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domingo, 29 de setembro de 2024

Outono da Vida - por Cláudia Régis Machado

 

Outono da vida

Com o passar dos anos somos convidados a encarar mais um ciclo da vida, o envelhecimento, que com certeza traz questionamentos e dúvidas de como enfrentar esta jornada.

A Doutrina Kardecista nos coloca que somos espíritos imortais, numa trajetória evolutiva e contínua nos remetendo sempre a construir uma forma sadia para conduzir a existência; aproveitando-a para aprender, crescer e otimizar as oportunidades. O espiritismo sendo um norte, uma filosofia para qualquer conduta perante a vida.

A transição para esta nova estação da vida pede um olhar diferente - o corpo - já não é o mesmo, as limitações se fazem presentes, os desejos mudaram, os pensamentos evoluíram, as características existências e espirituais construídas muitas vezes exigem melhores adaptações.

É um turbilhão que não deve ser levado como um momento estacionário, mas de elaboração prática e aprazível para este novo tempo, pois as mudanças significativas afetam toda a maneira de usufruir o tempo e de como tirar maiores possibilidades das oportunidades que advirão.

Neste ciclo – envelhecimento - há o pensamento da proximidade da morte, mas existe vida, energia e aproveitá-la ou dar continuidade é importante e nesta consiste a nossa proposta.

Não posso dizer que é a melhor idade, mas que como todas as fases da vida há oportunidades para desfrutar, ser produtivo e aprender não necessariamente coisas novas, mas com a evolução do conhecimento e do saber é importante ressignificar o aprendizado, dar um sentido mais maduro às situações e às posturas que adotamos durante outros momentos e ciclos. Não deixando que as coisas do passado o identifiquem de uma forma estacionária, sempre tem algo que dá para melhorar no que somos e no que fazemos.

O caráter pedagógico da vida frase interessante que ouvi, deve estar sempre presente na condução de nossa existência.

Este ciclo da vida deve acompanhar as estações da alma, tem o inverno e tem o verão, interessante é não ver apenas as perdas e o sofrimento que possam ocorrer, mas também contemplar a vida. É um caminho que inclui o otimismo, a resiliência com plasticidade porque é um processo que tem idas e vindas. Num processo de repetição que sem dúvida necessita de vontade e constância.

Ele não ocorre de repente ele vem se mostrando aos poucos, melhor não os ignorar, é um outro momento que se for pensado e planejado com cuidado e com certa antecedência ajuda muito no êxito para que possa transcorrer com alegria e felicidade. Com disposição para enfrentar as surpresas que a vida nos propicia.

Como espíritas devemos planejar o envelhecimento para que a vida ainda tenha flores e alegrias não só doenças e decepções. Muitas vezes neste período, já aposentado profissionalmente, no entanto não constitui se aposentar da vida.

 Enquanto houver vida, mais motivo para se viver - vá em busca. Se sinta ativa. Entrar neste ciclo não é desistir da vida, talvez amenizar em vários aspectos, mas um fator importante é manter a curiosidade, estar ligado nas atualizações do mundo é fundamental.

Cláudia - Albacete - Espanha


“A mudança está sempre presente não temos como ficar estacionado em uma estação da vida”.

 As escolhas devem estar num quadro possível não é necessário seguir padrões em realizar isto ou aquilo, mas faça alguma coisa. Afinal você chegou até aqui não por acaso, você tem uma história, tem experiencia, tem um acúmulo de possibilidades e alguns talentos que podem ser mais bem desenvolvidos em questão a disponibilidade temporal ou empregados em outros situações.

Podemos direcionar o percurso. Talvez que mais norteia filtrar o que é essencial, ter foco. Não precisamos atender os padrões, não há uma única rota, podemos navegar não somos “marionetes do destino” podemos direcionar o percurso da forma possível.

Esteja aberto as novidades. Se reinvente. Aprimore seus conhecimentos. Renove contatos, se necessário peça ajuda muitas vezes.

Seja positivo, tudo na vida é um exercício, um caminho, um percurso que as estações da vida devem acompanhar. Isto tudo pode ser obvio, há muitas publicações sobre este tema, mas sempre é bom refletir e pensar em que momento você está.

Este artigo foi publicado no jornal ABERTURA de junho de 2024

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/42-jornal-abertura-2024?download=306:jornal-abertura-junho-de-2024


 

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

O Luto por Reinaldo Di Lucia e Carolina Régis

O Luto 

        Muito se fala, especialmente nos dias atuais, sobre a importância do luto, da vivência do luto como algo necessário para que consigamos seguir em frente após as perdas que vivenciamos em nossa caminhada encarnatória. 

        Esse foi precisamente o tema da discussão de um grupo de amigos espíritas no último mês. Não há como negar que o luto é inevitável. A perda dos entes queridos é um dos momentos mais dolorosos na vida de qualquer pessoa e não há como não sentir esta dor. Muitas vezes, ela dura por períodos excessivamente longos, podendo dificultar ou mesmo impedir que a pessoa continue sua vida normalmente. Por isso se diz que o luto deve ser vivido, sentido, trabalhado e, finalmente, superado. 

        Quanto tempo isso leva? Depende de cada um, obviamente. Mas deve ser um tempo que possibilite que o ser que o vive retome, ainda que gradualmente, sua vida – que não será a mesma, mas deve continuar com mais conhecimento e serenidade.

         Agora, como o espírita encara o luto? Porque, sem dúvida, a Doutrina Espírita nos coloca em uma condição diferente, uma vez que nos apresenta uma visão de mundo diferente, baseada na continuidade da existência do ser. E é aí que a coisa começa a ficar complexa. Principalmente porque, com a tendência dos seres humanos de uniformizarem os sentimentos e acharem que todos devem sentir as coisas da mesma forma, acabam padronizando o luto: “Ah, mas você é espírita, não é? Sabe que a vida continua, não precisa ficar desse jeito...”. – Porquê não? Vejo o luto como uma profunda saudade da presença, do toque, do olho no olho. A falta do contato, da conversa, da convivência. 

        Talvez seja mais que simplesmente saudade, já que a saudade pode normalmente ser sanada com uma visita ou um telefonema. Mas a ausência, essa permanece. E dói. Muito. Eis o luto. Ah, dirão, isso passa. Não nos iludamos, meus amigos. Não passa jamais. Diminui, sim, a um ponto em que conseguimos seguir em frente – de uma maneira quase normal. Mas ela, a dor, a saudade, a falta, sempre estarão lá. 

        E o que podem os Centros Espíritas fazer para, de alguma forma, ajudarem as pessoas a passar por essa fase? Penso que o primeiro passo é entenderem que a acolhida é fundamental – entender, empaticamente, o que as pessoas em luto estão sentindo é um primeiro passo essencial para essa ajuda. Mas, por melhor que seja a intenção, só ela não basta (de boas intenções ... lembram?). É preciso uma capacitação, algo mais profissional, para que possamos, com firmeza e doçura, estar ali para aquela criatura. E assim ajudá-la a passar por esta fase. 

        E vocês, amigos leitores? O que pensam sobre o luto e o Espiritismo? Mandem comentários. Gostaríamos muito de saber a visão de vocês.

        Deixem os seus comentários aqui no blog.

Este artigo foi publicado no jornal Abertura de outubro de 2019, agora disponível online.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/28-jornal-abertura-2019?download=210:jornal-abertura-outubro-de-2019


domingo, 23 de abril de 2023

Medo da Morte por Alexandre Cardia Machado

 

Medo da Morte

Os espíritas não deveriam temer a morte, pois a prática do Espiritismo nos permite o contato constante com o outro lado da vida, ou seja, o Mundo dos Espíritos como bem o denominou Allan Kardec. Assim que sabemos que existe apenas uma cortina entre dois mundos.

Nestes meses de verão tive a oportunidade de ler um interessante livro chamado – A morte é um dia que vale a pena viver - Editoria Sextante, de autoria da médica geriatra Ana Claudia Quintana Arantes, presente de minha filha também médica Beatriz. Creio que o li em uma semana, apesar do tema, que sempre nos impressiona, pois mesmo sem termos medo da morte e sabermos que ela virá para todos, a gente tem uma certa aversão ao tema. Ana Claudia nos leva pelos caminhos da morte onde ela é mais comum, nos hospitais e casas de repouso.



A sensibilidade da autora se destaca pelo valor que ela dá à preparação para o momento da morte, anos ou meses antes, se for possível. Dignificando a pessoa humana que está presente e na maioria das vezes consciente deste processo.

A autora do livro de educação cristã se demonstra ao longo da obra por ter adquirido uma visão de mundo budista, que de certa forma se mostra interessante, pois ao menos no que tange os cuidados com a pessoa que se aproxima do fim desta vida guarda muita semelhança com o que médicos espíritas fariam.

Não quero dar spoiler deixo aqui apenas o convite para aqueles que ainda sentem arrepios, só de pensar no tema, para que enfrentem o livro de 222 páginas.

Quero chamar a atenção ao relato interessante do momenta na vida desta médica, quando, tendo de trabalhar muitas horas de plantão, com a irritação que sua vida  provocava, dormindo mal, cheia de problemas, como de certa forma todos nós podemos ter em nossa vida. No entanto ela encontra a sua vocação, talvez do modo mais improvável, num momento de laser, assistindo uma peça sobre Gandhi. Acho que todos que leram sobre a vida deste personagem importante do século XX, podem ter tido um momento em que pensaram, como alguém pode ser assim? Despojado e focado no bem comum. Pois bem, a autora, nas suas palavras nos descreve o momento: “ Fico em pé, olhando Gandhi com minha alma nua. Uma epifania ... Em poucos instantes, eu compreendi o que estava para ser o grande passo da minha carreira, da minha vida. Naquele dia, eu me dei conta de que a maior resposta que eu procurava havia chegado: todo o trabalho de cuidar das pessoas na sua integralidade humana só poderia fazer sentido se, em primeiro lugar, eu me dedicasse a cuidar de mim mesma e da minha vida. Me lembrei dos meus tempos de carola. Me lembrei de um ensinamento importante de Jesus: “amai o próximo como a ti mesmo”. E cheguei à conclusão de que tudo o que estava fazendo pelos meus pacientes, por minha família, por meus amigos era uma imensa, enorme, pesada e insuportável hipocrisia. Nesse dia, fui tomado por uma fortaleza e uma paz que eu jamais imaginei que morassem em mim. Desse dia em diante eu teria a certeza de estar com os pés no meu caminho: posso cuidar do sofrimento do outro porque estou cuidando do meu”. Esta foi a chave que ela encontrou para fazer cada vez melhor o seu trabalho. A passagem de Gandhi, que a fez dar este salto de qualidade em sua vida, é bem simples- em certo momento uma mãe vai ao seu encontro e lhe pede que diga ao seu filho que não coma açúcar, o pedido é muito simples mas a resposta é surpreendente, Gandhi pede 2 semanas para poder ajudar a mãe. Passadas as duas semanas a mãe com o filho retornam e Gandhi por fim dá o conselho ao filho. A mãe agradece, mas pergunta a ele, porque ele precisou de duas semanas e Gandhi reponde, porque eu precisava primeira passar duas semanas sem comer açúcar para depois poder aconselhar.

O insight da médica é claro, como ela poderia aconselhar seus pacientes se não estava fazendo consigo mesma o que ela dizia.

Mas o mais importante, acredito seja que cada um de nós encontre o seu momento, no qual passe a acreditar que possa fazer a diferença primeiro a si mesmo.

Levamos desta vida, com a nossa alma ao mundo dos espíritos, a vida que a gente leva, No Espiritismo aprendemos que devemos trabalhar até o limite de nossas forças, e devemos fazer isto com gosto, em coisas que nos dão prazer e que podemos ajudar a nós mesmos e com isto ajudar os outros.

A Ciência da Alma, como proposto por Jaci Régis dispões com relação a vida, a morte e nossa transcendência o seguinte:

“Devemos desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.

Assim, o Espiritismo pretende equacionar o ser humano essencialmente como uma alma, definindo sua natureza, sua evolução, seu destino, dentro de um conjunto metodológico de reflexão, observação e pesquisa.

A ciência espírita elabora seus princípios a partir de um espaço interexistencial, onde a alma desenvolve sua vida atemporal. Nesse espaço, sem fronteiras definidas, coexistem tanto a matéria concreta quanto as energias que constituem o universo. Ali interagem o mundo corporal e  um plano extrafísico.

 Na verdade, o corporal se insere nesse espaço interexistencial como um hiato onde a alma se exterioriza na sociedade organizada como humanidade em transição permanente, isto é, vida e morte.

Homem - o definirá essencialmente como um ser inteligente - um espírito - atemporal temporariamente ligado a um organismo físico.

Essa atemporalidade sugere que o ser inteligente é permanentemente atual. Ele não é de ontem, nem do amanhã é de hoje. Atemporalidade o define como o ser que vive sua atualidade constante.

A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece. Este ser atemporal não depende de um organismo para ser. Ontologicamente ele é. E vive a sua experiência no nível mental na expectativa de desenvolver potencialidades que lhe são inerentes”.

Como conclusão não devemos temer a morte e devemos sim tentar viver o melhor possível, cuidando de nossa alma imortal.

Se você gostou do artigo, leia mais o Abertura de  março: 

 https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/31-jornal-abertura-2023?download=227:jornal-abertura-marco-de-2023 

domingo, 15 de maio de 2016

O mundo da gente começa a morrer antes da gente

"O mundo da gente começa a morrer antes da gente"

                                   Do livro "A soma de todos afetos" de Fabíola Simões

Dona Fernanda é vizinha de minha mãe e se prepara para mudar-se para um asilo.
Nunca se casou nem teve filhos. Está com oitenta anos e teve poliomielite na infância. Os sobrinhos não podem acompanha-la diariamente e, por isso, a opção mais adequada é o asilo.
Depois de passar pelo luto inicial, ela agora se organiza para deixar sua casa e tudo o que ela representa.
Pouco a pouco vai se despedindo dos objetos que compõem sua vida e abrindo mão da independência que tinha para assumir uma nova versão de si mesma, talvez a última.
O mundo de dona Fernanda aos poucos vai morrendo, e ela tem que ser corajosa para permitir que esse mundo se despeça dela antes do fim.
Enquanto somos jovens, recomeçamos inúmeras vezes, e de repente estamos em outro mundo, bem diferente do anterior, sem nos darmos conta disso. Viramos a página e seguimos com novas histórias, paisagens, amigos, amores. Mudamos o corte de cabelo, fazemos um regime, tatuamos uma frase no antebraço, nos apaixonamos por uma banda que ninguém nunca ouviu falar.
O mundo da gente se transforma, mas também morre. E quanto mais velhos somos, maior a sensação de que esse mundo está se despedindo.
Dona Fernanda sabe que essa é provavelmente sua última viagem. Olha as porcelanas na sala de visitas e decide com quem ficará a sopeira pintada à mão que foi presente das bodas de seus pais. Não queria ter que se desfazer de suas memórias, mas sabe que a partir de agora terá que carrega-las somente no pensamento. Nas histórias que contará aos que forem visita-la. Nas conversas que terá com suas companheiras de asilo. Nos sonhos que a acordarão no meio da noite fazendo-a acreditar que ainda está em casa.
Aos poucos tem aprendido a desapegar-se e aceitado seguir com menos bagagem…
Há uma frase de Eliane Brum que diz: “é preciso dar lugar à morte para que a vida possa continuar. É para isso que criamos nossos cemitérios dentro ou fora de nós. Em geral, mais dentro do que fora.”
Assim, acredito eu, é preciso sepultar nosso mundo que não existe mais, para que a vida flua como um rio abundante, permitindo que o antigo dê lugar ao novo.
Talvez dona Fernanda precise sepultar sua vida anterior para que possa acariciar-se gentilmente daqui pra frente. Para que possa renovar o olhar a si mesma, adoçando com algumas gotas de afeto a relação que tem com a pessoa que se tornou.
Ao perceber que nosso mundo se despede, talvez devêssemos cuidar mais de nós mesmos.
Cuidar de nós mesmos é pisar com delicadeza no solo novo que quer surgir e ser paciente com as plantinhas imaturas que começam a despontar. É regar com carinho as mudinhas recém colhidas e ser grato pela possibilidade de começar um novo jardim.
Que cada um encontre aquilo que acaricia a sua alma, e que o tempo novo traga a esperança de dias regados com tolerância e amor próprio. Que venha o cheiro de café recém coado para nos lembrar que mesmo que a vida recomece o tempo todo, algumas coisas permanecem trazendo conforto independente da dança dos dias. Que venha sabor de comidinha caseira e lençóis limpos sobre a cama. Que venha saudade estampada no porta retrato e motivos para sorrir ao se lembrar daquele sorriso na fotografia. Que haja paz e encontro, fé e aceitação, cuidado e amparo _ na forma de um abraço sincero ou chá de erva doce ao cair da noite.
Torço por dona Fernanda. Em silêncio oro para que aceite sua mudança e acaricie seus pensamentos. Que ela possa continuar caminhando, mesmo que a estrada se apresente mais dura daqui pra frente. Que ela não perca a doçura, ainda que seus dias sejam mais amargos.
E que saiba encontrar recursos para prosseguir, pois o mundo se despede a todo momento, mas a gente tem que continuar…


Leia mais: http://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/o-mundo-da-gente-comeca-a-morrer-antes-da-gente.html#ixzz48igsBmZf