segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo - por Roberto Rufo e Silva

 

As virtudes, os vícios e o declínio da democracia no mundo

 

“Temos que defender a autodeterminação dos povos. Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?” (Ex-Presidente Lula omitindo de forma proposital que a chanceler alemã nunca mandou prender os opositores no mês das eleições).

 

"Se o Braga Neto (Ministro da Defesa) autorizar, eu boto a farda e vou à luta". (Presidente Bolsonaro defendendo alterações na lei do excludente de ilicitude). 

 

 

                                 Por que deveria o espírita preocupar-se com política no mundo se há um planejamento maior que colocará todas as coisas no seu devido lugar no seu devido tempo? Para uns esse planejamento maior está escrito pelos desígnios divinos; para outros a força da história nos levará para o destino da redenção.

Como a esquerda tem sido incompetente há muito tempo, a direita no mundo se viu no papel de redentora do universo trazendo de volta em várias partes do planeta o "amor pela pátria”, o Brasil acima de tudo, America first again, como virtude maior acompanhada de uma nova teocracia, ou seja, Deus acima de todos.  

                        Acreditou-se um dia que o socialismo acabaria com a barbárie, pois a esquerda parece amar mais a humanidade, preocupada com o ser humano sofrido. Na prática, quando se transformam em partidos políticos adquirem uma sede de poder gigantesca. Mas o pensamento um pouco ingênuo da esquerda humanitária permanece, mesmo tendo em vista a história do socialismo no mundo com seus regimes totalitários e gulags. A "lógica" humanitária se mantém porque o capitalismo é realmente muito violento e a maioria das pessoas se dá mal no conjunto da obra.

                      O cientista político Christian Lohbauer se coloca numa posição que seria a minha também como espírita, ou seja, a de um conservadorismo de linha inglesa onde o progresso constitucional é fruto de processos evolutivos que não se traduzem em rupturas, enfim não são processos revolucionários. É uma ideia que me agrada. Acredito na continuidade do processo social. Ou como Allan Kardec que acreditava no progresso da legislação humana sem derramamento de sangue.  Em 1688 e 1689 a Inglaterra viveu a Revolução Gloriosa, também chamada de revolução sem sangue, 100 anos antes da França com todo seu escândalo da revolução francesa que resultou em Napoleão Bonaparte se sagrando imperador, a pretexto de defender a pureza da revolução francesa. O que ele menos respeitou foram a igualdade, fraternidade e liberdade. Foi um período de terror. As rupturas apaixonam, mas são inúteis. Contudo a era moderna tem-se desdobrado na sombra dos ideais da Revolução Francesa. 

O sonho revolucionário passou então a dominar o mundo. No entanto, foi a revolução gloriosa inglesa a primeira a conquistar o fim do absolutismo, o aumento do poder do parlamento e a estabilidade política e econômica.

                         No livro terceiro do Livro dos Espíritos, capítulo XII - Perfeição Moral - é abordada a questão das virtudes e vícios. Os espíritos logo advertem que há virtude toda vez que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências. Mas lançam um desafio muito difícil: "o sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem oculta intenção". Algo impensável no mundo político.

Todos possuem ocultas intenções.  A filósofa Hannah Arendt escreveu que a política é a nossa última garantia de sanidade mental. Millôr Fernandes por sua vez dizia que "em política nada se perde e nada se transforma - tudo se corrompe". Houve época que acreditava piamente na primeira frase. Hoje me rendi à segunda frase. Em 2022 pelo que se acompanha haverá uma polarização na eleição presidencial brasileira. Eu antecipo que num joge do pôquer com Bolsonaro e Lula, eu só entro se for com o meu baralho.

 

Em resposta à pergunta 917 - qual é o meio de se destruir o egoísmo, os espíritos não aliviam e falam que de todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo, porque ele se prende à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não consegue se libertar e essa influência atinge a criação de leis, a organização social e a educação. 

                       

Por último concluo com as palavras dos espíritos na resposta à pergunta 918, quando afirmam que o Espírito prova sua elevação quando todos os atos de sua vida corporal são a prática da lei de Deus e quando compreende, por antecipação, a vida espiritual.  Substituam a palavra espírito por político e concluiremos que estamos a anos luz desse sonho. Salvo as exceções de praxe. E bota exceção nisso. A democracia nunca esteve tão perto de sucumbir desde o movimento das Diretas Já.

 

Meus míseros leitores, quero tranquilizá-los que enquanto persistir o meu niilismo político abandonarei esse tema até que o meu ser seja invadido por um otimismo nas instituições e nas pessoas que nos governam.

 

Jesus de Nazaré passará a ocupar um lugar de destaque nos meus futuros artigos.  

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