e manifestação da opinião.
Allan
Kardec enfrentou problemas com a religião quando por ocasião do auto de fé de
Barcelona. Nesse triste episódio, obscurantista, de caráter medieval, teve seus
livros espíritas queimados na Espanha
por ordem de um bispo intolerante que se achou no direito de intervir nas
questões alfandegárias do Estado Espanhol em sua relação com a França.
Penso
que nós, espíritas livre-pensadores, devemos estar alertas para esse problema.
Uma coisa são os adeptos de uma visão religiosa se manifestarem perante a
sociedade civil sobre os variados temas políticos que existem na sociedade,
exercendo, assim, seu legitimo direito à livre expressão, outra coisa é
integrar as instituições do Estado, tendo como requisito fundamental para o
exercício de um cargo público, não sua capacidade técnica, científica,
administrativa ou política, mas a característica de ser religioso, profitente
de uma determinada fé.
Isso
resultará em uma imposição de valores e crenças aos que não comungam com a
mesma visão, o que a longo prazo fará um estrago tremendo ao desenvolvimento
científico, ético e cultural da sociedade. O Estado deve ser apenas um
garantidor das múltiplas manifestações de crença e não crença, as quais
representam os diferentes estados de consciência de uma nação.
Não
há nenhuma conquista da humanidade que não pode ser perdida. O obscurantismo
medieval está sempre à espreita e, não tenhamos dúvidas, pode voltar em novas
roupagens. Dos espíritas, discípulos de Allan Kardec, um homem que acreditava
na ciência, na razão e no desenvolvimento para melhor da humanidade, se espera
que estejam atentos e que não embarquem nas canoas furadas do retrocesso.
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segunda-feira, 27 de novembro de 2023
MANIFESTO PELA PAZ NO CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO
MANIFESTO PELA PAZ NO CONFLITO
ISRAEL/PALESTINA
Nós, espíritas laicos e livre-pensadores, associados e
amigos da CEPABrasil, instituição filiada à CEPA- Associação Espírita
Internacional, no exercício de nossa liberdade de expressão conferida pela
Constituição da República Federativa do Brasil e inspirados nos princípios
humanistas da filosofia espírita fundada e codificada por Allan Kardec,
manifestamos nosso repúdio ao conflito armado entre israelenses e palestinos,
deflagrado, nos últimos dias, na região do Oriente Médio.
Apelamos às partes em conflito e à comunidade
internacional para que realizem esforços urgentes por um cessar-fogo imediato e
pela volta das negociações diplomáticas. Entendemos que israelenses e
palestinos necessitam de uma solução negociada que contemple, de forma justa, o
interesse de ambos os povos, e temos claro que, sem boa vontade e renúncias
recíprocas na construção dessa solução, a humanidade continuará assistindo o
terrível espetáculo de dor e morte que tem atingido, especialmente, a população
civil de ambos os povos.
Basta de mortes, destruição e sofrimento! Ainda há
tempo de resgatar nossa humanidade perdida em meio à brutalidade desse
conflito. É hora de recordar dos nobres valores de reverência à Vida que nos
foram legados por grandes mestres da espiritualidade que viveram nessa região
do planeta, berço das três maiores religiões monoteístas do mundo: o judaísmo,
o cristianismo e o islamismo.
Os palestinos e os israelenses
são nossos irmãos em humanidade. Ambos, em suas diferenças, têm muito a
contribuir com o desenvolvimento intelectual, moral e cultural de nosso
planeta. Mas, para essa finalidade, é necessário que se predisponham a uma convivência
respeitosa a partir do reconhecimento recíproco e consensual de suas soberanias
político-territoriais.
Que os homens e as mulheres com poder de decisão entre
israelenses e palestinos e, também, na comunidade internacional, tenham a
coragem de largar as armas e de realizar a paz!
Santos/SP,
Brasil, 17 de novembro de 2023
quarta-feira, 17 de maio de 2023
Censura prévia nunca mais - por Alexandre Cardia Machado
Censura prévia nunca mais
Está claro para todos que temos um problema: como
controlar as redes sociais? Isto me faz pensar nos idos dos anos 1900 quando
surgiu o automóvel, cientistas, médicos diziam que “o corpo humano não suportaria
viajar a uma velocidade de 40 km/h, sofreríamos um ataque cardíaco”.
Bem, está claro que existem riscos relacionados com os
automóveis e seus arredores, mas o ataque cardíaco é o menor de todos. O
problema está na maioria das vezes naquele sujeito que fica entre o banco
e o volante.
Automóveis estão envolvidos na morte quer por
acidentes de trânsito como em atropelamentos mundo afora, no entanto não
existem governos ou ONGs exigindo que se proíba o uso dos automóveis, no
entanto existem normas de fabricação e de trânsito, que valem para todos,
automóveis, veículos maiores, bicicletas e pedestres. São permanentemente
revisadas visando a melhor convivência possível.
Acredito que de mesma forma se faz necessário
normalizar o mundo digital, a proteção dos dados e da privacidade, a
inviolabilidade das correspondências. Assim deveria funcionar até que um crime
seja cometido.
Da mesma forma que para os automóveis, não se pode
criminalizar os fabricantes pelo mau uso dos veículos, a menos que se trate de um
problema de fabricação, ou violação de normas pelo fabricante.
Portanto por similaridade, é possível propor limites
aos algoritmos naquilo em que eles violam as nossas garantias pessoais. Também
por similaridade o uso do automóvel ou dos computadores, celulares e tablets
deve responsabilizar o motorista ou nestes casos o usuário.
O problema são as pessoas, elas tendem a se agrupar em
grupos, coletivos, por afinidades ideológicas, esportivas, culturais e nem
sempre em grupos que se reúnem para praticar o bem.
Dito isto as ações do Poder Público devem ocorrer
sempre que se cometa um ato ilícito, se no caso do veículo, quando há um
acidente, analisa-se as causas específicas e de modo reverso, chega-se aos
responsáveis e aí se exerce a força das lei.
Qualquer iniciativa de censura prévia, via algoritmo
ou controle policial será inócua, pois o ser humano logo encontrará outras
formas de se comunicar que ficarão novamente imputáveis.
Neste momento em que escrevo o Congresso Nacional se
ocupa do tema, esperamos que nossos representantes eleitos pelo nosso voto
debatam profundamente o assunto, não há como aprovar na correria uma matéria
desta natureza. Há que se promover um grande debate, envolvendo todos os atores
da sociedade, usuários, provedores, big techs, juristas, policiais
especializados em crimes cibernéticos, representantes da sociedade civil. Esta
seria uma forma de buscar um consenso sobre o que deve ou não ser normatizado.
Revisar o marco legal de internet se necessário, mas de forma alguma, policiar todos
os cidadãos através de algoritmos – isto tem cheiro de ditadura.
Do Livro dos Espíritos recorro a questão 828.
“Como conciliar as opiniões liberais de certos homens,
com o despotismo que, frequentemente, eles próprios exercem no seu interior e
sobre os seus subordinados?
Vejam como uma questão formulada no século XIX pode
ser tão presente em nossos dias.
- “Eles tem a inteligência da lei natural, estando ela
contrabalanceada pelo orgulho e pelo egoísmo. Eles compreendem o que deve ser,
quando seus princípios não são uma comédia representada calculadamente, mas não
o fazem ...”
Permitindo-me um aparte – voltando à questão do homem
a resposta dos espíritos ainda na mesma questão, segue “ ...- Quanto mais
inteligência tem o homem para compreender um princípio, menos é escusável de
não aplica-lo a si mesmo. Digo-vos, em verdade, que o homem simples, mas
sincero, está mais avançado no caminho de Deus do que aquele que quer parecer o
que não é.”
Então concluindo, não vale a pena fazer algo que
parece resolver o problema, mas que de quase nada servirá, façamos bem, pois o
problema seguirá na consciência de cada um de como usar as ferramentas que o
progresso nos proporcionam. A mesma radioatividade que cura o câncer, mata como
em Hiroshima.
O espiritismo prega como um dos seus pressupostos
básicos a liberdade, entre as Leis Naturais, Kardec propôs a Lei de Liberdade,
de forma alguma somos favoráveis à falta de responsabilidade. As nossas ações
serão julgadas pelo Poder Público caso provoquem algum tipo de crime.
Publicado no Jornal Abertura de maio de 2023.
Baixe aqui o jornal: https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/31-jornal-abertura-2023?download=232:jornal-abertura-maio-de-2023
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo - por Roberto Rufo e Silva
As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo
“Temos que defender a autodeterminação dos povos.
Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos
no poder e Daniel Ortega não?” (Ex-Presidente Lula omitindo de forma proposital que a
chanceler alemã nunca mandou prender os opositores no mês das eleições).
"Se
o Braga Neto (Ministro da Defesa) autorizar, eu boto a farda e vou à
luta". (Presidente Bolsonaro defendendo alterações na lei do excludente de
ilicitude).
Por que deveria o espírita preocupar-se com
política no mundo se há um planejamento maior que colocará todas as coisas no
seu devido lugar no seu devido tempo? Para uns esse planejamento maior está
escrito pelos desígnios divinos; para outros a força da história nos levará
para o destino da redenção.
Como
a esquerda tem sido incompetente há muito tempo, a direita no mundo se viu no
papel de redentora do universo trazendo de volta em várias partes do planeta o
"amor pela pátria”, o Brasil acima de tudo, America first again, como
virtude maior acompanhada de uma nova teocracia, ou seja, Deus acima de
todos.
Acreditou-se um dia que o socialismo acabaria com a
barbárie, pois a esquerda parece amar mais a humanidade, preocupada com o ser
humano sofrido. Na
prática, quando se transformam em partidos políticos adquirem uma sede de
poder gigantesca. Mas o pensamento um pouco ingênuo da esquerda humanitária
permanece, mesmo tendo em vista a história do socialismo no mundo com seus
regimes totalitários e gulags. A "lógica" humanitária se
mantém porque o capitalismo é realmente muito violento e a maioria das
pessoas se dá mal no conjunto da obra.
O cientista político Christian Lohbauer se coloca
numa posição que seria a minha também como espírita, ou seja, a de um
conservadorismo de linha inglesa onde o progresso constitucional é fruto de
processos evolutivos que não se traduzem em rupturas, enfim não são processos
revolucionários. É uma ideia que me agrada. Acredito na continuidade do
processo social. Ou
como Allan Kardec que acreditava no progresso da legislação humana sem
derramamento de sangue. Em 1688 e 1689 a
Inglaterra viveu a Revolução Gloriosa, também chamada de revolução sem
sangue, 100 anos antes da França com todo seu escândalo da revolução
francesa que resultou em Napoleão Bonaparte se sagrando imperador, a pretexto
de defender a pureza da revolução francesa. O que ele menos respeitou
foram a igualdade, fraternidade e liberdade. Foi um período de terror. As
rupturas apaixonam, mas são inúteis. Contudo a era moderna tem-se
desdobrado na sombra dos ideais da Revolução Francesa.
O sonho revolucionário passou então a dominar o mundo.
No entanto, foi a revolução gloriosa inglesa a primeira a conquistar o fim do
absolutismo, o aumento do poder do parlamento e a estabilidade política e
econômica.
No livro terceiro do Livro dos Espíritos,
capítulo XII - Perfeição Moral - é abordada a questão das virtudes e vícios. Os
espíritos logo advertem que há virtude toda vez que há resistência voluntária
ao arrastamento das más tendências. Mas lançam um desafio muito
difícil: "o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse
pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção". Algo impensável no
mundo político.
Todos
possuem ocultas intenções. A filósofa Hannah Arendt escreveu que a
política é a nossa última garantia de sanidade mental. Millôr Fernandes por sua
vez dizia que "em política nada se perde e nada se transforma - tudo se
corrompe". Houve época que acreditava piamente na primeira frase. Hoje me rendi à segunda frase. Em 2022 pelo que se
acompanha haverá uma polarização na eleição presidencial brasileira. Eu antecipo que
num joge do pôquer com Bolsonaro e Lula, eu só entro se for com o meu
baralho.
Em resposta à pergunta 917 - qual é o meio de se
destruir o egoísmo, os espíritos não aliviam e falam que de todas as
imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo,
porque ele se prende à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito
próximo da sua origem, não consegue se libertar e essa influência atinge a
criação de leis, a organização social e a educação.
Por último concluo com as palavras dos espíritos na
resposta à pergunta 918, quando afirmam que o Espírito prova sua elevação
quando todos os atos de sua vida corporal são a prática da lei de Deus e quando
compreende, por antecipação, a vida espiritual. Substituam a palavra
espírito por político e concluiremos que estamos a anos luz desse sonho. Salvo as exceções
de praxe. E bota exceção nisso. A democracia nunca esteve tão perto de
sucumbir desde o movimento das Diretas Já.
Meus míseros leitores, quero tranquilizá-los que
enquanto persistir o meu niilismo político abandonarei esse tema até que o meu
ser seja invadido por um otimismo nas instituições e nas pessoas que nos
governam.
Jesus de Nazaré passará a ocupar um lugar de destaque
nos meus futuros artigos.
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
ESPIRITISMO E PANDEMIA - por Ricardo de Morais Nunes
ESPIRITISMO E PANDEMIA
TEXTO DE RICARDO NUNES APRESENTADO NA MESA REDONDA “ESPIRITISMO E PANDEMIA” NO XXIII CONGRESSO DA CEPA EM 08 DE OUTUBRO DE 2021
É
interessante observar que em uma época de individualismo exacerbado promovido
por concepções neoliberais de economia, política e sociedade, um vírus, um
simples e invisível vírus, denominado COVID 19, acentuou ainda mais a separação
entre as pessoas.
Na
verdade, muitos de nós já vivíamos sob a perspectiva do isolamento introjetando
os valores da sociabilidade capitalista, os quais apontam para o ter e não para
o ser, para o egoísmo e não para o altruísmo. Infelizmente, temos
frequentemente esquecido que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são
fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo e que os laços
sociais são uma espécie de oxigênio da vida.
Durante
a pandemia do vírus não pudemos mais nos abraçar, não pudemos nos beijar, não
pudemos nos aproximar. Ficamos reclusos em nossas casas tentando organizar os
espaços de fora, e nos deparando muitas vezes com os vazios de dentro. O velho
ditado “tempo é dinheiro” perdeu o sentido. Aquela sensação de ocupação e
pressa nos abandonou por esses longos meses.
Tivemos
que exercitar a paciência, a espera, e os dias passaram devagar. Passamos a
trabalhar em casa misturando nossos materiais de trabalho com o ambiente
doméstico e com os brinquedos de nossos filhos, renunciamos aos lazeres e
passeios, nos afastamos de familiares e amigos. Muitos de nós perdemos entes
queridos. Familiares e amigos partiram para o mundo maior, para o mundo dos
Espíritos, enchendo-nos o coração de dor e saudade, sendo a filosofia espírita
o mais forte apoio aos nossos pensamentos e emoções nestes graves momentos.
O
vírus certamente trará grandes lições. Sairemos melhores desta crise?
Aprenderemos alguma coisa? É difícil dizer.
E o espiritismo, enquanto filosofia
espiritualista, o que tem a dizer em um momento tão difícil para a humanidade? A
filosofia espírita descortina a todos novos horizontes existenciais. Nos ensina
que tudo passa, se transforma e evolui.
Segundo o espiritismo, das sociedades agrárias
às sociedades pós-industriais, estamos submetidos a um complexo processo
evolutivo, não uniforme, sem dúvida sujeito a avanços e retrocessos no terreno
da história, porém rumo a patamares superiores de civilização, sendo que tal
processo evolutivo se dá pelas leis psicofísicas da reencarnação.
O
espiritismo ensina que a vida, em si mesma, é imperecível e transcendente. Que
acima de tudo somos e que continuaremos a ser mesmo após a morte. Ensina a
confiança na razão, na ciência, na capacidade do ser humano em resolver os seus
problemas. Lembra que a dor e o prazer, a vida e a morte,
a tristeza e a felicidade, são fatores inerentes às leis naturais do planeta em
que vivemos, sem desconsiderar, é claro, os excessos e equívocos humanos na
produção de sofrimentos.
Nos conscientiza que somos os protagonistas do
nosso destino, sem desprezar os determinismos de variada natureza que incidem
sobre nossas vidas. Esclarece a
importância do amor e da solidariedade na construção de um ser humano e de um
mundo melhor.
Que
possamos, a partir das lições deste difícil período, ter clareza da importância
de nossa existência terrestre em nosso desenvolvimento individual e coletivo.
Que aprendamos a cultivar uma nova sociabilidade não mais centrada apenas no “eu”,
mas que considere o “nós”. Que compreendamos a terra como nossa casa comum a ser
preservada e que nos conscientizemos da rede invisível que nos entrelaça a
todos, em uma trama de ações e reações sob a perspectiva dialética
indivíduo-sociedade.
Uma
das grandes lições do vírus é a de que ele não é democrático, pois atingiu preferencialmente
os pobres e despossuídos, os quais ficaram mais expostos e vulneráveis por
viverem em habitações precárias que não permitem os devidos cuidados de
afastamento social, e também por terem tido que sair às ruas, em meio à maior
crise de saúde pública de nosso século, na busca do pão de cada dia.
Apesar disso, constatamos, que o aristocrata,
o milionário, e o trabalhador são iguais em fragilidade física. Ficou claro
para aqueles que tem “olhos de ver” que o dilema economia X saúde é um falso
dilema. Sem trabalhadores saudáveis não há possibilidade de se construir uma
sociedade economicamente forte.
A prioridade em qualquer sociedade civilizada
deve ser a vida e não o capital, mesmo porque todos sabemos que o problema do
mundo não é falta de dinheiro, mas sim a concentração da riqueza nas mãos de
minorias privilegiadas.
Outra
lição fundamental deste período, foi a que nos ensinou que o risco de morte
repentina é uma realidade mais próxima do que imaginávamos, o que nos fez compreender
que o amanhã na Terra é apenas uma possibilidade. Compreendemos, efetivamente,
a importância do agora.
Esta
crise da pandemia também abriu algumas poucas janelas de oportunidade.
Parece-me que a maior delas se deu no campo das comunicações. Este congresso
virtual da CEPA, reunindo espíritas das Américas e da Europa, sem saírem de suas
casas, é um bom exemplo desse novo tempo que se inicia.
Finalmente,
gostaria de fazer alguns agradecimentos:
Em
primeiro lugar, aos profissionais de saúde, em especial aos médicos e enfermeiros
que ficaram na linha de frente no combate ao COVID 19.
Aos
cientistas que trabalharam intensamente com vistas a descobrir as vacinas
necessárias ao enfrentamento desta doença. Sonho com o dia em que as conquistas
da ciência beneficiarão toda a humanidade.
A
todos os trabalhadores dos supermercados, farmácias e comércios em geral que
mantiveram a economia básica funcionando, com vistas a evitar a escassez de alimentos
e produtos fundamentais.
A
todos os professores que mantiveram sua tarefa de ensinar mesmo à distância,
sem poder contar com a presença física e a alegria de seus alunos.
A
todos os governos que promoveram a valorização da ciência e compreenderam a
necessidade das estratégias de afastamento social e, por isso, cumpriram com seu
dever de cuidado perante seus cidadãos.
A
todos os Estados que possuem um sistema de saúde público, universal e gratuíto.
Ficou absolutamente claro que os países que tinham sistemas públicos de saúde
estavam mais aparelhados para enfrentar essa tremenda crise.
Em relação ao Brasil, meu país, deixo minha
especial homenagem ao SUS (Sistema Único de Saúde), sistema que luta para
sobreviver ante a carência de verbas de financiamento, mas que possui em seus
quadros verdadeiros heróis na luta contra a pandemia e contra as doenças em geral.
Os profissionais e militantes dos SUS têm nos ensinado que medicina e saúde não
devem ser compreendidas como mercadorias.
A
todos os cidadãos do mundo que não deixaram de acreditar na ciência em tempos
de negacionismo científico. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias
melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e
escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.
terça-feira, 13 de abril de 2021
O Espiritismo é de direita, de esquerda ou ...? por Marco Videira
O
Espiritismo é de direita, de esquerda ou ...?
A
igreja Católica possui uma diretriz clara, de 1994, que diz: “um padre deve se
abster de se envolver ativamente na política”. Como o Espiritismo não possui um
porta voz oficial, apesar de que de fato, alguns se intitulam “donos”, quero
dizer que os espíritas devem sim se posicionar de forma explícita a favor de
correntes políticas, que julguem válidas, mas não devem levantar a bandeira de
alguma corrente política, como se fosse uma posição formal do Espiritismo, ou
seja, cada um assuma a sua posição política, mas não o faça dizendo que é uma
posição oficial do Espiritismo.
Similar
ao que o Papa Francisco prega “a igreja é chamada a formar consciências, não a
pretender substituí-las”, entendo que o papel do Espiritismo deva ser o mesmo,
ou seja, formar consciências a respeito da necessidade de entendermos as
complexas relações interpessoais advindas de vidas pretéritas. Só o Espiritismo
possui essa visão e por isso, os espíritas têm o dever de se posicionarem longe
de contendas que nada contribuem para o nosso aperfeiçoamento moral.
Atualmente
no Brasil enfrentamos todas as formas de polarização, o que reduz o debate a um
ponto simplista: comunistas ou fascistas. Infelizmente essa situação não é uma
exclusividade do Brasil. Vemos ao redor do mundo o crescimento de uma
polarização virulenta e violenta, haja vista o ocorrido recentemente nos USA,
por ocasião da derrota do Donald Trump na recente eleição presidencial.
Segundo
o jurista Ives Gandra da Silva Martins: “a ideologia é a corrupção de ideias,
que não respeita a opinião alheia”.
Uma
vez que a Terra não é plana e Noé não
pode ter ficado 370 dias numa arca carregando perto de 2.000 animais!,
sempre é bom recorrermos aos cientistas, para podermos entender melhor como se
processa o nosso cérebro, no tocante à absorção de conceitos, que vão de
encontro aos conceitos previamente estabelecidos.
Segundo
Paulo Boggio, psicólogo do Laboratório e Neurociência Cognitiva e Social da
Universidade Mackenzie, a característica fundamental do ser humano é a
aproximação com aqueles que pensam de maneira parecida. Com o passar do tempo,
as convicções semelhantes são reforçadas e se tornam difíceis de serem mudadas.
Essa
lógica ajuda a entender os motivos para a polarização radical nas discussões
sobre política, que não cede espaço a visões mais moderadas, mesmo se houver
provas contundentes: desvio do dinheiro público, flertes com o autoritarismo
etc.
Tal
situação (dificuldades na absorção de novos conceitos) é confirmada por Max Rollwage
– psicólogo e neurocientista: “com a avalição dos mecanismos neurais,
mostramos que, em determinado ponto de confiança sobre uma crença, o cérebro simplesmente
não processa as novas informações”. Tal confirmação foi possível utilizando
um scanner de magneto-encefalografia, onde os pesquisadores acompanharam a
atividade cerebral durante o processo de tomada de decisões. A explicação para
o comportamento se tornou química: o cérebro apresentou “pontos cegos” quando
recebeu informações contraditórias, mas continuou sensível àquelas que
confirmavam a escolha inicial. Em resumo, os conceitos preestabelecidos estão
tão arraigados no cérebro que o indivíduo resiste a absorver percepções
diferentes.
Citando,
outra vez, o jurista Ives Gandra: “conciliar a natureza humana com os ideais de
uma política de debate elevado parece inconcebível”.
Particularmente,
vejo que o avanço da idade vai ao encontro do acima exposto e contribui
enormemente para que não ocorram mudanças em nossos conceitos.
Retomando
ao tema se o Espiritismo deve ter uma posição política, reforço que logo no
início deste texto, deixei o meu posicionamento: o Espiritismo não deve ter
posicionamento sobre tal tema, mas sim os espíritas. Não podemos ou devemos
levantar uma corrente partidária, querendo envolver o nome do Espiritismo, pois
ao aderirmos a uma ou a outra corrente política, estaremos nas mãos de pessoas
que dirigem os partidos, ou seja, seres humanos falíveis, pois como disse
Kardec: o egoísmo e o orgulho são os grandes males da humanidade, ou seja, a
adesão a uma corrente política pode colocar o Espiritismo num “buraco”.
Por
volta do ano de 1960 houve uma tentativa do movimento espírita em fundar um
partido político espírita! Ora, o Brasil possui hoje 33 partidos, sem contar as
centenas que aguardam análise para ingressarem na divisão do cobiçado Fundo
Partidário (em 2020, por ter sido um ano eleitoral, o Fundo Partidário foi
acrescido do Fundo Eleitoral e perto de 3 bilhões de reais foram entregues aos
partidos). Quantas vacinas compraríamos com tal valor? Quantos auxílios
emergenciais poderíamos dedicar aos necessitados? O total de partidos (33) é bem superior a
qualquer possiblidade de existências de linhas ideológicas distintas. Desse
total, segundo levantamentos feitos pela imprensa, 15 são de direita, 11 de
esquerda e 7 do centro (isso sem entrar nos detalhes se são da extrema direta, extrema
esquerda etc.).
No
livro dos Espíritos encontramos várias perguntas elaboradoras por Kardec à
plêiade de espíritos, que o auxiliaram na elaboração de tal livro e as
respostas podem nos levar ao direcionamento de uma ou outra corrente política,
pois vejamos as respostas às questões abaixo:
·
795 – Quanto mais se
aproximam da vera justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas e tanto
mais estáveis se vão tornando, conforme vão sendo feitas para todos e se
identificam com a lei natural.
·
806 - As desigualdades
desaparecerão quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Quando isto
ocorrer, restará apenas a desigualdade do merecimento.
·
811 – Não é possível a
igualdade absoluta das riquezas, pois isso se opõe a diversidade das faculdades.
·
875 e 876 – Respeito aos
direitos dos demais “queira cada um para os outros o que quereria para si
mesmo”. A vida social outorga direitos e impõe deveres recíprocos.
·
878 – “A subordinação não
se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria”.
·
881 – Por meio do
trabalho honesto, o homem tem o direito de acumular bens que lhe permita
repousar quando não mais possa trabalhar. Desta forma, a propriedade que
resulta do trabalho é um direito natural, sem prejuízo de outrem.
·
883 – O desejo de possuir
é natural, mas acumular bens sem utilidade para ninguém é puro egoísmo.
É
óbvio que a interpretação das respostas às perguntas acima enumeradas vai de
cada um, por isso, fico com a frase do companheiro espírita argentino Gustavo
Molfino; “tomo o melhor de cada partido político e faço as minhas próprias
reflexões”. Da mesma forma, entendo que devemos tomar as posições espíritas e
fazermos a nossas próprias reflexões.
Como
espíritas não podemos optar pela neutralidade, pois devemos buscar alcançar o
tripé: liberdade, igualdade e fraternidade.
Segundo o IBGE, no Brasil vivem 65 milhões de pessoas com menos de U$
5,50 por dia, o que equivale viver com menos de um salário mínimo por mês.
A
incúria de qualquer governo que permita a fruição de riquezas por poucos deve
ser contestada de forma contundente, utilizando os mecanismos legais que
dispomos.
Por
fim, vejo que esse sistema binário: esquerda ou direita, na minha humilde
visão, está ultrapassado e não consegue apresentar uma alternativa viável à
sociedade. Como espíritas, que temos o conhecimento das influências de vidas
passadas na vida atual e os consequentes desdobramentos nas vidas futuras,
devemos procurar formas que contribuam para um mundo preocupado com as questões
ambientais, respeitos aos movimentos
LGBTQI+, defesa da mulher, liberdade das crenças religiosas, educação,
segurança, saúde de qualidade para todos. Enfim, simples assim...
Marco
Videira é Administrador de Empresas e reside em Santos
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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