FRANCISCO MADERO - PRESIDENTE
ESPIRITA DO MÉXICO
Jon Aizpúrua
Nota da Redação: Este artigo trás a luz aos brasileiros de um personagem importante da história democrática mexicana e que ao conhecer o espiritismo mudou completamente a sua vida. Demonstrando o poder inegável da Doutrina Espírita.
Francisco Ignacio Madero,
erroneamente chamado de Francisco Indalecio Madero (Parras de la Fuente,
Coahuila, 1873 – Cidade do México, 1913). Homem simples e idealista, honesto e
gentil, político com firmes convicções democráticas e sincera preocupação social,
cujo pronunciamento contra a longa ditadura do General Porfirio Díaz
desencadeou a Revolução Mexicana. Após seu assassinato enquanto ocupava o cargo
de presidente mexicano, ficou conhecido como o "Apóstolo da
Democracia".
Francisco Ignacio Madero
Além de sua renomada carreira
política, ele também tinha o status único e sem precedentes de ser o único
governante de um país. Ele expressou publicamente sua adesão à doutrina
espírita fundada e sistematizada por Allan Kardec em seus discursos, cartas e
livros, bem como sua firme convicção de que o progresso da humanidade deve
estar alinhado à evolução moral e espiritual de seus líderes. Portanto, ele via
o Espiritismo não apenas como uma forma de compreender o espírito e a vida após
a morte, mas também como um guia para as pessoas elevarem sua consciência e se
identificarem com os princípios do amor, da liberdade, da justiça e da
igualdade.
Intensa participação política
A longa ditadura do General Porfirio Díaz, que durou de 1876 a 1910,
consolidou um modelo rígido de ordem política, econômica e social, garantindo a
paz imposta ao país como condição indispensável para seu desenvolvimento
econômico. Benfeitor da oligarquia agrária, protetor dos privilégios da Igreja
Católica e dos investimentos americanos e europeus, o ditador perpetuou seu
poder violando o princípio constitucional da não reeleição. A estabilidade
política e algumas melhorias econômicas não corrigiram os desequilíbrios
sociais e, em vez disso, agravaram a deterioração das condições de vida dos
camponeses e da população urbana pobre. Nos anos que seriam os últimos do
chamado "Porfiriato", o descontentamento não se limitou aos setores
mais desfavorecidos; vozes críticas surgiram entre as próprias elites, novos
partidos políticos foram fundados e novas lideranças surgiram, entre elas
Francisco Ignacio Madero.
Sua atividade política começou em 1904, quando concorreu à prefeitura de
San Pedro de las Colonias. Com o apoio apenas da família e movido por seus
ideais, competiu em desvantagem contra o candidato do partido governista e foi
derrotado pela poderosa máquina governamental. Por volta de 1905, os abusos de
poder do governador de Coahuila levaram ao início de seu ativismo político:
fundou o Partido Democrático Independente e começou a expressar suas ideias no
jornal El Demócrata.
Em 1908, Porfirio Díaz declarou que o povo mexicano estava maduro para a
democracia e anunciou a convocação de eleições, sua intenção de não se reeleger
e de permitir a participação de outros partidos políticos. Madero aproveitou
essa oportunidade para publicar o livro "A Sucessão Presidencial de
1910", uma obra moderada em defesa das liberdades civis e da verdadeira
democratização do país, que foi amplamente divulgada e aceita. Mas uma mudança
repentina de opinião do presidente, que se declarou candidato novamente,
frustrou as expectativas e causou indignação generalizada. Tudo isso apenas
intensificou o ativismo de Madero.
Em 1909, o Partido Nacional Anti-reeleição indicou Madero como candidato
presidencial e iniciou sua campanha nacional com o slogan "Sufrágio
efetivo e nenhuma reeleição". No entanto, o ditador ordenou sua prisão e
encaminhamento para uma prisão em San Luis Potosí. Assim, com seu rival
subjugado, o Congresso reelegeu Díaz para um novo mandato de seis anos. Madero
concluiu que não era possível chegar ao poder por meio de eleições e que
somente uma revolta armada poderia trazer uma mudança real. Em outubro de 1910,
conseguiu escapar para os Estados Unidos e, de seu exílio em San Antonio,
Texas, publicou o programa político denominado "Plano de San Luis
Potosí", no qual denunciava os abusos da ditadura, a necessidade de
substituí-la por um governo democrático e a urgência de beneficiar os setores
agrários, devolvendo aos camponeses as terras que lhes haviam sido confiscadas.
A data de 20 de novembro de 1910 foi marcada para a revolta, à qual os
camponeses aderiram com grande entusiasmo. Esta data entrou para a história
como um marco que marcou o nascimento da Revolução Mexicana.
Entre os insurgentes, juntamente com outros líderes locais, estavam alguns dos líderes que desempenhariam um papel fundamental nesse processo: Pascual Orozco, Emiliano Zapata e Pancho Villa. Diante da incapacidade do governo e da impotência do exército, a Revolução logo se espalhou por todo o país e, em 7 de junho de 1911, Madero entrou triunfantemente na capital. Um governo provisório foi formado, convocado para eleições, e em novembro daquele ano, ele assumiu o cargo de presidente constitucional do México.
Embora o governo Madero tenha durado apenas quinze meses, obteve avanços
notáveis em educação, saúde, condições de trabalho e organização do erário
público. Também fomentou a atividade econômica, proporcionando maiores
benefícios aos produtores de médio e pequeno porte e estabelecendo acordos mais
justos e equilibrados com empresas internacionais. Politicamente, estabeleceu
um regime de liberdade e democracia parlamentar. No fim das contas, porém, seus
esforços se mostraram infrutíferos. Teve que confrontar setores representativos
do antigo regime, o militarismo, a oligarquia e o clericalismo, bem como
líderes revolucionários agrários como Emiliano Zapata, que exigiam medidas tão
radicais que, se adotadas, mergulhariam a nação no caos.
Em meio a essas lutas, o general Victoriano Huerta, que parecia leal a Madero e gozava de sua confiança, ganhou destaque. Comandante das forças que deveriam defender o governo, ele foi instrumental em uma famosa e ignominiosa traição durante os chamados Dez Dias Trágicos, nome dado aos violentos eventos ocorridos na capital mexicana de 9 a 19 de fevereiro de 1913. Huerta ordenou a prisão de Madero, obrigou-o a assinar sua renúncia e prometeu-lhe permissão para deixar o país com sua família. No entanto, em 22 de fevereiro de 1913, Madero e seu vice-presidente, José María Pino Suárez, foram fuzilados por um grupo de soldados no pátio da penitenciária.
Seus passos
iniciais no espiritismo
Entre as minhas muitas e variadas impressões daquela época, a descoberta que mais impactou minha vida foi que, em 1891, por acaso, me deparei com alguns números da Revue Spirite, da qual meu pai era assinante e que era publicada em Paris desde sua fundação pelo imortal Allan Kardec.
O jovem estudante mexicano comenta que não tinha crenças religiosas ou filosóficas na época e que as ideias católicas de sua infância haviam desaparecido, de modo que se sentia na melhor disposição para julgar os ensinamentos do Espiritismo. Leu o máximo de exemplares daquela revista que conseguiu encontrar e adquiriu as obras de Allan Kardec:
Não li esses livros, mas os devorei, porque suas doutrinas, tão racionais, tão belas, tão novas, me seduziram, e desde então me considero espírita.
Frequentou vários centros espíritas e ficou positivamente impressionado com os fenômenos que presenciou. Foi informado de que ele próprio era médium escrevente e decidiu comprovar isso organizando sessões com seus familiares, seguindo as instruções de Kardec em O Livro dos Médiuns. Após várias tentativas, começou a sentir que uma força além de seu controle movia sua mão com muita rapidez e, nos meses seguintes, as mensagens transmitiram lições importantes para completar sua formação intelectual e enfatizaram questões morais. Parou de beber, tornou-se vegetariano e aprendeu a aplicar técnicas de cura baseadas na homeopatia e no passe magnético. Reconhecia que o Espiritismo o transformara de um jovem depravado e indiferente em um homem justo, bondoso, atencioso e preocupado com o destino do mundo, particularmente de sua pátria.
De volta ao
México
Aos vinte anos, Madero retornou ao México, formado profissionalmente como administrador e transformado em suas crenças pelo Espiritismo. Imediatamente entrou em contato com sociedades espíritas, assinava os periódicos então publicados e, com o apoio da família, fundou o Centro de Estudos Psicológicos San Pedro, onde promovia estudos doutrinários enquanto exercia sua faculdade mediúnica. Motivado pelo desejo de difundir os ensinamentos espíritas, Madero adquiriu livros de Kardec, Lèon Denis, Gabriel Delanne, Amalia Domingo Soler, Quintín López Gómez e outros autores de editoras francesas e espanholas, e os distribuiu generosamente a pessoas interessadas que conheceu ao longo do caminho.
O movimento espírita mexicano que Madero encontrou ao chegar não estava em seu auge, devido aos obstáculos impostos pelo regime porfiriano devido à sua aliança com a Igreja Católica. No entanto, em anos anteriores, havia demonstrado considerável força e se espalhado por todo o país, graças à atuação de diversas figuras de grande prestígio social, entre as quais o General Refugio González e o intelectual Santiago Sierra. Em 1872, esses homens fundaram uma revista para a divulgação e defesa dos ideais do Espiritismo, intitulada La Ilustración Espírita (A Ilustração Espírita), que circulou até 1893. Essa publicação gozou de grande prestígio no México e no exterior por seu excelente conteúdo e apresentação gráfica. Naquele ano, uma grande assembleia foi convocada a partir de suas páginas, que concordou com a criação da Sociedade Espírita Central da República Mexicana, da qual participaram dezenas de sociedades das principais cidades. Nos anos seguintes, esse órgão central representou o Espiritismo perante as autoridades e o público, conquistando seu reconhecimento e respeito, como ocorreu nos famosos debates realizados no Colégio Hidalgo, na capital, nos quais se discutiu o tema do Espiritismo e sua relação com a ciência, o materialismo e o positivismo.
O ano de 1906 pode ser considerado o ponto de partida de uma nova era na vida do Espiritismo mexicano, que, embora breve, foi muito intensa e produtiva em termos de divulgação. Em abril daquele ano, realizou-se o Primeiro Congresso Espírita Nacional, com a presença de delegados de quarenta sociedades espíritas e a participação de representantes de Cuba, Porto Rico, Nicarágua e das cidades de Laredo e San Antonio, no Texas. Foram discutidos temas de grande interesse doutrinário, acatadas as conclusões dos Congressos Espíritas Internacionais de Barcelona (1888) e Paris (1900), e aprovadas importantes resoluções, entre elas a criação de uma comissão científica e experimental para a verificação dos fenômenos psíquicos e mediúnicos, a fundação de uma livraria espírita e de um jornal chamado El Siglo Espírita, que circularia até 1911. Pela primeira vez, acordou-se estabelecer relações com os movimentos espíritas de outras nações para criar uma Confederação Espírita Latino-Americana, projeto que só se tornaria realidade em 1946, quando foi fundada em Buenos Aires a Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA).
Em 1908, realizou-se o Segundo Congresso Nacional Espírita, reunindo delegados de setenta e cinco centros espíritas. Teve significativo alcance internacional, com a presença de representantes de dez países, e foram discutidos trabalhos submetidos por proeminentes escritores europeus e americanos. Madero participou ativamente de ambos os Congressos, deixando uma marca duradoura com seu conhecimento, seu entusiasmo pelos ideais espíritas e seu status como uma figura pública que já brilhava intensamente no cenário político nacional. Em meio à sua agenda lotada, Madero encontrou tempo para terminar um livro que vinha escrevendo aos trancos e barrancos: Manual Espírita, um resumo dos ensinamentos básicos do Espiritismo, que seria publicado em 1911, após assumir a presidência da nação. Considerou apropriado, para não confundir o ideal espírita com circunstâncias políticas, assiná-lo com um pseudônimo e, neste caso, adotou o nome "Bhima", personagem mítico do texto épico indiano, o Mahabharata.
Além de suas leituras constantes, ele também fornecia informações obtidas no mundo espiritual, as quais psicografava. No desenvolvimento de suas atividades mediúnicas, distinguem-se duas etapas, com base em seu conteúdo e propósitos específicos. A primeira abrange os anos iniciais, desde seu retorno ao México até 1905. Uma entidade espiritual que se apresentou como "Raúl", o irmão mais novo que havia falecido tragicamente anos antes, instou Madero a aderir aos padrões morais derivados dos ensinamentos espiritualistas, insistindo que ele evitasse perder tempo com jogos, rejeitasse vícios, dedicasse boa parte de seus bens materiais a ajudar os pobres e lutasse por sua transformação interior.
Segundo suas memórias, ele cumpriu a disciplina prescrita e então iniciou uma segunda fase, na qual suas comunicações eram transmitidas por meio de um espírito que se identificava como "José". Agora, tendo superado a luta para controlar seus instintos, essa entidade anunciou que ele deveria se preparar para cumprir uma tarefa desafiadora em defesa da democracia mexicana. Anunciou que escreveria um livro que abalaria o clima político e o ajudaria a cumprir a tarefa que lhe fora confiada. "José" o chamou em suas comunicações de "soldado da liberdade e do progresso" e um "combatente incansável pela causa democrática".
Pode-se dizer que as comunicações mediúnicas recebidas por Madero retrataram com admirável precisão o caminho que ele percorreu desde o início do século: sua árdua preparação, a disciplina espiritual que teve que seguir, seus erros e acertos, a publicação de seu livro "A Sucessão Presidencial" em 1910, sua cruzada pelo México erguendo as bandeiras da regeneração moral e política, até que finalmente governou sua amada pátria como presidente. Uma parte significativa dessa obra, tão importante para a história mexicana, veio, em parte, das mensagens que ele recebeu de seu conselheiro espiritual.
Vários líderes espíritas ocuparam cargos em ministérios e escritórios durante sua administração de quinze meses. Um deles, que permaneceu ao seu lado como leal amigo e conselheiro, foi o escritor, poeta e jornalista costarriquenho Rogelio Fernández Güell, que serviu como Diretor da Biblioteca Nacional do México, o primeiro e último estrangeiro a dirigir aquela prestigiosa instituição cultural. Fernández Güell desempenhou papel de destaque em ambos os Congressos, fundou e editou a revista Helios e escreveu várias obras relacionadas a temas espíritas, incluindo Psiquis sin velo (Psiquê sem Véu), que dedicou com carinhoso afeto ao presidente. Ele também escreveu um livro histórico e político, El moderno Juárez. Estudio sobre la identidad de Francisco I. Madero (O Juárez Moderno. Um Estudo sobre a Personalidade de Francisco I. Madero), que destacou a imensa tarefa que ele desempenhou como presidente do país.
Durante grande parte de sua curta vida, Francisco Ignacio Madero oscilou
entre dois polos que dominaram seu pensamento e suas ações: sua prática
política e suas convicções espiritualistas. Alguns buscaram separar o Madero
político do Madero espiritualista, com base em seus interesses ou pontos de
vista particulares. Mas a verdade é que o idealismo de Madero, derivado dos
princípios filosóficos e valores éticos do kardecismo, nos quais ele acreditava
inequivocamente, norteou suas ações no espinhoso mundo da política partidária.
Ele estava convencido de que era possível alcançar uma sociedade melhor, mais
humana e inclusiva, livre e equitativa, apelando à educação e à boa-fé dos
indivíduos. Talvez houvesse ingenuidade em seu projeto utópico, mas a imensa
lição de dignidade que ele nos deixou com seu exemplo e seu sacrifício
permanecerá para sempre como um legado indestrutível.
Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura -agosto de 2025, se acessar o jornal clique no link abaixo:
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