quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias - por Alexandre Cardia Machado

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias

Trabalho apresentado no XXIII Congresso Espírita Panamericano



Apresentação congresso - clique aqui

Vá diretamente no link de YouTube a assista ao evento, são 30' incluida a apresentação e perguntas e respostas. 

Um pequeno resumo da apresentação ou dos aspectos que me levaram a concluir pela serenidade:

Tivemos a oportunidade de fazer parte deste evento mundial e poder apresentar uma reflexão mais positiva a respeito do gênero humano. Procuramos demonstrar que não há nada na história recente da humanidade que nos desanime e que não nos permita pensar que estamos evoluindo como espíritos. Como em tudo na vida a evolução não se dá em linha reta, precisamos entender os nossos ciclos.

Nosso trabalho demonstra que no momento em que surge o Espiritismo o ambiente era bastante conturbado na Europa e principalmente na França, no entanto para alguém que se ponha a estudar as obras básicas não encontrará nenhuma palavra de desespero.

Notamos, mesmo entre os espíritas um comportamento muito próximo das pessoas não espíritas, o fato de sabermos que somos imortais não parece arrefecer o impulso a ações mais ríspidas, ou mesmo exageradas.

O Espiritismo nos ensina o caminho do meio, a moderação o controle de nosso impulsos a temperança.

Buscamos trazer aqui trechos de artigos publicados por diversos autores nas páginas do Jornal Abertura palavras que nos animem e que nos ajudem a manter a serenidade.

Nas palavras de Jaci Régis:

“O Novo modelo (Doutrina Kardecista) identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”[1]

 Finalmente concluiremos que uma das missões do espiritismo é demonstrar na prática que este comportamento sereno é possível, que se pode criticar e com isto aprender a melhorar, mas não podemos perder a tranquilidade porque a imortalidade dinâmica nos ensina que esta caminhada é longa e tem percalços, mas por isto mesmo é bonita.

O momento em que o Espiritismo surge – ambiente

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida: 

(ver o vídeo)

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Este quadro histórico demonstra, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto claro não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipé na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 21 anos de século XXI, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, de mortes inúteis nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita.


Evidências de que Kardec se manteve sereno

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos[1] Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo. (Alexandre Cardia Machado – A tranquilidade Espírita -março 2020 -Jornal Abertura)

 

O momento em que vivemos hoje – A Parábola da calçada (assista o vídeo no Youtube)

Esta foto da calçada da Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de passar A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar. Santos é uma cidade que possui seis quilômetros de praia, na área urbana, na sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos apenas com a calçada.

 

Andar por este caminho é exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.

 

O que isto tem a ver com a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.

 

Neste espaço estreito da calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos a fim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas balanço de pagamentos internacional, guerras, pandemias ou preços das comodites. O que vemos é que 5 anos depois a calçada está mais larga e mais resistente, assim como nós deveríamos ficar no convívio com o processo democrático.

 

 

Este fenômeno de mudanças mais ou menos radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a vontade popular é que a democracia sobreviva.

 

Allan Kardec, chamado por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuía o bom senso ao avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia (Machado, Alexandre - O difícil caminho da democracia - editorial jornal Abertura de novembro de 2016).

 

 

Serenidade

Sobre como enfrentar a realidade e o Estado de Bem Estar Social - O Pensador francês Luc Ferry muitas vezes citado neste periódico, em seu livro “ A Revolução do Amor” de 2010 nos apresenta um texto, contido no capítulo  - Três fortes objeções contra uma “política do amor” -  que gostaria de reproduzir aqui alguns trechos, como contribuição ao debate que nos assola nos dias de hoje e convidar os leitores a revisar este livro.

 

Alguns pensam que com a crise “vamos retornar a um pouco mais de generosidade, a um pouco menos de egoísmo” porque eles não compreenderam nada de economia nem da humanidade. Retornar (retrotopia)? ... Vocês acreditam que a sociedade do século XIX era mais generosa e menos egoísta que a nossa? Releiam Balzac e Zola!” – André Comte-Sponville – O gosto de viver”.

 

Não se poderia dizer melhor. Concordo que se deva apelar para o ideal para criticar o real. Mas, nessas condições, a menor das exigências consiste em indicar de que real se fala, e que ideal se exige. Ora, apesar de todos os defeitos que se queira encontrar, o real dos Estados de bem-estar social europeus é simplesmente o mais suave que já se conheceu na história humana.

 

Quanto ao ideal em nome do qual ele é criticado, o mínimo é que ele exiba claramente os motivos que nos permitam ter a menor esperança de que ele fará melhor, e não, como de costume, infinitamente pior. Vocês me permitirão duvidar ainda e sempre, mais do que nunca, de que o marxismo-leninismo enfeitado com um pouco de maoísmo e de trotskismo, doutrinas que sempre produziram as piores catástrofes humanas por toda parte onde foram impostas aos povos, esteja hoje pronto para fazer melhor do que esse misto admirável de liberdade e bem-estar que, bem ou mal, conseguiram garantir nossas repúblicas democráticas.”

 

Luc Ferry expressa claramente o porquê da rejeição aos partidos socialistas que vem ocorrendo repetitivamente mundo afora, eles não apresentam históricos convincentes de sucesso. Onde atingiram algum sucesso, foi à custa de muitas vidas e pela supressão da liberdade. A guinada ao centro que estamos presenciando é uma aposta da sociedade na busca deste estado de bem-estar social. Que é social-democrata, que é capitalista, mas com viés social, que não é estatizante e que valoriza a produtividade.

 

A Tão Complexa Lei do Progresso

 

Gostaríamos de discutir um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento natural no orgulho e o egoísmo.

 

Da Questão 793 do Livro dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da resposta abaixo:

 

“793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?

“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral...”

 

Enfim fica aqui o convite à reflexão de nossos leitores.






[1] Kardec, Allan – O livro dos Espíritos -Ed FEB - Introdução



[1] Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista – Jaci Régis – editora ICKS



Alexandre Cardia Machado é o Presidente do ICKS e redator do Jornal Abertura.

 

 


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Quer ler o jornal Abertura online?

 

Comunicado aos assinantes do Jornal ABERTURA

O nosso Abertura, colorido, online já é totalmente grátis, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer parte do mundo.

Você já pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no Blog do ICKS à direita, conforme mostra o círculo, na foto abaixo, logo ao entrar na página. Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos. Vá ao nosso Blog: https://icksantos.blogspot.com/

 Se alguém quiser antecipar o recebimento do jornal via e-mail ou whats app no formato pdf no ano de 2021 é fácil, é só entrar em contato pelo e-mail -ickardecista1@terra.com.br. E nós faremos isto por você ou se preferir faça você mesmo acessando no site, conforme as instruções apresentadas acima.

Ou se preferir, basta clicar diretamente no link abaixo e acessar o site da CEPA – Associação Espírita Internacional e ler o Abertura.

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/20-jornal-abertura-2021 

Qualquer pessoa pode baixar o Abertura.

 

 

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA - por Ricardo de Morais Nunes

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA

TEXTO DE RICARDO NUNES APRESENTADO NA MESA REDONDA “ESPIRITISMO E PANDEMIA” NO XXIII CONGRESSO DA CEPA EM 08 DE OUTUBRO DE 2021

É interessante observar que em uma época de individualismo exacerbado promovido por concepções neoliberais de economia, política e sociedade, um vírus, um simples e invisível vírus, denominado COVID 19, acentuou ainda mais a separação entre as pessoas.

  Na verdade, muitos de nós já vivíamos sob a perspectiva do isolamento introjetando os valores da sociabilidade capitalista, os quais apontam para o ter e não para o ser, para o egoísmo e não para o altruísmo. Infelizmente, temos frequentemente esquecido que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo e que os laços sociais são uma espécie de oxigênio da vida.

Durante a pandemia do vírus não pudemos mais nos abraçar, não pudemos nos beijar, não pudemos nos aproximar. Ficamos reclusos em nossas casas tentando organizar os espaços de fora, e nos deparando muitas vezes com os vazios de dentro. O velho ditado “tempo é dinheiro” perdeu o sentido. Aquela sensação de ocupação e pressa nos abandonou por esses longos meses.

Tivemos que exercitar a paciência, a espera, e os dias passaram devagar. Passamos a trabalhar em casa misturando nossos materiais de trabalho com o ambiente doméstico e com os brinquedos de nossos filhos, renunciamos aos lazeres e passeios, nos afastamos de familiares e amigos. Muitos de nós perdemos entes queridos. Familiares e amigos partiram para o mundo maior, para o mundo dos Espíritos, enchendo-nos o coração de dor e saudade, sendo a filosofia espírita o mais forte apoio aos nossos pensamentos e emoções nestes graves momentos.

O vírus certamente trará grandes lições. Sairemos melhores desta crise? Aprenderemos alguma coisa? É difícil dizer.

 E o espiritismo, enquanto filosofia espiritualista, o que tem a dizer em um momento tão difícil para a humanidade? A filosofia espírita descortina a todos novos horizontes existenciais. Nos ensina que tudo passa, se transforma e evolui.

 Segundo o espiritismo, das sociedades agrárias às sociedades pós-industriais, estamos submetidos a um complexo processo evolutivo, não uniforme, sem dúvida sujeito a avanços e retrocessos no terreno da história, porém rumo a patamares superiores de civilização, sendo que tal processo evolutivo se dá pelas leis psicofísicas da reencarnação.

O espiritismo ensina que a vida, em si mesma, é imperecível e transcendente. Que acima de tudo somos e que continuaremos a ser mesmo após a morte.   Ensina a confiança na razão, na ciência, na capacidade do ser humano em resolver os seus problemas.   Lembra que a dor e o prazer, a vida e a morte, a tristeza e a felicidade, são fatores inerentes às leis naturais do planeta em que vivemos, sem desconsiderar, é claro, os excessos e equívocos humanos na produção de sofrimentos.

 Nos conscientiza que somos os protagonistas do nosso destino, sem desprezar os determinismos de variada natureza que incidem sobre nossas vidas.  Esclarece a importância do amor e da solidariedade na construção de um ser humano e de um mundo melhor.

Que possamos, a partir das lições deste difícil período, ter clareza da importância de nossa existência terrestre em nosso desenvolvimento individual e coletivo. Que aprendamos a cultivar uma nova sociabilidade não mais centrada apenas no “eu”, mas que considere o “nós”. Que compreendamos a terra como nossa casa comum a ser preservada e que nos conscientizemos da rede invisível que nos entrelaça a todos, em uma trama de ações e reações sob a perspectiva dialética indivíduo-sociedade.

Uma das grandes lições do vírus é a de que ele não é democrático, pois atingiu preferencialmente os pobres e despossuídos, os quais ficaram mais expostos e vulneráveis por viverem em habitações precárias que não permitem os devidos cuidados de afastamento social, e também por terem tido que sair às ruas, em meio à maior crise de saúde pública de nosso século, na busca do pão de cada dia.

 Apesar disso, constatamos, que o aristocrata, o milionário, e o trabalhador são iguais em fragilidade física. Ficou claro para aqueles que tem “olhos de ver” que o dilema economia X saúde é um falso dilema. Sem trabalhadores saudáveis não há possibilidade de se construir uma sociedade economicamente forte.

 A prioridade em qualquer sociedade civilizada deve ser a vida e não o capital, mesmo porque todos sabemos que o problema do mundo não é falta de dinheiro, mas sim a concentração da riqueza nas mãos de minorias privilegiadas.

Outra lição fundamental deste período, foi a que nos ensinou que o risco de morte repentina é uma realidade mais próxima do que imaginávamos, o que nos fez compreender que o amanhã na Terra é apenas uma possibilidade. Compreendemos, efetivamente, a importância do agora.

Esta crise da pandemia também abriu algumas poucas janelas de oportunidade. Parece-me que a maior delas se deu no campo das comunicações. Este congresso virtual da CEPA, reunindo espíritas das Américas e da Europa, sem saírem de suas casas, é um bom exemplo desse novo tempo que se inicia.

Finalmente, gostaria de fazer alguns agradecimentos:

Em primeiro lugar, aos profissionais de saúde, em especial aos médicos e enfermeiros que ficaram na linha de frente no combate ao COVID 19.

Aos cientistas que trabalharam intensamente com vistas a descobrir as vacinas necessárias ao enfrentamento desta doença. Sonho com o dia em que as conquistas da ciência beneficiarão toda a humanidade.

A todos os trabalhadores dos supermercados, farmácias e comércios em geral que mantiveram a economia básica funcionando, com vistas a evitar a escassez de alimentos e produtos fundamentais.

A todos os professores que mantiveram sua tarefa de ensinar mesmo à distância, sem poder contar com a presença física e a alegria de seus alunos.

A todos os governos que promoveram a valorização da ciência e compreenderam a necessidade das estratégias de afastamento social e, por isso, cumpriram com seu dever de cuidado perante seus cidadãos.

A todos os Estados que possuem um sistema de saúde público, universal e gratuíto. Ficou absolutamente claro que os países que tinham sistemas públicos de saúde estavam mais aparelhados para enfrentar essa tremenda crise.

 Em relação ao Brasil, meu país, deixo minha especial homenagem ao SUS (Sistema Único de Saúde), sistema que luta para sobreviver ante a carência de verbas de financiamento, mas que possui em seus quadros verdadeiros heróis na luta contra a pandemia e contra as doenças em geral. Os profissionais e militantes dos SUS têm nos ensinado que medicina e saúde não devem ser compreendidas como mercadorias.

A todos os cidadãos do mundo que não deixaram de acreditar na ciência em tempos de negacionismo científico. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.

 


domingo, 3 de outubro de 2021

A voz do coração - por Cláudia Régis Machado

 

A voz do coração

Se perguntarmos para as pessoas o que é ouvir a voz do coração, suponho que a maioria responderia que é ouvir os sentimentos, as emoções que estão no interior de cada ser humano.



A resposta estaria certa.

Mas só temos a voz do coração? Seria incompleto, muito simplificado acreditar que sim, pois somos um espírito complexo composto por emoções, sentimentos e razão, que caminham juntos na dinâmica vivencial.

Antes de discorrermos sobre o assunto devemos colocar que emoção é diferente de sentimento, embora muitas vezes usemos no mesmo sentido. É uma simplificação.

Emoção é uma reação corporal, motora que advém do nosso cérebro que faz parecer em resposta a alguma situação. É inato. Reação emocional que compartilha toda a espécie humana.

Para o neurologista português Antônio Damásio “o sentimento é a forma como a mente vai interpretar essas reações corporais, os movimentos emocionais do corpo”.

Os sentimentos têm forte componente cognitivo. Você pensa através dele, você constrói uma percepção afetiva ou a desconstrói.

No seu livro Uma Nova Visão do Homem e do Mundo Jaci Régis coloca que: “na sua evolução o espírito assumindo as qualidades de discernimento e de escolha, característica do nível racional, começa uma nova fase quando o elemento afetivo quase todo impulso puro começa a submeter-se aos limites que a relação com o outro impõe. Estes componentes vão sendo refinados e melhorados através de milhares de anos, o que ocorre no processo reencarnátorio, onde aprende na vivência, muitas vezes de maneira forçada, as condições que tornam a vida possível tanto na sobrevivência animal quanto nas relações afetivas do homem”.

Não é possível dividir o indivíduo, olhando-o somente por um aspecto quer seja emocional ou racional.  Podemos em situações ter uma atuação mais racional e outra mais emocional. Mas no inconsciente e no consciente há toda uma elaboração, mesmo que rapidamente, dos dois modos de agir.

O estudo sobre a estrutura do cérebro avançou muito e segundo, Damásio “é preciso que o cérebro seja capaz de representar aquilo que se passa no corpo e fora dele de uma forma muito detalhada”. Coloca ainda que: “as decisões mais impulsivas e emocionas são originadas na região do cérebro chamada amigdala. Já aquelas decisões mais racionais vêm do hipotálamo até chegar ao neocortéx. Este trajeto entre hipotálamo e o neocortex é mais longo e segundo o estudioso, talvez por isso temos mais tempo para pensar”.

Muitos separam dizendo: - seu coração é duro, você não tem coração, és um insensível ou você é só razão! Isto é uma observação incompleta, pois esses não são processos excludentes. Nas diversas formas de nos expressar demonstramos esses dois aspectos de forma misturada, mesclada e unitária.

Usar a inteligência, a razão, identificar as emoções primárias e depois aprender a nomear os sentimentos, reconhecê-los em si mesmos e vive-los de forma harmônica é decorrência de muitos fatores, dois deles: a educação e os condicionamentos socioculturais.

A emoção pode moldar o raciocínio.  O raciocínio pode alterar nossas emoções. Conciliar bem a emotividade com a racionalidade demonstra equilíbrio e maturidade espiritual. A medida em que as sociedades evoluem caminhamos para uma maior harmonia entre o lado emocional e o lado racional. Ainda nem sempre é visível essa harmonia, é um trabalho a se avançar.

O estado de desequilíbrio muitas vezes ocorre e para uma melhora é importante primeiramente autoanalisar-se, refletir e verificar com grande pormenor quais as situações que nos trouxeram a este estado e encontrar soluções, sozinho ou com ajuda, para aperfeiçoar a maneira de reagir a estas e ter uma mudança de postura.

A racionalidade e os aspectos afetivos que estão presentes no nosso dia a dia. Quando pensamos em progresso do espírito pensamos sempre no equilíbrio, no meio termo do uso destes elementos. Aprender a administrar, autogerenciar estes itens e vivenciarmos estes aprendizados irão proporcionar um desempenho harmonioso, criativo, produtivo e revelarão compreensão e o entendimento da vida.

Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos -é Vice-Presidente do ICKS.

Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura de setembro de 2021, quer ler o jornal todo?

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