segunda-feira, 28 de julho de 2025

MEMES DE FRANCISCO E MUJICA - por Milton Medran Moreira

 

MEMES DE FRANCISCO E MUJICA - coluna Opinião em Tópicos -Milton Medran Moreira

            As mortes do Papa Francisco e de Pepe Mujica, acontecidas no espaço de uma semana, deram origem a muitos “memes” nas redes sociais. Alguns deles retratam a presença dos dois, na dimensão espiritual, compartilhando, descontraidamente, o mate, bebida típica da região onde nasceram.

Pessoas sentadas em volta de carro azul

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            Se a gente for raciocinar a partir da doutrina do primeiro, esse encontro seria impossível. A fé cristã sustenta que somente serão salvos aqueles que creem. E a crença fundamental tem por objeto a divindade, que se apresenta em três pessoas, uma das quais seria o único salvador.

            Na tradição cristã, o ateísmo é o mais grave dos pecados, e a história da Igreja está repleta de episódios de condenação à morte impingida aos ateus.

            Mujica não cria em Deus - pelo menos no deus de configuração cristã, e sua morte, assim, não poderia fazê-lo encontrar-se com Francisco.

            PEPE E A RELIGIÃO

            O ex-presidente do Uruguai, por outro lado, ao que se saiba, também nunca demonstrou qualquer convicção acerca da sobrevivência após a morte. Um lugar paradisíaco, extensão da chácara onde tinha sua morada terrena, igualmente, pois, seria inimaginável para ele.

 Apesar disso tudo, Mujica deu-se muito bem com Bergoglio, platino como ele, durante a vida terrena. Até podem ter tomado alguns mates juntos, mas, suponho, nenhum deles imaginou viessem a fazê-lo após a morte.

            Diferentemente da ideia fundamental da religião, a de que estamos num “vale de lágrimas”, por força do pecado original, e que a felicidade estaria reservada, pela “graça”, apenas a alguns, após a morte, Pepe lutou a vida toda para que o bem-estar social e a justiça, intrínsecos à felicidade, atingissem a todos, num clima de igualdade e fraternidade, por aqui mesmo.  Para ele, a religião não levaria a isso, eis ser “uma forma de consolo e não de transformação”.

            FRANCISCO E A JUSTIÇA SOCIAL

            O cardeal argentino que comandou a Igreja de Roma por 12 anos passou todo o seu papado tentando conciliar a fé cristã com a justiça social.

            Essa sua visão encontra óbices difíceis de transpor, por força, mesmo, daqueles fundamentos doutrinários a que antes me referi. Com base neles, o cristão deve suportar resignadamente as injustiças sociais, transformando-as em crédito para a salvação: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.

Querer fazer da sua Igreja um instrumento de transformação social é postura vista por segmentos conservadores, nela expressivamente existentes, como desvio de seus fins. É coisa de “comunista”, expressão com a qual muitos tacharam Bergoglio.

HUMANISMO – O TRAÇO DE UNIÃO.

As contradições entre Francisco e Pepe, ou entre a fé e a justiça social, só podem ser superadas por uma visão mais otimista acerca do ser humano. Nessa perspectiva, estão superlativamente presentes o que a Modernidade definiu como direitos inalienáveis e fundamentais do ser humano.

O humanismo, ou seja, o reconhecimento de que o ser humano nasce livre, sujeito de direito ao bem-estar, sob a garantia do Estado Democrático de Direito, é o único caminho a conciliar ateus ou agnósticos com aqueles outros que vislumbram no homem/espírito uma origem e um destino transcendentais.  

Para nós, espíritas, não deve existir nenhuma contradição entre justiça social e espiritualidade.  Uma é parte integrante da outra, e a luta na busca da felicidade deve se dar, progressivamente, por todos os estágios da caminhada do espírito.

Um humanismo capaz de transcender à matéria plasma, assim, o cenário ideal a unir espíritos da qualidade de Francisco e Mujica. E permite – por que não? - imaginá-los mateando juntos, em alguma aprazível chácara deste universo infinito.

 

Nota da Redação: Este artigo chamou muita atenção e levou a manifestações positivas e negativas, parece que é sempre difícil conviver com o oposto.

quer saber mais leia o Jornal Abertura de junho página 4) e julho (página 5).

Abertura junho 2025:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/45-jornal-abertura-2025?download=347:jornal-abertura-junho-2025

Abertura julho 2025:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/45-jornal-abertura-2025?download=348:jornal-abertura-julho-2025

 


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