Medo da Morte
Os espíritas não deveriam
temer a morte, pois a prática do Espiritismo nos permite o contato constante
com o outro lado da vida, ou seja, o Mundo dos Espíritos como bem o denominou
Allan Kardec. Assim que sabemos que existe apenas uma cortina entre dois
mundos.
Nestes meses de verão
tive a oportunidade de ler um interessante livro chamado – A morte é um dia
que vale a pena viver - Editoria Sextante, de autoria da médica geriatra
Ana Claudia Quintana Arantes, presente de minha filha também médica Beatriz.
Creio que o li em uma semana, apesar do tema, que sempre nos impressiona, pois
mesmo sem termos medo da morte e sabermos que ela virá para todos, a gente tem
uma certa aversão ao tema. Ana Claudia nos leva pelos caminhos da morte onde
ela é mais comum, nos hospitais e casas de repouso.
A sensibilidade da autora
se destaca pelo valor que ela dá à preparação para o momento da morte, anos ou
meses antes, se for possível. Dignificando a pessoa humana que está presente e
na maioria das vezes consciente deste processo.
A autora do livro de
educação cristã se demonstra ao longo da obra por ter adquirido uma visão de
mundo budista, que de certa forma se mostra interessante, pois ao menos no que
tange os cuidados com a pessoa que se aproxima do fim desta vida guarda muita
semelhança com o que médicos espíritas fariam.
Não quero dar spoiler
deixo aqui apenas o convite para aqueles que ainda sentem arrepios, só de
pensar no tema, para que enfrentem o livro de 222 páginas.
Quero chamar a atenção ao
relato interessante do momenta na vida desta médica, quando, tendo de trabalhar
muitas horas de plantão, com a irritação que sua vida provocava, dormindo mal, cheia de problemas,
como de certa forma todos nós podemos ter em nossa vida. No entanto ela
encontra a sua vocação, talvez do modo mais improvável, num momento de laser,
assistindo uma peça sobre Gandhi. Acho que todos que leram sobre a vida deste
personagem importante do século XX, podem ter tido um momento em que pensaram,
como alguém pode ser assim? Despojado e focado no bem comum. Pois bem, a
autora, nas suas palavras nos descreve o momento: “ Fico em pé, olhando Gandhi
com minha alma nua. Uma epifania ... Em poucos instantes, eu compreendi o que
estava para ser o grande passo da minha carreira, da minha vida. Naquele dia,
eu me dei conta de que a maior resposta que eu procurava havia chegado: todo o
trabalho de cuidar das pessoas na sua integralidade humana só poderia fazer
sentido se, em primeiro lugar, eu me dedicasse a cuidar de mim mesma e da minha
vida. Me lembrei dos meus tempos de carola. Me lembrei de um ensinamento importante
de Jesus: “amai o próximo como a ti mesmo”. E cheguei à conclusão de que tudo o
que estava fazendo pelos meus pacientes, por minha família, por meus amigos era
uma imensa, enorme, pesada e insuportável hipocrisia. Nesse dia, fui tomado por
uma fortaleza e uma paz que eu jamais imaginei que morassem em mim. Desse dia
em diante eu teria a certeza de estar com os pés no meu caminho: posso cuidar
do sofrimento do outro porque estou cuidando do meu”. Esta foi a chave que ela
encontrou para fazer cada vez melhor o seu trabalho. A passagem de Gandhi, que
a fez dar este salto de qualidade em sua vida, é bem simples- em certo momento
uma mãe vai ao seu encontro e lhe pede que diga ao seu filho que não coma
açúcar, o pedido é muito simples mas a resposta é surpreendente, Gandhi pede 2
semanas para poder ajudar a mãe. Passadas as duas semanas a mãe com o filho
retornam e Gandhi por fim dá o conselho ao filho. A mãe agradece, mas pergunta
a ele, porque ele precisou de duas semanas e Gandhi reponde, porque eu
precisava primeira passar duas semanas sem comer açúcar para depois poder
aconselhar.
O insight da médica é
claro, como ela poderia aconselhar seus pacientes se não estava fazendo consigo
mesma o que ela dizia.
Mas o mais importante,
acredito seja que cada um de nós encontre o seu momento, no qual passe a acreditar
que possa fazer a diferença primeiro a si mesmo.
Levamos desta vida, com a
nossa alma ao mundo dos espíritos, a vida que a gente leva, No Espiritismo
aprendemos que devemos trabalhar até o limite de nossas forças, e devemos fazer
isto com gosto, em coisas que nos dão prazer e que podemos ajudar a nós mesmos
e com isto ajudar os outros.
A Ciência da Alma, como proposto
por Jaci Régis dispões com relação a vida, a morte e nossa transcendência o
seguinte:
“Devemos desenvolver um espírito
crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural,
da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma
alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo
social.
Assim, o Espiritismo pretende
equacionar o ser humano essencialmente como uma alma, definindo sua natureza,
sua evolução, seu destino, dentro de um conjunto metodológico de reflexão,
observação e pesquisa.
A ciência espírita elabora seus princípios
a partir de um espaço interexistencial, onde a alma desenvolve sua vida
atemporal. Nesse espaço, sem fronteiras definidas, coexistem tanto a matéria
concreta quanto as energias que constituem o universo. Ali interagem o mundo
corporal e um plano extrafísico.
Na verdade, o corporal se insere nesse espaço
interexistencial como um hiato onde a alma se exterioriza na sociedade
organizada como humanidade em transição permanente, isto é, vida e morte.
Homem - o definirá essencialmente como um ser inteligente
- um espírito - atemporal temporariamente ligado a um organismo físico.
Essa atemporalidade sugere que o ser inteligente é
permanentemente atual. Ele não é de ontem, nem do amanhã é de hoje.
Atemporalidade o define como o ser que vive sua atualidade constante.
A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser
inteligente. Ela o define como um ente que permanece. Este ser atemporal não
depende de um organismo para ser. Ontologicamente ele é. E vive a sua
experiência no nível mental na expectativa de desenvolver potencialidades que
lhe são inerentes”.
Como conclusão não devemos temer a morte e devemos sim
tentar viver o melhor possível, cuidando de nossa alma imortal.
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