A tranquilidade espírita
A primeira vez que
uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um
diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua
elaboração.
Muitos podem
imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos
sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade
pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na
condução da elaboração da Doutrina Espírita.
Tentarei montar o
quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19. Buscando concentrar nos principais conflitos
no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida:
1837 a 1901 –
período chamado de Era Vitoriana - onde a rainha Vitória reinou – celebrizada
pela frase” O Sol não se põe no Império Britânico” – esta pressão era muito
grande para os eternos rivais franceses;
1848 – Napoleão
III, sobrinho de Napoleão Bonaparte assume a presidência da França, em 1852 ele
dá um golpe militar e se transforma em rei da França num novo retorno a
monarquia e fica no poder até 1870, portanto em todo o período de atuação do
professor Hippolyte Leon Denizard como Allan Kardec a França voltava a ser uma
monarquia;
1861 – 1865 –
Guerra da Secessão nos Estados Unidos, os Confederados tinham apoio logístico e
militar da França;
1865 -1867 –
Segunda intervenção Francesa no México que terminou com a expulsão das tropas
Francesas – isto no período de Napoleão III;
1862 – A França
começa a apoderar-se da Indochina – que determinaria 100 anos depois nas guerras
do Vietnam – primeiro francesa e depois norte-americana;
1870 – Napoleão
III declara Guerra a Prússia, guerra que iria perder, perdendo dois estados
Alsácia e Lorena à Prússia e que resultaria mais tarde em um dos componentes da
I Guerra mundial entre 1914 a 1918;
Neste período a
França apoia a unificação da Itália que se consolida em 1870, com a França
anexando o condado de Nice ao seu território.
Peço aos
historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos
os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só
eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.
Mostro este quadro
para demonstrar, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia
estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.
Allan Kardec o bom
senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos
individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser
espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores
consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos
deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).
No entanto estes
problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução
humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto não aconteceu imediatamente,
para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas
mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.
Se olharmos o
século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipin
na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a
primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram
a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante,
outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual.
Já nos 19 anos de
século 21, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até
os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão;
do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas
internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas
petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de
pessoas e milhões de refugiados.
Fica claro que os
mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir
os efeitos terríveis, das mortes nas guerras.
Não há dúvida de
que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina
Espírita
O Século 19 se caracterizou pelo desenvolvimento de armas e munições mais destrutivas, a escalada prosseguiu no século 20 com a aviação e as bombas atômicas, mas chegamos a um ponto onde a opinião pública, a imprensa e mais recentemente as redes sociais detiveram a utilização de armas de destruição em massa. Ainda temos o risco, pois o arsenal existe, mas sua utilização está contida.
Reforçamos então a
mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das
intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos Kardec
assim nos ensina “ Os bons Espíritos nos
solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a
suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles
uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de
Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber
viver”.
Para saber viver é
preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de
influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que
podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos
problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo.
artigo publicado no Jornal abertura - março 2020
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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