Este texto compõe o livro – Caminhos da Liberdade – caso você
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– ickardcista1@terra.com.br.
Uma pergunta que cada um se faz, senão sempre, mas vez por
outra, quando está engajado numa doutrina, ideal, movimento que vise o
aperfeiçoamento social, a ecologia, um mundo melhor, é se vale a pena fazer o
que está fazendo.
Se a pessoa está ligada a esse movimento ou ideia, com um
mínimo de pureza de sentimentos, ver-se-á constantemente envolvida por questões
menores e maiores que, por fim, colocam em dúvida a validade de seu esforço, de
seu idealismo.
Principalmente quando, a seu ver, existe incompreensão,
encontra desilusão pelo comportamento contrário do que esperava por parte dos
demais.
A questão não é irrelevante.
Todo e qualquer dispêndio de energias espirituais deve ser
constantemente avaliado. Por isso, a primeira coisa a fazer é perguntar a si
mesmo da validade do conteúdo da proposta que defende, de modo crítico e realístico
e o quanto de satisfação lhe traz o envolvimento no trabalho.
Se o resultado desse questionamento concluir que houve
engano e aquilo não é bem o que se quer, então nada mais se tem a fazer senão deixá-lo
de lado.
Mas se a conclusão mostrar que estamos fazendo o que
queremos, que continuamos com a convicção que é melhor para nós, para a
comunidade, para o mundo, então nada nos deterá ou não deveria nos deter, na
continuidade de nossos esforços.
Se estivermos ligados a uma causa aceita apenas por uma
minoria e, portanto, compelidos a lutar para que não morra, mas avance, então é
também necessário compreender que a adesão a esse tipo de ideal requer mais do
que simples participação, simpatia ou aplauso.
Requer a integração da própria vida, porque não se trata de
ganhar mais uma batalha, mas romper bloqueios, revolucionar posições, e começar
por nós mesmos.
E uma mudança radical no interior da pessoa, principalmente
em relação a conceitos fundamentais em que repousava a própria consciência dos
valores, não é fácil, nem isenta de ansiedade.
Publicamos este artigo no jornal Abertura de abril de 2024
baixe aqui
Cada um organiza, estrutura sua mente de acordo com
princípios, valores e crenças que se acumulam em estreita correlação com a
cultura, com o grupo, com a família, com a comunidade a que se filia.
Quando uma renovação conceitual implica em romper com toda
essa estruturação, sobram dúvidas internas e pressões externas.
Essa transição é sempre dolorosa por importar num hiato
solitário em que a pessoa necessita tomar decisões isoladamente. Esse caminho
pode afastá-lo de pessoas, grupos a quem está ligado emocionalmente. Certas
amizades poderão esfriar, certos relacionamentos se desfazem.
É preciso ter em mente que quando se pretende inovar, mudar,
transformar um sistema, este tudo fará, armar-se-á poderosamente para evitar
qualquer mudança.
Um sistema de ideias ou social é como um organismo.
Sentindo-se atacado, reage, reúne suas defesas e, se necessário, mata.
Veja-se o exemplo da ação dos grupos religiosos na defesa de
suas crenças. Ainda que adorem o mesmo deus e sigam o mesmo livro santo e o
mesmo messias, basta que uma linha concorrente, um outro grupo de crentes
surja, para que o antagonismo cresça e, por vezes, se converta em conflito e
mesmo estabeleça uma irreparável divisão.
Por isso, é preciso atingir o nível de incerteza que exige
continuada reflexão e constante repensar. Isso é absolutamente indispensável se
quiser que tome corpo uma consistente estrutura interna, capaz de flexionar-se
sem perder sua base, de aceitar rupturas e manter sua integridade. Resistir ao
cansaço e prosseguir.
Quando se alcança esse nível – e não confundir com
fanatismo, pois a reflexão só é válida dentro de um equilibrado senso crítico –
não importa o que se diga, o que se sofra.
A força interior desencadeada é um fluxo que não pode mais
ser represado. Continuar já é, então, parte do próprio ser.
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